quarta-feira, junho 08, 2005

"Racismo Altruísta"

1. Exactamente, Gonçalo. Os multiculturalistas, que se julgam cosmopolitas, advogam uma compartimentação da sociedade. Mas há pior: são condescendentes. Como o Paulo Tunhas já escreveu na “Atlântico”, fazem uma espécie de racismo altruísta.

2. Charles Taylor, sobre o multiculturalismo (obrigado, João): «Fazer um julgamento favorável antes do tempo seria, não só condescendente…». Esta condescendência em relação ao “outro” acaba por retirar a individualidade aos indivíduos das outras culturas, pois estes são reduzidos à condição de meros membros de uma comunidade. Na óptica do multiculturalismo, X ou Y não são indivíduos autónomos mas membros passivos de uma cultura. Os multiculturalistas devem ouvir uma coisa: estes indivíduos «desejam é respeito, e não condescendência» (Taylor).

3. Exemplo desta condescendência: aqueles (falsos) cinéfilos-barra-multiculturalistas. Só vêem filmes de países que acabam em “ão”. Ainda não se sentaram e já estão a dizer que gostam. Aliás, mesmo antes de entrarem na sala, mesmo antes de verem o filme, já têm na ponta da língua aquilo que vão dizer após o visionamento: - Brilhante....................................................................................... e não é de Hollywood [e depois vão alugar, às escondidas, o último do Michael Bay].

Para esta gente, se o filme for do Kazaquistão, então, é bom. Se o filme for do Irão, então, é muito bom. Atenção: adoro cineastas iranianos. Mas gosto tanto do Kiarostami como gosto do Scorsese (já agora, “O Sabor da Cereja” é um dos filmes da minha vida). Avalio um iraniano da mesma forma que avalio um americano ou um português. Não digo que uma coisa de Madagáscar é boa só por essa coisa ter o rótulo de madagascarense. As pessoas que têm este comportamento condescendeste são racistas altruístas. O "outro" é um ser passivo no teatro que montam. Nesse teatro, vestem a pele de solidários e o "outro" que se lixe. O "outro" é apenas actor secundário neste melodrama. Problema? Esquecem-se que o "outro" não é um ser passivo e pode, muito bem, rejeitar esse teatro e exigir verdadeiro respeito.

4. O multiculturalismo é uma revitalização do romantismo político, outrora património da direita reaccionária. Quem faz esta revitalização? As velhas esquerdas. A viuvez por Marx acabou em relação promíscua com Herder e companhia

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Gosto muito daquela expressão americana que chama à condescendência em relação a outras culturas the soft bigotry of low expectations.

12:05 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Tá-se mesmo a ver q n topas a ponta de um corno do q é o multiculturalismo. É um processo n é uma utopia nem um projecto acabado. Estuda teoria dos sistemas e outras merdas. Essa cena de criticar um certo discurso fazendo a apologia de outro só demonstra que ainda n tens cabeça para pensares no teu próprio discurso. Continua q hás-de chegar a algum lado. Sinceramente. Mas essa palhaçada aí do Sinédrio ainda é só pêlo na venta.

6:47 da manhã  

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