segunda-feira, março 28, 2005

Carta aos meus detractores

Não posso deixar de me sentir honrado com este convite que um dos mentores da “refundação” da Direita agora me endereça. Compreendo que no momento actual de orfandade política, a Direita me escolha com figura tutelar, talvez como protótipo para a expansão de limiares do seu ethos ideológico. Porém, é por precisamente me rever em alguns dos parâmetros que o Bernardo enuncia, que me sinto obrigado a, humildemente, recusar o convite.
Ainda hoje a Direita é um jarro de resíduos compósitos que o presente escolhe colocar na parteleira das “conservas”. Tal como a saborear um bom Bordeaux, num trago de Direita identificamos resquícios seculares ou de um passado presente. Entre legitimistas, miguelistas, joão franquistas, sidonistas, salazaristas, marcelistas, revisionistas, democratras-cristãos, gerações refundadoras de 70 ou de 80 e liberais, passaria demasiado tempo a identificar o agressor ou aquele que me reconhece como transgressor do que a equacionar soluções para um melhor futuro colectivo. Por isso, meus caros, prefiro um bom trago de Dão ou de Três Marias, onde mais facilmente consigo discernir entre o sabor a rolha e a uva e onde não há espaço ou tempo para marketing make-overs.
Mas o Henrique concedeu-me uma outra honra dúbia. Por muito que me orgulhe ser mencionado na mesma frase que Savater ou António Costa Pinto, não deixo de notar que a referência a Walzer tem um certo perfume envenenado. A escolha do editor da Dissident e, em particular, a escolha do artigo é engraçada pois recai em argumentos, de certa forma, consensuais, que apelam à minha postura em política internacional. Mais interessante teria sido a escolha do seu “rethinking social democracy” (sem link). Aí teríamos tido debate. Mas o Henrique acertou ao enunciar a minha refutação de um patriarcado de Rousseau. De facto, meu carácter pragmático impede uma recondução contínua ao legado do “vagabundo de Genebra”, mas será mais fácil encontrarem-me duplamente Beyond Left and Right (aqui e aqui) do que em Walzer.
Ainda assim, impelido pelo “convite” da Direita resolvi procurar uma opinião profissional e no Political Compass desfiz qualquer dúvida:


Assim, amavelmente, reenvio o convite que a Direita Liberal me remeteu. Temo que este regresse à minha caixa do correio com o dístico de “DESCONHECIDO NESTA MORADA”.

Aos dois um grande abraço.