quarta-feira, abril 13, 2005

“The Economist” e a “Newsweek”. Que têm em comum? São publicações liberais clássicas.

No meio do frango com caril, um amigo pergunta-me:

- ‘Tás sempre a falar do “liberal clássico”. Mas, afinal, o que é isso? Mas não és um conservador?

Aqui fica a explicação, companheiro:

Um liberal clássico é filho do Iluminismo Escocês (Smith ou Hume) e do Iluminismo Americano (Madison ou Hamilton). Tocqueville e Constant, por exemplo, são liberais clássicos (sim, a França criou alguns dos melhores liberais clássicos).

Para percebermos bem o “liberalismo clássico”, temos de distinguir esta corrente de correntes posteriores. Ou seja, dentro do Liberalismo, temos de distinguir o “liberalismo clássico” (primeira geração) do “utilitarismo” (segunda geração) e do “liberalismo social” (terceira geração).

- Ao nível político, os “liberais utilitários” (Bentham e, em menor escala, J. S. Mill) também defendem o estado liberal. Mas, numa escala moral, criaram uma ética perigosa: tudo da vida deve ser feito no sentido de dar prazer e evitar a dor. Ora, ao criar esta ética materialista, Bentham criou as condições para a terceira geração de liberais, que emergiu já no final do XIX.

- Se tudo se resume à satisfação pessoal, então, o Estado tem o dever de intervir na sociedade, a fim de proporcionar igualdade… prazenteira. Assim, nasceu o “social liberalism” ou “liberalismo contemporâneo”. Começa em T. H. Green (no final do XIX). Keynes e Rawls foram os grandes representantes desta corrente no XX. Estes autores exigem intervenção do estado, mas, atenção, o seu ponto de partida continua a ser o indivíduo e não uma massa anónima e irreal de gente, a dita classe.

Mas, acima de tudo, importa perceber o seguinte:

- Burke era um liberal clássico (apoiou a Revolução Americana). Quando em 1790, escreveu “Reflections on the Revolution in France”, Burke fez o seguinte: colocou os valores do Iluminismo Escocês no combate aos valores do Iluminismo Francês consubstanciados na Revolução de 1789. A reacção do maior liberal clássico perante a cosmovisão jacobina representa, no fundo, a fundação do conservadorismo moderno.

Portanto, "tento ser" um conservador burkeano ou, se quiseres, um conservador liberal. Como dizia Benjamin Disraeli: tendo ser alguém com princípios Whig, mas com uma predisposição Torie.

Intérpretes actuais da cosmovisão liberal clássica ou conservadora liberal? Fareed Zakaria (director da “Newsweek”), o “The Economist”, Peter Berkowitz, etc. Em Portugal, podem encontrá-los na revista “Atlântico”.

Um grande abraço e obrigado pelo frango a caril,
Henrique Raposo