Freitas do Amaral
Voltando ainda ao assunto das relações transatlânticas, não posso deixar de cometar o artigo de S. Exa. o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Prof. Diogo Freitas do Amaral publicado na última "Visão". Provavelmente nem devia comentar, mas não resisto.
Independentemente da fraca qualidade do texto (tenho pena de dizer isto pois sou dos que ainda admiro as qualidade intelectuais do autor) ele encerra uma mistificação que cumpre desmontar.
Diz a peça em apreço que Portugal tem três vectores primordiais na sua política externa: a Europa, a relação transatlântica e o espaço lusófono. E acrescenta que o actual governo continua apostar neste triângulo estratégico, tal como no passado, sem mudanças.
Ora, se a relação histórica é correcta, já a conclusão quanto ao presente é um engano. E nem um encontro de minutos com a secretária de Estado norte - americana permite esconder esta realidade (paradigmático é p facto de Diogo Freitas do Amaral ter recusado qualquer entrevista com os Meios de Comunicação Social americanos...).
Em rigor, a perspectiva ideológica e, o que é mais, política, do governo actual e da maioria dos seus dirigentes (tal como a maioria do PS, da esquerda portuguesa e do ainda Presidente da República) é "eurogaullista", entendendo a construção europeia como oposta à relação com os EUA. A hegemonia norte - americana é mesmo percepcionada em certos sectores da elite europeia (leia-se, parte da europa ocidental, pois nem todos os países subscrevem esta visão e a Leste a realidade é bem distinta) como o inimigo cimeiro de uma Europa como actor mundial de primeiro plano.
Esta realidade ajuda a perceber outros textos (e livros) do Prof. Freitas do Amaral, de sentido exactamente inverso ao publicado na passada 5ª Feira.
O que sucede é que com o não francês e holandês ao tratado constitucional tudo mudou. Acabou o "eurogaullismo". E isso obrigou muitos, incluindo o ministro dos Negócios Estrangeiros, a rever a sua posição.
Mas mudou tarde e com actos no mínimo fúteis. E, entretanto, muito contribuiu para o crescente sentimento anti - americano no Ocidenta (à escala, é claro).
O que aqui escrevo seria tão inútil quanto os gestos diplomáticos do sr. ministro, se o problema de fundo não se mantivesse. Mas mantem-se. E Portugal pode liderar uma estratégia de evolução, e reforço, da relação transatlântica se avançar já. Seria o primeiro, num movimento que se sabe inevitável, pela igualmente inevitável escalada do fundamentalismo islâmico (já para não falar do factor chinês, ou da Índia, ou mesmo da Rússia).
O que se pode desde já fazer em concreto:
1º. reconquistar a opinião pública (neste caso a portuguesa) para a importância dos EUA para a Europa (e, especialmente para Portugal). Todos sabemos como isto se faz...
2º. apostar no reforço da capacidade das nossas Forças Armadas (aumentando a percentagem do PIB para as FA´s ), liderar a defesa desta política no espaço europeu e definir de modo inequívoco a complementaridade da defesa nacional, e da defesa europeia, com a NATO.
3º. reforçar a NATO, quer através do reforço da sua dimensão política, quer militar, alargando o seu conceito de intervenção dentro do novo quadro das relações internacionais (e.g. alargamento ao Médio Oriente).
4º. aceitação pública da realidade da existência de uma guerra que envolve todo o Ocidente, e não apenas os EUA, e da necessidade de uma estratégia unitária para combater o imperialismo do fundamentalismo islâmico.
5º. definição de uma estratégia comum para o problema energético mundial (vide, preço do petróleo), devendo Portugal propor à Europa e aos EUA a realização de uma Cimeira específica destinada à adopção dessa estratégia comum para a energia mundial.
6º. negociação de novas formas de cooperação ao nível do comércio mundial, com adopção de respostas conjuntas ao problema chinês, o que pode, e deve, ser o embrião de uma zona de comércio tendencialmente livre no Ocidente
7º. criação de um organismo euro - americano destinado à promoção da democracia, da liberdade, dos direitos humanos, do diálogo entre civilizações, bem como ao combate à fome, ao sub - desenvolvimento e à corrupção.
8º. construção de parcerias estratégicas para o investimento em África, muito em especial em Angola.
É uma agenda ambiciosa e polémica. Talvez em alguns ponto impossível por enquanto. Certo.
Mas se aprendi alguma coisa na vida é que só se livra de ser pequeno quem pensa em grande. E mais: quem sabe qual é o seu caminho e não se desvia dele por muito que seja a contestação à sua volta acaba por chegar lá, acompanhado por todos aqueles que faziam tanto barulho à volta.
Independentemente da fraca qualidade do texto (tenho pena de dizer isto pois sou dos que ainda admiro as qualidade intelectuais do autor) ele encerra uma mistificação que cumpre desmontar.
Diz a peça em apreço que Portugal tem três vectores primordiais na sua política externa: a Europa, a relação transatlântica e o espaço lusófono. E acrescenta que o actual governo continua apostar neste triângulo estratégico, tal como no passado, sem mudanças.
Ora, se a relação histórica é correcta, já a conclusão quanto ao presente é um engano. E nem um encontro de minutos com a secretária de Estado norte - americana permite esconder esta realidade (paradigmático é p facto de Diogo Freitas do Amaral ter recusado qualquer entrevista com os Meios de Comunicação Social americanos...).
Em rigor, a perspectiva ideológica e, o que é mais, política, do governo actual e da maioria dos seus dirigentes (tal como a maioria do PS, da esquerda portuguesa e do ainda Presidente da República) é "eurogaullista", entendendo a construção europeia como oposta à relação com os EUA. A hegemonia norte - americana é mesmo percepcionada em certos sectores da elite europeia (leia-se, parte da europa ocidental, pois nem todos os países subscrevem esta visão e a Leste a realidade é bem distinta) como o inimigo cimeiro de uma Europa como actor mundial de primeiro plano.
Esta realidade ajuda a perceber outros textos (e livros) do Prof. Freitas do Amaral, de sentido exactamente inverso ao publicado na passada 5ª Feira.
O que sucede é que com o não francês e holandês ao tratado constitucional tudo mudou. Acabou o "eurogaullismo". E isso obrigou muitos, incluindo o ministro dos Negócios Estrangeiros, a rever a sua posição.
Mas mudou tarde e com actos no mínimo fúteis. E, entretanto, muito contribuiu para o crescente sentimento anti - americano no Ocidenta (à escala, é claro).
O que aqui escrevo seria tão inútil quanto os gestos diplomáticos do sr. ministro, se o problema de fundo não se mantivesse. Mas mantem-se. E Portugal pode liderar uma estratégia de evolução, e reforço, da relação transatlântica se avançar já. Seria o primeiro, num movimento que se sabe inevitável, pela igualmente inevitável escalada do fundamentalismo islâmico (já para não falar do factor chinês, ou da Índia, ou mesmo da Rússia).
O que se pode desde já fazer em concreto:
1º. reconquistar a opinião pública (neste caso a portuguesa) para a importância dos EUA para a Europa (e, especialmente para Portugal). Todos sabemos como isto se faz...
2º. apostar no reforço da capacidade das nossas Forças Armadas (aumentando a percentagem do PIB para as FA´s ), liderar a defesa desta política no espaço europeu e definir de modo inequívoco a complementaridade da defesa nacional, e da defesa europeia, com a NATO.
3º. reforçar a NATO, quer através do reforço da sua dimensão política, quer militar, alargando o seu conceito de intervenção dentro do novo quadro das relações internacionais (e.g. alargamento ao Médio Oriente).
4º. aceitação pública da realidade da existência de uma guerra que envolve todo o Ocidente, e não apenas os EUA, e da necessidade de uma estratégia unitária para combater o imperialismo do fundamentalismo islâmico.
5º. definição de uma estratégia comum para o problema energético mundial (vide, preço do petróleo), devendo Portugal propor à Europa e aos EUA a realização de uma Cimeira específica destinada à adopção dessa estratégia comum para a energia mundial.
6º. negociação de novas formas de cooperação ao nível do comércio mundial, com adopção de respostas conjuntas ao problema chinês, o que pode, e deve, ser o embrião de uma zona de comércio tendencialmente livre no Ocidente
7º. criação de um organismo euro - americano destinado à promoção da democracia, da liberdade, dos direitos humanos, do diálogo entre civilizações, bem como ao combate à fome, ao sub - desenvolvimento e à corrupção.
8º. construção de parcerias estratégicas para o investimento em África, muito em especial em Angola.
É uma agenda ambiciosa e polémica. Talvez em alguns ponto impossível por enquanto. Certo.
Mas se aprendi alguma coisa na vida é que só se livra de ser pequeno quem pensa em grande. E mais: quem sabe qual é o seu caminho e não se desvia dele por muito que seja a contestação à sua volta acaba por chegar lá, acompanhado por todos aqueles que faziam tanto barulho à volta.
1 Comments:
Não entendi muito bem. Inclusive estouno fazendo isto no site Jornal livre (Jornal livre) e (Permuta livre)
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