sábado, abril 30, 2005

Synaesthesia e Morricone-Leone

Caro António Amaral,

Kandinsky? Nunca atingiu a minha «frequência». Aliás, qualquer pintor que desconstrua a figura humana não tem o meu voto.

Mas esse termo (synaesthesia) fez-me lembrar uma coisa.


Às vezes costumo dizer que o cinema, quando atinge certos patamares, é a arte perfeita. E que patamares são esses? Simples: quando a imagem e a música casam na perfeição, quando a cor e o movimento das personagens encaixam, numa perfeição quase sexual (fluida, carnal, que nos suga para o interior do filme), com a música. Há uma fusão de sentidos que nos deixa embriagados.

Exemplos?

Temos de falar das grandes duplas. Quando outrora pensava em estudar cinema, tinha sempre este título em mente: «Hitchcock-Hermann e Leone-Morricone, a música e imagem».

Os filmes do Hitchcock não teriam metade do suspense se não tivessem a banda sonora do Hermann. Mas, atenção, Hitchcock filmava daquela maneira já a pensar na música de Hermann. Ou seja, são inseparáveis. O mesmo se passa com o duo Leone e Morricone.

Aliás, estou a redescobrir a obra de Leone. Merece entrar no cânone. É um dos maiores de sempre. O “Bom, o Mau e o Vilão”, mas sobretudo o “Era uma Vez na América” e “Aconteceu no Oeste” são clássicos para o Olimpo.

E a música de Leone transforma um duelo de pistoleiros numa experiência religiosa.

Tenho as bandas sonoras em “cd”. E digo-lhe uma coisa: mesmo sem a imagem, choro que nem um subsídiodependente sem o estado-providência.

Um abraço,
Henrique Raposo