quarta-feira, fevereiro 08, 2006

Softy


...Para os católicos esses símbolos são as figuras de Cristo e da sua Mãe, a Virgem Maria. Para os muçulmanos um dos principais símbolos é a figura do Profeta Maomé.Todos os que professam essas religiões têm direito a que tais símbolos e figuras sejam respeitados. A liberdade sem limites não é liberdade, mas licenciosidade. O que se passou recentemente nesta matéria em alguns países europeus é lamentável porque incita a uma inaceitável 'guerra de religiões' - ainda por cima sabendo-se que as três religiões monoteístas (cristã, muçulmana e hebraica) descendem todas do mesmo profeta, Abraão."


Em relação à polémica com os cartoons dinamarqueses, o MNE poderia ter optado pelo pragmatismo do silêncio ou pela posição dinamarquesa e enfatizar a não - interferência entre o Estado e liberdades públicas. Curiosamente Freitas do Amaral colocou uma cruz em “none of the above” e optou pela originalidade da recitação teológica.
Se esta é já uma atitude condenável do ponto de vista da moralidade democrática, muito mais o será na óptica da própria lógica diplomática. O MNE parece abstrair-se do facto de que em Estados autocráticos como a Síria, a Líbia ou o Irão, o conceito de “manifestação espontânea” não entra no léxico político. Estamos também face a relações entre Estados e uma polémica incendiária sobre cartoons datados de 4 meses inscreve-se em flutuações políticas do Sistema Internacional em que a capacidade de sólida resolução europeia é uma factor fulcral.
O peso político da EU enquanto actor internacional relevante nunca se poderá resumir ao soft power complacente e terá, a certa altura, de optar por uma afirmação hard do não compromisso. Ao testar a capacidade de coesão comunitária em temas que compõem o centro da essência da natureza democrática europeia, Estados como o Irão estão também a testar a capacidade de resolução europeia no enquadramento internacional e a prever a resposta desta metade do Ocidente em questões como o projecto nuclear iraniano.
No próprio seio da EU, não será fácil explicar a parceiros comunitários a temerária posição portuguesa enquanto as suas representações diplomáticas e interesses económicos estratégicos são pilhados e destruídos. Esta opção pela periferia do temor não poderá deixar de resultar na restrição da política externa portuguesa à periferia diplomática. Até no enquadramento doméstico, onde há tudo menos consenso em relação à condenação dos cartoons, a posição pública no MNE não deixa de ser um erro político.