segunda-feira, outubro 24, 2005

Virtualidades do passado e do futuro

É recorrente usar o passado político e cívico do candidato como moldura moral na corrida eleitoral. Nos Estados Unidos, a experiência de John Kerry no Vietname acompanhou toda a campanha presidencial. Em Portugal, o formato foi primeiro encomendado a António Tabucchi que discorreu sobre o passado de luta anti-fascista que separa Mário Soares e Cavaco Silva. Agora, Jorge Coelho avança para a década de 80 e recorda uma virtual oposição de Cavaco Silva à entrada de Portugal para a CEE.
O currículo político do candidato é sempre um ponto essencial. Foi, aliás, a ausência de uma etiqueta de “clandestinidade anti-fascista” que demoveu o PS de apresentar António Guterres ou António Vitorino como candidatos moralmente viáveis.
Só quem hibernou nas décadas de 80 e 90 é que poderá duvidar da postura proactiva de Cavaco Silva face às Comunidades Europeias. As duas maiorias absolutas de Cavaco Silva, não só traduziram a integração europeia de Portugal em modernização económica e social do país como amplificaram o peso internacional do Estado pela sua presença activa tanto na CEE como na Aliança Atlântica.
A realidade é que em Janeiro não iremos eleger um director para o Museu República e Resistência mas um Presidente da República com um projecto e uma ideia para o futuro.
Se o debate eleitoral se centrar nas memórias da “voz de Argel” ou do exílio parisiense, o passaporte da democracia portuguesa para a idade adulta será, mais uma vez, adiado.