Diletantismo Político - O lema do Sinédrio é «Observar os acontecimentos, tomando devagar o pulso às tendências e às aspirações do espírito público», in Portugal: Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico.
1 Comments:
Caro HR,
"Para se perceber Negri...", não seria muitíssimo mais útil, e central, Espinoza? É claro q Marcuse foi uma influência importante em Negri, mas o "guru"? Não me lembro de nenhum livro em q Negri tenha aberta e explicitamente tratado esse autor como um pilar central da sua filosofia política. Já o tio Espinoza...
http://www.amazon.com/gp/product/0816636702/104-5557371-7880719?v=glance&n=283155&v=glance
Se calhar é bastante mais importante, para realmente perceber a versão "autonomista" do "Marxismo" de Negri, olhar para a ética de Espinoza. Um excelente ensaio crítico q faz isso mesmo (e, no geral, ajuda muito mais a perceber Negri do q este seu último post) é "You can't build a new society with a Stanley knife" de Malcolm Bull, publicado na London Review of Books: http://www.lrb.co.uk/v23/n19/bull01_.html
E já agora, aquele post sobre o Marcuse no Acidental era escusado... como dizia o Diácono Remédios, "não havia necessidade". Mas, de qq forma, I take the bait:
Qualquer leitor assíduo do Acidental sabe q vc é inteligente e estudioso o suficiente para não acreditar realmente q o tio Marcuse (q era, como vc, um confesso Hegeliano, foi membro da Escola de Frankfurt, amigo e companheiro intelectual de Barrington Moore - lembra-se, o tal do "sem burguesia não há democracia" - e de Habermas, e se viu impedido pelos nazis de trabalhar na Alemanha) era um "totalitário". Como tb saberão, esses tolerantes leitores, q ou vc não leu o One-Dimensional Man (pq se tivesse lido, teria com a sua belíssima e fina inteligência compreendido q a tese central é precisamente _contra_ o totalitarismo q a sociedade de consumo e cultura de massas impõe sobre o indíviduo, abafando o seu potencial específico, creativo e livre), ou então está meramente a usar de um refinadíssimo sentido de ironia, sem contudo ajudar muito à real compreensão do autor.
Aliás, qualquer leitor q o conheça o que escreve, sabe q vc tem um enorme respeito pelas ideias, pelos argumentos. Sabe q vc odeia generalizações opressivas e prefere ler os originais com cuidado, sem os distorcer. E portanto, saberá também que isso de vc retirar uma frase de um ensaio de 1965 - retirando quer a citação do contexto geral do texto, quero o texto do seu contexto geral da "política de campus" específicamente Americana por alturas do Vietnam - não é um ignorante pontapé nas regras mais simples da história das ideias, da crítica literária e da análise académica de textos (e do simples bom senso). Não, terá uma função, embora a meus olhos ela se mantenha opaca, e eu não me aventure a adivinhar qual.
Mas com toda a certeza vc pesquisou quando e em q contexto intelectual Marcuse escreveu o tal ensaio de 1965, "Repressive tolerance". E eu, como todos os seus leitores assíduos, sei q vc não queria implicar oblíquamente q a) a citação vinha do "One-dimensional man" e b) demonstra uma tendência central e bem establecida nos escritos de Marcuse para negar a prática da tolerância. Afinal, vc deve ter lido, nestas suas viagens "filosóficas" (desculpe as aspas, mas é para estarem em conformidade com a sua críptica definição de Marcuse como "filósofo" cm aspas, q deve ser uma categoria especial) para descortinar o sentido profundo das teses de Negri, todo o ensaio "Repressive tolerance". E nele leu, decerto para seu enorme regozijo (como liberal) o seguinte resumo dos argumentos centrais do ensaio, lá para o fim, pelo próprio Marcuse:
"I have tried to show how the changes in advanced democratic societies, which have undermined the basis
of economic and political liberalism, have also altered the liberal function of tolerance. The tolerance
which was the great achievement of the liberal era is still professed and (with strong qualifications) practiced, while the economic and political process is subjected to an ubiquitous and effective administration in accordance with the predominant interests. The result is an objective contradiction between the economic and political structure on the one side, and the theory and practice of toleration on the other. The altered social structure tends to weaken the effectiveness of tolerance toward dissenting and oppositional movements and to strengthen conservative and reactionary forces. Equality of tolerance becomes abstract,spurious. With the actual decline of dissenting forces in the society, the opposition is insulated in small and frequently antagonistic groups who, even where tolerated within the narrow limits set by the hierarchical structure of society, are powerless while they keep within these limits. But the tolerance shown to them is deceptive and promotes coordination. And on the firm foundations of a coordinated society all but closed against qualitative change, tolerance itself serves to contain such change rather than to promote it."
Claro, vc vai contra-atacar com o parágrafo seguinte, q decerto o impressionou mais, como conclusão geral:
These same conditions render the critique of such tolerance abstract and academic, and the proposition that the balance between tolerance toward the Right and toward the Left would have to be radically redressed in order to restore the liberating function of tolerance becomes only an unrealistic speculation. Indeed, such a redressing seems to be tantamount to the establishment of a “right of resistance” to the point of subversion. There is not, there cannot be any such right for any group or individual against a constitutional government sustained by a majority of the population. But I believe that there is a “natural right” of resistance for oppressed and overpowered minorities to use extralegal means if the legal ones have proved to be inadequate. Law and order are always and everywhere the law and order which protect the established hierarchy; it is nonsensical to invoke the absolute authority of this law and this order against those who suffer from it and struggle against it—not for personal advantages and revenge, but for their share of humanity. There is no other judge over them than the constituted authorities, the police, and their own conscience. If they use violence, they do not start a new chain of violence but try to break an established one. Since they will be punished, they know the risk, and when they are willing to take it, no third person, and least of all the educator and intellectual, has the right to preach them abstention.
Compreende-se q esta propensão para pôr os direitos de indivíduos buscando de forma consciente a sua liberdade acima das hierarquias sociais estabelecidas o impressione, como liberal-conservador. Cheira, talvez, demasiado à Revolução Francesa, e aqueles mauzões totalitários franceses. Mas tenho a certeza q não lhe escapou o paralelo com a Declaração da Independência, bastante mais "liberal escocesa" em inspiração. Como tenho a certeza q não lhe escapou q a sua pobre escolha de excerto acaba, inadvertidamente estou seguro, por perverter o tom geral do ensaio. E q quer o ensaio, quer o One-Dimensional Man, não serão talvez os melhores exemplos de "filosofia totalitária".
Desculpe lá o tamanho do comentário, mas sabe como é, a combinação de manhãs de Domingo preguiçosas com posições (ironicamente) extremadas para além do bom senso é um coisa imprevisível.
Um abraço "filosófico",
Daniel
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