segunda-feira, junho 27, 2005

“Pobreza Zero” e o espelho filantrópico

Madrid. Vésperas de uma reunião do G8. Milhares de pessoas. Dezenas de ONG’s. Gritam “pobreza zero”.

1. Estas pessoas fazem-me lembrar os velhos e barbudos aristocratas do antigo regime que faziam da filantropia uma via para a salvação. No meu ouvido, a “redistribuição” socialista sempre teve uma ressonância de “piedade” católica (Já pensaram na semelhança entre as actuais ONG’s e os missionários cristãos de eras anteriores?). Não é por acaso que Aron falava nas semelhanças entre a emergência do Cristianismo e a emergência do Marxismo. (Bernà, não estou a falar da vida privada). E o que querem estes seres misericordiosos? O que querem o piedoso e o socialista? Fácil: salvar a sua própria alma. O “pobre”, o alvo da caridade, é um espelho onde o caridoso projecta a sua bondade. O “pobre” é um ser passivo, um actor secundário nesta peça de teatro filantrópico. Já agora: o piedoso quer mesmo o fim da pobreza?

2. Pior: estes movimentos concentram atenções apenas em aspectos económicos. Ou seja, pensam que a pobreza só se resolve pela via económica (entenda-se: pela ajuda exterior, pela piedade). Não entendem que a solução para a pobreza do dito terceiro mundo não é económica mas política. Ou melhor, antes de ser económica é política. Perdoar uma dívida a uma ditadura é a mesma coisa que reforçar a precária condição do povo que vive sob o jugo dessa ditadura. Mas isso já não interessa a quem faz política com um espelho à frente.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Típico! quando a pobreza é dos outros, uma ditadura justifica todas as considerações de filosofia de cordel. Atacam-se os piedosos, os socialistas e outros "istas". Alivia-se a consciência...a culpa é dos ditadores, alguém que resolva o problema político!

9:21 da tarde  

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