Fazer por Lisboa (II)
Chamar arquitectos de renome a intervir nas cidades pode ser uma mais valia, mas não é uma estratégia, quando não existe um suporte global para as suas intervenções. O caso da cidade de Bilbao só resultou porque o trabalho de Gehry obedecia a uma estratégia urbana global e a sua proposta se adequava ao local. O projecto não actuou contra o local, soube antes valorizá-lo. Tal não acontece no caso do Parque Mayer, em Lisboa. Há que ter a noção do espaço e das suas potencialidades. Da mesma forma que a reconstrução da cidade de Berlim (levada a cabo por vários arquitectos nacionais e internacionais, de renome ou não) só resultou porque tinha como base um plano de pormenor que “balizava” e regulava as diversas intervenções. Havia, portanto, uma estratégia, um sistema de relações e hierarquias que se teve em linha de conta. A título de curiosidade, um dos documentos que regula as intervenções em Lisboa é o PDM (Plano Director Municipal) que estabelece, entre outros, a cércea máxima do edificado para cada zona. Se todas a construções devem obedecer a esses critérios, por que é que as Torres de Siza, que ultrapassam em muitos pisos o máximo permitido, poderão constituir uma excepção?
Porque intervir em cidade é alterar relações. É isto que temos de ter a noção. As intervenções não podem ser gratuitas. É necessário estudar e prever os impactos de determinado projecto no recinto de toda a cidade e, por vezes até, na relação com outras cidades. Como é, por exemplo, o caso do Túnel do Marquês, que terá repercussões em variadíssimos domínios de Lisboa, desde a poluição ao aumento de tráfego, passando pelos problemas de circulação ou estacionamento.
Com isto pretendo apenas frisar o seguinte: pensar e intervir em cidade de forma coerente são situações complexas, que vão muito além de políticas partidárias. A lógica de intervenção na cidade deveria ser estruturada e planeada. E, porque as alterações no espaço não se fazem do dia para a noite, obedecer a uma lógica de continuidade – como, aliás, as grandes intervenções em Lisboa o foram.
Por que não, de uma vez por todas, e para variar, realmente “fazer alguma coisa por Lisboa”?
[Marta Castro Rosa]
Porque intervir em cidade é alterar relações. É isto que temos de ter a noção. As intervenções não podem ser gratuitas. É necessário estudar e prever os impactos de determinado projecto no recinto de toda a cidade e, por vezes até, na relação com outras cidades. Como é, por exemplo, o caso do Túnel do Marquês, que terá repercussões em variadíssimos domínios de Lisboa, desde a poluição ao aumento de tráfego, passando pelos problemas de circulação ou estacionamento.
Com isto pretendo apenas frisar o seguinte: pensar e intervir em cidade de forma coerente são situações complexas, que vão muito além de políticas partidárias. A lógica de intervenção na cidade deveria ser estruturada e planeada. E, porque as alterações no espaço não se fazem do dia para a noite, obedecer a uma lógica de continuidade – como, aliás, as grandes intervenções em Lisboa o foram.
Por que não, de uma vez por todas, e para variar, realmente “fazer alguma coisa por Lisboa”?
[Marta Castro Rosa]
2 Comments:
A Marta, falando de urbanismo, acabou também por falar do grande mal de Portugal: concentração excessiva na "pessoa" – neste caso, arquitectos famosos – e o desprezo absoluto pela "estratégia" a longo prazo, que depende de uma IDEIA e não de pessoas.
"A lógica de intervenção na cidade deveria ser estruturada e planeada."
1. "intervenção" e "planeada" na mesma frase... brrrr!!
2. O urbanismo está refém de paradigmas de esquerda estatista. É urgente que o debate parta de outra filosofia:
3. estratégia a longo prazo— como disse o HR—, ou seja, um punhado mínimo de IDEIAS estruturante, e acrescento eu: Rule of Law.
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