sábado, março 11, 2006

Goodbye my love, goodbye

Tudo tem o seu tempo e do Sinédrio, enquanto blog, termina aqui. Ao contrário do que a data de encerramento e a música possam indicar, este foi um fim pacífico. Nada de barricadas e de Chaimites na rua. Digamos que o blog O Sinédrio morreu pacificamente no seu sono provecto. A todos os que nos leram, linkaram, comentaram, odiaram ou apreciaram, aqui ficam os nossos sinceros agradecimentos. Este foi um ano absolutamente fantástico.
No entanto, todos os membros do Sinédrio são de inspiração platónica e acreditam na transmigração das almas para um espaço inteligível. Daí que o espírito do Sinédrio perdure muito para além do blog. Outros formatos e oportunidades nos aguardam num futuro próximo. Vamos andar por aí.

O Sinédrio

Até breve

Este é o meu último post no Sinédrio.

Há cerca de um ano, pensava que “blogosfera” era nome de doença tropical. O Bernardo, com muita paciência, instruiu-me na coisa. Afinal, “blog” não é um vírus do Burundi, mas uma coisa onde se pode escrever e discutir.

Hoje, sei que um blog é como um vício, mas um vício a prazo. Intenso durante uns meses. Morre ao final de outros tantos. Sei que voltarei a sentir esse vício, mas por agora estou desintoxicado. Além disso, a falta de tempo é cada vez maior.

Fiz amigos no Sinédrio. Amigos com quem continuarei a beber copos e a trabalhar noutras coisas mais ”sérias”. Trouxe amigos para o Sinédrio. Mas hoje termina a minha ligação ao blog. Foi um prazer.

O meu obrigado a todos aqueles e aquelas que por aqui passaram.

Até breve,
Henrique Raposo

Últimas Considerações II


Curiosamente ou não, há um estudo a fazer e há muito adiado. Se nos abstrairmos da fundação ideológica e filosófica dos regimes, observemos se existe algum paralelo de intimidade entre as políticas públicas da União Soviética e da Alemanha hitleriana em quadrantes como: gestão económica e modelos de economia planificada; centralização da decisão executiva ou eventual dissipação de poder; distribuição do poder numa base nacional e a quem ele é confiado; a restruturação do sistema político; redução das liberdades cívicas e repressão da dissidência política; propaganda oficial ao regime e produção doutrinária original por parte deste.
Finders Keepers !

Últimas Considerações I

Ultimamente tenho sido confrontado, da Esquerda à Direita, com interrogações follow up em relação à premissa do embaixador iraniano sobre se é realmente possível contabilizar o genocídio de 6 milhões de Judeus durante o Holocausto. Algumas dessas interrogações partiram de uma simples interrogação retórica, outras teriam uma clara intenção sensacionalista. Em relação às últimas, só posso dizer que o resultado foi absolutamente contraproducente. É me, hoje, absolutamente irrelevante saber se estamos perante 6 milhões, 4 milhões, 30 pessoas ou um cego e o seu cão. O choque moral já o sofri quando compreendi foi admissível para a mente humana assassinar em nome de um ideal, de uma utopia. Pol Pot, Lenine e Estaline, Hitler, Mao, Che Guevara e outros mais, todos partilharam essa premissa de que uma ideia justifica a repressão e a eliminação dos seus concidadãos, dos seus congéneres humanos. A barbárie com base intelectual não deixa de ser barbárie. E não há nada melhor para compreender isso do que visitar um campo de extermínio nazi (e sei que o Bernardo concorda comigo aqui) e sentir o vento aterrador que corta o silêncio.

sexta-feira, março 10, 2006

Ficar parado é que não!

Os blogs são uma das melhores coisas que aconteceram nos últimos tempos neste país. Mostraram escritas novas, outras velhas, umas que melhoraram e ainda aquelas que deixaram muito a desejar. Trouxeram discussões apaixonantes, debates crispados e posições antagónicas. Gosto especialmente destas palavras. Divergências, debate, contraditório. Tudo junto dá, por certo, outra cor ao panorama, aquele que, no fundo é o nosso.
Mas nos blogs conheceram-se inúmeras pessoas. Fizeram-se amizades. Jantares, almoços, festas. Criaram-se laços, ideológicos e pessoais. Desmontaram-se conceitos, correntes de pensamento, propostas políticas, literárias, musicais e cinematográficas. Disseram-se parvoíces e coisas muito acertadas. É, por outras palavras, a demonstração das capacidades de cada um postas a público. Aquilo em que cada um, num determinado momento, é capaz de se envolver. Bem ou mal, não importa. O importante é não ficar parado.
Os meus agradecimentos muito pessoais, por variadas razões, vão para todos os leitores que por aqui passaram, fugiram ou foram ficando e para os seguintes blogs: O Acidental, Arte da Fuga, Coluna Infame, No Quinto dos Impérios, Fora do Mundo, Babugem, Aviz, Origem das Espécies, Frangos para Fora, Quase Famosos, Melancómico, Palmier, O Insurgente, Achtung Baby e Barnabé (o primeiro a linkar-nos). A todos um abraço.

quinta-feira, março 09, 2006

Ali Farka Toure


Devo dizer que, em termos de música sou um profundo “nativista”. Enquanto cidadão Ocidental tendo a só gostar e a ouvir algo que me ressoa na mente e no coração com familiaridade.
A razão pela qual alguém levanta o rabo gordo e multiculturalista do sofá para ir à FNAC comprar um CD de mulheres da Mauritânia a bater em alguidares, permanece para mim um mistério. Entre a Dolly Parton e o folclore de uma pequena aldeia do pequeno Djibuti, a escolha é óbvia.
Há, no entanto, uma pequena excepção: Ali Farka Toure, “o espírito do Mali”, que faleceu anteontem e que eu até punha a tocar no blog se a mãe do iTunes lhe tivesse ensinado a virtualidade moral da partilha.

Todo quedaba “Atado y bien atado”


Já que estamos numa de recomendações, aqui (recomendação 1 / recomendação 2) ficam duas obras que saíram nos últimos anos mas que, como todas as coisas que incidem sobre Espanha, passaram algo despercebidas entre nós. Dois novos contributos que lançam luzes sobre o processo de democratização espanhola e porquê o testamento optimista de Franco (que dá título a este post) tropeçou nos atacadores.

quarta-feira, março 08, 2006

Ao cuidado de todos os importadores e tradutores, dois essenciais:

terça-feira, março 07, 2006

O que eu quero dizer quando for grande:

"Por favor não mandem emails para o mail do blog que já está cheio, mas antes para o meu email pessoal: quandoforgrande@gmail.com. Todos os mails serão lidos, revistos e os melhores serão publicados.
Este post já está no Aba da Causa."

(publicado no jornal Público)

Waco, Texas

Nunca fui grande fã das caixas de comentários, mas via o Bloguítica, fui dar uma vista de olhos na caixa de comentários de Vasco Pulido Valente (abstenho-me de linkar). Para a próximo, levo uma lanterna. Os blogs sempre tiveram os seus comentadores anónimos, uns quantos bajuladores e, o mais comum, poucas ideias. Mas Vpv eleva a fasquia à condição de arte com toques de leitor do Tal&Qual.
Mesmo a propósito, reparei que Paulo Portas introduziu o seu novo espaço na SIC com a premissa de «retirar à esquerda o monopólio da palavra» e lembrei-me de quando, entre os blogs se repetia a mesma coisa. Tempos distantes e irrepetíveis, hoje órfãos do Barnabé e do Bde(confesso que tenho saudades). Não que se possa falar de um monopólio de opinião da Direita, simplesmente a massificação e mediatização circunstancial dos blogs pulverizou o debate e a vontade.

segunda-feira, março 06, 2006

Já que estamos numa de Amazon...


... antes de se considerar a Termotebe revolucionária, talvez importe passar os olhos pela realidade por detrás do mito:

Alvaro Vargas Llosa no seu melhor

You tell them girl!

Elliot Smith & Babes in Toyland

Caro Manuel, se calhar vale a pena dar uma vista de olhos nisto:


Aqui


Enquanto isso, dedico-me à introspecção nostálgica:

Aqui

domingo, março 05, 2006

To much reality, II

Sa’d Bin Tefla, jornalista e ex-ministro da informação do Kuwait:

Where are the Fatwas Against Bin Laden?
"Despite the fact that bin Laden murdered thousands of innocents in the name of our religion and despite the damage that he has caused to Muslims everywhere, and especially to innocent Muslims in the West whose life is much better than the life of Muslims in Islamic lands, to this date not a single fatwa has been issued calling for the killing of Bin Laden, on the pretext that Bin Laden still proclaims 'there is no God other than Allah.' [But] is it not the case that Napoleon repeated the same thing many times in the course of the French attack on Al-Azhar ?

To much reality

Só no mês de Setembro de 2004, mais de 20 mil pessoas fizeram download de um vídeo que era (é) uma espécie de colectânea das melhores execuções – decepamentos - feitas por radicais no Iraque. Ver aqui.

sábado, março 04, 2006

Obscurantismo

Antes de referir um pretenso obscurantismo da Atlântico, Fernanda Câncio devia reparar que a sua coluna encontra-se numa obscurantíssima edição de Sábado do Diário de Notícias, da qual Portugal inteiro só se lembra se esta estiver ao lado no Expresso na banca da papelaria.

Parabéns...atrasados


É imperdoável e inadmissível que o Sinédrio só agora dê os devidos parabéns ao Insurgente e ao Blasfémias pelos seus aniversários.

quinta-feira, março 02, 2006

O meu onze para Alvalade

Ricardo, Abel, Tonel, Polga e André Marques; Custódio, Moutinho, Sá Pinto e Carlos Martins; Douala e David.

domingo, fevereiro 26, 2006

Por vezes, a proximidade é tudo

À consideração da gerência

sábado, fevereiro 25, 2006

Please repeat after me

O mais engraçado neste acordo entre o Estado Português e o MIT é que obriga os jornalistas portugueses a dizer “Massachusetts”. Isto vai do Makassussets ao Maxaxuxets, passando por referências ao pasteleiro com um happy trigger finger, o sr. Massa Shoots.

Isto, com calma, ainda chega a bom porto

Caro Bernardo,

Sabes perfeitamente que partilho contigo a vontade de ver emergir uma alternativa liberal de Direita. No entanto, devo dizer que sou um pouco mais optimista e ainda acredito na possibilidade de conversão programática e ideológica do centro- Direita e da Direita partidária já existente. Os suspeitos são os do costume e dispensam apresentações, e por eles poderá passar a evolução orgânica no sentido de uma meta liberal. Ainda assim, surgem as óbvias dificuldades.
No caso do PSD há a, mais que certa, incompatibilidade a priori da estruturas de base e intermédias; a mobilidade estratégica a caminho do poder; ou a polarização de facções personalizadas ao nível de decisão. Se bem que, a actual dificuldade de competição com o PS no centro reformista e social-democrata, poderá obrigar o PSD a uma reconversão da presente vocação catch-all para uma maior selectividade ao nível de apoios provenientes do sector económico e investidor. O debate europeu, nos próximos anos poderá ser, também uma fonte de fractura, mas sem grandes consequências para este tema.
No caso do CDS-PP, qualquer facção emergente com propósitos liberais e contemporâneos terá que enfrentar o dogmatismo inabalável da tradição democrata-cristã. Mas tudo depende, também, do estado eleitoral e orgânico do partido.
A continuidade da presente linha não deixa advinhar um futuro risonho e as ressurreições personalizadas do CDS-PP não são um recurso infinito. Também, se reparares, ao contrário dos seus parceiros do arco constitucional que, apesar de alguns percalços necessários, evoluíram gradualmente, o CDS-PP tem tido uma vida atribulada com constantes mudanças de rota, inversões programáticas e flutuações orgânicas. Independentemente de indiscutíveis momentos de qualidade política, a credibilidade do CDS-PP enquanto parceiro de Poder, no longo curso, não deixa de sofrer com essa herança de instabilidade.
Paulo Portas compreendeu, decerto, a necessidade de uma reabilitação do CDS-PP enquanto parceiro de coligação, ao longo dos executivos Durão Barroso e Santana Lopes, mas não antecipou o retrocesso que se seguiu à sua saída. A presente linha suicida de Ribeiro e Castro não augura um futuro risonho e, algures, down the line, vai-se levantar a questão se vale realmente a pena a reabilitação do partido numa óptica liberal. Daí a urgência na mudança de rumo.
Por outro lado, se for, de facto, impossível a emergência liberal dentro das estruturas partidárias já existentes, os problemas serão maiores. A criação de um novo partido terá de olhar com muita atenção para o exemplo de Manuel Monteiro e da Nova Democracia. Várias fontes de financiamento, estrutura partidária implantada, liderança carismática, publicidade mediática e, até, a Dina, nem sempre prometem um sucesso eleitoral. Aliás, o PND é um study case de insucesso eleitoral, por razões, algumas, desconhecidas.
Qualquer vontade para a criação de um partido de Direita Liberal terá de olhar com muita atenção para a viabilidade deste projecto no mercado ideológico e eleitoral. Não se deve confundir a projecção de uma vontade liberal ao nível de uma elite cultural e política jovem, informada e urbana com o todo eleitoral. O recurso à transformação orgânica no seio do PSD e do CDS-PP tem esse trunfo crucial: a, já existente, estrutura e um eleitorado que, com alguma habilidade estratégica, se poderá converter ideologicamente.
Um partido novo, neste aspecto, estará demasiado órfão, especialmente, num sistema eleitoral como o português, cristalizado há 3 décadas com a única excepção para a emergência de uma coligação de mensagem política periférica e extremada, mas com facilidade mediática.
O Bloco de Esquerda e a sua estratégia, hábil, de valorização do voto urbano podia servir de boa lição para um partido liberal. Mas as vocações ao nível do eleitorado e da herança são algo diferentes. Enquanto que o Bloco nasceu da coligação de forças já periféricas, um partido de Direita liberal seria, inquestionavelmente, o fruto de facções dissidentes do PSD e do CDS-PP. E na criação de um partido de facção com sucesso eleitoral é necessária uma habilidade minuciosa.
Entre outras, é imperioso que a facção seja alargada, e heterogénea no que diz respeito ao passado político dos seus membros. Tens de ser capaz de ver caras novas, com qualidade e vontade, mas também caras tradicionais, com longo passado que tragam credibilidade e alguma personalização à liderança. Mesmo que privilegies uma inicial implantação urbana, tens de ser capaz de garantir financiamentos latos. E aqui entras num ciclo vicioso: os financiamentos só chegam se o partido tiver hipóteses de ser Poder no médio/longo prazo e o partido só chegará perto de alguma sombra de Poder ou de oposição se tiver financiamentos e um dispersa implantação geográfica.
Estes e outros problemas, são as fontes da minhas reservas em relação à viabilidade de uma Direita liberal fora das estruturas partidárias já existentes. Aliás, olhando para os presentes fluxos ao nível partidário e executivo europeu e, até mesmo, para as dissidências internas no PSD e no CDS-PP, há sinais claros que seja esse o sentido para o futuro. As evidências não deixam muita margem de manobra, só que em Portugal, como sempre, mexe-se um pouco mais devagar.
Um grande abraço

sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Desejos e Pragmatismos

Só para concluir o post anterior. O Manel pergunta: «Que tipo de políticos devemos nós desejar?». Eu acho que a pergunta não deve ser posta nestes termos. Não idealizo políticos mais ou menos perfeitos, nem os desejo. Simplesmente porque não os há, nunca houve, nem haverá tão pouco. Lamento desiludir, mas seria mais interessante aperfeiçoar alguns dos que existem - e existem alguns bons, cá na terrinha, e lá fora - do que esperar pelos D. Sebastiões que normalmente só desiludem.
Quem me conhece sabe que adoro política. Desde que me conheço que respiro e devoro política. Leio desalmadamente, estudo o fenómeno, trabalho nele. Talvez seja isso que me impede de ter desejos. Vivo de realidades. A realidade é que há margem para melhorar, por exemplo, o espectro partidário português. Como: criando um verdadeiro partido à direita do PSD, moderno, de tendência desejavelmente liberal, que consiga albergar todos aqueles que diariamente anseiam pela sua criação. Acredito que não são assim tão poucos quanto isso. Que tal sairem do armário?

Blogs e Blair

Ao abrir um dos poucos blogs que leio diariamente - porque escrevo nele, claro - leio dois post de dois amigos, com duas reacções diferentes.
O do Gonçalo, com o qual concordo 100%. Confesso o meu desânimo com os blogs, não apenas por razões profissionais e de sanidade mental, mas porque a blogosfera perdeu muito do seu "encanto". Eu sou daqueles que quando "descubro" uma banda meio sombria, desejo - perdoem-me o egoísmo - no fundo que ela se fique pelo semi-anonimato; que não seja descoberta por milhares e milhões de pessoas. Não sei. Sempre tive esta mania. Talvez esteja a acontecer o mesmo com os blogs. Mas que fique claro que não tenho absolutamente nada contra a adesão de pesos pesados à blogosfera. Apenas acho que "isto" era espaço de semi ou totalmente desconhecidos. Deixou de o ser. Tal como as bandas.

O post do Manel é muito interessante. Ele picou-me em relação ao Blair. Não que seja um fundamentalista do PM britânico, mas porque tenho trabalhado a sua política externa com alguma atenção. Em primeiro lugar, não me parece que o seu legado externo cesse com a sua saída (falo em legado, porque em termos britânicos ele introduz alguns pontos interessantes no debate, recupera outros e desenvolve uns quantos já existentes). Acho que a GB manterá as suas linhas internacionais, salvo se Cameron fizer questão de lixar a vertente europeísta, com prejuízos grandes, sobretudo para a restante Europa. Em segundo lugar, acho que está na altura de ele se retirar. Tem perdido apoios internos, nomeadamente parlamentares, num assumir claro do partido que chegou a hora da sucessão. Salvaguardava a sua imagem dentro do Labour. É verdade que ele projectou em alta a GB. A minha opinião é que não desiludiu.
Só espero que não se esfume num qualquer cargo da ONU. A Comissão Europeia seria o ideal.

Quo vadis, blogosfera?


Os primeiros 3 anos de blogs nacionais coincidiram com momentos de intenso debate. Nos planos doméstico e internacional, o Iraque; eleições americanas; terrorismo; Santana Lopes, o efémero; liberalismo; Sócrates, o reformador; e muito mais turbulência. Mas, tal como o próprio acto em si, até já a última eleição presidencial foi um pouco aborrecida entre os blogs, não tivesse Mário Soares salvo a honra do convento. Será que questões circunstanciais, o Irão, a Ota, a vida interna da oposição ou o ímpeto reformador do executivo conseguem alimentar os próximos anos da blogsfera política?
Da mesma forma, a chegada recente de pesos pesados aos blogs tendeu a descaracterizar um pouco a novidade e a mood da coisa. A blogosfera política sempre teve os seus pesos pesados originais, a Coluna Infame, o Barnabé, o Bde, o Blasfémias, o Bloguítica, o Acidental, o Intermitente/Insurgente, a Bomba Inteligente e até, esporadicamente, o Abrupto, que marcaram o passo e a piada. Só que os novos pesos pesados são de natureza diferente. Ao contrário dos originais, fizeram o trajecto inverso e saltaram do papel para o monitor. Não me interpretem mal, gosto muito de ler o que Vasco Pulido Valente, David Justino, António Ribeiro Ferreira ou Medeiros Ferreira têm para dizer. Mas não deixo de estranhar quando leio no jornal expressões como “já o disse no meu blog, ...... blogspot.com”.
Ultimamente, a frase que mais vezes ouço repetida acerca de blogs é “sabes, cada coisa tem o seu tempo” e devo confessar só há um blog que ainda me surpreende. Tenho a sensação que isto dos blogs está a perder a sua piada. Parece que se repete o mesmo fenómeno que acontece quando outras gerações usam o vocabulário hip dos filhos, e os blogs arriscam-se a ser o novo “fixe” ou “baril”, esquecidos no baú do vocabulário passageiro.
Hoje em dia dedico muito menos tempo, ou quase nenhum, à leitura de blogs, talvez por falta de disponibilidade, talvez por falta de interesse. Mas, por enquanto, escrever por aqui ainda é uma forma rudimentar de auto-medicação para a salubridade psicológica. Quando me fartar, ou passo a postar fotografias de cenas de trabalho, ou passo escrever num qualquer “meu querido diário”.

Ah, a Ummah, e não é bem a Uma Thurman


À consideração de todos os proponentes do diálogo. Aqui.

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

O regresso à direita

Será que o Prof. Freitas do Amaral quer regressar à família da direita portuguesa?
Será que quer ser, daqui a 10 anos, o candidato da direita à Presidência da República?
Ou voltar a liderar um partido de direita?
Assim se percebe melhor o que tem dito e escrito.
Absurdo? A alternativa é ainda mais.

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Ribeiro e Castro no País das Maravilhas

É curioso e sintomático que as recentes discussões (por aqui e aqui) sobre o actual momento da oposição doméstica, sejam omissas quanto ao papel do CDS-PP.
Teoricamente, no momento em que o PDS se debate com dificuldades de manobra ao centro face a um PS reformista, e quando Marques Mendes (e dissidência) se interroga sobre a sua condição a prazo ou efectiva, o CDS-PP teria o caminho aberto para uma estratégia de oposição coesa e personalizada. Só que, se o PSD, segundo Vasco Rato, optou por uma oposição de “toca e foge”, o CDS-PP acredita na viabilidade recreativa de uma oposição “hide and seek”.
Perante as evidências, Ribeiro e Castro em entrevista ao Expresso, pede “mais ajuda” à estrutura partidária. Mas, Ribeiro e Castro não precisa de ajuda política, precisa de um clube de regata para remar contra as evidências.
Enquanto a estratégia do CDS passar pela insistência estóica na matriz castrense da democracia – cristã, o seu futuro político será o ocaso a curto prazo. Se a ausência física do seu líder é evidente, começam igualmente a surgir os primeiros traços (por exemplo aqui) de uma descaracterização política do CDS-PP, caminhando para uma gradual regressão para a periferia eleitoral e ideológica.
Qualquer regresso do CDS-PP ao poder em 2009, será, obrigatoriamente na condição de parceiro. Para atingir essa condição de parceiro de coligação eleitoral e/ou no poder, o CDS-PP terá de ser um aliado fiável: partidariamente coeso, eleitoralmente relevante, estrategicamente hábil e ideologicamente contemporâneo. O CDS de Ribeiro e Castro está tão distante desta descrição que nem sequer seria chamado para um line-up de identificação policial.

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Dia 27 de Fevereiro...

...é dia da Atlântico.

A Spike Lee Joint

Um teor político ou panfletário não diminuí a qualidade de um filme. Até obras com uma mensagem moral e politicamente asquerosa, como The Birth of a Nation (D.W. Griffith, EUA, 1915), não deixam de ser artisticamente geniais. Este não é o caso de She Hate Me.
Talvez pelas dificuldades que tem tido em arranjar financiamento, Spike Lee resolveu ir à fonte com um camião cisterna. Amor, sexo, confronto racial, corrupção, criminalidade de colarinho branco, homossexualidade (e dificuldade de adopção de crianças por casais homossexuais), poligamia, oposição política, feminismo, mobilidade social e moralidade são demasiado para 138 minutos de película, ainda com tempo para o habitual tributo aos mafiosi de Scorsese.
Spike Lee acabou por cometer o erro de que Michael Moore é exemplo máximo: acreditar que o espectador é uma tábua rasa, passiva e desejosa de doutrinação, desta vez a retalho. Só assim, se explica que um filme com Monica Bellucci, Jamel Debbouze, Anthony Mackie, John Turturro e ainda com tempo para um cameo de Q-Tip, seja uma obra menor. Mas as sombras de genialidade estão lá, escondidas, por exemplo, na qualidade do discurso e do monólogo. Spike Lee é capaz de muito melhor.

Para isso, via o Nói o Albino em islandês não legendado

Peço imensa desculpa à Blockbuster, mas enquanto não arranjarem o March of the Penguins na versão americana(com o Morgan Freeman como narrador), recuso-me a alugar o filme no original francês.
Exactamente pelas mesmas razões porque a CNN contratou o James Earl Jones e não o Gerárd Depardieu para dizer “zthis is ZNN”.

Para a dignidade do futebol português

O roupeiro do Vitória de Guimarães vai ter de e escolher entre a nova camisola justa (à italiana) e a Termotebe interior. As duas, juntas, auto- excluem-se.

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Torga e o Bom Senso

Num momento em que no Ocidente e no Oriente se assite a um delírio crescente, aqui ficam as palavras inteligentes de Miguel Torga:
«Segui o caudal humano calado, a ouvir vivas e morras, travado por não sei que incerteza, sem poder vibrar com o entusiasmo que me rodeava, na recôndita e vã esperança de ser contagiado. Há horas que são de todos. Porque não havia aquela de ser também minha? Mas não. Dentro de mim ressoava apenas uma pergunta: EM QUE OCEANO DE BOM SENSO IRIA DESAGUAR AQUELE DELÌRIO? Que oculta e avisada abnegação estaria pronta para guiar no caminho da história a cegueira daquela confiança?
A velhice é isto: ou se chora sem motivo, ou os olhos ficam secos de lucidez»
(Miguel Torga, Diário, Vol XII)

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

SEMIRAMIS

O Semiramis acabou. De repente. Da forma mais estúpida que pode existir. A sua autora, Joana Gomes, morreu de repente no passado domingo. Era um dos melhores blogs unipessoais ( talvez mesmo o melhor) que por aí andou.
Vamos sentir a sua falta.

Irão

Enquanto a opinião pública ocidental anda entretida a discutir as caricaturas, a verdadeira ameça desenvolve-se no Irão.
Tratam-se de duas faces da mesma moeda. Mas enquanto a primeira face - a polémica das caricaturas - revela-se de "custos aceitáveis" para os Estados ocidentais, a segunda - o Irão - tem custos inaceitáveis do ponto de vista da segurança mundial.
Vai ser preciso agir. E dentro do mais amplo consenso diplomático possível.
Mas quanto sobem os extremos, mais difícil se torna a diplomacia.
Até por isso, não será inocente a polémica das caricaturas.
Por isso parece-me que o caminho de bom senso passa por não alimentar mais a polémica.
Por minha parte, não escreverei ou falarei mais sobre o assunto. Recuso-me a alimentar os radicais.

Prof. Freitas do Amaral: retrate-se

Só tenho um comentário acerca do comunicado do MNE sobre as caricaturas:
-Prof. Freitas do Amaral: retrate-se

quarta-feira, fevereiro 08, 2006

Contra o medo

COMUNICADO - CONVITE

O Sinédrio junta-se à manif.

Na próxima 5ª feira, 9 de Fevereiro, pelas 15 horas, um grupo de cidadãos portugueses irá manifestar a sua solidariedade para com os cidadãos dinamarqueses (cartoonistas e não-cartoonistas), na Embaixada da Dinamarca, na Rua Castilho nº 14, em Lisboa. Convidamos desde já todos os concidadãos a participarem neste acto cívico em nome de uma pedra basilar da nossa existência: a liberdade de expressão. Não nos move ódio ou ressentimento contra nenhuma religião ou causa. Mas não podemos aceitar que o medo domine a agenda do século XXI. Cidadãos livres, de um país livre que integra uma comunidade de Estados livres chamada União Europeia, publicaram num jornal privado desenhos cómicos. Não discutimos o direito de alguém a considerar esses desenhos de mau gosto. Não discutimos o direito de alguém a sentir-se ofendido. Mas consideramos inaceitável que um suposto ofendido se permita ameaçar, agredir e atentar contra a integridade física e o bom nome de quem apenas o ofendeu com palavras e desenhos num meio de comunicação livre. Não esqueçamos que a sátira – os romanos diziam mesmo "Satura quidem tota nostra est" – é um género particularmente querido a mais de dois milénios de cultura europeia, e que todas as ditaduras começam sempre por censurar os livros "de gosto duvidoso", "má moral", "blasfemos", "ofensivos à moral e aos bons costumes". Apelamos ainda ao governo da república portuguesa para que se solidarize com um país europeu que partilha connosco um projecto de união que, a par do progresso económico, pretende assegurar aos seus membros, Estados e Cidadãos, a liberdade de expressão e os valores democráticos a que sentimos ter direito.

Pela liberdade de expressão, nos subscrevemos Rui Zink, Manuel João Ramos, Luísa Jacobetty.

PS: será que não dá para adiar para sábado? Uma quinta, às 15h!?

Softy


...Para os católicos esses símbolos são as figuras de Cristo e da sua Mãe, a Virgem Maria. Para os muçulmanos um dos principais símbolos é a figura do Profeta Maomé.Todos os que professam essas religiões têm direito a que tais símbolos e figuras sejam respeitados. A liberdade sem limites não é liberdade, mas licenciosidade. O que se passou recentemente nesta matéria em alguns países europeus é lamentável porque incita a uma inaceitável 'guerra de religiões' - ainda por cima sabendo-se que as três religiões monoteístas (cristã, muçulmana e hebraica) descendem todas do mesmo profeta, Abraão."


Em relação à polémica com os cartoons dinamarqueses, o MNE poderia ter optado pelo pragmatismo do silêncio ou pela posição dinamarquesa e enfatizar a não - interferência entre o Estado e liberdades públicas. Curiosamente Freitas do Amaral colocou uma cruz em “none of the above” e optou pela originalidade da recitação teológica.
Se esta é já uma atitude condenável do ponto de vista da moralidade democrática, muito mais o será na óptica da própria lógica diplomática. O MNE parece abstrair-se do facto de que em Estados autocráticos como a Síria, a Líbia ou o Irão, o conceito de “manifestação espontânea” não entra no léxico político. Estamos também face a relações entre Estados e uma polémica incendiária sobre cartoons datados de 4 meses inscreve-se em flutuações políticas do Sistema Internacional em que a capacidade de sólida resolução europeia é uma factor fulcral.
O peso político da EU enquanto actor internacional relevante nunca se poderá resumir ao soft power complacente e terá, a certa altura, de optar por uma afirmação hard do não compromisso. Ao testar a capacidade de coesão comunitária em temas que compõem o centro da essência da natureza democrática europeia, Estados como o Irão estão também a testar a capacidade de resolução europeia no enquadramento internacional e a prever a resposta desta metade do Ocidente em questões como o projecto nuclear iraniano.
No próprio seio da EU, não será fácil explicar a parceiros comunitários a temerária posição portuguesa enquanto as suas representações diplomáticas e interesses económicos estratégicos são pilhados e destruídos. Esta opção pela periferia do temor não poderá deixar de resultar na restrição da política externa portuguesa à periferia diplomática. Até no enquadramento doméstico, onde há tudo menos consenso em relação à condenação dos cartoons, a posição pública no MNE não deixa de ser um erro político.

terça-feira, fevereiro 07, 2006

Diplomacia Pura?


O que aconteceu à revista Diplomacia Pura? Saiu o primeiro número em Junho ou Julho de 2005 e depois evaporou-se do mercado. É uma pena porque a revista, além de contar com uma dream team como conselho editorial, trazia a novidade de ser uma publicação sobre política internacional bem mais leve que do que o peso analítico de publicações estritamente académicas.
O primeiro número tinha um bons artigos domésticos (lembro-me do de Bernardo Ivo Cruz sobre a EU), juntamente com outros de académicos estrangeiros, numa excelente ligação entre a economia internacional e a política internacional.
Duvido que a revista tenha desaparecido por falta procura no mercado. Aliás, esse terá sido um parâmetro impossível de quantificar, uma vez que o primeiro número foi vendido juntamente com a Economia Pura. É uma pena se se confirmar o óbito precoce da Diplomacia Pura, pois publicar algo sobre política internacional em formato Foreign Policy é sempre uma mais valia para a especialização portuguesa na área. Além disso, a correlação entre a política e a economia internacional nas mesmas páginas facilita sempre o trabalho do académico e do actor executivo.

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Espelho meu…

Para além da habilidade política, do trato humano, da estratégia e de um curriculum limpo, qualquer futuro político passará por uma boa imagem pessoal.
Reparem no passado democrático nacional. Todas as grandes figuras partidárias e/ou executivas ostentaram um imagem sólida de Estado. Sá Carneiro, Mário Soares, Cavaco Silva, Durão Barroso, Paulo Portas, Ramalho Eanes e até Guterres, antes se parecer ligeiramente com um donut, todos tinham boa figura.
Agora reparem nos grandes flops nacionais. O companheiro Vasco serviu de modelo para o Jack Nicholsn no Voando sobre um Ninho de Cucos; Santana Lopes não percebeu que há uma diferença entre engatar no Stones e assinar o tratado constitucional europeu; Manuel Monteiro cometeu o erro fatal de contratar um geek do MIT como consultor de imagem e Miguel Portas até podia ter pinta não fosse aquela noite passada debaixo do reactor nuclear.
José Sócrates é o óptimo de Pareto do PM pós-moderno. A sua imagem é tão escandinava que poderia figurar no catálogo d IKEA. José Sócrates é José Luís Judas sem comprar roupa na feira.

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Pergunto eu

Francisco: para além dos arranjinhos com árbitros, terá sido assim que ganhaste o "campeonato" o ano passado?

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

A reforma dos partidos políticos

Está hoje na ordem do dia (diria que mais uma vez) a questão da relação entre os partidos políticos e os cidadãos. Ou seja, a representatividade do sistema político.
Ao contrário do que se tem escrito, considero o problema mais conjuntural do que estrutural.
É preciso não esquecer que ainda há menos de um ano o sistema de partidos foi capaz de gerar uma maioria absoluta - logo condições de estabilidade do sistema político.
Para além disso, este é uma tema que aparece de forma ciclica na discussão pública - quem não se lembra do PRD.
Digamos que é essencialmente um problema dos tempos de crise económica, logo passa quando passar a crise.
Todavia, o tema é interessante e pretendo dedicar-me a ele nos próximos dias.
Começo por escrever apenas duas linhas que, em minha opinião, consideram o que é essencial:
1ºO problema não está tanto nas estruturas dos partidos (logo não se resolve por mudanças estatutárias), mas sim na qualidade das pessoas. Sejam os partidos capazes de atrair os mais capazes da sociedade portuguesa, pessoas com sucesso nas suas vidas pessoais (e não apenas os "jotas") e grande parte do problema está resolvido.
2.Nenhum problema se resolve enquanto não se atacar a sério a questão do financiamento dos partidos (o que a recente lei não faz, ou ainda agrava).
Se se começar por aqui talvez seja possível fazer alguma coisa.
Caso contrário, é pura perda de tempo

Não à carteira Weetabix!










Vpv e o camarada Henrique confluíram na denúncia do novo “cartão do cidadão” como o instrumento opressivo de um Estado policial vigilante. Devo dizer que por muito que aprecie ambos os argumentos liberais, não partilho este alarmismo.
Tendo a ser optimista e a acreditar que compilação não significa partilha e vigilância. Tenho fé na fiabilidade do sistema de compartimentação de informação acredito no acesso escrutinado a esta. Não tenho qualquer objecção a que a minha informação pessoal seja compilada por duas simples razões: ela já existe em poder do Estado e a compilação só me irá facilitar a vida.
Uma das grandes idiossincrasias portuguesas é o facto da nossa carteira mais parecer uma sandes de coiratos: obesa, pesada, cansada, gasta.
A nossa identificação pessoal vem do tempo em que o pedido de identificação pelo agente da autoridade era feito pela frase “deixe-me ver os seus papéis”. Porque é isso que nós carregamos na carteira, papeis, não documentos. “Documentos” é uma expressão demasiado civilizada para o volume grosso de processos burocráticos que carregamos no bolso. A limpeza de uma carteira exige a atenção científica de um arquivista e/ou um bibliotecário.
Já o disse aqui uma vez (algures nos arquivos), o meu Bilhete de Identidade, ao longo dos tempos, só meu fez passar vergonhas internacionais. Lembrei-me agora de outra: quando fui a Haia ver o Milosevic a dormitar e presenciei o meu B.I a ser enxovalhado pelos olhares jocosos dos seguranças enquanto na mesa repousavam as reluzentes identificações de verdadeiros cidadãos comunitários. Aliás, quem é que nunca passou pelo desespero de, em dia de eleições saber lá onde é que está a porra de um cartão de eleitor feito de cartolina?
Por isso, caros detractores do “cartão do cidadão”, permitam-me que desta fez fique do outro lado da barricada. Só assim não vou ter de explicar a curiosos olhares femininos que aquele alto nas minhas calças não é a erecção da quase-extinta espécie “pénis cabeça de martelo” (marterlus caput penisculorum) .

Sobre o Liberalismo e as eleições - parte 2

Meus caros amigos,
Julgo que não entenderam o meu post de ontem.
Não se tratava de uma critica ao liberalismo - até porque para isso era necessário começar por definir de que tipo de liberalismo estamos a falar.
Tratava-se somente de demonstrar como, em minha opinião, uma certa visão liberal contemporânea não se pode aplicar à realidade portuguesa, nomeadamente à realidade de competição eleitoral. Logo, à agenda dos partidos políticos.
Acresce que não é possível transpor a realidade de um país para outro pelo simples facto de que eles são diferentes.
No caso português é preciso não esquecer que estamos a falar de um mercado muito pequeno, logo com pouca flexibilidade nas oportunidades de trabalho.

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

O liberalismo e as eleições

Amigos, lembram-se da nossa discussão de segunda - feira à noite sobre o liberalismo em Portugal?
Recordo o que disse na altura sobre o Prof. António Borges e o PSD: «A agenda liberal de António Borges nunca ganhará eleições em Portugal e o PSD (a parte deste que conta) sabe disso pelo que, ou muda de discurso, ou nunca será líder do Partido.
Pois aqui fica uma citação do meu favorito Vasco Pulido Valente:
«A sra Thatcher aumentou, não diminuiu, a despesa com o Estado-providência. (...) George W. Bush, o próprio, foi (...) o Presidente que aumentou mais, também em percentagem do PIB, a despesa com o Estado providência. Conclus
ao? O liberalismo é belo, mas não há liberal praticante que seja eleito»

A gratidão em política

Há uns anos atrás escrevi, em conjunto com um amigo, um artigo chamado "O Estadista da Moeda Única".
Nele dizia-se que Cavaco Silva tinha sacrificado o seu poder pessoal em nome de um designio nacional - a entrada de Portugal no pelotão da frente da moeda única. Por isso ficaria na história como o "Estadista da Moeda Única".
Mais se dizia que, a prazo, os portuguese reconheceriam esta realidade e compensariam o Estadista.
Assim foi, a 22 de Janeiro de 2006. Dez anos depois.
Afinal sempre há gratidão em política.
Eu pelo menos sou grato e por isso abro esta excepção de escrever, ainda, sobre as presidenciais

terça-feira, janeiro 31, 2006

Hoje nas bancas

Atlântico n.º11, a primeira da gestão Paulo Pinto Mascarenhas.

E agora a Atlântico tem um blog: http://www.revista-atlantico.blogspot.com/

PS: Bernardo, Gonçalo, não consigo meter a foto... SOS

3 anos e meio

Há muito tempo que não escrevia no blog.
Confesso que me tem faltado "pachorra" para a realidade portuguesa. Logo, não me apetece escrever, ler ou mesmo pensar.
Há um ano que não se fala de outra coisa que não das presidenciais (com excepção do futebol, claro). E ainda hoje se fala e escreve. E as eleições já passaram!
Que há um movimento de cidadania.
Que os cidadãos têm poder.
Que Alegre é a renovação dos partidos políticos.
Que Cavaco Silva é um perigo para a democracia pois quer governar a partir de Belém.
Que Socrates vai ter vida dificil.
Que vem ai a instabilidade.
Que vai surgir um novo movimento civico que fará tremer os políticos e os partidos.
Blá, blá, blá
Tudo imaginação, ou falta de capacidade para compreender o que é básico na lógica das coisas políticas.
E tudo é muito mais simples do que parece e resume-se a uma frase: vamos viver 3 anos e meio de tranquilidade política.
Alegre não existe (de resto, nunca existiu)
Os cidadãos não existem, como nunca existiu a cidadania na nossa tradição pública. Logo, não há movimento civico (quanto muito um foclore que dura uns 2 ou 3 meses)
O Prof. Cavaco Silva não é nenhum perigo para a democracia nem quer governar a partir de Belém. Não quer porque é um homem com sentido de Estado e percebe a particularidade do momento que o País atravessa. Mas também não pode pode.
Na verdade ninguém quer instabilidade. Nem o PS (a parte deste que verdadeiramento conta), nem o PSD, nem mesmo o Bloco de Esquerda (cuja meta é de médio prazo, ou seja, daqui a 3 anos e meio). Nem os empresários, nem a banca, nem a comunicação social, nem os sindicatos, nem os "opinion makers".
Talvez queira o PCP e a Intersindical, mas esses também já não existem.
Assim, vamos ter 3 anos e meio de "cidadania tranquila".
Pois isto só voltará a ser a sério uns meses antes das próximas eleições legislativas.
Até lá tudo é pura perda de tempo.

segunda-feira, janeiro 30, 2006

1 Aninho


Pois é, o Sinédrio completa, agora, um ano de vida. Está na hora de começarmos a pensar em jardins-escola e playdates. Hoje à noite sopramos as velas!

sexta-feira, janeiro 27, 2006

Atlântico Renovada, a 31 de Janeiro


Entre outros: João Pereira Coutinho, Constança Cunha e Sá, Rui Ramos, Luciano Amaral, Maria de Fátima Bonifácio, João Marques de Almeida, Pedro Lomba, Vasco Rato, Carla Hilário Quevedo, Rita Barata Silvério, Francisco Mendes da Silva, Nuno Costa Santos, Eduardo Nogueira Pinto, Henrique Burnay, Adolfo Mesquita Nunes, Rodrigo Moita de Deus...

O Sinédrio orgulha-se de colaborar com três dos seus elementos, Gonçalo Curado, Henrique Raposo e este que vos anuncia o próximo e renovado número de uma revista que promete.

E promete já para o número de Março, Maria Filomena Mónica na última página. Para ficar. Por muitos e bons anos.

Não percam.

quinta-feira, janeiro 26, 2006

Conservador liberal


Raymond Aron, conservador liberal, o Tocqueville do XX.

Conservador liberal? Que porra é essa? [pergunta feita por sms]. Como estou sem saldo, aqui fica a resposta:

«Aquele que procura ser o anjo acaba por ser a besta. O Político não deve esquecer que a ordem internacional é mantida apenas na condição de ser suportada por forças capazes de equilibrar as forças de estados revolucionários ou insatisfeitos […] mas aquele que procura ser a besta não será anjo. Os realistas spenglerianos, que julgam que o Homem é uma besta e que, por isso, instigam esse comportamento bestial, ignoram um lado essencial da natureza humana. Mesmo nas relações entre Estados, o respeito pelas ideias, a aspiração a valores e preocupação com obrigações são evidentes».
Aron, Paz e Guerra.

Sinédrio à escuta

A direita pode ter emenda,
do meu camarada acidental Eduardo Nogueira Pinto

aqui fica a parte final:

O liberalismo mitigado deve ser a aposta da direita para os próximos anos. Em Portugal, país onde o Estado continua a ter uma presença asfixiante em quase todas as áreas, não é ideologicamente complicado a um direitista ser liberal. Mesmo os mais puros conservadores se tornam de bom grado liberais. Há muito pouco para preservar. Há muito para liberalizar. Não se trata de querer privatizar tudo e mais alguma coisa, de acabar com a segurança social e com o sistema nacional de saúde, ou de outros niilismos megalómanos. Trata-se, tão-somente, de repor algum bom senso na coisa pública. Depois de alcançado esse objectivo, depois de reduzido Estado às suas tarefas fundamentais, depois de as políticas essencialmente de direita passarem a ser prática comum, depois de tudo isso, poderemos, então, voltar a ser conservadores. Conservadores-liberais, bem entendido.

Top Gun, Socialist Style

“A leftist maverick, Manuel Alegre, had 20.7 percent of the vote and Mário Soares, the Socialists' official candidate, had 14.21 percent.”
Maverick, a.k.a. “you’ve lost that party feeling”


Iceman

Goose

Also starring: Jorge Coelho as unfriendly MIG pilot

quarta-feira, janeiro 25, 2006

Que Direita?

Tal como se explica o sexo às crianças por meio de alegorias com cegonhas e abelhas, também grande parte da Direita recorre a expressões que minoram a sua natureza política, tal como “o candidato da sua área política” ou a crucial alusão composta ao “centro-“.Não digo que seja necessário fazer uma arruada ou qualquer acto público de consagração comunitária. Isso fica para outros. Mas dificilmente haverá uma Direita com vocação de poder, enquanto esta se envergonhar da sua própria natureza.

Há! Isso foi o Joseph...


Para refutar a projecto de resolução do Conselho da Europa sobre a “Necessidade de uma condenação internacional dos crimes dos regimes comunistas totalitários”, o PCP nem se deu ao trabalho de recorrer à comum tese de uma ideologia inocente dos crimes cometidos em seu nome.
Na Declaração Política do PCP, o comunismo totalitário perde por falta de comparência, apresentando-se a resolução do Conselho da Europa como instrumento de uma ofensiva “fascizante”, disposta a “branquear o nazi-fascismo” pela aproximação deste à natureza cândida do marxismo-leninismo.
Assim se constrói a contemporânea essência comunista. Partilhando a matriz ideológica de experiências totalitárias, o PCP afirma a sua inocência porque, entretanto, se foi dissociando de qualquer cumplicidade por associação. O que o presente ideário comunista esconde é a vocação sanguinária e repressiva, escrita em small print, em qualquer magna utopia.

Hairball II

Medeiros Ferreira bem pode parar de agitar bandeiras. Afirmar a depuração democrática dos 700 mil eleitores soaristas só demonstra a incapacidade de alguma Esquerda para aceitar uma derrota como sua. É a inabilidade para apresentar a sua razão de ser futura, em democracia liberal, que explica o recurso a alusões a ameaças internas ao próprio sistema democrático. Rotativismo e Pluralismo foram, entretanto, engavetados.
A “Esquerda” que, no Domingo, dormiu como um bebé é aquela que antes de fechar os olhos não olhou, saudosa, para o espaço vazio na parede onde um dia se pendurou um qualquer projecto holístico para as massas.

terça-feira, janeiro 24, 2006

A clarividência aqui tão perto


“Tras dos meses de campaña agotadora y bastante plúmbea en general, el pueblo portugués diseñó unos resultados sensatos y templados, que no revelan tanto entusiasmo como ganas de acabar lo antes posible con el asunto.

....


El primer ministro, Sócrates, asistió como si la cosa no fuera con él al cataclismo histórico (quizá el último, pero nunca se sabe con el Viejo León) de su candidato, Mário Soares, de 81 años. Aunque los analistas no hablan de un voto de castigo al Gobierno sino de un error de timing, o más bien de época, cometido por el propio Soares, como recordaba ayer el director de Público. El PS no vivía tal desastre (un 14% de los votos) desde que el extinto Partido Renovador Democrático engulló en 1985 a la mitad de su electorado.”

Cavaco promete lealtad al Gobierno”, El País

segunda-feira, janeiro 23, 2006

Leitura Recomendada

Martim Avillez Figueiredo, Se a Economia Fraquejar, Começam os Conflitos (DE)

João Marques de Almeida, África e o Terrorismo Islâmico (DE)

Já vou lixar a linha editorial do blog!

O Pedro Mexia, há uns tempos atrás, falou do carácter foleiro do sexo literário português e deixou-me a pensar. Acabei por chegar à conclusão que não é só a qualidade da prosa que dá um contributo foleiro, é o próprio vocabulário português que não é amigo do sexo literário.
Bocage safava-se porque, na altura, podia-se deixar as coisas subentendidas, mas o leitor contemporâneo não tem paciência para silogismos e quer qualquer coisa mais explícita. Só que o emprego de vocábulos gráficos como “perpúcio”, “genitália” ou “escroto” são ainda piores do que os wannabe Bocage que recorrem a eufemismos arrepiantes como “monte de vénus” e as clássicas referências a parafernália de combate a fogos.
Por exemplo, no filme Point BreakRuptura Explosiva há uma personagem que diz: “young, dumb and full of cum” e o tradutor optou uma qualquer solução púdica como “jovem, burro e cheio de genica”.
Isto é obviamente foleiro, mas imagine-se a tradução literal.

Aritmética ideológica

É engraçado que enquanto se minimiza a aritmética da derrota soarista, ninguém repara na irracionalidade de Soares se predispor a alcançar a Presidência com base no programa ideológico do Bloco.

liberalismos

And the difference over competing policies stems from a more fundamental disagreement between left and right about the primacy of the factors that menace freedom. Progressive liberals see inequality as the chief menace to freedom and government as an essential part of the solution. For libertarian liberals, who like progressives think that freedom yields progress and like conservatives stress that freedom depends on limits, it is government that is the chief menace to freedom, and the restraint of government is freedom’s essential safeguard. And for CONSERVATIVE LIBERALS, both of the traditional and neoconservative variety, it is the excess of freedom and equality that poses the biggest threat to freedom, and government is seen as both friend and foe in the battle to limit freedom and equality on behalf of freedom and equality.

Peter Berkowitz

Hairball

Enquanto Medeiros Ferreira aceita a sua derrota “como se fosse sua” e no Super Mário se ouve Sinatra a dizer “and now, the end is near”, Vital Moreira insiste num azedo revisionismo. Para essa derrota entalada na garganta, o Sinédrio recomenda-lhe:

O pré-requisito grisalho

Sempre que digo que cedo chegará o tempo de António Borges no PSD recebo a resposta que “ele ainda está muito verde” ou “ainda faltam uns anos”, apesar de Marques Mendes ser, por natureza, transitório.
Isto deixa-me algo confuso. Serão ecos de Mitterrand que envelhecem os requisitos portugueses de liderança? Que tal olharmos para o exemplo britânico?

Facção


Curioso fenómeno. Santanistas e Soaristas, todos levaram o coração e a facção para lá do interesse e do pragmatismo político. Todos negaram as evidências.

Já se podem guardar as muletas no armário


A forma como José Sócrates geriu a campanha presidencial é text book maquiavélica. Nos próximos dias, no Largo do Rato, espera-se observar um estranho fenómeno de flash mobbing com inúmeras pessoas a olhar por cima do ombro.

Óbito

Morreu ontem uma geração de poder, tão corroída e cansada que nem há quem lhe escreva um obituário.

Hoje Portugal acordou confiante

Revivalistas precisam-se

Ultimamente tenho vindo a concordar com o Henrique na crença de que boa música tem de passar o teste do tempo. Porém, os camaradas revisionistas Bernardo e Manuel juntaram-se no pedido de uma renovada soundtrack para o Sinédrio. Por muito que eu aprecie bandas recentes começadas por The, continuo a acreditar que não há nada como:












Ainda assim, aí ficam na “Grafonola” alguns acordes de modernidade.

sexta-feira, janeiro 20, 2006

O Friedman de 1910 ou o Utopismo liberal da I Globalização

As frases seguintes não se referem ao nosso tempo. Pertencem a um livro de 1910:

«essas tendências, resultantes em sua maior parte de um conjunto de condições inteiramente modernas, fazem com que os problemas da política internacional sejam profunda e essencialmente diferentes dos antigos». E este provincianismo do presente (daquele “presente”; também naquele tempo se pensava que a integração económica seria sinónima de integração política; típico erro da modernidade de esquerda; sim, pode-se ser capitalista, liberal e apresentar, ao mesmo tempo, uma disposição mental de Esquerda, isto é, Progressista e Universal; Thomas Friedman é da "esquerda" americana) continua, continua contra os "reaccionários", essas malditos, que só pensam com grelhas do passado já ultrapassado: «não obstante, essas ideias ainda estão dominadas por antigos axiomas e princípios, assim como por um terminologia ultrapassada».

Norman Angell, A Grande Ilusão, 1910. Os Norman Angell's de hoje - Friedman à cabeça -repetem a mesma arrogância. Só resta esperar que a II Globalização, a nossa, não termine com um bang.

Deus existe, Henrique!

Henrique, estou farto de te dizer que Deus, para além de estar em todo o lado, está também em Bruxelas. Não, não é nos corredores que andas a pensar. É nas guitarras destes ilustres senhores. Deixa lá os teus ataques com Bach e esses defuntos do tempo do terramoto e adere ao mundo dos vivos. Dos bem vivos.

“Coincidência” é a palavra que o agnóstico usa quando começa a pensar que, se calhar, há mesmo Deus

Quando alguém, na mesma tarde, encontra três ex-namoradas, todas pedindo encore com os olhos, esse alguém só pode mesmo pensar no Poder das coincidências.

quinta-feira, janeiro 19, 2006

A Aliança mais importante do mundo

Japan and the United States: the Essential Alliance
Yukio Okamoto

1. Globalização? Sempre. Mas cuidado. “Ela” depende de alianças estratégicas. E a mais importante é a aliança entre EUA e Japão (no Japão, os EUA têm a única task force - um Porta-Aviões e afins - estacionada fora do continente americano). Este é um dado pouco comentado. Talvez porque temos como certa e garantida a dita aliança. Mas, em Política, nada é garantido. As alianças EUA-Europa e EUA-Coreia do Sul encontram-se num estado de ambiguidade. Se essa ambiguidade chegar a Tóquio, meus caros, teremos sarilhos. Um mundo sem aliança Tóquio-Washington é um mundo desconhecido; um estranho, novo e perigoso mundo.

quarta-feira, janeiro 18, 2006

A Utopia de Friedman

Barry C. Lynn “War, Trade and Utopia” (National Interest, 82).

Excelente crítica ao utopismo comercial e determinista de Thomas Friedman. Thomas Friedman faz lembrar Norman Angell. Em 1910, Angell também afirmava que a globalização – a primeira – iria conduzir o mundo para a paz e prosperidade. Norman Angell também criou um fim de história. Errou por completo. Thomas Friedman, na nossa 2ª Globalização, repete os erros. Não resiste à utopia. Globalização, sim. Mas devemos estar conscientes que não é um processo autónomo. Dependente da política dos estados liberais que a sustentam.

terça-feira, janeiro 17, 2006

Corte na ortodoxia


Peço desculpa aos caros colegas pelo corte na ortodoxia musical do estabelecimento, mas é que o camarada Bernardini afirmou que esteve com a imortalidade. Pois bem, eu hoje estive a tarde inteira com Deus. Duas vezes, para ser correcto. Bebemos uns copos e tudo.