domingo, julho 10, 2005

O Baile de máscaras do Mal

1.“On these foundations, then – an absolute freedom of conscience, a complete equality of all mankind, and a firm mutual responsibility in society – social justice is built up and human justice is ensured”.
De quem é? Não, não é do benfeitor da santa casa mais próxima. Por incrível que pareça, esta frase pertence a Sayyd Qutb (1906-1966), a base intelectual de Bin Laden e do actual islamismo.

2.É sempre desconfortável ler aquilo que bestas humanas escrevam. Estamos sempre à espera que surja a frase que nos alivie: “sim, eu, Sayyd Qutb, sou uma besta. Eu faço o mal e sei que estou a fazer o mal”. Mas não é assim. As maiores bestas têm sempre uma justificação num texto qualquer. E nesse texto reivindicam o seu Bem. Tal como os comunistas, tal como os fascistas, os islamitas afirmam que estão a fazer o bem. Os maiores crápulas são assim: defendem um Bem superior para o Homem. E, como sabemos, aquele que tem o perfil de Homem será aquele que dizimará o maior número de homens. É tão simples quanto isto: Bin Laden julga que tem uma noção de Bem. E nós estamos no caminho. Resta-nos uma coisa: destruir - literal e metaforicamente - essa definição de Bem, tal como destruímos a noção de Bem de comunistas e fascistas.

3. Para que fique claro: ao falarmos de Bem e terroristas na mesma frase, não estamos, como é óbvio, a ilibar os terroristas. Aliás, em nosso entender, a concepção de Bem de Bin Laden representa o Inimigo definido por Carl Schmitt: é o nosso inimigo ético absoluto. Mas isso não deve significar o enclausuramento de Bin Laden numa espécie de casulo representativo do Mal extra-humano. Sim, ele é uma besta, mas é uma besta humana. Se começarmos a remeter Bin Laden para a esfera do extra-humano, para a esfera do tabu – tal como se fez com Hitler -, então, ficaremos mais longe da vitória. As guerras não se vencem com descargas de emoção privada, mas sim com frieza política. Se queremos destruir Bin Laden e seus seguidores, temos de torná-los racionalmente perceptíveis (não confundir com compreensão moral) enquanto seres que executam um plano destilado de uma ideologia. Que eu saiba, as nossas balas só podemos matar seres humanos. Balas não perfuram o Mal abstracto e absoluto.

1 Comments:

Blogger Gonçalo Curado said...

Grande Camarada, estás em forma poética. Denoto alguns toques oratórios de Churchill.

Grande abraço

3:33 da manhã  

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