segunda-feira, fevereiro 20, 2006

A Spike Lee Joint

Um teor político ou panfletário não diminuí a qualidade de um filme. Até obras com uma mensagem moral e politicamente asquerosa, como The Birth of a Nation (D.W. Griffith, EUA, 1915), não deixam de ser artisticamente geniais. Este não é o caso de She Hate Me.
Talvez pelas dificuldades que tem tido em arranjar financiamento, Spike Lee resolveu ir à fonte com um camião cisterna. Amor, sexo, confronto racial, corrupção, criminalidade de colarinho branco, homossexualidade (e dificuldade de adopção de crianças por casais homossexuais), poligamia, oposição política, feminismo, mobilidade social e moralidade são demasiado para 138 minutos de película, ainda com tempo para o habitual tributo aos mafiosi de Scorsese.
Spike Lee acabou por cometer o erro de que Michael Moore é exemplo máximo: acreditar que o espectador é uma tábua rasa, passiva e desejosa de doutrinação, desta vez a retalho. Só assim, se explica que um filme com Monica Bellucci, Jamel Debbouze, Anthony Mackie, John Turturro e ainda com tempo para um cameo de Q-Tip, seja uma obra menor. Mas as sombras de genialidade estão lá, escondidas, por exemplo, na qualidade do discurso e do monólogo. Spike Lee é capaz de muito melhor.