segunda-feira, setembro 26, 2005

Arafat leu Weber?

1.Só haverá solução para o conflito entre Israel e a Palestina quando a legítima Autoridade Palestiniana destruir ou domesticar o ilegítimo Hamas. Enquanto não existir coragem para se falar disto, nada será feito. Qualquer Estado assenta numa premissa: monopólio exclusivo da violência. Estado X tem autoridade interna e externa devido a esse monopólio.

2.Arafat nunca se preocupou com esta premissa (Mas aposto que leu Weber...). Nunca quis ser um estadista. Até morrer, preferiu sempre vestir a pele de herói romântico. Resultado: nunca aproveitou o seu prestígio semi-divino para construir uma ordem interna clara, que legitimasse uma voz externa única e inequívoca. Nunca teve a coragem dos homens de estado. Nunca quis rasgar a sua aura de libertador. Nunca quis enfrentar os seus. Mesmo quando estes seus eram radicais como Hamas. Consequência: Mazen herdou uma Palestina fragmentada.

3.A AP pode derrotar o Hamas de duas formas: (1) militarmente ou (2) judicialmente (prender os seus líderes; o que levaria à primeira hipótese, mais cedo ou mais tarde). Acomodar o Hamas democraticamente seria uma terceira hipótese, mas isso só será possível quando o Hamas entregar as armas (acto que implica, em primeiro lugar, a consumação da 1ª ou a 2ª hipótese). Há vontade política para isto? Tem a AP coragem para fazer Política?
Negociar um acordo com Israel implica o controlo absoluto da Palestina por parte da AP. Sem um soberano do outro lado, Israel nunca aceitará um acordo perene.

4. Todos os Estados conhecidos têm por base o mesmo: violência no momento da formação. Os estados – o da Palestina não é excepção - fazem-se com guerra. A violência é necessária para criar a Ordem na qual assentam as Constituições e as Eleições.
Não gostamos nada de ouvir estas verdades históricas. Sentamo-nos no nosso sofá e gritamos isto e aquilo, desconhecendo por completo a nossa própria história. A Paz, esta que vivemos no Ocidente, tem por base a guerra. Para se chegar a Westfália (1648), houve um século e meio de sangue. Grosso modo, de 1517 até 1648, a Europa andou a praticar tiro ao alvo.

5. Não gostam de ler e enfrentar isto? Então, inventem outro mundo, um que seja habitado por anjos. Mas só um aviso: outros já tentaram inventar esse mundo angelical. E sabem o que descobriram? Que os santos matam ainda mais do que os homens.

5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Muito bom! Excelente!

Admiradora secreta

10:10 da manhã  
Blogger Henrique Raposo said...

Minha cara amiga,

muito obrigado. Mas não assine dessa maneira. Ainda me arranja problemas lá em casa…

mas volte sempre,
HR

10:36 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Pois é não percebem que só assim lá vão! Já tinha pensado no que escreveu e tem toda a razão, por isso gostei de o ler. A maçada é que corremos o risco de sermos vistos como belicistas pelas alas mais liberais (europeus que se acham civilizados, tipo franceses ou alemães).

Cumprimentos,

Vasco de Sousa Cyrne

11:40 da manhã  
Blogger Joao Galamba said...

Caro Henrique,

So uma pergunta (sem grande conhecimento de causa, admito). A impossibilidade da palestina ser um estado "normal" (nao tem condicoes para ter o monopolio dos meios de violencia e -ou porque tambem- esta impossibilitado de ter exercito). Como e que um proto estado pode combater eficazmente os inimigos (caso o sejam verdadeiramente) internos (nao sugiro que nao possam fazer mais com os meios que tem)estando na numa condicao de soberania limitada?

4:39 da tarde  
Blogger PPM said...

Grande João,

Como é que está a “nossa” LSE?

Em relação à questão,

João, a AP tem de mostrar vontade política para controlar o Hamas. Israel pode fazer mais? Pode. Mas antes a AP tem de revelar essa vontade política interna. Sem isso, nunca contará com a total colaboração de Israel. Tel-Aviv só descansará quando os movimentos radicais - que fazem da destruição de Israel o seu objectivo – forem controlados. O maior inimigo da AP não é Israel mas o Hamas.

Henrique Raposo
Grande abraço,
HR

10:56 da tarde  

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