segunda-feira, junho 06, 2005

É bom recordar: a História não vai para lado nenhum

- Jacques Attali (“Público”, ontem): pode estar a ocorrer uma negação da globalização por parte dos europeus.

- Ainda não sabemos se isso é verdade, mas de uma coisa temos a certeza: isso já sucedeu uma vez. As duas guerras do século XX podem ser entendidas como manifestações de um ambiente geral de retraimento em relação à primeira era de globalização (século XIX).

- É bom ter o seguinte em mente: os homens do início do século XX também pensavam que a história tinha completado o seu curso. E foi precisamente nesse momento que a História fez a sua aparição dramática, "presenteando" os europeus com duas guerras. Portanto, nesta nossa era de “fim de história”, é bom recordar que a história não vai para lado nenhum. Podemos voltar a enfrentar os piores pesadelos. Uma ideia da omnipresente Hannah Arendt nunca me sai da cabeça: antes de Hitler tudo parecia tão normal. Salgado Matos tem insistido numa coisa que entra nesta linha: o modelo social europeu pode implodir de um momento para o outro.

- Este sentimento de desconforto europeu é, a meu ver, exclusivo da esquerda. As direitas democráticas não mostram esse desconforto. O socialismo faliu. A social-democracia está a falir. A esquerda continental tem de dar o salto para soluções ao estilo da chamada terceira-via, para o chamado “Social-Liberalism”. É esta a razão do mal-estar. Não é fácil engolir sapos ideológicos.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Outro padrão importante que lembra os anos pré-guerra é a força crecesnte no centro europeu dum suposto antagonismo entre movimentos de extrema-direita e de extrema-esquerda quando se alimentam do mesmo poço e deste próprio antagonismo.

Vejam, por exemplo, o texto que cito neste post e tentem descobrir donde veio antes do fim. Há semanas, recebi por mail imensa propaganda em alemão que classifiquei como neo-nazi. No meio dos Dresden não será esquecido, falava da concorrência desleal dos turcos e das deslocalizações para o Leste das empresas.

Ainda em França, várias sondagens na altura da passagem à segunda volta de Le Pen mencionavam eleitores que votavam ora trostkista ora comunista or frente nacional.

10:24 da tarde  
Blogger Henrique Raposo said...

Excelente, Luis Pedro. Excelente "post". isto não é um comment. é um post por inteiro.

11:02 da tarde  

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