Leitores
As comunidades de leitores representam um grande avanço no nosso panorama cultural. É a deselitização da cultura. O lançamento de livros na Fnac do Chiado já era. Atentem no III Encontro de Leitores de Marco de Canavezes. Este tem uma particularidade: só se discutem obras que nenhum dos participantes leu.
Na primeira noite discutiu-se a monumental obra de Proust, Em Busca do Tempo Perdido. O sr. Rodrigo Ventura, empregado de mesa, definiu-a como “obra maior da modernidade em que a narrativa é estruturada de acordo com as sensações subjectivas, não lineares, do autor” lembrando que tudo começa com “a madalena embebida no chá”, referência sempre muito aplaudida por quem nunca leu Proust. “Paneleirices”, contrapôs a Dona Ermelinda Sousa, proprietária de um pronto-a-vestir no Cartaxo.
Moderada por um dos grandes vultos da nossa cultura, que aceitou participar apenas como vulto e com a voz distorcida, a sessão inicial teve outras surpresas. A maior foi mesmo a exegese estruturalista de um professor de electrotecnia em que este tentou provar que O Código da Vinci e o Código da Estrada foram escritos pela mesma pessoa ou por duas pessoas diferentes mas com o mesmo QI. Acabou por afirmar, para espanto dos participantes, que a regra geral da prioridade se baseia nos escritos de um frade beneditino do séc. XV religiosamente guardados, desde então, na moldura de um quadro de Andrea del Castagno.
Após várias horas de discussão chegou-se à conclusão que o livro mais não lido de todos os tempos era o Ulisses, seguido de perto pelo Dom Quixote. Filomena Coxa, figura emblemática da vida nocturna de Corroios, foi a mais lapidar ao considerar que nunca tivera tanto prazer como quando não leu o famoso monólogo final de Molly Bloom. Disse também que só gostava de Saramago a partir da segunda garrafa de vodka, o que motivou a risota distorcida do moderador.
A boa disposição terminou quando José Correia, engenheiro aeronáutico, notou que a importância do episódio dos moinhos de vento no Quixote não é tão grande como o senso comum quer fazer crer e que a dicotomia Alonso Quijano (quem?)/idealista e Sancho Pança/materialista deriva de uma leitura do romantismo alemão. Alguns participantes levantaram-se indignados e ameaçaram abandonar a sessão, o que foi evitado pela pronta intervenção do moderador que obrigou José Correia a admitir que lera o livro, embora há muitos anos e numa péssima tradução.
Na primeira noite discutiu-se a monumental obra de Proust, Em Busca do Tempo Perdido. O sr. Rodrigo Ventura, empregado de mesa, definiu-a como “obra maior da modernidade em que a narrativa é estruturada de acordo com as sensações subjectivas, não lineares, do autor” lembrando que tudo começa com “a madalena embebida no chá”, referência sempre muito aplaudida por quem nunca leu Proust. “Paneleirices”, contrapôs a Dona Ermelinda Sousa, proprietária de um pronto-a-vestir no Cartaxo.
Moderada por um dos grandes vultos da nossa cultura, que aceitou participar apenas como vulto e com a voz distorcida, a sessão inicial teve outras surpresas. A maior foi mesmo a exegese estruturalista de um professor de electrotecnia em que este tentou provar que O Código da Vinci e o Código da Estrada foram escritos pela mesma pessoa ou por duas pessoas diferentes mas com o mesmo QI. Acabou por afirmar, para espanto dos participantes, que a regra geral da prioridade se baseia nos escritos de um frade beneditino do séc. XV religiosamente guardados, desde então, na moldura de um quadro de Andrea del Castagno.
Após várias horas de discussão chegou-se à conclusão que o livro mais não lido de todos os tempos era o Ulisses, seguido de perto pelo Dom Quixote. Filomena Coxa, figura emblemática da vida nocturna de Corroios, foi a mais lapidar ao considerar que nunca tivera tanto prazer como quando não leu o famoso monólogo final de Molly Bloom. Disse também que só gostava de Saramago a partir da segunda garrafa de vodka, o que motivou a risota distorcida do moderador.
A boa disposição terminou quando José Correia, engenheiro aeronáutico, notou que a importância do episódio dos moinhos de vento no Quixote não é tão grande como o senso comum quer fazer crer e que a dicotomia Alonso Quijano (quem?)/idealista e Sancho Pança/materialista deriva de uma leitura do romantismo alemão. Alguns participantes levantaram-se indignados e ameaçaram abandonar a sessão, o que foi evitado pela pronta intervenção do moderador que obrigou José Correia a admitir que lera o livro, embora há muitos anos e numa péssima tradução.
Finda a sessão houve ainda tempo para se fazer uma sondagem sobre quem deverá ser o próximo Nobel da Literatura. O resultado foi um empate entre Philip Roth e Mario Vargas Llosa. José António Saraiva, Escritor Homossexual de País do Terceiro Mundo e Mulher Muçulmana de Burka/Chinesa Dissidente/Africana Sem Clitóris foram outros autores mencionados.
3 Comments:
Grande, grande post.
Muito bom. Podia dar-me o contacto do sr. prof. de electrotecnia? Teríamos tanto de que falar...
Onde foste buscar tamanha criatividade? terá sido a uma sempre formativa e degenerativa sessão tripla de Fassebinder?
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