João Paulo II e os Jacobinos
Em resposta a um “post” do meu amigo Bernardo Pires de Lima, um simpático leitor jacobino espraiou a típica atitude totalitária. Gritou emocionado, fez afirmações explosivas, mas, naturalmente, não produziu argumentações. O costume. Mas agradeço. Assim temos algo para analisar. Aqui, meu caro, argumenta-se.
O dito leitor diz que João Paulo II “propagou a SIDA” em África. Brilhante é a ideologia aqui presente. Tão brilhante que ofusca os olhos do leitor. Ora, os responsáveis pelo avança dantesco da SIDA em África são os líderes (leia-se tiranos) dos diversos países africanos. Com raras excepções, os políticos de África encaram os seus territórios como coutadas privadas. Roubam, matam e enviam o dinheiro da ajuda internacional para a Suiça. Como é natural, os jacobinos “estão” proibidos de falar sobre isto. A santidade da congregação (leia-se: politicamente correcto) não deixa.
Mas o maior traço de jacobinismo é este: «os homens do século XX só podem ser filósofos ou cientistas». Destaco o “só podem”. É a velha cosmovisão totalitária a reaparecer em força. Aqui, a religião não tem dignidade e qualquer líder religioso “tem” de estar afastado das luzes da História. Para os filhos de 1789 e de 1917, João Paulo II, no máximo, mereceria uma nota de rodapé.
Percebo a raiva jacobina. A atitude cafeinada de João Paulo II reavivou a fé nos países do leste europeu. O atleta de Deus ajudou a comprovar o seguinte: “cultura” e “religião” não são presas fáceis para projectos políticos estruturalistas. Mais: ao reavivar a fé em regimes que negavam essa fé, João Paulo II contribuiu para a implosão quase silenciosa das estruturas comunistas. Sem uma linha de raciocínio que tenha em linha de conta a influência da fé cristã, não se percebe a queda suave do comunismo no leste da Europa. Não é por acaso que o KGB tentou assinar o João Paulo II. (E, atenção, não estamos a fazer qualquer declaração de fé. Isto é simples análise histórica).
Os marxistas (é verdade: ainda há marxistas) odeiam aqueles que venceram a URSS. Curiosamente, os homens que deram a estocada final no urso vermelho morreram com escassos meses de intervalo. No verão, Reagan (líder do “roll back” ocidental) deixou-nos. Agora, parte João Paulo II. Os dois receberam um tratamento injusto por parte da esquerda europeia. Percebe-se. Quando Fidel e o tipo da poupa da Coreia morrerem, aí sim, teremos lágrimas sentidas.
Estejam onde estiverem, Reagan e Wojtyla devem estar a conversar e a rir-se desta velha esquerda marxista, que, hoje, não passa de uma força reaccionária.
O dito leitor diz que João Paulo II “propagou a SIDA” em África. Brilhante é a ideologia aqui presente. Tão brilhante que ofusca os olhos do leitor. Ora, os responsáveis pelo avança dantesco da SIDA em África são os líderes (leia-se tiranos) dos diversos países africanos. Com raras excepções, os políticos de África encaram os seus territórios como coutadas privadas. Roubam, matam e enviam o dinheiro da ajuda internacional para a Suiça. Como é natural, os jacobinos “estão” proibidos de falar sobre isto. A santidade da congregação (leia-se: politicamente correcto) não deixa.
Mas o maior traço de jacobinismo é este: «os homens do século XX só podem ser filósofos ou cientistas». Destaco o “só podem”. É a velha cosmovisão totalitária a reaparecer em força. Aqui, a religião não tem dignidade e qualquer líder religioso “tem” de estar afastado das luzes da História. Para os filhos de 1789 e de 1917, João Paulo II, no máximo, mereceria uma nota de rodapé.
Percebo a raiva jacobina. A atitude cafeinada de João Paulo II reavivou a fé nos países do leste europeu. O atleta de Deus ajudou a comprovar o seguinte: “cultura” e “religião” não são presas fáceis para projectos políticos estruturalistas. Mais: ao reavivar a fé em regimes que negavam essa fé, João Paulo II contribuiu para a implosão quase silenciosa das estruturas comunistas. Sem uma linha de raciocínio que tenha em linha de conta a influência da fé cristã, não se percebe a queda suave do comunismo no leste da Europa. Não é por acaso que o KGB tentou assinar o João Paulo II. (E, atenção, não estamos a fazer qualquer declaração de fé. Isto é simples análise histórica).
Os marxistas (é verdade: ainda há marxistas) odeiam aqueles que venceram a URSS. Curiosamente, os homens que deram a estocada final no urso vermelho morreram com escassos meses de intervalo. No verão, Reagan (líder do “roll back” ocidental) deixou-nos. Agora, parte João Paulo II. Os dois receberam um tratamento injusto por parte da esquerda europeia. Percebe-se. Quando Fidel e o tipo da poupa da Coreia morrerem, aí sim, teremos lágrimas sentidas.
Estejam onde estiverem, Reagan e Wojtyla devem estar a conversar e a rir-se desta velha esquerda marxista, que, hoje, não passa de uma força reaccionária.
posted by Henrique Raposo at 7:49 da tarde
Paulo de Carvalho, "E Depois do Adeus"
4 Comments:
Caro Henrique,
sei que neste blog não posso esperar uma leitura apolítica do papado de João Paulo II, até porque o seu papado teve as consequências políticas inquestionáveis que tu apontas. Quero apenas dizer que não podemos misturar causas e efeitos. "Alguma" esquerda diz, depreciativamente, que João Paulo II foi o Papa de Reagan. Será que não é um erro "alguma" direita sugerir, encomiasticamente, que João Paulo II foi o Papa de Reagan? Tiveram ambos um papel determinante no fim do comunismo mas isso foi o efeito comum de causas diferentes. Para concluir, creio que João Paulo II foi um actor consciente na cena política mas as suas motivações não foram políticas, no sentido mais restrito do termo.
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Meu Caro vá ver o estado da infecção por HIV das crianças em Manila que se recusam a usar o preservativo porque a Igreja lhes diz que se o fizerem vão para ao inferno mas que no entanto se prostituem e cheiram cola o dia todo e que a Igreja nada faz para contrariar. Um país como as Filipinas que tem a maior taxa mundial de crianças infectadas pelo HIV e em que em média uma rapariga de 16 já foi mãe 2 vezes e em que a igreja católica consegui que o governo filipino fecha-se o programa de ajuda da ONU porque eles distribuem preservativos e tentam tirá-los da prostituição. A mesma igreja que em africa anda a espalhar o boato que os preservativos estão todos furados e que são feitos para as pessoas apanharem a SIDA. Meu caro esta organização tem apenas um líder e esse é este homem que faleceu. ELe é responsável por estas mentiras e ignorancia e pela sua propagação e os seus efeitos.
Quando eu me refiro que os únicos homens que podem ser considerados preponderantes para o seculo que passou serem cientistas ou filósofos pois esse são os únicos que trouxeram conhecimento que permite aos individuos na sociedade terem mais conciencia deles próprios e serem mais livres. Não foi o papa que tantas vezes impõs ditames morais sobre coisas que nem ele proprio conhece baseado apenas num julgamento moral do que para ele é certo ou errado? Isso sim é totalitarismo. Não se trata de impôr uma ideia mas antes de deixar cada um viver a vida á sua maneira sem imposiçóes morais de outros. Para si é que parece que deixar cada um decidir em consciencia o que é melhor para cada um é que é um totalitarismo. Isso é liberdade meu caro.
AH e em relação a Marx poder ter sido o homem que mais influenciou o seculo XX, e embora pela sua filiação politica nao concordar, nenhum pensamento de homem nenhum alterou o seculo XX como o pensamento de Marx! Quer se acredite no comunismo ou não isto é um facto! Pense nisso!
Cumprimentos
Louvar, antes de mais, a sua intenção de princípio ao afirmar: “aqui argumenta-se”. Ainda bem que assim é! Esquece-se, no entanto, que a argumentação mesmo baseada em factos históricos, para ser válida não pode ter dois pesos e duas medidas, sob pena de cair no vazio argumentativo, vulgarmente designado por demagogia.
É óbvio que a presença de JPII na história não pode nunca restringir-se a uma nota de rodapé. Não por ser um homem da Igreja, nem por não ser filósofo ou cientista, mas pelo trabalho que fez – e também pelo que não fez – enquanto líder influente. È irrefutável o peso político e social de João Paulo II e do seu pontificado cujos resquícios vão “assombrar-nos” durante ainda muitos anos, para o melhor e para o pior.
Atente agora para o ponto onde julgo ter entrado em dualidade de critérios:
Reconhecendo a influência do sumo pontífice e da fé católica na queda dos regimes de leste - que “contribuiu para a implosão quase silenciosa dos regimes comunistas” -, como pode o caríssimo comentador lavar as mãos da Igreja no caso dos regimes Africanos. Se, por um lado, a fé cristã teve o poder de sublevar nações inteiras contra o totalitarismo comunista, por outro, a decadência social e propagação do HIV é da exclusiva responsabilidade da corrupção e laxismo dos líderes africanos.
Entenda que o objectivo da Igreja é propagar a fé cristã. No caso dos países da Cortina de Ferro o próprio regime era um entrave a essa diáspora – tal como para Reagan . Daí, os esforços do Vaticano contra os regimes marxistas. No caso dos países africanos, como é sabido, a fé cristã é amplamente abraçada, e para a Igreja o regime não constitui uma ameaça. Assim, por terras africanas aplica-se o princípio do “business as usual”, Igreja continua a vender a fé ao povo e os seguidores de Reagan continuam a vender as armas aos seus líderes.
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