terça-feira, dezembro 06, 2005

Ainda MFM

Confesso que li Bilhete de Identidade no fim-de-semana imediatamente a seguir a ter saído. Por motivos de trabalho ainda não escrevi nada sobre ele. Devo dizer que gostei bastante. Sobretudo pelo desassombramento com que retrata uma época, um estilo de vida social muito próprio, um percurso pessoal não singular, mas por certo não massificado à época.
Por outro lado, reconheço pessoas, sítios e estilos. Não por experiência própria, pois ainda não era nascido, mas por vivência familiar. Percebo a intenção de Maria Filomena Mónica ao escrevê-lo. Percebo ainda mais que quem sempre viveu no meio dos livros se torne quase imperioso revelar-se por meio deles.
Tenho lido algumas críticas na imprensa. Duas delas - Pedro Lomba e Pedro Mexia - referiam-se à intromissão na privacidade alheia sem pudor pela mesma. Confesso que não senti isso. Nada me chocou e acho até que estava à espera de mais. Louvo o espírito arrojado de Maria Filomena Mónica num país que, em 2005, ainda convive mal com a sua memória e tende a ser estruturalmente contido quando fala de si. Desempoeiremo-nos então!

Ps: Sintomático da fraca tradição autobiográfica nacional, é o facto de na blogosfera e imprensa não se falar de mais nenhum livro a não ser este. Que venham mais, é o que se pede.