quinta-feira, novembro 24, 2005

Só uma pergunta:

O que é um “genocídio cultural”?

O termo encontra-se muito em textos multiculturalistas. Será um genocídio versão light? Podemos ser vítimas do dito e continuar vivos?

2 Comments:

Blogger Victor Lazlo said...

É uma boa pergunta para a qual não tenho resposta.
No entanto, parece-me pacífico que quem apenas lê Chomsky e Negri comete um suicídio cultural.

5:38 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Viva, há quanto tempo.
Acho que percebo a dúvida: se não existem culturas -- e do santuário de Fátima às selvas do Bornéu, passando pelas saunas de San Francisco é tudo o mesmo, indivíduos aos molhos -- como é que se pode falar de "genocídio cultural"? Bem. Acho que este termo é usado em, pelo menos, dois grandes sentidos.
O primeiro, mais implícito e mais difuso, tem a ver com a tal "globalização". Diz que a circulação global de bens, práticas, línguas e ideias homogeniza as formas locais dessas coisas, passa a ser tudo o mesmo em todo o mundo. Eu por mim não acredito muito nisto: os antropólogos têm bem documentado quer que nunca, em lado nenhum, os locais foram tão locais como isso; e que das trocas vem mais criatividade... cultural. Mas espanta-me que a sua costela burkeana não reconheça a perda, a "morte" de tradições contextualizadas, bem sedimentadas no seio de grupos locais ao longo de gerações, etc., que inevitavelmente a globalização produz.

Um segundo sentido de "genocídio cultural" é mais explícito, apontando para programas deliberados de erradicação de culturas distintas das de grupos em posição de poder (ah, é verdade, perdão, da erradicação ou da limitação severa de ACTOS distintos dos praticados por grupos em posição de poder). É mais fácil dar exemplos: os chineses no Tibete, os indonésios em Timor, a União Soviética. Nestes casos, muito diferentes, não se procura (enfim, não principalmente) destruir fisicamente as populações; mas impõe-se, pela força, pela escolarização, pelo regime económico, pela polícia de ideias, formas de agir estranhas a essas populações. Consigo pensar ainda num terceiro sentido, mais ou menos entre os dois anteriores, bem ilustrado pelas reservas "índias" norte e sul americanas. Acredito que não obedeçam a um projecto "genocida", mas na prática estes grupos são impedidos de se dedicar a actividades que davam sentido às suas existências. Não mata mas mói. Agora, também me espanta um bocado que não se preocupe com a "alienação" (uso o termo sem as conotações marxistas) criada por este desenraizamento imposto por forças quase sempre estatais, abstractas e distantes, mas pronto -- nem falo por mim, que de qualquer maneira sei que as coisas não são completamente assim, que há sempre resistências, que as culturas, perdão, os grupos, perdão os indivíduos arranjam quase sempre táticas para manter a sua identidade, perdão, para continuar a fazer as coisas que sempre fizeram.

Saudações

11:07 da tarde  

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