"A new era of transatlantic unity".
É curioso ver como a visita do Presidente Bush à Europa tende a suscitar os mais diligentes comentários. O pessimismo atípico de Niall Ferguson no Guardian de hoje é um mero exemplo. O eminente historiador britânico sugere-nos um admirável paralelo entre a visita de Nixon à China em 1972 e a visita de George Bush à Europa em 2005. Niall Ferguson parte do engraçado pressuposto de um regresso a um sistema internacional triangular, onde a China se instaura como vector alternativo para a destabilização de um cenário crónico de deterrence. Para Ferguson o vínculo transatlântico está condenado à secessão por factores cruciais como o Iraque o Irão e a China. Se a lógica de Ferguson perde imediata validade pela sua relativização de questões menores como a enunciação de um afastamento europeu face aos EUA justificado pela relutância dos executivos europeus em hostilizarem as suas faixas populacionais árabes, a sua argumentação face ao Iraque, Irão e China, merece ser debatida.
Se o Iraque continuará a ser um marco importante na divisão de esforços transatlânticos, por outro lado, o Irão deverá representar um argumento de união. Só um esforço transatlântico concertado poderá dar resposta a um Irão nuclear e sobre isso já se falou muito neste blog, mas a China é um dado novo. A intenção europeia de levantar o embargo ao tráfico de armas conhece profunda aversão na política externa americana e o debate transatlântico acerca desta questão começa a ganhar momentum. A questão é mais grave quando se compreende que as duas principais vozes pró-china no seio da EU são francesas e alemãs, que oportunamente esquecem que génese do embargo europeu radica em Tiananmen. Porém também Ferguson se “esqueceu”, oportunamente, de que o fim do embargo europeu só poderá ser uma realidade mediante o voto favorável da unanimidade dos Estados europeus, um cenário tão difícil quanto distante, bem como dependente de uma abertura profunda do regime chinês. O quotidiano chinês de uma dualidade democratizante sui generis, just doesn´t cut it..., mesmo dentro do enquadramento do EU Code of Conduct for Arms Exports de 1998.
A hábil argumentação de Niall Ferguson respeita unicamente a difusos factores de desunião entre as vontades transatlânticas. Elege a China, mais do que o Irão ou o Iraque, como o móbil original para uma dispersão de esforços e para a polarização de políticas externas, e o seu regresso ao périplo asiático de Nixon procura enunciar um imaginário de hostilidade ou de adversidade no seio de uma devastada Aliança Atlântica. No entanto, Ferguson partiu de um pressuposto errado e todo o seu argumento é minado por essa mesma escolha original. O seu discurso, desde o primeiro ao último parágrafo, assume uma certa dispersão de objectivos transatlânticos. O Irão e a China serão exemplos e não causas de uma derrocada eminente da Aliança Atlântica.
A descontinuidade entre o argumento de Niall Ferguson e a realidade é por demais evidente. Na sua chegada à Europa, George Bush declarou que "no temporary debate, no passing disagreement of governments, no power on earth will ever divide us." A frase é passível de inúmeras interpretações e mentes mais férteis podem exportá-la para a Pequim de 1972, ainda assim, ela assume uma verdade inequívoca: o actual sistema internacional só poderá ser factor de união transatlânticas.
Se o Iraque continuará a ser um marco importante na divisão de esforços transatlânticos, por outro lado, o Irão deverá representar um argumento de união. Só um esforço transatlântico concertado poderá dar resposta a um Irão nuclear e sobre isso já se falou muito neste blog, mas a China é um dado novo. A intenção europeia de levantar o embargo ao tráfico de armas conhece profunda aversão na política externa americana e o debate transatlântico acerca desta questão começa a ganhar momentum. A questão é mais grave quando se compreende que as duas principais vozes pró-china no seio da EU são francesas e alemãs, que oportunamente esquecem que génese do embargo europeu radica em Tiananmen. Porém também Ferguson se “esqueceu”, oportunamente, de que o fim do embargo europeu só poderá ser uma realidade mediante o voto favorável da unanimidade dos Estados europeus, um cenário tão difícil quanto distante, bem como dependente de uma abertura profunda do regime chinês. O quotidiano chinês de uma dualidade democratizante sui generis, just doesn´t cut it..., mesmo dentro do enquadramento do EU Code of Conduct for Arms Exports de 1998.
A hábil argumentação de Niall Ferguson respeita unicamente a difusos factores de desunião entre as vontades transatlânticas. Elege a China, mais do que o Irão ou o Iraque, como o móbil original para uma dispersão de esforços e para a polarização de políticas externas, e o seu regresso ao périplo asiático de Nixon procura enunciar um imaginário de hostilidade ou de adversidade no seio de uma devastada Aliança Atlântica. No entanto, Ferguson partiu de um pressuposto errado e todo o seu argumento é minado por essa mesma escolha original. O seu discurso, desde o primeiro ao último parágrafo, assume uma certa dispersão de objectivos transatlânticos. O Irão e a China serão exemplos e não causas de uma derrocada eminente da Aliança Atlântica.
A descontinuidade entre o argumento de Niall Ferguson e a realidade é por demais evidente. Na sua chegada à Europa, George Bush declarou que "no temporary debate, no passing disagreement of governments, no power on earth will ever divide us." A frase é passível de inúmeras interpretações e mentes mais férteis podem exportá-la para a Pequim de 1972, ainda assim, ela assume uma verdade inequívoca: o actual sistema internacional só poderá ser factor de união transatlânticas.
Num futuro próximo, quando Chirac e Schroder deixarem os seus executivos, algo permanecerá imutável: o parceiro lógico da Europa são os EUA e vice-versa. Não será necessário enumerar os fortes laços económicos que unem as duas margens do atlântico, apenas o recurso a uma estrita análise geopolítica dissipará qualquer dúvida. O cenário actual é passível de constituir protótipo para o futuro. Com a Coreia do Norte à parte, o conflito isrealo –palestiniano, um Mubarak endogâmico, o eixo moral sírio-iraniano, o Irão nuclear e um regresso da Rússia ao proto-czarismo, a já proximidade geográfica europeia e o previsível alargamento da EU, colocam-na no papel de actor - regional. Uma lúcida resposta da política externa europeia só poderá passar pelo eixo transatlântico de união de vontades e de objectivos estratégicos. Brzezinski compreendeu-o perfeitamente e o seu argumento pode, muito bem, ser reconvertido à política externa europeia.
Depois de Condi Rice e de Rumsfeld, a presença do Presidente Bush em solo europeu só poderá expressar uma resposta uníssona para objectivos comuns. Alguns conflitos são, obviamente, previsíveis e o Iraque, dificilmente, poderá padecer de um esforço europeu concreto, bem como Kyoto será, por enquanto, um factor de divisão. E se a Europa é, por demais, realista para aderir integralmente a doutrinas de realismos democráticos, a sua política externa e de defesa terá de passar, obrigatoriamente, pela Aliança Atlântica.
Depois de Condi Rice e de Rumsfeld, a presença do Presidente Bush em solo europeu só poderá expressar uma resposta uníssona para objectivos comuns. Alguns conflitos são, obviamente, previsíveis e o Iraque, dificilmente, poderá padecer de um esforço europeu concreto, bem como Kyoto será, por enquanto, um factor de divisão. E se a Europa é, por demais, realista para aderir integralmente a doutrinas de realismos democráticos, a sua política externa e de defesa terá de passar, obrigatoriamente, pela Aliança Atlântica.
A Aliança Atlântica não poderá ser encarada como um enquadramento necessário face às carências europeias, mas como um bónus. Inúmeras questões emergem que só podem ser endereçadas por uma responsabilidade transatlântica partilhada. Numa altura em que na Rússia emerge uma vontade regional hegemónica e que parte das suas capacidades militares fluem em redes transnacionais de tráfico ielgal de armamento, a cooperação transatlântica no caso ucrâniano tem de constituir exemplo para a previsível aproximação geográfica da Nato e da EU às suas fronteiras.
O Presidente Bush e o seu II mandato chegam a solo europeu com a pretensão de abrirem “a new era of transatlantic unity", a Europa deverá cumprir a sua parte.
O Presidente Bush e o seu II mandato chegam a solo europeu com a pretensão de abrirem “a new era of transatlantic unity", a Europa deverá cumprir a sua parte.
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