quinta-feira, maio 19, 2005

Terrorismo judaico e as 4 guerras

O novo chefe do Shin Bet (serviços secretos internos israelitas), Yuval Diskin, afirmou-se ontem inquieto com os riscos crescentes no país face à eventual emergência de um "terrorismo judaico". Em declarações perante a comissão parlamentar dos Negócios Estrangeiros, Diskin considerou ser "necessário preservar o direito democrático de protestar, mas impedir a eventual emergência de um terrorismo judaico", revelou a rádio israelita. "A sociedade israelita não iria tolerar um outro assassínio de um primeiro-ministro. Isso provocaria uma onda de choque estratégica", disse Diskin, citado pelo diário Haaretz, numa alusão ao assassínio, em Novembro de 1995, do então primeiro-ministro trabalhista Yitzhak Rabin por um extremista judeu que se opunha ao processo de paz com os palestinianos

Infelizmente, é muito provável o surgimento de atentados perpetrados por fanáticos da direita religiosa israelita. Caso sucedam, serão um efeito perverso e indirecto de uma causa positiva: o avanço do processo de paz. Para o processo ganhar vida, Israel vai ter de sair dos territórios que anexou depois de 1967. Felizmente, lá mais para o final do ano irá retirar da Faixa de Gaza. Finalmente. Mas isto, claro, provocará (aliás, já provoca) irritação junto dos sectores radicais da sociedade israelita, junto daqueles que sonham com o “Grande Israel”. Nem por acaso: estes radicais vivem sobretudo nos colonos… Por isso, é muito provável que sucedam alguns actos de terrorismo israelita. O fanatismo religioso não é exclusivo muçulmano.

Mas, atenção, os (hipotéticos) autores destes atentados terão sempre uma certeza: serão presos ou julgados. Ou, caso optem por morrer como mártires imbecis, serão abatidos pelo exército ou pela polícia do estado democrático de Israel. Por isso, queiramos ou não, a grande questão continua a ser a mesma: conseguirão as legítimas autoridades palestinianas controlar os fanáticos do seu lado?

Porque, como já afirmou Michael Walzer, existem quatro guerras neste cenário. Duas legítimas; duas ilegítimas.
1ª Legítima: guerra israelita pela segurança de Israel dentro da fronteira de 1967.
2ª Legítima: guerra palestiniana para criar um estado independente.

1ª Ilegítima: guerra israelita em nome do Grande Israel
2ª Ilegítima: guerra palestiniana para empurrar os israelitas para o Mediterrâneo.

A chave do problema sempre foi o controlo dos grupos que conduzem as duas guerras ilegítimas. Israel, sendo um estado de direito, tem as condições para minimizar os efeitos dos seus radicais. Arafat, ao invés, nunca teve a coragem para pôr termo às actividades do Hamas e companhia. Arafat nunca quis ser um estadista (quem é herói romântico um vez, será sempre herói romântico). A grande esperança actual reside precisamente na postura de estadista de Mazen. Resta saber se conseguirá os meios para controlar o Hamas.
E, neste sentido, Israel tem de ajudar o novo líder. Pode começar por fazer o seguinte: retirar de Gaza em coordenação com Mazen. Esta coordenação impediria que Gaza ficasse à mercê do Hamas. Se Sharon retirar sem dar cavaco a Mazen, estará a criar um duplo problema: (1) enfraquecerá a autoridade palestiniana, pois o Hamas ficará dono e senhor daquele território; (2) Gaza transformar-se-á num enclave para os terroristas do Hamas, logo, será um problema para Israel.