Amor
Há, entre os intelectuais portugueses, pronto, talvez só em Vasco Pulido Valente e Maria Filomena Mónica, uma tradição que consiste em aplicar uma grelha oitocentista à actualidade.
Pelo muito que leram sobre a época, a realidade do país aparece-lhes como uma repetição de temas e tendências que nem a novidade dos rostos nem uma ou outra inovação tecnológica permitem disfarçar.
Olham para o Portugal de hoje através do monóculo de Eça e o que vêem é triste, aborrecido, deprimente, sempre igual. Concluem, com profundidade shakespeareana, que não há nada de novo. Na verdade, nem eles. Choldra, piolheira, um local mal frequentado, são o modo peculiar, de acento queirosiano, que estes intelectuais escolheram para demonstrar o afecto que nutrem por este país que, desgraçadamente, é o deles. Uma questão de estilo, nada mais.
O país-pântano repete-se. Tudo é previsível. Sabemos o que vai acontecer sem necessidade de áugures, de prestidigitadores, de Zandingas com ademanes de hipnotizador. Em vez de vísceras de animais, basta ler com a devida atenção Oliveira Martins, Eça de Queirós e saber quem foi e o que fez Fontes Pereira de Melo. Depois estabelecem-se correspondências, nem todas felizes, com os nossos dias, em que as figuras de hoje mais não são do que avatares de figuras do passado. Por fim, adopta-se aquela postura que denuncia um ligeiro enfado, uma azia existencial, um torpor da vontade provocado pelo excesso de lucidez.
Pelo muito que leram sobre a época, a realidade do país aparece-lhes como uma repetição de temas e tendências que nem a novidade dos rostos nem uma ou outra inovação tecnológica permitem disfarçar.
Olham para o Portugal de hoje através do monóculo de Eça e o que vêem é triste, aborrecido, deprimente, sempre igual. Concluem, com profundidade shakespeareana, que não há nada de novo. Na verdade, nem eles. Choldra, piolheira, um local mal frequentado, são o modo peculiar, de acento queirosiano, que estes intelectuais escolheram para demonstrar o afecto que nutrem por este país que, desgraçadamente, é o deles. Uma questão de estilo, nada mais.
O país-pântano repete-se. Tudo é previsível. Sabemos o que vai acontecer sem necessidade de áugures, de prestidigitadores, de Zandingas com ademanes de hipnotizador. Em vez de vísceras de animais, basta ler com a devida atenção Oliveira Martins, Eça de Queirós e saber quem foi e o que fez Fontes Pereira de Melo. Depois estabelecem-se correspondências, nem todas felizes, com os nossos dias, em que as figuras de hoje mais não são do que avatares de figuras do passado. Por fim, adopta-se aquela postura que denuncia um ligeiro enfado, uma azia existencial, um torpor da vontade provocado pelo excesso de lucidez.
Eça de Queirós, um realista de fundo melancólico, cultor de um estilo de romantismo céptico, forneceu o modelo. As nossas elites culturais, à excepção de esporádicos delírios de V Império, nunca mais conseguiram relacionar-se com o país, nunca mais conseguiram senti-lo sem aquele distanciamento, sem aquele muro de ironia e de sarcasmo que o amante constrói para se defender da coisa amada. Um amor difícil, portuguêsmente desconfiado mas, por isso mesmo, um verdadeiro e pungente amor.
4 Comments:
muito bom e na mouche caro Bruno. Mas acho que te esqueceste de cinismo e sobranceria extremas que tambem sao as marca do VPV
Muito bem visto
Magnífico reparo, gostei imenso de ler o texto.
o problema é que não há melhor maneira de descrever este país. Infelizmente a actualidade do estilo queirosiano só significa que Portugal parou em finais do séc XIX. Ou então desloca-se muito lentamente.
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