sexta-feira, abril 22, 2005

Sim, Hitler, infelizmente, era um homem

Novamente no 38. Novamente com meninas do Piaget. Duas. Convenientemente armas com Freud e Foucault, e, claro, ostentavam aqueles óculos de massa escura. O acessório típico da mente iluminada da Era Pós-Moderna.

Declamavam:

- Não gostei nada o filme do Hitler.

Como as percebo, minhas queridas. Nós, as mentes iluminadas, colocamos sempre Hitler no panteão de seres malévolos, situado para lá do nosso entendimento, para lá da nossa espécie humana. É como se Hitler fosse uma personagem de ficção sem existência histórica. Para o sossego das nossas consciências humanistas, caracterizamos Hitler como um monstro desumano, com a superficialidade de um vilão que tenta bater em Steven Seagal. Dizemos: “não é dos nossos; não era um homem”. Enganamo-nos, minhas queridas. É dos nossos. Era um homem. Por ser apenas um homem, Churchill, Roosevelt puderam destruí-lo. Se fosse um anjo luciférico, teria, simplesmente, esvoaçado para os quintos dos infernos.

Como afirmava Hannah Arendt, temos de nos reconciliar com um mundo onde “coisas” como Hitler são possíveis. Se não compreendermos Hitler enquanto homem, enquanto alguém que seguia ideias e não pulsões extra-humanas, estamos destinados a lutar com outro Hitler no futuro.