sexta-feira, setembro 09, 2005

Ténis

Um jogador dispõe de três match-points e consegue desperdiçá-los, um a um, num supremo exercício de masoquismo que deixa a maninha gorda, devia ser a maninha porque os tenistas não têm namoradas obesas, à beira de um colapso nervoso. O outro salva, com uma serenidade budista, três match-points para deitar tudo a perder com uma dupla falta imbecil, preguiçosa ou, para manter a analogia religiosa, católica. Esta incerteza no marcador (ah, grande Gabriel Alves!) aliada ao facto de nenhum português conspurcar o top 100 ou 200 do Ranking ATP fazem com que o ténis seja um dos meus desportos favoritos. Os portugueses remetem-se, com abnegação notável, à disputa de torneios em Espinho ou na Maia em que o prize money nem dá para as deslocações (sábados à tarde, a :2 transmite estes emocionantes eventos entre o concurso hípico de Pedras Salgadas e o campeonato regional de motocross em Águeda). Continuam a fazê-lo durante a idade adulta até que, depois de ganharem onze campeonatos nacionais consecutivos, vão à procura de uma maneira decente de ganhar a vida. Acabam quase sempre como comentadores da RTP, actividade ainda menos recomendável.
Há uns anos a minha ingenuidade levou-me a acreditar que o Estoril Open pudesse ser um torneio de prestígio (maus jogadores e um bom torneio são usuais em países retrógrados) mas perdi as esperanças quando Ivan Lendl veio jogar em calças de fato de treino, adereço cuja utilização em alta competição, à excepção dos guarda-redes de andebol, deveria ser punida com uma fatwa desportiva. E depois, alguém quer participar num torneio em que o Nuno Marques chegou aos quartos-de-final? O torneio que se adapta à nossa condição de lar de 3ª idade da Europa é o Grand Champions Vale de Lobo que só num país como o nosso mereceria tanto destaque. A compita (linda palavra) tem aquele sabor artificial dos combates de Wrestling, dos jogos entre o Resto do Mundo e a equipa Unicef ou dos campeonatos de futebol da Roménia de Ceausescu. Seria o mesmo que organizar um festival da Canção no Casino de Vilamoura com o Art Sullivan, o Joselito e o Vítor Espadinha e com isto não pretendo dar ideias a ninguém.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

O Nuno Marques por acaso até chegou a numero 86 do ranking de singulares e 58 em pares... Além de que o prize money total ao longo da carreira foi de 850.000 dolares, o que em 15 anos dá 50.000€ /ano... nada mal, digo eu.

9:45 da tarde  
Blogger Sara said...

considerando que há quem ganhe mais do que isso num dia...

12:21 da manhã  

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