sábado, janeiro 29, 2005

O Livro Cinzento do Comunismo

Ontem, à noite, substituí o habitual Expresso da Meia Noite na SIC Notícias pela estreia do Até Amanhã Camaradas e até à uma e meia da manhã recordei páginas de heróis subversivos e revolucionários que operam na clandestinidade. O Século XX português não pode passar ao lado ou menosprezar o contributo histórico do PCP e das seus anónimos e clandestinos nomes, mas também seria erróneo desconsiderar o compêndio ideológico que é esta obra.
Se ao Até Amanhã Camaradas juntarmos outros títulos da bibliografia de Cunhal como Um Risco na Areia ou Sala 3 e outros contos, as mentes mais libertárias e menos ortodoxas compreenderão que aquela comichão intelectual que nos acompanhou as acompanhou ao longo das primeiras páginas era algo mais do que o resultado das radiações do telemóvel.
Após algumas páginas, aquele mundo de “amigos”, “camaradas” e “controleiros” começa a ser conceptualizado numa orgânica de Partido, de Colectivo. Qualquer fuga à ortodoxia partidária, progressivamente, passa a ser vista como fazer sexo num filme de terror: um erro fatal!
Esta, sempre presente, imolação ideológica começa, mesmo, a fazer sentido e o leitor passa a pensar nas personagens como um colectivo, como a expressão comum de uma ideia que suplanta a simples existências e dramas individuais. Por isso é que a obra de Manuel Tiago é mais do que literária, é política e biográfica.
Mais do que Daniel o Revolucionário de Pacheco Pereira, ler Manuel Tiago é conhecer o betão ideológico que é Álvaro Cunhal. Uma obra literária não poderia ser apenas uma obra literária, o intelecto e a criação plástica de um enredo só poderia estar ao serviço do Partido e da Revolução. Qualquer fuga seria demasiado expontânea, livre, individual.Tal como os manifestos grevistas impressos nos sótãos da clandestinidade, também Manuel Tiago é o sótão artístico de Álvaro Cunhal onde “o amigo” letrado trabalha para o Partido.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

gjgjjjjjjjjjjj

12:41 da tarde  

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