terça-feira, março 15, 2005

Direito de Resposta

Em resposta ao meu post, Bruno Cardoso Reis escreveu:

“O Goncalo devia ler as coisas com mais cuidado. E ridiculo vir falar de coisas a que quer o meu texto, quer o texto do Max Boot fazem referencia (que este tipo de estrategia nada tem de novo e imperios do passado ja a usaram). O Max Boot alem de colunista no LATimes, publica com regularidade no FT e no Wall Stree Journal (do qual foi editor). Sobretudo e investigador no Council on Foreign Relations que e um dos think tanks mais influente nos EUA, senao mesmo o mais influente. (Se tive lido o texto tinha reparado que esta no site do CFR.) E alias provavelmente o unico neo-conservador que por la anda.O Goncalo esta no bom caminho para se tornar mais um bom exemplo do pro-americanismo primario que impede que se possa brincar ou pensar sobre os EUA. Sovietismo de sinal contrario, em suma.”

Exercendo o meu direito de resposta devo dizer que o Bruno segue a tendência tão comum de curriculum wise guy. Parece uma caderneta de cromos d’A Bola jogo de Trivial Pursuit com questões como : “ Quando é que Geoffrey Kemp chegou ao Nixon Center?” .
O Bruno devia saber que mais do que conhecer a carreira de alguém deve-se conhecer o seu valor ou então arrisca-se a chegar à conclusão de que o Secretário foi um grande jogador porque esteve no Real Madrid. De qualquer forma, se tivesse lido bem o post, teria reparado que lá deixei um link para a biografia de Max Boot disponibilizada pelo L.A Times e se tivesse dado uma vista de olhos no blog teria visto que não é a primeira vez que falo do mesmo. De qualquer forma, é erróneo apresentar Max Boot como um ex-editor do Wall Street Journal, cujo o cargo, e o Bruno sabe bem que é verdade, dificilmente equivale às atribuições do editor do Público, por exemplo. Ainda na mesma nota, o facto do artigo de Max Boot estar presente no site do CFR não significa que este seja, por exemplo, um working paper da mesma entidade. Aliás, logo no início do texto está expressa a proveniência do mesmo (coluna de opinião do L.A. Times) e é assim que deve ser endereçado. Facilmente, o mesmo texto estaria presente na Revista de Imprensa do IPRI, como está o seu “Rethinking the Iwo Jima Mythaqui. Da mesma forma, apresentar Max Boot como um “neoconservador” proeminente poderá ser um erro. Sei que o mesmo, inúmeras vezes, já divagou sobre este tema, especialmente no seu famoso artigo no Wall Street Journal, “What the heck is a neocon?”. Ainda assim, a lógica do discurso de Max Boot parece-me que o aproxima mais de um puro realista. Aliás, quando Francis Fukuyama escreveu no The National Interest o seu “The Neoconservative Moment”, não me lembro de lá ter visto o nome de Boot.
Mas a parte mais interessante do comentário do Bruno Cardoso Reis é o momento em que me descreve adepto de “um pro-americanismo primário”, logo no dia em que visto a minha t-shirt “John Kerry for a Stronger America”.
Na realidade, prefiro descrever-me como um democrata de esquerda, europeísta convicto (com fortes tendências federalistas) e ciente da vitalidade do vínculo transatlântico, para com o qual, como europeu, tenho um dívida de segurança de meio século. Nesse sentido sim, sou pró-americano. Não deixo de ser crítico da Administração Bush nas suas políticas domésticas e nos casos evidentes de Guantanamo e Abu Ghraib, mas também não escolho fechar os olhos ou ver couves onde a razão vê uma incisiva presença norte-americana num processo de democratização do Grande Médio Oriente e Norte de África e na (ainda) periferia europeia a Leste. Se em guerrilha por vezes há que comer sopa com uma faca (está a ver também conheço a sua biografia, queijinho amarelo para mim), em política internacional há que se seguir os fluxos do momento e reconhecer o crédito e as forças motrizes.
Talvez o Bruno preferisse que eu fosse pró- Salvador Allende ou pró- Mikuláš Dzurinda (PM da Eslováquia), talvez um defensor da legitimidade de Lukashenko. Tenho pena, mas não é o caso. De qualquer forma, o Bruno pode escolher continuar a jogar este jogo de dados biográficos. Aviso-o que tenho cromos do Dick Cheney, no jacuzzi de executivos da Halliburton para a troca.

3 Comments:

Blogger bruno cardoso reis said...

Eu ao contrario de si nao faco juizo de intencoes e exercicios de advinhacao politica, limitei-me a descrever sintomas do novo sovietismo que encontrava no seu texto. Mas fique descansado que nao lhe vou perguntar se tem um t-shirt a dizer I love Pinochet. Embora confesse que achei partes do seu poste um bocadinho delirantes (deve ser dos vapores).

Nada me diverte mais do que ser descrito como anti-americanista e perigoso esquerdismo. Se tivesse ficado pelo ridiculo tom neo-macarthista por mim tudo bem. No entanto, um ponto que a sua "resposta" prefere ignorar, decidiu acusar-me de ignorancia da historia (logo a mim!). De nao saber que isto nada tinha de novo. Quando eu refiro expressamente isso no meu texto. Confesso que achei a sua suposta licao merecedora de resposta.

Eu nao dei nenhum tom oficial a sugestao de Max Boot. Limitei-me a identifica-lo como ele e outros normalmente o fazem: um neo-conservador. Alias, mais proximo do mainstream neo/con do que Fukuyama que voce cita como autoridade. E Boot nao e simplesmente um comentador no LA Times como voce prentedeu fazer crer.

Caso nao tenha reparado - e um problema comum num pais em que toda a gente se leva demasiado a serio - o texto tinha um tom, digamos que algo ironico. Excepto quando se referia ao problema bem real em conseguir recrutas norte-americanos para o exercito.

Nao vou deixar de ironizar ou comentar seriamente o que se passa nos EUA, apesar de aparentemente mesmo para um "apoiante de Kerry" portugues isso ser dificil de digerir. Os meus amigos americanos apoiantes de Kerry, estranhamente, nao se incomodam com este tipo de opinioes ou ironias.

3:33 da tarde  
Blogger Gonçalo Curado said...

Caro Bruno

Devo, desde já, dizer-lhe que alegar “deve ser dos vapores” não vai muito em abono da sua credibilidade académica. Desconheço os “vapores” a que se refere, mas se sofro a influência de alguns só podem ser os de gasolina de cada vez que vou abastecer o carro. Também não sei em que parte do meu texto é que encontrou ecos do Senador McCarthy (não “Macarthy”). Não o coloquei em nenhuma lista negra ou “vermelha” ou o persegui por razões ideológicas e devo dizer que tal como o Barnabé, também as suas antigas Cartas de Londres fazem parte dos “favoritos” do meu internet explorer. Limitei-me a debater consigo uma questão e uma afirmação de uma forma irónica, mas educada. Da mesma forma não o acusei de ignorância histórica, mas de parcialidade, expressa na palavra “preferiu”. Não sei se isso me pode incluir no seu “novo-sovietismo”. Talvez ajude se eu fizer uma auto-crítica?
Pelos vistos quem levou alguém demasiado a sério foi o Bruno, preferindo esconder-se em recursos biográficos e não se dando ao trabalho sequer de reparar que quando mencionei Fukuyama, não o apresentei como neo-conservador (que não o é, de todo), mas como o autor de um artigo que analisa o novo fôlego neo-conservador, apartir do realismo democrático de Krauthammer, enquanto que identifica os proponentes de cada tendência até ao “Kissingerian realism”. Mas o Bruno acredita demasiado nas suas capacidades irónicas. Não sei se é o caso dos seus amigos americanos, mas os meus (americanos ou não) chamam-me à atenção quando estou a ser parcial e costumam gostar de um bom debate.

9:58 da tarde  
Blogger bruno cardoso reis said...

Caro Goncalo

Foi voce e nao eu que colocou a questao da biografia do Max Boot no centro do seu comentario. (E nem vou entrar na questao do Fukuyama).

Eu nao preferi ignorar, ou apresentar como proto/inovadora a ideia de uma Legiao da Liberdade. Disse claramente que a ideia de Boot nada tinha de novo.

Se conhece a minha biografia e os meus textos ainda menos percebo a referencia a t-shirts ou a apoios a Lukashenko.

A politica externa norte-americana e a propaganda pro-americanista primaria estao cheias de contradicoes e distorcoes. E nao e por ser automaticamente associado com os amigos de Kim Jong Il que vou deixar de ironisar com isso ou de as analisar seriamente.

Para provocacao, provocacao e meia. Mas nao confundo (nem o fazem os meus amigos) veemencia verbal com animosidade pessoal. Espero que faco o mesmo

Bons postes

PS - Os vapores eram uma referencia talvez demasiado rebuscada as influencias malignas do cromo de Cheney no jacuzzi da Halliburton.

4:07 da tarde  

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