quinta-feira, novembro 10, 2005

Paternalismo multiculturalista

1.Não há pachorra. Chega um filme de um país cuja a designação acaba em “ão” e logo chovem os elogios: “É pá, tens de ver. Grande obra-prima representativa da semiótica do Kazaquistão”, ou coisa assim. Não conheço o cinema do Brunei. O multiculturalista também não. Mas antes de ver um hipotético filme do Brunei, o dito multiculturalista já está a dizer que sim com a cabeça, já está a inventar as frases elogiados de algo que ainda não viu. Quando me perguntam “então, não gostas do cinema do Irão?”, respondo: “Pois... não sei. Só conheço Kiarostami e Makhmalbaf”.

2. Quando se fala de multiculturalismo, costuma-se abordar a sua forma mais virulenta: o extremo relativismo moral que legitima comportamentos bárbaros em nome de uma legitimidade cultural sagrada. Mas, existe outra consequência do “ethos” romântico e reaccionário do multiculturalismo. É menos grave, mas não deixa de ser irritante: o paternalismo. O paternalismo que aceita qualquer objecto de uma cultura não ocidental sem qualquer análise séria. Devemos respeitar a outra cultura. Devemos estar abertos. Mas isso é um ponto de partida e não um ponto de chegada obrigatório. A validade de dado objecto deve ser demonstrada no verdadeiro estudo daquela cultura e daquele objecto. Não posso elogiar o colectivo “cinema iraniano”, pois só conheço o indivíduo Kiarostami.

3. Como é que podemos valorizar e aceitar de imediato um objecto que nos é completamente estranho? Devemos elogiar X só porque X é diferente? Elogiar sem uma análise realizada com tempo e respeito significa uma coisa: não se percebeu nada daquilo que se viu. Pior: faltou-se ao respeito ao dito outro. O seguinte pressuposto é um imperativo: todas as culturas devem ser respeitadas. Mas isto é um pressuposto e não um dado adquirido. Exigir que este pressuposto, como que num acto de fé, salte para uma conclusão absoluta, é um tremendo acto racista. É racismo porque se trata X com condescendência e não com respeito.

4 Comments:

Blogger Joao Galamba said...

Eu so nao sei e se concordo com a parte de que o Kiorastami ser apenas um individuo...

Um abraco,
Joao

11:06 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

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7:47 da manhã  
Blogger Henrique Raposo said...

Ok, é um GRANDE indivíduo. "Sabor da Cereja" é um daqueles para o espaço.

com abraço,
HR

8:48 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Apoiar Cavaco apenas por causa da globalização, meu caro? E Manuel Maria Martins, se apoiasse a globalização, também seria uma escolha possivel para depositar o seu precioso voto?

(Desculpe-me a intromissão neste post, mas deixou de ter comentários n' O Acidental)

12:31 da tarde  

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