quarta-feira, julho 13, 2005

Génios e Genes

John Lewis Gaddis estava correcto em afirmar que teorias da preempção e prevenção não nasceram com a Administração Bush. Na realidade elas remontam às mentes iluminadas que criaram títulos como “Comité de Sábios” ou “Instituto da Inteligência”, eliminando, a priori, qualquer argumento contrário:

- “Isso é ridículo! Quem é que chegou a essa conclusão?”
- “Foi o Comité de Sábios”.
- “Bem, se calhar eles é que sabem...”

Reparo agora que o Instituto da Inteligência garante que "a maior ou menor habilidade para os algarismos e o cálculo ou para as letras e a linguística devem-se a estruturas cerebrais e mentais que dependem de factores genéticos e hereditários". Sim, leu bem, acaba de ser identificado o “cromossoma tabuada”.
Alicerçando-me na sapiência superior do Instituto da Inteligência, permitam-me chegar uma conclusão:

- Com “dois terços dos 84.980 alunos do 9º ano sujeitos a exame reprovaram na prova de Matemática”, só posso deduzir que algures na nossa História, Portugal sofreu um surto incestuoso.

"A predisposição para a matemática é genética. Não tem nada a ver com questões culturais", mas com o facto de dois terços dos alunos de Matemática partilharem a mesma pool genética.
É completamente absorta a esta equação a qualidade do ensino ou o planeamento curricular .
Mais tarde serão identificadas predisposições inatas para a Filosofia, com previsíveis sinais de alguma apatia perante Heidegger.
Permitam-me recordar a minha pequena experiência com Institutos de Inteligência. Penso que quando acabei o 9º ano a minha mãe convenceu-me (coercivamente) a fazer um teste psicotécnico que me vaticinou uma carreira musical. Talvez se tivesse respondido de forma diferente à questão:
“Que preferes fazer":
A) Ficar em casa a afinar o piano
B) Ficar em casa a fazer pão
C) Ficar em casa a pentear “O meu pequeno pónei”

a minha “predisposição inata” poderia ter apontado para os lados de cabeleireiro ou de padeiro. Infelizmente a minha carreira musical nunca durou mais do que uns meses (curiosamente, os mesmos em que fiz o teste psicotécnico) mas, ainda hoje, quando olho para um cavaquinho há algo em mim que palpita. Só pode ser o meu "cromossoma Júlio Pereira"

1 Comments:

Blogger Henrique Raposo said...

Totalitarismo genético.

9:04 da tarde  

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