Cantar para surdos...
Caro Gonçalo,
1.Pois é. Como és de esquerda, sentes-te bem junto do neocon.
2.Acho que não me fiz entender. Eu também tenho valores absolutos. Aliás, partilhamos esses valores absolutos. Mas não é isso que está em causa.
3. A minha concepção de liberdade também só concebe a democracia liberal. A minha “liberdade negativa” só pode ser defendida pelas instituições demo-liberais. E é precisamente aqui que a porca torce o rabiosque. É que o neocon nunca estabelece a diferença entre um valor abstracto e indiscutível e a forma como esse valor desse ser aplicado na realidade. Se quiseres, nunca estabelece a diferença entre valor moral e preceito institucional. Afirmar que se quer expandir o ideal da democracia é das coisas mais vagas que se pode dizer em política. É retórica. O neocon tem um défice de pensamento institucionalista e um excesso de moralismo.
4. Vivemos, de facto, numa época que mistura moral e política com um à-vontade, que, a meu ver, é inquietante. Eu não estou a discutir ética ou moral. Aqui estamos de acordo. Estou, isso sim, a discutir a forma de aplicar esses princípios éticos à realidade política. E “Política”, do ponto de vista do liberalismo clássico (o meu), é precisamente isto: como aplicar um valor universal e atemporal a um dado contexto histórico e particular. Repara: eu não digo que é moralmente condenável expandir a democracia. Mas o ponto não é esse.
5. Não me confundas com a Realpolitk. Não posso com esses gajos. Na Teoria das Relações Internacionais, tenho dois inimigos: a realpolitik e os ideias pós-westfália. Sou kantiano. Sou madisoniano. Hoje, esses ideais estão com Zakaria. Sou iluminista, tal como tu. Sou universalista, tal como tu. Mas, eu olho para montante e tu para jusante. E aqui há uma diferença abissal. Eu penso em instituições. A nossa liberdade é um efeito dos constrangimentos constitucionais que aplicamos ao Poder. Temos liberdade porque limitamos os gajos que têm a cadeira do poder. E como diria Burke, apregoar liberdade em abstracto costuma conduzir a tiranias. A “good order” é isso mesmo: instituições e constituições, a aparelhagem institucional que funciona como um guarda-costas da nossa liberdade.
7. Em suma, apregoar o direito natural sem a preocupação de construir o direito positivo é a mesma coisa que cantar para um auditório de surdos. É pura vaidade. E tu, meu caro amigo, de vaidoso não tens nada. Por isso, e perdoa-me a audácia, deixa lá o neocon. Não é a tua cara.
Um abraço,
Henrique
PS: continua a ler Burke…
1.Pois é. Como és de esquerda, sentes-te bem junto do neocon.
2.Acho que não me fiz entender. Eu também tenho valores absolutos. Aliás, partilhamos esses valores absolutos. Mas não é isso que está em causa.
3. A minha concepção de liberdade também só concebe a democracia liberal. A minha “liberdade negativa” só pode ser defendida pelas instituições demo-liberais. E é precisamente aqui que a porca torce o rabiosque. É que o neocon nunca estabelece a diferença entre um valor abstracto e indiscutível e a forma como esse valor desse ser aplicado na realidade. Se quiseres, nunca estabelece a diferença entre valor moral e preceito institucional. Afirmar que se quer expandir o ideal da democracia é das coisas mais vagas que se pode dizer em política. É retórica. O neocon tem um défice de pensamento institucionalista e um excesso de moralismo.
4. Vivemos, de facto, numa época que mistura moral e política com um à-vontade, que, a meu ver, é inquietante. Eu não estou a discutir ética ou moral. Aqui estamos de acordo. Estou, isso sim, a discutir a forma de aplicar esses princípios éticos à realidade política. E “Política”, do ponto de vista do liberalismo clássico (o meu), é precisamente isto: como aplicar um valor universal e atemporal a um dado contexto histórico e particular. Repara: eu não digo que é moralmente condenável expandir a democracia. Mas o ponto não é esse.
5. Não me confundas com a Realpolitk. Não posso com esses gajos. Na Teoria das Relações Internacionais, tenho dois inimigos: a realpolitik e os ideias pós-westfália. Sou kantiano. Sou madisoniano. Hoje, esses ideais estão com Zakaria. Sou iluminista, tal como tu. Sou universalista, tal como tu. Mas, eu olho para montante e tu para jusante. E aqui há uma diferença abissal. Eu penso em instituições. A nossa liberdade é um efeito dos constrangimentos constitucionais que aplicamos ao Poder. Temos liberdade porque limitamos os gajos que têm a cadeira do poder. E como diria Burke, apregoar liberdade em abstracto costuma conduzir a tiranias. A “good order” é isso mesmo: instituições e constituições, a aparelhagem institucional que funciona como um guarda-costas da nossa liberdade.
7. Em suma, apregoar o direito natural sem a preocupação de construir o direito positivo é a mesma coisa que cantar para um auditório de surdos. É pura vaidade. E tu, meu caro amigo, de vaidoso não tens nada. Por isso, e perdoa-me a audácia, deixa lá o neocon. Não é a tua cara.
Um abraço,
Henrique
PS: continua a ler Burke…
6 Comments:
Caro Henrique,
Concordo contigo e há uma coisa que nunca consegui perceber. Como é que conservadores como o João Carlos Espada, confessos admiradores de Burke, podem apoiar a irresponsabilidade das cruzadas moralistas da recente política externa americana. Mistérios...ou será que JCE lá fez mais uma migração ideológica e agora é neo-con?
João,
então e os copos? Julho está aí...
só chego dia 8. Mas temos de combinar. Dá uma olhada ao artigo do Bush, Maquiavel, Strauss e Baudrillard. é um pouco conspiratório, mas é interessante...
Ó Gonçalo,
Não ligues ao que diz o Henrique. Se contunuares a comero que diz o Burke depressa o Sinédrio deixa de ter uma presença tímida da esquerda liberal. Lê o Rawls e o Giddens.
Henrique,explica o que tens contra os realistas e contra o pós-westefalianos..
Quanto ao Espada, devia ter ficado nu Clube de Esquerda Liberal. É que nos últimos 15 anos tem sido apenas a voz da Reacção... Enfim, tenho dito. Siga a polémica e viva o Sinédrio que voltou à grande forma!
Abraços Esquerdistas
Boa Henrique!
Já pensava que tinha desistido de escrever no Sinédrio
Caro anónimo,
lealdade e coragem. lealdade e coragem.
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