Catching up to Rebelo de Sousa
Ausente da blogosfera por motivos técnicos aproveitei o tempo para a leitura. Aqui vão algumas recomendações:
War and The American Presidency, Arthur M. Schlesinger Jr.
Uma colecção de erráticas deduções do autor do magnífico A Thounsand Days: John F. Kennedy in the White House. Partindo do momento em que um Presidente se decide pela alternativa militar, Schlesinger divaga entre a crítica à estratégia americana no Iraque e a uma “democratização imposta”, retomando o seu curioso conceito de “presidência imperial” (adaptado de Nixon para Bush) e perdendo-se na sua apologia de um reforço da talk radio. Curiosamente paralelo a Gaddis (até no recurso aos mesmos exemplos históricos) , o autor escolhe fundamentar o unilatralismo como uma constante da política externa americana, mas o seu unilateralismo é um eco do passado, uma recordação de Roosevelt e à forma mitigada da Truman Doctrine, adverso ao quotidiano da I Administração Bush.
Mais do os seus dois Pulitzers ou que a sua argumentação histórica, é a figura simpática e o discurso nostálgico de Schlesinger que nos impede de contra-argumentar a cada linha.
Defending Europe: The EU, NATO and The Quest for European Autonomy, Jolyon Howorth e John T.S. Keeler
Curiosa obra da European Studies Series da NYU, composta por superiores artigos por Mark Webber, Terry Terriff entre outros e que procura traçar uma imagem de equilíbrio imperfeito entre uma complementaridade transatlântica a uma vontade europeia de autonomia defensiva. Ainda que relativizando e hiperbolizando a ESDP e minorando os efeitos do alargamento a Leste da NATO, não deixa de ser uma excelente e inesperada obra que não esconde os receios transatlânticos face a uma total autonomia defensiva europeia, sem deixar de referenciar o difícil diálogo intra-europeu face a uma questão, ainda só, relativamente prioritária e da qual Portugal está crónicamente ausente. A ser completado com:
The Military Challenges of Transatlantic Coalitions, Adelphi Papers, James P. Thomas
The European Union and National Defense Policy, Ed. Jolyon Howorth e Anand Menon (excelente)
Vladimir Putin and the Evolution of Russian Foreign Policy, Bobo Lo
A Chantam House costuma editar os seus melhores papers, este não é uma excepção. Talvez a melhor e mais concisa apreciação de Putin no mercado. Não se restringindo a tradicionais temáticas como o epítetos de um czarismo renovado, Lo pauta o seu discurso pela apreciação de uma política externa russa em evolução, ao longo de questões como a agenda geopolítica, a omnipresença do Estado na política externa empresarial e as curiosas opções de segurança interna russas. Criando uma ponte com as heranças imperialista e soviética, Bobo Lo pressente uma recorrente tradição de opacidade da política externa russa e apresenta Putin como o natural interlocutor de um “fenómeno” com paralelos em Estaline e assente numa “genuinely presidential foreign policy” em função do interesse nacional, “universalista” e em busca de coesão na periferia e de sobrevivência oportunista num contexto económico pós-11 de Setembro de Westernization with qualifications (o “choque tecnológico” local). Ainda assim, a ânsia da Chantam House em poupar papel obriga o leitor a recorrer a uma lupa.
(imagem indisponível)
Poderá ser uma óptima obra introdutória a qualquer estudante do processo de integração europeia, mas é, igualmente, um excelente regresso aquela aura europeia de Delors e, ao gabinete resguardado de Mitterrand, aos primeiros passos, a contragosto, de de Gaulle e à voz da rua berlinense de 1989. Qualquer interessado por questões de Política Internacional reconhece a raridade de uma boa obra “doméstica”, este é um desses casos. Ressalvando um lugar para a relação transatlântica, Luís Beirôco traça a construção europeia desde a dúbia geografia até à força endógena de alargamento, passando por Maastricht e aflorando a recente ânsia constitucional. Um europeísmo convicto. Um federalismo envergonhado? Muito a meu gosto.
Poderá ser uma óptima obra introdutória a qualquer estudante do processo de integração europeia, mas é, igualmente, um excelente regresso aquela aura europeia de Delors e, ao gabinete resguardado de Mitterrand, aos primeiros passos, a contragosto, de de Gaulle e à voz da rua berlinense de 1989. Qualquer interessado por questões de Política Internacional reconhece a raridade de uma boa obra “doméstica”, este é um desses casos. Ressalvando um lugar para a relação transatlântica, Luís Beirôco traça a construção europeia desde a dúbia geografia até à força endógena de alargamento, passando por Maastricht e aflorando a recente ânsia constitucional. Um europeísmo convicto. Um federalismo envergonhado? Muito a meu gosto.
Uma obra superior que merece uma mais detalhada recensão. Escrita pela bisneta de David Lloyd George, Paris 1919 é muito mais do que a história de das Conferências de Paz de Paris de 1919 ou que a biografia do momento dos Big Three (Wilson, Clemenceau e Lloyd George), é a a história do último fôlego colonialista, da instituição de uma Europa das nacionalidades, balcânizada, da secessão da primazia internacional europeia e do internacionalismo wilsoniano. É a história de um momento de viragem global onde a uma “War to end all wars” se segue a unanimidade ingénua e descordenada da paz. É um obra profundamente reviosinista que não descarta a intimidade dos três principais interveninentes e deixa antever o significado da presença secundária de figuras de um futuro próximo como o historiador “civilizacional” Arnold Toynbee, Ho Chi Minh como o adolescente ajudante de cozinheiro ou o igualmente idealista Lawrence of Arabia. Um livro magistral cujo prefácio de Richard Holbrooke só antecipa o seu selo de qualidade. O equivalente contemporâneo do The Congress of Vienna de Harold Nicolson.
O título da edição britânica é Peacemakers, na edição americana a autora teve de adoptar o título Paris, 1919 para evitar dúbias interpretações ou confusões com o popular revólver Colt Peacemaker. Curiosa coincidência.
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