quarta-feira, junho 01, 2005

Sarsfield Cabral não brinca em serviço

"Limitar Danos", no DN de Hoje.

O tratado constitucional da UE está politicamente morto. É um alívio para Blair, hoje o mais europeísta dos líderes europeus, mas que perderia certamente o referendo sobre o tratado na Grã-Bretanha, que ele prometera para 2006 - e teria então de ceder o lugar a Gordon Brown. Mas a rejeição do tratado tem outros e mais graves efeitos. Envenena ainda mais a negociação sobre os dinheiros da UE. Se antes eram ténues as esperanças de aumentar o orçamento comunitário para apoiar a integração dos novos, e mais pobres, Estados membros, essas esperanças são agora nulas. Aliás, o processo de alargamento parou. As portas da União vão fechar-se à Roménia, Bulgária, Croácia, Ucrânia e - sobretudo - à Turquia. Essa é uma das mensagens do "não", em França e na Holanda. Relançar a integração europeia após este revés é tarefa impossível com os actuais líderes da União. O mais que deles se pode esperar é que tentem evitar a desagregação de muito do que já se conseguiu. Uma operação de limitação dos danos é necessária para que o euro sobreviva. E aquilo que mais ameaça a moeda única está na recusa implícita no "não" francês (mas também no "sim" de Chirac) da liberalização do mercado europeu. A hostilidade ao mercado interno, com a livre circulação de pessoas, bens, serviços e capitais - uma iniciati- va do socialista Delors, há vinte anos -, arrisca-se a minar as próprias bases da integração europeia.Muitos receavam que o entusiasmo britânico pelo alargamento visasse a diluição da UE numa mera zona de comércio livre, como era a EFTA. O risco, agora, é de não termos uma coisa nem outra. Ora um tal recuo na integração seria fatal para o peso económico e político da Europa. E para um país como Portugal, com um mercado nacional insignificante, seria simplesmente trágico.