quarta-feira, setembro 14, 2005

Família

A conclusão perfeita de um jantar-de-família é um homicídio. Eu poderia falar com igual propriedade sobre almoços de família mas associo sempre os almoços-de-família aos Domingos, dias em que o sol e a piedade inerente ao dia do Senhor não convidam ao crime. Para além de não ser o homicídio uma arte vespertina e de não ser o factor estético despiciendo nestes casos.

Os jantares de família têm uma aura de última ceia. Começam em tom ameno, sobretudo se os comensais não se encontram há algum tempo. Aos poucos, porém, aquele bem-estar que é norma nas refeições entre conhecidos começa a ceder a um incómodo atiçado por velhas desconfianças.

É então que surge, insidioso e quase imperceptível, um desejo mórbido de esganarmos a avó. São poucos os que têm a coragem de o concretizar. No fundo temem arrepender-se de um acto cuja motivação pode residir, afinal, num motivo tão supérfluo como o excesso de tempero na carne. E uma avó merece mais do que morrer às mãos de um neto com problemas gástricos.

2 Comments:

Blogger Senador said...

No meu caso o problema é não haver avó. Enquanto ela foi viva comportava-se tudo que nem meninos do coro mas agora tudo o que estava enterrado veio ao de cima e tornou as reuniões de familia penosas... qualquer coisa é motivo para atirar a matar!

6:24 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Ouve lá, por que motivo não esganas já a velha?

10:46 da tarde  

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