Moulinex 1 2 3 e sai uma teoria sociológica
Nunca fui admirador de apreciações étnicas de questões internacionais e conto-me entre aqueles que como Fred Halliday, face ao novo livro de Samuel Huntington, se dispõem a pagar-lhe um curso de Castelhano para principiantes. No entanto, the shit hits the fan com Alain Minc. Para aqueles que há dois anos se sentiram desconfortáveis nas cadeiras da Fundação Gulbenkian ao escutarem o administrador da Fnac e da Moulinex falar de relações transatlânticas, anuncio que Minc está de regresso.
Alain Minc é o etnólogo, o paleontólogo, o antropólogo, o sociólogo e o historiador, mas ficamos sempre com a ideia que as suas ideias nascem a ver a MTV.
Já o havia declarado em La Mondialisation Heureuse, mas a sua entrevista ao Público, só vem comprovar que para Alain Minc tudo é étnico, tudo é cultural ou tribal. Se na Gulbenkian já havia proferido que nós, “os Europeus olhamos para os Estados Unidos com binóculos obsoletos”, para depois os acabar por apreciar à luz de um microscópio étnico, hoje Minc presenteia-nos com uma segunda edição renovada e actualizada.
Acredita que “os EUA já não são uma projecção da Europa, mas um "país-mundo", mesmo que apenas pela modificação das suas elites. Hoje, assistimos à emergência das elites asiáticas - os chineses americanos que substituem os WASP ("white anglo-saxon people") e os indianos que substituirão os judeus...” para concluir que “os hispânicos veiculam um concepção reaccionária do catolicismo e isso ajuda a explicar o regresso da religião ou do fundamentalismo religioso. O que se está a passar nos EUA - que não tem nada a ver com o 11 de Setembro - é que os valores americanos são cada vez menos idênticos aos valores europeus... “a visão que temos do nascimento, o aborto; seja da morte, a pena de morte; seja das células estaminais, de Deus, das liberdades individuais - os EUA afastam-se do velho modelo ocidental...”
Para o caso português afirma que “Portugal devia ser a embaixada do Brasil na Europa”, como contraponto à Hispanidade emergente. Talvez um regresso ao molde da Monarquia Dual decorrente das Invasões Francesas, que até 1820 só operou maravilhas.
O seu grafismo sociológico é de fractura, não de convergência e, delicadamente, esquece-se de mencionar a progressão de aculturação das segundas e terceiras gerações imigrantes ou a aproximação e o intercâmbio étnico entre as dominantes formas culturais. Mas que importa isso? Afinal, Minc é Moisés que separa as águas do melting pot global.
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