Segurança
Fear not, ó inimigos do multiculturalismo!
A directora de marketing da empresa que explora o centro comercial Amoreiras contribuiu para sossegar os espíritos mais inquietos: “Nós tínhamos pessoas de cor, é chato dizer isto, e eu não tenho nada contra as pessoas de cor. E deixámos de ter(...)Portanto, esta quebra de três por cento até foi bem vinda.” Isto está no Público de hoje, página 3. Na mesma página, a modelo Nayma, que não encaixa no modelo tradicional de pessoa de cor, afirma que não se trata de “centro comercial elitista”.
É claro, sem ironias, que a questão não são as pessoas de cor. A questão são os pretos. A Nayma, o Oceano, o Obikwelu, a Sara Tavares não são pretos. São pessoas de cor muito bem vindas às Amoreiras. Os pretos são os da Cova da Moura. Os pretos, mesmo os que são brancos, são os pobres. As massas que ao fim-de-semana enxameiam o Colombo e que, felizmente, deixaram de poluir as Amoreiras.
Longe de mim qualquer intenção demagógica. Maria Galvão Sousa, assim se chama a senhora, está a ser o mais honesta possível. Verbalizou o que nós pensamos e sentimos. O que pensam e sentem as pessoas que frequentam o centro. O que pensam e sentem os seus patrões.
Que os pretos, mesmo os que são brancos, façam confusão no Colombo, que andem aos tiros nas barracas e nos guetos e nas discotecas de música africana, não incomoda ninguém. Enquanto os pretos, mesmo os que são brancos, se concentrarem no centro comercial da Mouraria, enquanto os brancos, mesmo os que são pretos, fizerem as compras sossegados nas Amoreiras, podemos todos dormir descansados. Enquanto estes dois mundos estiverem separados, enquanto o nosso mundo não for contaminado, existirá um arremedo de ordem que nos tranquiliza, como se tudo estivesse no devido lugar. A insegurança não se mede pelo número de assaltos, pelo número de vítimas. Mede-se pela sensação difícil de quantificar que a nossa cápsula é permeável, que o nosso mundo tem brechas por onde podem entrar pedaços de outro mundo que, não sendo possível eliminar, preferimos ignorar.
A senhora tem razão. Ela, como grande parte da população portuguesa, não tem nada contra os pretos, mesmo os que são brancos. Não os querem é por perto.
2 Comments:
todos gostam dos pretinhos, ou das pessoas de cor-como é correcto dizer, mas experimentem ver as filhas a namorar com alguém que parece estar sempre de fato macaco! até lhes sai o fígado!!!!!
As Amoreiras são um espaço comercial onde se pode andar perfeitamente tranquilo, onde i.e. os comerciantes que expõem as antiguidades/velharias no primeiro andar, não vêm as peças subtraidas..
Não sei se este exemplo tem relação com as afirmações da senhora; se tem, é pena que deva ser assim.
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