quarta-feira, maio 11, 2005

The Hedgehog and the Fox*


Posted by Hello
A política externa russa contemporânea é unipessoal, produto do pragmatismo errático de Putin. Tal como Putin flutua entre o autoritarismo reaccionário de suporte apparatchik nostálgico e o reformismo democrático, também “depending on the time and the setting, Russia is European, Asian, Eurasian, a regional power, a global player, one of the poles in the emergent multipolar world order”. Nas celebrações moscovitas dos 60 anos do VE Day, a Rússia foi indubitavelmente soviética, força motriz de um revisionismo histórico que nos levou em time warp para idos 7 de Novembro na Praça Vermelha.
Para a quase totalidade da Europa Ocidental, 8 de Maio de 1945 significa o início de uma longa jornada de integração europeia, de reconstrução económica e social, de pacificação da “questão alemã” e de uma era de segurança continental com garantias transatlânticas. Para os Estados Bálticos e do Caucaso, como a Estónia e a Geórgia, o fim da II Guerra Mundial recorda a consagração das disposições do pacto Ribbentrop-Molotov pelos “argonautas” da Yalta e o início de meio século de imposto jugo autoritário soviético. É, por isso, particularmente significativo que depois do revivalismo moscovita e da datcha de Putin, o Presidente Bush tenha escolhido terminar o seu périplo na Geórgia.
Pode-se optar por interpretar esta escolha como mau cálculo político, como uma desnecessária antagonização do “urso russo” ou como a viabilização de contrapartidas americanas no futuro do pipeline Baku- Tbilisi- Ceyhan (BTC), mas aqueles que, em 2003, observaram uma multidão pacífica desalojar Eduard Shevardnadze têm de analisar esta opção segundo outros parâmetros.
Desde 2003, circunstancialmente ou não, o aroma das rosas revolucionárias de Tblisi estendeu-se à Ucrânia, ao Quirguistão e ao Líbano, e a presença de Bush na Geórgia vem assegurar, não só o futuro da difusão dos valores democráticos do Estado de Direito nas antigas áreas de influência soviética, como a viabilidade do processo de democratização orgânico na Geórgia.
Ao assegurar a assistência de Washington no diálogo com Putin para a retirada da presença militar russa na Geórgia e para o fim do litígio territorial acerca da Abkhazia e da Ossétia do Sul, Bush não está a expressar a sua particular aversão russa, mas a despender o seu capital político em salvaguarda de um parceiro estratégico. Este é um processo do qual a União Europeia não se deveria imiscuir. Mais do que a dúbia estratégia de aproximação bilateral, sentindo o pulso ao jogo de equilíbrio que é a política internacional, uma Europa a uma só voz deverá incorrer num “diálogo crítico” com Moscovo face à necessidade de coesão democrática na sua periferia alargada.
O “interesse nacional” europeu residirá também na sua capacidade de, sem perturbar a contribuição russa para a revisão em curso do Tratado de Não Proliferação Nuclear, suster o recrudescimento de uma Rússia revivalista.