O culto do chefe
As lideranças políticas (de partidos ou movimentos) são hoje idolatradas, assim como se bajula amanhã um novo rosto de liderança. São, mais uma vez, as clientelas partidárias a falar mais alto.
Tenho para mim que isto resulta de dois factores endógenos à sociedade portuguesa. Em primeiro lugar, a uma mesquinhez própria da portugalidade que acentua a bajulação, a palmadinha fácil nas costas, a correria ao lado da eminente figura política. É um sinal da nossa mediocridade social. Portugal continua a ser uma feira de vaidades e uma praça de homens sem qualquer personalidade. De uma vez por todas: assumam-se.
Por outro, o recurso ao culto do chefe apenas reflecte a debilidade das nossas instituições, sejam estas partidárias ou até mesmo de outro nível político. Com uma pujança pouco sólida, a Instituição política vive inevitavelmente dos seus protagonistas, caíndo-se num cenário reflector destes últimos.
O país devia de uma vez por todas largar o sebastianismo. A idolatração da liderança apenas espelha a fraqueza das instituições democráticas.
Não nos podemos continuar a queixar eternamente da qualidade da classe política se não valorizarmos mais a sua condição passageira.
Para isto teríamos que privilegiar o Parlamento em detrimento da Presidência da República. Dar ao Parlamento o lugar central no sistema político português significa acentuar a democracia representativa, o debate pluralista, a responsabilidade governativa - uma vez que esta emanaria do Parlamento. Haja, para tal, coragem para uma revisão constitucional de fundo.
Fortaleça-se a prática política institucional e ver-se-ão os resultados a médio prazo, também. Estou em crer que muito melhora.