quinta-feira, maio 05, 2005

Devolvido por incompatibilidade ideológica


Caro Bernardo, urge não confundir convergência democrática com uníssono ideológico. No momento em que Portugal caminhava para a estabilização institucional numa conjuntura de maioria e que Espanha ultrapassava o trauma da UCD, os paralelos entre as duas realidades sociais e políticas ibéricas teriam de conduzir à normalização das relações entre Espanha e Portugal, no quadro das Comunidades Europeias, da NATO e OSCE, das cimeiras ibero-americanas e, de forma bilateral, nas anuais cimeiras luso-espanholas. O próprio Cavaco Silva admite que:

“... era para mim claro que o relacionamento luso-espanhol devia assentar no desenvolvimento do intercâmbio económico e cultural, na cooperação e no diálogo político franco e cordial...”
Cavaco Silva, Aníbal, Autobiografia Política, vol. II, pp. 370

Mas, daí a se presumir uma identidade ideológica comum entre Felipe Gonzáles e Cavaco Silva vai um grande passo. O que é algo que aqueles que estiveram mais próximos de Cavaco Silva afirmam sem rodeios:

“Sem qualquer afinidade ideológica com Felipe Gonzáles, o que não sucedia com Mário Soares, Cavaco Silva procurou seguir a via pragmática para se relacionar com Espanha”
Lima, Fernando, O Meu Tempo Com Cavaco Silva, pp. 143

A paridade entre duas recentes experiências democráticas que partilhavam o processo de integração europeia só poderiam incutir em ambos os executivos uma estratégia de mútuo apoio em questões convergentes, independentemente da divergência de plataformas ideológicas. Cavaco Silva não é de Esquerda e duvido que cumpra os requisitos mínimos para ser de Direita. Aliás, penso que ainda está por ser nomeado o seu espaço político natural: algures entre o gabinete tecnocrata e a cátedra de York.

1 Comments:

Blogger Henrique Raposo said...

Caros,

Cavaco tem como lema aquilo que está escrito na bandeira do Brasil...

10:48 da manhã  

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