domingo, fevereiro 26, 2006

Por vezes, a proximidade é tudo

À consideração da gerência

sábado, fevereiro 25, 2006

Please repeat after me

O mais engraçado neste acordo entre o Estado Português e o MIT é que obriga os jornalistas portugueses a dizer “Massachusetts”. Isto vai do Makassussets ao Maxaxuxets, passando por referências ao pasteleiro com um happy trigger finger, o sr. Massa Shoots.

Isto, com calma, ainda chega a bom porto

Caro Bernardo,

Sabes perfeitamente que partilho contigo a vontade de ver emergir uma alternativa liberal de Direita. No entanto, devo dizer que sou um pouco mais optimista e ainda acredito na possibilidade de conversão programática e ideológica do centro- Direita e da Direita partidária já existente. Os suspeitos são os do costume e dispensam apresentações, e por eles poderá passar a evolução orgânica no sentido de uma meta liberal. Ainda assim, surgem as óbvias dificuldades.
No caso do PSD há a, mais que certa, incompatibilidade a priori da estruturas de base e intermédias; a mobilidade estratégica a caminho do poder; ou a polarização de facções personalizadas ao nível de decisão. Se bem que, a actual dificuldade de competição com o PS no centro reformista e social-democrata, poderá obrigar o PSD a uma reconversão da presente vocação catch-all para uma maior selectividade ao nível de apoios provenientes do sector económico e investidor. O debate europeu, nos próximos anos poderá ser, também uma fonte de fractura, mas sem grandes consequências para este tema.
No caso do CDS-PP, qualquer facção emergente com propósitos liberais e contemporâneos terá que enfrentar o dogmatismo inabalável da tradição democrata-cristã. Mas tudo depende, também, do estado eleitoral e orgânico do partido.
A continuidade da presente linha não deixa advinhar um futuro risonho e as ressurreições personalizadas do CDS-PP não são um recurso infinito. Também, se reparares, ao contrário dos seus parceiros do arco constitucional que, apesar de alguns percalços necessários, evoluíram gradualmente, o CDS-PP tem tido uma vida atribulada com constantes mudanças de rota, inversões programáticas e flutuações orgânicas. Independentemente de indiscutíveis momentos de qualidade política, a credibilidade do CDS-PP enquanto parceiro de Poder, no longo curso, não deixa de sofrer com essa herança de instabilidade.
Paulo Portas compreendeu, decerto, a necessidade de uma reabilitação do CDS-PP enquanto parceiro de coligação, ao longo dos executivos Durão Barroso e Santana Lopes, mas não antecipou o retrocesso que se seguiu à sua saída. A presente linha suicida de Ribeiro e Castro não augura um futuro risonho e, algures, down the line, vai-se levantar a questão se vale realmente a pena a reabilitação do partido numa óptica liberal. Daí a urgência na mudança de rumo.
Por outro lado, se for, de facto, impossível a emergência liberal dentro das estruturas partidárias já existentes, os problemas serão maiores. A criação de um novo partido terá de olhar com muita atenção para o exemplo de Manuel Monteiro e da Nova Democracia. Várias fontes de financiamento, estrutura partidária implantada, liderança carismática, publicidade mediática e, até, a Dina, nem sempre prometem um sucesso eleitoral. Aliás, o PND é um study case de insucesso eleitoral, por razões, algumas, desconhecidas.
Qualquer vontade para a criação de um partido de Direita Liberal terá de olhar com muita atenção para a viabilidade deste projecto no mercado ideológico e eleitoral. Não se deve confundir a projecção de uma vontade liberal ao nível de uma elite cultural e política jovem, informada e urbana com o todo eleitoral. O recurso à transformação orgânica no seio do PSD e do CDS-PP tem esse trunfo crucial: a, já existente, estrutura e um eleitorado que, com alguma habilidade estratégica, se poderá converter ideologicamente.
Um partido novo, neste aspecto, estará demasiado órfão, especialmente, num sistema eleitoral como o português, cristalizado há 3 décadas com a única excepção para a emergência de uma coligação de mensagem política periférica e extremada, mas com facilidade mediática.
O Bloco de Esquerda e a sua estratégia, hábil, de valorização do voto urbano podia servir de boa lição para um partido liberal. Mas as vocações ao nível do eleitorado e da herança são algo diferentes. Enquanto que o Bloco nasceu da coligação de forças já periféricas, um partido de Direita liberal seria, inquestionavelmente, o fruto de facções dissidentes do PSD e do CDS-PP. E na criação de um partido de facção com sucesso eleitoral é necessária uma habilidade minuciosa.
Entre outras, é imperioso que a facção seja alargada, e heterogénea no que diz respeito ao passado político dos seus membros. Tens de ser capaz de ver caras novas, com qualidade e vontade, mas também caras tradicionais, com longo passado que tragam credibilidade e alguma personalização à liderança. Mesmo que privilegies uma inicial implantação urbana, tens de ser capaz de garantir financiamentos latos. E aqui entras num ciclo vicioso: os financiamentos só chegam se o partido tiver hipóteses de ser Poder no médio/longo prazo e o partido só chegará perto de alguma sombra de Poder ou de oposição se tiver financiamentos e um dispersa implantação geográfica.
Estes e outros problemas, são as fontes da minhas reservas em relação à viabilidade de uma Direita liberal fora das estruturas partidárias já existentes. Aliás, olhando para os presentes fluxos ao nível partidário e executivo europeu e, até mesmo, para as dissidências internas no PSD e no CDS-PP, há sinais claros que seja esse o sentido para o futuro. As evidências não deixam muita margem de manobra, só que em Portugal, como sempre, mexe-se um pouco mais devagar.
Um grande abraço

sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Desejos e Pragmatismos

Só para concluir o post anterior. O Manel pergunta: «Que tipo de políticos devemos nós desejar?». Eu acho que a pergunta não deve ser posta nestes termos. Não idealizo políticos mais ou menos perfeitos, nem os desejo. Simplesmente porque não os há, nunca houve, nem haverá tão pouco. Lamento desiludir, mas seria mais interessante aperfeiçoar alguns dos que existem - e existem alguns bons, cá na terrinha, e lá fora - do que esperar pelos D. Sebastiões que normalmente só desiludem.
Quem me conhece sabe que adoro política. Desde que me conheço que respiro e devoro política. Leio desalmadamente, estudo o fenómeno, trabalho nele. Talvez seja isso que me impede de ter desejos. Vivo de realidades. A realidade é que há margem para melhorar, por exemplo, o espectro partidário português. Como: criando um verdadeiro partido à direita do PSD, moderno, de tendência desejavelmente liberal, que consiga albergar todos aqueles que diariamente anseiam pela sua criação. Acredito que não são assim tão poucos quanto isso. Que tal sairem do armário?

Blogs e Blair

Ao abrir um dos poucos blogs que leio diariamente - porque escrevo nele, claro - leio dois post de dois amigos, com duas reacções diferentes.
O do Gonçalo, com o qual concordo 100%. Confesso o meu desânimo com os blogs, não apenas por razões profissionais e de sanidade mental, mas porque a blogosfera perdeu muito do seu "encanto". Eu sou daqueles que quando "descubro" uma banda meio sombria, desejo - perdoem-me o egoísmo - no fundo que ela se fique pelo semi-anonimato; que não seja descoberta por milhares e milhões de pessoas. Não sei. Sempre tive esta mania. Talvez esteja a acontecer o mesmo com os blogs. Mas que fique claro que não tenho absolutamente nada contra a adesão de pesos pesados à blogosfera. Apenas acho que "isto" era espaço de semi ou totalmente desconhecidos. Deixou de o ser. Tal como as bandas.

O post do Manel é muito interessante. Ele picou-me em relação ao Blair. Não que seja um fundamentalista do PM britânico, mas porque tenho trabalhado a sua política externa com alguma atenção. Em primeiro lugar, não me parece que o seu legado externo cesse com a sua saída (falo em legado, porque em termos britânicos ele introduz alguns pontos interessantes no debate, recupera outros e desenvolve uns quantos já existentes). Acho que a GB manterá as suas linhas internacionais, salvo se Cameron fizer questão de lixar a vertente europeísta, com prejuízos grandes, sobretudo para a restante Europa. Em segundo lugar, acho que está na altura de ele se retirar. Tem perdido apoios internos, nomeadamente parlamentares, num assumir claro do partido que chegou a hora da sucessão. Salvaguardava a sua imagem dentro do Labour. É verdade que ele projectou em alta a GB. A minha opinião é que não desiludiu.
Só espero que não se esfume num qualquer cargo da ONU. A Comissão Europeia seria o ideal.

Quo vadis, blogosfera?


Os primeiros 3 anos de blogs nacionais coincidiram com momentos de intenso debate. Nos planos doméstico e internacional, o Iraque; eleições americanas; terrorismo; Santana Lopes, o efémero; liberalismo; Sócrates, o reformador; e muito mais turbulência. Mas, tal como o próprio acto em si, até já a última eleição presidencial foi um pouco aborrecida entre os blogs, não tivesse Mário Soares salvo a honra do convento. Será que questões circunstanciais, o Irão, a Ota, a vida interna da oposição ou o ímpeto reformador do executivo conseguem alimentar os próximos anos da blogsfera política?
Da mesma forma, a chegada recente de pesos pesados aos blogs tendeu a descaracterizar um pouco a novidade e a mood da coisa. A blogosfera política sempre teve os seus pesos pesados originais, a Coluna Infame, o Barnabé, o Bde, o Blasfémias, o Bloguítica, o Acidental, o Intermitente/Insurgente, a Bomba Inteligente e até, esporadicamente, o Abrupto, que marcaram o passo e a piada. Só que os novos pesos pesados são de natureza diferente. Ao contrário dos originais, fizeram o trajecto inverso e saltaram do papel para o monitor. Não me interpretem mal, gosto muito de ler o que Vasco Pulido Valente, David Justino, António Ribeiro Ferreira ou Medeiros Ferreira têm para dizer. Mas não deixo de estranhar quando leio no jornal expressões como “já o disse no meu blog, ...... blogspot.com”.
Ultimamente, a frase que mais vezes ouço repetida acerca de blogs é “sabes, cada coisa tem o seu tempo” e devo confessar só há um blog que ainda me surpreende. Tenho a sensação que isto dos blogs está a perder a sua piada. Parece que se repete o mesmo fenómeno que acontece quando outras gerações usam o vocabulário hip dos filhos, e os blogs arriscam-se a ser o novo “fixe” ou “baril”, esquecidos no baú do vocabulário passageiro.
Hoje em dia dedico muito menos tempo, ou quase nenhum, à leitura de blogs, talvez por falta de disponibilidade, talvez por falta de interesse. Mas, por enquanto, escrever por aqui ainda é uma forma rudimentar de auto-medicação para a salubridade psicológica. Quando me fartar, ou passo a postar fotografias de cenas de trabalho, ou passo escrever num qualquer “meu querido diário”.

Ah, a Ummah, e não é bem a Uma Thurman


À consideração de todos os proponentes do diálogo. Aqui.

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

O regresso à direita

Será que o Prof. Freitas do Amaral quer regressar à família da direita portuguesa?
Será que quer ser, daqui a 10 anos, o candidato da direita à Presidência da República?
Ou voltar a liderar um partido de direita?
Assim se percebe melhor o que tem dito e escrito.
Absurdo? A alternativa é ainda mais.

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Ribeiro e Castro no País das Maravilhas

É curioso e sintomático que as recentes discussões (por aqui e aqui) sobre o actual momento da oposição doméstica, sejam omissas quanto ao papel do CDS-PP.
Teoricamente, no momento em que o PDS se debate com dificuldades de manobra ao centro face a um PS reformista, e quando Marques Mendes (e dissidência) se interroga sobre a sua condição a prazo ou efectiva, o CDS-PP teria o caminho aberto para uma estratégia de oposição coesa e personalizada. Só que, se o PSD, segundo Vasco Rato, optou por uma oposição de “toca e foge”, o CDS-PP acredita na viabilidade recreativa de uma oposição “hide and seek”.
Perante as evidências, Ribeiro e Castro em entrevista ao Expresso, pede “mais ajuda” à estrutura partidária. Mas, Ribeiro e Castro não precisa de ajuda política, precisa de um clube de regata para remar contra as evidências.
Enquanto a estratégia do CDS passar pela insistência estóica na matriz castrense da democracia – cristã, o seu futuro político será o ocaso a curto prazo. Se a ausência física do seu líder é evidente, começam igualmente a surgir os primeiros traços (por exemplo aqui) de uma descaracterização política do CDS-PP, caminhando para uma gradual regressão para a periferia eleitoral e ideológica.
Qualquer regresso do CDS-PP ao poder em 2009, será, obrigatoriamente na condição de parceiro. Para atingir essa condição de parceiro de coligação eleitoral e/ou no poder, o CDS-PP terá de ser um aliado fiável: partidariamente coeso, eleitoralmente relevante, estrategicamente hábil e ideologicamente contemporâneo. O CDS de Ribeiro e Castro está tão distante desta descrição que nem sequer seria chamado para um line-up de identificação policial.

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Dia 27 de Fevereiro...

...é dia da Atlântico.

A Spike Lee Joint

Um teor político ou panfletário não diminuí a qualidade de um filme. Até obras com uma mensagem moral e politicamente asquerosa, como The Birth of a Nation (D.W. Griffith, EUA, 1915), não deixam de ser artisticamente geniais. Este não é o caso de She Hate Me.
Talvez pelas dificuldades que tem tido em arranjar financiamento, Spike Lee resolveu ir à fonte com um camião cisterna. Amor, sexo, confronto racial, corrupção, criminalidade de colarinho branco, homossexualidade (e dificuldade de adopção de crianças por casais homossexuais), poligamia, oposição política, feminismo, mobilidade social e moralidade são demasiado para 138 minutos de película, ainda com tempo para o habitual tributo aos mafiosi de Scorsese.
Spike Lee acabou por cometer o erro de que Michael Moore é exemplo máximo: acreditar que o espectador é uma tábua rasa, passiva e desejosa de doutrinação, desta vez a retalho. Só assim, se explica que um filme com Monica Bellucci, Jamel Debbouze, Anthony Mackie, John Turturro e ainda com tempo para um cameo de Q-Tip, seja uma obra menor. Mas as sombras de genialidade estão lá, escondidas, por exemplo, na qualidade do discurso e do monólogo. Spike Lee é capaz de muito melhor.

Para isso, via o Nói o Albino em islandês não legendado

Peço imensa desculpa à Blockbuster, mas enquanto não arranjarem o March of the Penguins na versão americana(com o Morgan Freeman como narrador), recuso-me a alugar o filme no original francês.
Exactamente pelas mesmas razões porque a CNN contratou o James Earl Jones e não o Gerárd Depardieu para dizer “zthis is ZNN”.

Para a dignidade do futebol português

O roupeiro do Vitória de Guimarães vai ter de e escolher entre a nova camisola justa (à italiana) e a Termotebe interior. As duas, juntas, auto- excluem-se.

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Torga e o Bom Senso

Num momento em que no Ocidente e no Oriente se assite a um delírio crescente, aqui ficam as palavras inteligentes de Miguel Torga:
«Segui o caudal humano calado, a ouvir vivas e morras, travado por não sei que incerteza, sem poder vibrar com o entusiasmo que me rodeava, na recôndita e vã esperança de ser contagiado. Há horas que são de todos. Porque não havia aquela de ser também minha? Mas não. Dentro de mim ressoava apenas uma pergunta: EM QUE OCEANO DE BOM SENSO IRIA DESAGUAR AQUELE DELÌRIO? Que oculta e avisada abnegação estaria pronta para guiar no caminho da história a cegueira daquela confiança?
A velhice é isto: ou se chora sem motivo, ou os olhos ficam secos de lucidez»
(Miguel Torga, Diário, Vol XII)

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

SEMIRAMIS

O Semiramis acabou. De repente. Da forma mais estúpida que pode existir. A sua autora, Joana Gomes, morreu de repente no passado domingo. Era um dos melhores blogs unipessoais ( talvez mesmo o melhor) que por aí andou.
Vamos sentir a sua falta.

Irão

Enquanto a opinião pública ocidental anda entretida a discutir as caricaturas, a verdadeira ameça desenvolve-se no Irão.
Tratam-se de duas faces da mesma moeda. Mas enquanto a primeira face - a polémica das caricaturas - revela-se de "custos aceitáveis" para os Estados ocidentais, a segunda - o Irão - tem custos inaceitáveis do ponto de vista da segurança mundial.
Vai ser preciso agir. E dentro do mais amplo consenso diplomático possível.
Mas quanto sobem os extremos, mais difícil se torna a diplomacia.
Até por isso, não será inocente a polémica das caricaturas.
Por isso parece-me que o caminho de bom senso passa por não alimentar mais a polémica.
Por minha parte, não escreverei ou falarei mais sobre o assunto. Recuso-me a alimentar os radicais.

Prof. Freitas do Amaral: retrate-se

Só tenho um comentário acerca do comunicado do MNE sobre as caricaturas:
-Prof. Freitas do Amaral: retrate-se

quarta-feira, fevereiro 08, 2006

Contra o medo

COMUNICADO - CONVITE

O Sinédrio junta-se à manif.

Na próxima 5ª feira, 9 de Fevereiro, pelas 15 horas, um grupo de cidadãos portugueses irá manifestar a sua solidariedade para com os cidadãos dinamarqueses (cartoonistas e não-cartoonistas), na Embaixada da Dinamarca, na Rua Castilho nº 14, em Lisboa. Convidamos desde já todos os concidadãos a participarem neste acto cívico em nome de uma pedra basilar da nossa existência: a liberdade de expressão. Não nos move ódio ou ressentimento contra nenhuma religião ou causa. Mas não podemos aceitar que o medo domine a agenda do século XXI. Cidadãos livres, de um país livre que integra uma comunidade de Estados livres chamada União Europeia, publicaram num jornal privado desenhos cómicos. Não discutimos o direito de alguém a considerar esses desenhos de mau gosto. Não discutimos o direito de alguém a sentir-se ofendido. Mas consideramos inaceitável que um suposto ofendido se permita ameaçar, agredir e atentar contra a integridade física e o bom nome de quem apenas o ofendeu com palavras e desenhos num meio de comunicação livre. Não esqueçamos que a sátira – os romanos diziam mesmo "Satura quidem tota nostra est" – é um género particularmente querido a mais de dois milénios de cultura europeia, e que todas as ditaduras começam sempre por censurar os livros "de gosto duvidoso", "má moral", "blasfemos", "ofensivos à moral e aos bons costumes". Apelamos ainda ao governo da república portuguesa para que se solidarize com um país europeu que partilha connosco um projecto de união que, a par do progresso económico, pretende assegurar aos seus membros, Estados e Cidadãos, a liberdade de expressão e os valores democráticos a que sentimos ter direito.

Pela liberdade de expressão, nos subscrevemos Rui Zink, Manuel João Ramos, Luísa Jacobetty.

PS: será que não dá para adiar para sábado? Uma quinta, às 15h!?

Softy


...Para os católicos esses símbolos são as figuras de Cristo e da sua Mãe, a Virgem Maria. Para os muçulmanos um dos principais símbolos é a figura do Profeta Maomé.Todos os que professam essas religiões têm direito a que tais símbolos e figuras sejam respeitados. A liberdade sem limites não é liberdade, mas licenciosidade. O que se passou recentemente nesta matéria em alguns países europeus é lamentável porque incita a uma inaceitável 'guerra de religiões' - ainda por cima sabendo-se que as três religiões monoteístas (cristã, muçulmana e hebraica) descendem todas do mesmo profeta, Abraão."


Em relação à polémica com os cartoons dinamarqueses, o MNE poderia ter optado pelo pragmatismo do silêncio ou pela posição dinamarquesa e enfatizar a não - interferência entre o Estado e liberdades públicas. Curiosamente Freitas do Amaral colocou uma cruz em “none of the above” e optou pela originalidade da recitação teológica.
Se esta é já uma atitude condenável do ponto de vista da moralidade democrática, muito mais o será na óptica da própria lógica diplomática. O MNE parece abstrair-se do facto de que em Estados autocráticos como a Síria, a Líbia ou o Irão, o conceito de “manifestação espontânea” não entra no léxico político. Estamos também face a relações entre Estados e uma polémica incendiária sobre cartoons datados de 4 meses inscreve-se em flutuações políticas do Sistema Internacional em que a capacidade de sólida resolução europeia é uma factor fulcral.
O peso político da EU enquanto actor internacional relevante nunca se poderá resumir ao soft power complacente e terá, a certa altura, de optar por uma afirmação hard do não compromisso. Ao testar a capacidade de coesão comunitária em temas que compõem o centro da essência da natureza democrática europeia, Estados como o Irão estão também a testar a capacidade de resolução europeia no enquadramento internacional e a prever a resposta desta metade do Ocidente em questões como o projecto nuclear iraniano.
No próprio seio da EU, não será fácil explicar a parceiros comunitários a temerária posição portuguesa enquanto as suas representações diplomáticas e interesses económicos estratégicos são pilhados e destruídos. Esta opção pela periferia do temor não poderá deixar de resultar na restrição da política externa portuguesa à periferia diplomática. Até no enquadramento doméstico, onde há tudo menos consenso em relação à condenação dos cartoons, a posição pública no MNE não deixa de ser um erro político.

terça-feira, fevereiro 07, 2006

Diplomacia Pura?


O que aconteceu à revista Diplomacia Pura? Saiu o primeiro número em Junho ou Julho de 2005 e depois evaporou-se do mercado. É uma pena porque a revista, além de contar com uma dream team como conselho editorial, trazia a novidade de ser uma publicação sobre política internacional bem mais leve que do que o peso analítico de publicações estritamente académicas.
O primeiro número tinha um bons artigos domésticos (lembro-me do de Bernardo Ivo Cruz sobre a EU), juntamente com outros de académicos estrangeiros, numa excelente ligação entre a economia internacional e a política internacional.
Duvido que a revista tenha desaparecido por falta procura no mercado. Aliás, esse terá sido um parâmetro impossível de quantificar, uma vez que o primeiro número foi vendido juntamente com a Economia Pura. É uma pena se se confirmar o óbito precoce da Diplomacia Pura, pois publicar algo sobre política internacional em formato Foreign Policy é sempre uma mais valia para a especialização portuguesa na área. Além disso, a correlação entre a política e a economia internacional nas mesmas páginas facilita sempre o trabalho do académico e do actor executivo.

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Espelho meu…

Para além da habilidade política, do trato humano, da estratégia e de um curriculum limpo, qualquer futuro político passará por uma boa imagem pessoal.
Reparem no passado democrático nacional. Todas as grandes figuras partidárias e/ou executivas ostentaram um imagem sólida de Estado. Sá Carneiro, Mário Soares, Cavaco Silva, Durão Barroso, Paulo Portas, Ramalho Eanes e até Guterres, antes se parecer ligeiramente com um donut, todos tinham boa figura.
Agora reparem nos grandes flops nacionais. O companheiro Vasco serviu de modelo para o Jack Nicholsn no Voando sobre um Ninho de Cucos; Santana Lopes não percebeu que há uma diferença entre engatar no Stones e assinar o tratado constitucional europeu; Manuel Monteiro cometeu o erro fatal de contratar um geek do MIT como consultor de imagem e Miguel Portas até podia ter pinta não fosse aquela noite passada debaixo do reactor nuclear.
José Sócrates é o óptimo de Pareto do PM pós-moderno. A sua imagem é tão escandinava que poderia figurar no catálogo d IKEA. José Sócrates é José Luís Judas sem comprar roupa na feira.

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Pergunto eu

Francisco: para além dos arranjinhos com árbitros, terá sido assim que ganhaste o "campeonato" o ano passado?

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

A reforma dos partidos políticos

Está hoje na ordem do dia (diria que mais uma vez) a questão da relação entre os partidos políticos e os cidadãos. Ou seja, a representatividade do sistema político.
Ao contrário do que se tem escrito, considero o problema mais conjuntural do que estrutural.
É preciso não esquecer que ainda há menos de um ano o sistema de partidos foi capaz de gerar uma maioria absoluta - logo condições de estabilidade do sistema político.
Para além disso, este é uma tema que aparece de forma ciclica na discussão pública - quem não se lembra do PRD.
Digamos que é essencialmente um problema dos tempos de crise económica, logo passa quando passar a crise.
Todavia, o tema é interessante e pretendo dedicar-me a ele nos próximos dias.
Começo por escrever apenas duas linhas que, em minha opinião, consideram o que é essencial:
1ºO problema não está tanto nas estruturas dos partidos (logo não se resolve por mudanças estatutárias), mas sim na qualidade das pessoas. Sejam os partidos capazes de atrair os mais capazes da sociedade portuguesa, pessoas com sucesso nas suas vidas pessoais (e não apenas os "jotas") e grande parte do problema está resolvido.
2.Nenhum problema se resolve enquanto não se atacar a sério a questão do financiamento dos partidos (o que a recente lei não faz, ou ainda agrava).
Se se começar por aqui talvez seja possível fazer alguma coisa.
Caso contrário, é pura perda de tempo

Não à carteira Weetabix!










Vpv e o camarada Henrique confluíram na denúncia do novo “cartão do cidadão” como o instrumento opressivo de um Estado policial vigilante. Devo dizer que por muito que aprecie ambos os argumentos liberais, não partilho este alarmismo.
Tendo a ser optimista e a acreditar que compilação não significa partilha e vigilância. Tenho fé na fiabilidade do sistema de compartimentação de informação acredito no acesso escrutinado a esta. Não tenho qualquer objecção a que a minha informação pessoal seja compilada por duas simples razões: ela já existe em poder do Estado e a compilação só me irá facilitar a vida.
Uma das grandes idiossincrasias portuguesas é o facto da nossa carteira mais parecer uma sandes de coiratos: obesa, pesada, cansada, gasta.
A nossa identificação pessoal vem do tempo em que o pedido de identificação pelo agente da autoridade era feito pela frase “deixe-me ver os seus papéis”. Porque é isso que nós carregamos na carteira, papeis, não documentos. “Documentos” é uma expressão demasiado civilizada para o volume grosso de processos burocráticos que carregamos no bolso. A limpeza de uma carteira exige a atenção científica de um arquivista e/ou um bibliotecário.
Já o disse aqui uma vez (algures nos arquivos), o meu Bilhete de Identidade, ao longo dos tempos, só meu fez passar vergonhas internacionais. Lembrei-me agora de outra: quando fui a Haia ver o Milosevic a dormitar e presenciei o meu B.I a ser enxovalhado pelos olhares jocosos dos seguranças enquanto na mesa repousavam as reluzentes identificações de verdadeiros cidadãos comunitários. Aliás, quem é que nunca passou pelo desespero de, em dia de eleições saber lá onde é que está a porra de um cartão de eleitor feito de cartolina?
Por isso, caros detractores do “cartão do cidadão”, permitam-me que desta fez fique do outro lado da barricada. Só assim não vou ter de explicar a curiosos olhares femininos que aquele alto nas minhas calças não é a erecção da quase-extinta espécie “pénis cabeça de martelo” (marterlus caput penisculorum) .

Sobre o Liberalismo e as eleições - parte 2

Meus caros amigos,
Julgo que não entenderam o meu post de ontem.
Não se tratava de uma critica ao liberalismo - até porque para isso era necessário começar por definir de que tipo de liberalismo estamos a falar.
Tratava-se somente de demonstrar como, em minha opinião, uma certa visão liberal contemporânea não se pode aplicar à realidade portuguesa, nomeadamente à realidade de competição eleitoral. Logo, à agenda dos partidos políticos.
Acresce que não é possível transpor a realidade de um país para outro pelo simples facto de que eles são diferentes.
No caso português é preciso não esquecer que estamos a falar de um mercado muito pequeno, logo com pouca flexibilidade nas oportunidades de trabalho.

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

O liberalismo e as eleições

Amigos, lembram-se da nossa discussão de segunda - feira à noite sobre o liberalismo em Portugal?
Recordo o que disse na altura sobre o Prof. António Borges e o PSD: «A agenda liberal de António Borges nunca ganhará eleições em Portugal e o PSD (a parte deste que conta) sabe disso pelo que, ou muda de discurso, ou nunca será líder do Partido.
Pois aqui fica uma citação do meu favorito Vasco Pulido Valente:
«A sra Thatcher aumentou, não diminuiu, a despesa com o Estado-providência. (...) George W. Bush, o próprio, foi (...) o Presidente que aumentou mais, também em percentagem do PIB, a despesa com o Estado providência. Conclus
ao? O liberalismo é belo, mas não há liberal praticante que seja eleito»

A gratidão em política

Há uns anos atrás escrevi, em conjunto com um amigo, um artigo chamado "O Estadista da Moeda Única".
Nele dizia-se que Cavaco Silva tinha sacrificado o seu poder pessoal em nome de um designio nacional - a entrada de Portugal no pelotão da frente da moeda única. Por isso ficaria na história como o "Estadista da Moeda Única".
Mais se dizia que, a prazo, os portuguese reconheceriam esta realidade e compensariam o Estadista.
Assim foi, a 22 de Janeiro de 2006. Dez anos depois.
Afinal sempre há gratidão em política.
Eu pelo menos sou grato e por isso abro esta excepção de escrever, ainda, sobre as presidenciais