Reforço dos laços transatlânticos
Esta imagem é reveladora do actual estado da relação transatlântica. Por um lado, a nova face da diplomacia norte-americana - Condoleezza Rice - por outro, o presidente francês Jacques Chirac, um neo-gaulista que confunde muitas vezes "Europa" com "França".
Apresentados os protagonistas entremos no essencial. E o essencial foi o passo dado ontem em Paris, numa intervenção que Rice protagonizou e que relevou a importância da relação transatlântica. Poderemos perguntar porquê em Paris? E porquê agora?
A resposta a esta última pergunta é simples: os EUA precisam que a UE se envolva mais no Iraque e que endureça o seu discurso em relação aos assuntos prioritários para a Administração W. Bush, isto é, o desmantelamento nuclear iraniano, o reforço da paz no Médio Oriente e a diplomacia face à Coreia do Norte. Por outras palavras, os EUA pedem que a UE assuma as suas responsabilidades enquanto actor importantíssimo à escala global, sobretudo nas matérias da segurança e estabilidade de zonas em risco de se afirmarem como desestabilizadoras.
Rice foi a Paris porque França tem importância neste quadro. Enquanto terceiro investidor em Defesa no mundo - atrás dos EUA e Grã Bretanha - mas também porque é um apoio financeiro de relevância, atraindo a Alemanha facilmente consigo. No fundo, prendendo a França a responsabilidades acrescidas, Rice engloba o motor económico da UE nos planos ambiciosos norte-americanos no quadro da Estratégia do Grande Médio Oriente. Zonas onde França tem enormes interesses e responsabilidades.
Rice deu um passo importantíssimo no restaurar da confiança entre aliados. O Iraque revelou uma crise - que não foi de todo inédita - entre parceiros da mais antiga e sólida organização internacional: a NATO. Organização esta que foi a primeira "amarra" permanente ao exterior dos EUA e que marcou profundamente os últimos 60 anos. Mais ainda: foi a Aliança Atlântica - conceito bem mais lato que a NATO - que possiblitou uma ligação institucional, política e de valores entre Estados que há algumas décadas atrás estavam de costas voltadas. Hoje a NATO é bem mais ambiciosa e pouco ou nada tem a ver com a sua génese. E ainda bem.
Os EUA deram nos últimos tempos sinais de quererem reforçar os laços transatlânticos. Por necessidade. Mas por convicção, também.
Do lado europeu esperam-se bem mais do que palavras de reforço aos sinais americanos. Esperam-se atitudes e o assumir de responsabilidades.
Portugal pode e deve ter um papel neste campo. Durão Barroso também.
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