O Pacheco
Aqui fica um belo retrato de Portugal:
«Eu casualmente conheci Pacheco. Tenho presente, como num resumo, a sua figura e a sua vida. Pacheco não deu ao seu País nem uma obra, nem uma fundação, nem um livro, nem uma ideia. Pacheco era entre nós superior e ilustre únicamente porque "tinha um imenso talento". Todaviam meu caro sr. Mollinet, esse talento, que duas gerações tão soberbamente aclamaram, nunca deu, da sua força, uma manifestação positiva, expressa, visível. O talento imenso de Pacheco ficou sempre calado, recolhido, nas profundidades de Pacheco!. Constantemente ele atravessou a vida por sobre eminências sociais; deputado, director-geral, ministro, governador de bancos, conselheiro de Estado, par, presidente do Conselho - Pacheco tudo foi, tudo teve, neste País que, de longe e a seus pés, o contemplava, assombrado do seu imenso talento.
(...)
«Este talento nasceu em Coimbra, na aula de Direito Natural, na manhã em que Pachecom desdenhando a sebenta, assegurou que "o século XIX era um século de progresso e de luz". O curso começou logo a pressentir e a afirmar, nos cafés da Feira, que havia muito talento em Pacheco: e esta admiração cada dia crescente do curso, comunicando-se, como todos os movimento religiosos, das multidões impressionáveis às classes raciocinadoras, dos rapazes aos lentes, levou facilmente Pacheco a um "prémio" no fim do ano.
(...)
«Logo na estrelada noite de Dezembro em que ele, em Lisboa, foi ao Martinho tomar chá e torradas,se sussurrou pelas mesas, com curiosidade: "É o Pacheco, rapaz com imenso talento!" E desde que as Câmaras se constituíram, todos os olhares, os do governo e os da oposição, se começaram a voltar com insistência, quase com ansiedade, para Pacheco, que, na ponta de uma bancada, conservava a sua atitude de pensador recluso, os braços cruzados sobre o colete de veludo, a fronte vergada para o lado como sob o peso das riquezas interiores, e os óculos a faiscar... Finalmente uma tarde, na discussão da resposta ao discurso da Coroa, Pacheco teve um movimento como para atalhar um padre zarolho que arengava sobre a "liberdade". O sacerdote imediatamente estacou com deferência; os taquígrafos apuraram vorazmente a orelha: e toda a Câmara cessou o seu desafogado susssurro, para que, num silêncio condignamente majestoso, se pudesse pela vez primeira produzir o imenso talento de Pacheco. No entanto Pacheco não prodigalizou desde logo os seus tesouros. De pé, com o dedo espetado (jeito que foi sempre muito seu), Pacheco afirmou num tom que traía a segurança do pensar e do saber íntimo: "Que ao lado da liberdade devia sempre existir a autoridade"!
(...)
«Não volveu a falar a falar duranre meses - mas o seu talento inspirava tanto mais respeito quanto mais invisível e inacessível se conservava lá dentro, no fundo, no rico e povoado fundo do seu ser. O único recurso que restou então aos devotos desse imenso talento (que já os tinha, incontáveis) foi contemplar a testa de Pacheco.
(...)
«A testa de Pacheco oferecia uma superfície escanteada, çlarga e lustrosa. E muitas vezes, junto dele, conselheiros e directores-gerais balbuciavam maravilhados: «Nem é necessário mais! Basta ver aquela testa!»
«Eu casualmente conheci Pacheco. Tenho presente, como num resumo, a sua figura e a sua vida. Pacheco não deu ao seu País nem uma obra, nem uma fundação, nem um livro, nem uma ideia. Pacheco era entre nós superior e ilustre únicamente porque "tinha um imenso talento". Todaviam meu caro sr. Mollinet, esse talento, que duas gerações tão soberbamente aclamaram, nunca deu, da sua força, uma manifestação positiva, expressa, visível. O talento imenso de Pacheco ficou sempre calado, recolhido, nas profundidades de Pacheco!. Constantemente ele atravessou a vida por sobre eminências sociais; deputado, director-geral, ministro, governador de bancos, conselheiro de Estado, par, presidente do Conselho - Pacheco tudo foi, tudo teve, neste País que, de longe e a seus pés, o contemplava, assombrado do seu imenso talento.
(...)
«Este talento nasceu em Coimbra, na aula de Direito Natural, na manhã em que Pachecom desdenhando a sebenta, assegurou que "o século XIX era um século de progresso e de luz". O curso começou logo a pressentir e a afirmar, nos cafés da Feira, que havia muito talento em Pacheco: e esta admiração cada dia crescente do curso, comunicando-se, como todos os movimento religiosos, das multidões impressionáveis às classes raciocinadoras, dos rapazes aos lentes, levou facilmente Pacheco a um "prémio" no fim do ano.
(...)
«Logo na estrelada noite de Dezembro em que ele, em Lisboa, foi ao Martinho tomar chá e torradas,se sussurrou pelas mesas, com curiosidade: "É o Pacheco, rapaz com imenso talento!" E desde que as Câmaras se constituíram, todos os olhares, os do governo e os da oposição, se começaram a voltar com insistência, quase com ansiedade, para Pacheco, que, na ponta de uma bancada, conservava a sua atitude de pensador recluso, os braços cruzados sobre o colete de veludo, a fronte vergada para o lado como sob o peso das riquezas interiores, e os óculos a faiscar... Finalmente uma tarde, na discussão da resposta ao discurso da Coroa, Pacheco teve um movimento como para atalhar um padre zarolho que arengava sobre a "liberdade". O sacerdote imediatamente estacou com deferência; os taquígrafos apuraram vorazmente a orelha: e toda a Câmara cessou o seu desafogado susssurro, para que, num silêncio condignamente majestoso, se pudesse pela vez primeira produzir o imenso talento de Pacheco. No entanto Pacheco não prodigalizou desde logo os seus tesouros. De pé, com o dedo espetado (jeito que foi sempre muito seu), Pacheco afirmou num tom que traía a segurança do pensar e do saber íntimo: "Que ao lado da liberdade devia sempre existir a autoridade"!
(...)
«Não volveu a falar a falar duranre meses - mas o seu talento inspirava tanto mais respeito quanto mais invisível e inacessível se conservava lá dentro, no fundo, no rico e povoado fundo do seu ser. O único recurso que restou então aos devotos desse imenso talento (que já os tinha, incontáveis) foi contemplar a testa de Pacheco.
(...)
«A testa de Pacheco oferecia uma superfície escanteada, çlarga e lustrosa. E muitas vezes, junto dele, conselheiros e directores-gerais balbuciavam maravilhados: «Nem é necessário mais! Basta ver aquela testa!»
2 Comments:
Que bom haver quem nos venha recordar o Pacheco... do Eça de Queiroz. É que na actualidade abundam os Pachecos na vida política e alguns deles têm sobrevivido muitos anos e até estão a chegar a lugares de grande relevo, nacionais e alguns no exterior. Quando começam a falar acontece-lhes o que sucedeu ao Pacheco do Eça... esperemos que o Tiago Moreira de Sá nos conte nos próximos episódios...
O Brasil tambem tem seu Pacheco que de pobre,sem ser empresário ficou rico,que de lider e presidente da ARENA e do PDS,partidos da ditadura militar, se diz defensor da democracia a da liberdade.De tanto falar numa tal de biografia muitos bestas acreditaram que ela existe.ENTROU NA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS E TODO MUNDO PENSOU QUE ERA INTELECTUAL EMBORA POUCOS SAIBAM COMO SE DEU ESTE EMBUSTE.A ÚNICA COISA QUE NÃO É FALSA NELE É O BIGODE PINTADO.
Enviar um comentário
<< Home