quarta-feira, outubro 05, 2005

Três almas para um corpo europeu

Neste momento de impasse, a Europa hesita entre três concepções de política externa:

(1) A concepção francesa: um mundo multipolar. Os franceses são incapazes de sair no cliché do realismo puro. E, aqui, a influência nem sequer é 1789. A grande matriz é Richelieu. É Talleyrand. É o velho cinismo. É o aristocrático secretismo palaciano. Parece que os franceses ainda não perceberam que vivemos, aqui no Ocidente, num mundo constitucional e democrático. Por isso, não vêem problemas numa aliança com a Rússia e com a China, desde que isso possibilite o contrabalançar do poder americano. Perigosa concepção (a França está a brincar numa categoria que não é a sua). Infame concepção (a França coloca uma lógica de Poder puro acima dos laços demo-liberais).

(2) A concepção alemã: uma jurisdição universal. A tese dos Habermas. O velho monismo germânico projecta-se, desta vez, no mundo inteiro. Os alemães continuam a pensar que existe um único princípio com a capacidade de ordenar a pluralidade conflituosa do mundo. O eterno problema da Alemanha.
Mais: como é que essa jurisdição universal, baseada na ONU, poderia ser implementada no terreno? Ora, só há direito positivo quando existe um Leviatã. Portanto, na sombra da Utopia, encontramos o sonho do estado mundial...

(3) A concepção britânica: uma Europa constituída por democracias liberais (já com a Turquia), em aliança directa com os EUA, Austrália, Canadá, Índia, África do Sul, Chile, Brasil, México, Japão, Filipinas. Uma aliança na defesa dos valores do cosmopolitismo.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Caro Henrique,

confesso que fico supreso com o vosso entusiasmo (não só do Henrique mas de outros sinédrios) relativamente à adesão da Turquia.

Relativamente a este assunto, que admito não ter ainda opinião 100% formada e ser portanto susceptivel de mudança, a minha inclinação natural, e caso seja referendado será a minha opinião, é a de não aceitar a integração da Turquia na UE.

O Henrique, melhor que eu pela sua formação, basta uma pequena análise histórica das relações entre a europa e o a turquia(ou o que foi o Império Otomano) para perceber que, em grosso modo, não foi e não é uma relação totalmente pacífica. É que as diferenças, e por muito que se queira ser politicamente correcto é impossivel não reparar, são abismais. Com a Turquia estamos a entrar num "universo diferente".

Admito que em algumas das principais cidades, caso de Istambul ou Ankara, se note alguma semelhança com a europa (possivelmente apenas uma pequena camada superficial e imposta), mas no grosso da populaçãos e dos costumes à muito pouco de europeu, e dificilmente existirá algo.

Existe a ideia de que a entrada de certos países para a europa oos poderá modernizar e pacificar, sendo para isso a europa a solução para todos os males, então proponho a entrada não só da Turquia, como do Kazaquistão, Uzbequistão, Turkemenistão, Afeganistão ou Pakistão, e assim ainda resolver problemas a nível mundial.

Relativamente a este assunto apenas dizer que mais europeu que a Turquia é a Russía, a Ucrânia, a Bielorussía e até me atrevo a dizer "Israel" já que vale tudo.

Pode-se sempre utilizar aqueles argumentos geo-estratégicos, e de controlo de oleodutos e gasodutos, pressões americanas, entre outros, mas a meu ver, a europa de 15 já ra difícil de governar, mais 10 vai ser uma animação, mais os outros que vierem um pagode, junta-se os Turcos e ve-se o que dá. É lançar demasiada lenha para a fogueira, a ver o que dá. Não vale a pena ter mais olhos que barriga.

PS: se for na lógica de mercado em que o que interessa é os consumidores e aumentar o mercado, sempre são mais 67 milhões, apesar de para mim pouco valer.

Sempre aberto a debater o assunto e possivelmente a modificar a minha opinião (faltam, como em quase todos os assuntos suficiente informação9, um abraço,

Francisco Dias Costa

5:52 da tarde  

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