quinta-feira, abril 07, 2005

Para Toronto: Pluralismo não é Relativismo

Mau, Maria.

Um amigo:
- Pá, parecias um pós-moderno.

Calma. Não lhe bati. Aliás, percebi o que ele queria dizer. E, por isso, escrevi estas linhas para... Toronto. Destino: um grande amigo, outrora pós-moderno, o Gil.

Um liberal clássico é um “céptico pluralista”. Um pós-moderno é um “relativista niilista”. O primeiro não nega a existência da Verdade. Mas tem a perfeita consciência de que a Verdade está fora do alcance dos homens. Só conseguimos construir "conhecimentos" ou "significados" históricos sobre essa Verdade. A Verdade é eterna, mas o Conhecimento não. (o erro de monistas religiosos e racionalistas é pensar que podemos atingir a Verdade absoluta, isto é, a salvação absoluta – Berlin dixit).

Para um céptico nada é certo em definitivo, porque o conhecimento que temos da verdade é sempre histórico e, necessariamente, plural. E isto leva-nos para o centro da questão: não há “Homem” mas “homens”. Isto é, cada cultura ou escola de pensamento cria a sua versão, ou melhor, a sua narrativa sobre a verdade. Estas diversas teorias têm como objectivo tornar o mundo inteligível.

Ora, os relativistas pós-modernos não aceitam nem a verdade nem os diversas teorias. Não querem tornar o mundo minimamente inteligível. Não querem percepcionar o mundo.... o mundo é que deve percepcionar o pós-moderno. Não há pluralismo epistemológico, apenas relativismo epistémico. Não interessa aprender. O importante é afirmar.

Isto põe em causa a própria noção de realidade. O pós-moderno coloca-se no centro da realidade, que, de repente, é transformada num barro maleável, à mercê do capricho individual. O pós-moderno recusa qualquer “chão comum” que permita o diálogo, a discussão, a crítica. No fundo, repete a cosmovisão do ultra-romântico do XIX e do sofista da Antiguidade Clássica.

Um liberal clássico "procura ser" um intelectual público: a grande tarefa dos homens é questionar e comparar muito, afirmando pouco. Para um pós-moderno, a tarefa resume-se a isto: afirmar, afirmar e, se possível, voltar a afirmar. O verbo “questionar” desapareceu do seu curto dicionário. O pós-moderno "é" um intelectual privado. Vive fechado num quarto sem abertura para o mundo. Lá dentro, encontramos uma legião de gente. Que função tem esta gente? Resposta: oferecer um par de ouvidos.

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

"A Verdade é eterna, mas o Conhecimento não". Obrigado pelo post.

5:03 da tarde  
Blogger NeuroGlider said...

Mas qual verdade? E o conhecimento não?!?! Olhando para a biologia e a evolução molecular percebe-se exactamente o contrário. Ou seja, A verdade (espécies=vida) podem ser muitas mas as bases paras as tornar possiveis (conhecimento) são as mesmas!

10:49 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Os relativistas pós-modernos já não acreditam em valores absolutos. É esse o grande problema da sociedade pós-moderna em que vivemos. A Verdade sendo um valor absoluto ou um conhecimento histórico tem de fazer parte dos homens. Porque é que está a Verdade “fora do alcance dos homens”?

Certo, certo, é que já não há impensáveis. Ou quem lute por eles. E “o impensável é o que faz que o pensamento pense.” (V. Ferreira)

11:02 da tarde  

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