quarta-feira, novembro 30, 2005

Rui

De toda a música que possuo, talvez 5% seja música portuguesa. Algum hip-hop, muito Madredeus e muitos clássicos dos 80 e 90 (Trovante, Xutos, Palma, Censurados, Heróis e até algum vinil curioso dos Joker ou dos Tarântula!). Mas há sempre um pequeno lugar para Rui Veloso. Porque me diz qualquer coisa, porque me recorda lugares e situações.
No fundo Rui Veloso é o último dos rockabillies puramente portugueses. É o último não diz não a uma boa travessa de conquilhas com vinho branco, que bebe Jack Daniels a partir do copo, que entra em qualquer jam session de camisa para dentro das calças e que teve o pudor máximo de começar a carreira de bigode.
Aí está ele na “Grafonola”. Porque gostos não podem ou devem ser monolíticos.

terça-feira, novembro 29, 2005

Auch...

Se para Pedro Mexia “o blogue é um prolongamento do pénis”, só posso deduzir que dada a sua recorrência em amputações a frio (1,2), Mexia caminha para a condição máxima de John Wayne Bobbitt da blogosfera nacional.

domingo, novembro 27, 2005

A brigada do despertador


Caro Daniel,

Tinha prometido ao neurónio que não escreveria hoje, mas o tamanho do seu comment merece uma resposta respeitosa.

1. Negri não cita Marcuse? Pois não. É esse um dos problemas dos actuais gurus do radicalismo: não citam as suas “fontes”. Tariq Ali não gosta de notas de rodapé. Chomsky rouba descaradamente tudo, desde Said a Wallerstein, e, depois, afirma as coisas como se fossem a “verdade revelada a um linguista”.

2. Parecem-me evidentes as semelhanças entre a “Multitude” de Negri e o desejo de Marcuse expresso no “One Dimensional Man”:

Debaixo da base popular reaccionária existe um substrato de revoltados e excluídos, os explorados e os perseguidos de outras raças e cores … existem à margem do processo democrático … e porque estão a começar a recusar fazer o jogo pode ser o sinal de que o início do fim deste período.

O que é a “Multitude” senão isto? A Multitude de Negri é Marcuse em jargão pós-moderno. O facto de Y não citar X, não me impede de comparar e dizer, sem pejo, que há influências de X em Y, sejam elas confessadas ou não. O risco da interpretação é meu. A pertinência da mesma será medida pelas reacções…

3. Em relação ao carácter despótico de Marcuse... Bom, as minhas palavras são chuvinha quando comparadas com esta enxurrada do maior especialista das ideias “marxistas”:

Podemos reduzir o trabalho de Marcuse a uma sociedade governada de forma despótica por um grupo de iluminados ou nos nossos dias, Marcuse é o filósofo que merece ser descrito como o ideólogo do obscurantismo. (Leszek Kolakowski).

4. V. fica espantado com o facto de alguém considerar Marcuse como totalitário? Bom, eu pensava que a História do século XX tinha desmascarado, em definitivo, o mecanismo das Utopias Totalitárias. Mas, a cada dia que passa, tenho a impressão que os homens são imunes às lições da História. Porquê? Porque andam sempre à procura da História que há-de vir quando deveriam prestar atenção à verdadeira História, aquela que já passou.
E o tal mecanismo das Utopias Totalitárias é este, meu caro Daniel: os piores (ou melhores…) totalitários são aqueles que, como Marcuse, proclamam uma Liberdade em abstracto. Uma LIBERDADE tão grande, um BEM tão excelso, que, na prática, implica a destruição dos outros, daqueles chatos que não concordam com esse Bem. O totalitário proclama o Bem do AMANHÃ enquanto mata, aqui, no PRESENTE. Sim, Marcuse era um totalitário. E dos bons.

5. Marcuse considerava o Direito que governa as democracias como “tolerância repressiva”. Até lhe digo mais: esta ideia de Marcuse passou para o Biopoder de Foucault e é, hoje, o tal Biopolítico de Negri (ou também acha que não há Foucault em Negri?). Marcuse, Foucault e Negri reduzem os sistemas demo-liberais a uma caricatura: o Poder engana as pessoas, criando uma ilusão de liberdade e de direitos que, na verdade, são mentiras, falsas consciências; um poder sedutor que tiraniza sem parecer que tiraniza; um poder difuso, que vem de dentro, do próprio corpo. Em suma, uma gigantesca teoria da conspiração. E quem é que vai desmascarar esta máquina de mentira? Quem é que vai ser o glorioso despertador das massas? Claro, os próprios: Marcuse, Foucault e, agora, Negri, a brigada do despertador. Não, muito obrigado. Já tenho um. E funciona bem. Toca todos os dias.

6. A dita e malvada tolerância repressiva foi colocada, por Marcuse, em oposição à redentora e verdadeira Tolerância, que não era mais do que intolerância repressiva sobre aqueles que não seguissem o ideal de libertação libidinoso de Marcuse. Marcuse queria formar uma espécie de brigada de estudantes, povos do terceiro mundo e minorias étnicas. Objectivo? Destruir o Ocidente e devolver o Eros à Humanidade. Sabe, Negri, no último livro, fala de Drag Queens como arma política contra o tal Poder... Que é isto senão Marcuse?

Mas esteja descansado, isto vai aparecer, algures, numa revista perto de si.

Um abraço,
HR

Posse


É bom olhar para a prateleira e ver este objecto de desejo transformado em objecto de posse ardente, quase fanática. Terei de encontrar quatro horas para esquecer o mundo e receber esta dádiva de Scorsese como ela merece ser recebida: em humilde genuflexão e de espírito vulnerável.
Lembro que a RTP passou este documentário pouco tempo depois de ser realizado mas, a bem das nossas almas, deveriam passá-lo todos os meses.

sábado, novembro 26, 2005

Para se perceber Negri...


quinta-feira, novembro 24, 2005

Na Mouche

Só uma pergunta:

O que é um “genocídio cultural”?

O termo encontra-se muito em textos multiculturalistas. Será um genocídio versão light? Podemos ser vítimas do dito e continuar vivos?

quarta-feira, novembro 23, 2005

Camões ou o Dan Brown em audio-book?

Segundo Mario Soares "convém ter na Chefia do Estado alguém que conheça a História e a cultura do nosso país, alguém que conheça Os Lusíadas, o nosso poema máximo".
Achei esta afirmação de uma honestidade espantosa. Soares não teve qualquer pudor em esconder que em privado é capaz de dizer à minha geração que ainda é do tempo em que na escola tinha de declamar todas as linhas de caminhos de ferro e os rios perante a sombra vigilante da palmatória.
De resto, conhecer Os Lusíadas está longe de ser um pré-requisito presidencial. O que Soares poderia ter dito é que defesa do Português como língua de trabalho na União Europeia é essencial para a recusa de uma existência periférica enquanto que uma base cultural e histórica comum entre Estados Lusófonos poderá suportar links económicos e culturais e acrescido peso diplomático de mútuo benefício.
Mas não o disse, pelo contrário insistiu num elitismo ultrapassado que toma o alto-Estado como pertença de uns poucos iluminados que leram e apreciaram o simbolismo de Camilo Pessanha. Na realidade, em Janeiro, não iremos eleger o director do Instituto Camões (provavelmente cargo de confiança política pois nunca se sabe por que lentes ideológicas é que se pode ler Guerra Junqueiro). É absolutamente irrelevante se o futuro PR lê Camões ou se prefere ainda anda á procura do cromo do Cybertron para a caderneta da Panini dos Transformers e não estou minimamente interessado se o futuro PR prefere Liszt ou o Punjabi MC. O que realmente conta é se o futuro PR será um agente institucional activo na criação de circunstâncias sócio económicas que propiciem ao cidadão comum o ócio e as condições para ler Camões ou o Paulo Coelho comprado na área de serviço da auto-estrada.

domingo, novembro 20, 2005

Romantismo do pior ou ainda há Esquerda?


Não conheço livro mais reaccionário, romântico e anti anti-iluminista.
Negri não é de Esquerda. Negri é um romântico da estirpe mais virulenta. Em comparação, Tönnies e Fichte são meninos da mamã. E ainda há gente que pensa que isto é o Capital do XXI. Se Empire é a Esquerda, faço só uma pergunta: Ainda há Esquerda?

quarta-feira, novembro 16, 2005

Máscaras

A imagem pública de Mário Soares é a de um tio bonacheirão, um bon vivant, amante das artes e dos prazeres da vida, um anfitrião com quem desejaríamos passar um belo serão a comer umas outonais castanhas e a ouvir histórias de antanho. Cavaco Silva projecta uma imagem de gravidade, de austeridade de seminário, de professor de Latim, inflexível como as declinações. Há quem defenda que estas são descrições estereotipadas. Defende bem, mas as imagens existem e a consciência colectiva tem noção delas.

Então, o que há de errado com estes estereótipos? Bem, Soares não é o alegre conviva que as suas amigáveis bochechas fazem crer. É, todos o reconhecem, uma ave de rapina, um conhecedor profundo dos jogos políticos, o celebrado animal politico. A crispação desenhada no rosto severo de Cavaco também existe em Soares. Mais: Soares, não raras vezes, deixa que lhe chegue à epiderme uma espécie de azedume aristocrático, uma arrogância de putativo monarca inquestionável.

Por seu lado, Cavaco cultiva, porque não é um ingénuo, a imagem de tímido a quem uma espartana noção de dever empurra para as luzes da ribalta. O político malgré lui. O rigoroso professor de Finanças Públicas. Que ninguém conquista duas maiorias absolutas com amadorismos e que os governos de Cavaco não se distinguiram pela contenção da despesa pública são argumentos que podem pouco contra a precisão geométrica do queixo do Professor.

Nas próximas eleições vão estar em confronto a bonomia facial de Soares e a ética protestante inscrita na fisionomia de Cavaco. Seria bom para a Democracia que os eleitores ou, se preferirem, as audiências, elegessem um homem completo e complexo, com os seus defeitos e as suas virtudes. Creio, no entanto, que uma vez mais votaremos em máscaras. Confortemo-nos, pois, com a certeza que sempre foi assim.

Amor

Há, entre os intelectuais portugueses, pronto, talvez só em Vasco Pulido Valente e Maria Filomena Mónica, uma tradição que consiste em aplicar uma grelha oitocentista à actualidade.

Pelo muito que leram sobre a época, a realidade do país aparece-lhes como uma repetição de temas e tendências que nem a novidade dos rostos nem uma ou outra inovação tecnológica permitem disfarçar.

Olham para o Portugal de hoje através do monóculo de Eça e o que vêem é triste, aborrecido, deprimente, sempre igual. Concluem, com profundidade shakespeareana, que não há nada de novo. Na verdade, nem eles. Choldra, piolheira, um local mal frequentado, são o modo peculiar, de acento queirosiano, que estes intelectuais escolheram para demonstrar o afecto que nutrem por este país que, desgraçadamente, é o deles. Uma questão de estilo, nada mais.

O país-pântano repete-se. Tudo é previsível. Sabemos o que vai acontecer sem necessidade de áugures, de prestidigitadores, de Zandingas com ademanes de hipnotizador. Em vez de vísceras de animais, basta ler com a devida atenção Oliveira Martins, Eça de Queirós e saber quem foi e o que fez Fontes Pereira de Melo. Depois estabelecem-se correspondências, nem todas felizes, com os nossos dias, em que as figuras de hoje mais não são do que avatares de figuras do passado. Por fim, adopta-se aquela postura que denuncia um ligeiro enfado, uma azia existencial, um torpor da vontade provocado pelo excesso de lucidez.
Eça de Queirós, um realista de fundo melancólico, cultor de um estilo de romantismo céptico, forneceu o modelo. As nossas elites culturais, à excepção de esporádicos delírios de V Império, nunca mais conseguiram relacionar-se com o país, nunca mais conseguiram senti-lo sem aquele distanciamento, sem aquele muro de ironia e de sarcasmo que o amante constrói para se defender da coisa amada. Um amor difícil, portuguêsmente desconfiado mas, por isso mesmo, um verdadeiro e pungente amor.

Presidenciais

Quem passar pelos Restauradores e olhar para o antigo Teatro Éden, onde está a sede do MASP III, vai perceber que a descolagem de Soares face a Alegre vai mesmo ser feita com base na estrutura da campanha e na decorrente visibilidade do candidato.
A afabilidade e a proximidade pública de Soares são indiscutivelmente a premissa central da campanha soarista.
Desde os primeiros passos no Porto e em Coimbra que Soares conquistou a comunicação social.
Com pequenos toques vai obtendo maior projecção mediática e começa a impor-se como o candidato “amigável”, “familiar”. No entanto, esta estratégia só resulta circunstancialmente.
Quando se dá mais tempo a Soares descobrimos outro candidato, mais complexo, mais ideologizado. Foi o caso, por exemplo, da sua entrevista à TVI que deixou a imagem de um Soares combativo mas radical. Esse é um ponto central porque, no seu passado político, Soares esteve melhor quando foi um estratega pragmático, progressivamente livre de carga ideológica. Contra um backgroung ideológico, esta aparente afabilidade de Soares não o levará muito mais longe.
No presente momento económico e social a resposta à recorrente questão “Com qual dos dois candidatos preferia ir beber um copo?” só pode ser uma:

-“Com aquele que me peça desculpa e que me diga que vai ter de ficar a trabalhar até tarde”.

Aqui ficam os links para o Pulo do Lobo e para o blog do Mandatário Digital de Cavaco Silva.

Leituras: França e não só

An underclass rebellion”, The Economist
Europe Needs a New Identity”, Fareed Zakaria, Newsweek
On Assimilation and Economics, France Will Need New Models”, Philip Gordon, Brookings Institution
You shouldn't have to burn cars to get a better life - ask my Bolivian cleaning lady”, Nial Ferguson, The Telegraph
Europe Learns the Wrong Lessons”, Karl Zinsmeister, The American Enterprise
Bicultural Europe is doomed”, Mark Steyn, The Spectator

+

Crear una Identidad Iberoamericana”, Foreign Policy (Espanha)

segunda-feira, novembro 14, 2005

A Constituição

Quando o PCP assume como sua a constituição portuguesa, fica muita coisa explicada sobre o atraso de Portugal. Ou não? E também fica aberta a atitude que os não-comunistas (aqueles que não caminham para o socialismo) devem ter perante o documento. Ou não? E ainda bem que a esquerda tem necessidade de afirmar que a constituição é sua. É um sinal dos tempos.

Two turn tables and a microphone


Chega à “Grafonola do Sinédrio” Snoop Dogg com “Drop it like its hot”. Á parte do sucesso comercial da música o seu valor está indiscutivelmente no remastering.
Sem Pharrell Williams dos Neptunes esta seria uma tune inconsequente. E é aqui que está o maior défice do Hip-Hop português. Enquanto nos EUA um MC “cresce” ao lado de uma boa Technics SL 1200 MK5 usada, a gap socio-económica dita que o MC português se habitue a ser rodeado por 5 marmanjos no beat-box. O equivalente seria o Snoop Dogg a ser acompanhado por uns gajos a batucar em latas de Robilac. Ainda assim tendem a surgir algumas novidades e progressos: D-Mars, Melo D e especialmente Ace dos Mind Da Gap.
Fica aí “Cor de Laranja” a tocar.

Ultrapassar a crise

É preciso ultrapassar a crise.
Tal implica encontrar um enquadramento político – institucional que tem de envolver, obrigatoriamente os dois maiores partidos nacionais.
Tal realidade não é nova. A história de trinta anos de democracia contém exemplos e lições.
Em Setembro de 1975, Portugal enfrentava uma crise político – militar, bem como económica, num contexto ainda marcado pela indefinição do regime. Costa Gomes tinha demitido Vasco Gonçalves e convidado Pinheiro de Azevedo para formar o VI Governo provisório com a finalidade de constituir um executivo capaz de representar o equilíbrio político resultante das eleições de Abril de 1975. Este sufrágio determinou que PS e PPD representassem 64,25 por cento dos eleitores portugueses.
Na prática, foram precisamente estes dois partidos que integraram o elenco do VI Governo Provisório. Com esta solução conseguiu-se obter legitimidade e representatividade para ultrapassar a crise polítco – militar e conduzir Portugal à democracia.
Oito anos depois, o País encontrava-se outra vez face a uma crise profunda. Desta vez o problema mais premente era de carácter económico, sendo que a instabilidade política do novo regime não permitia solucioná-lo. Novamente, PS e PSD foram chamados para, em conjunto, fornecerem o quadro de legitimidade e representatividade que permitisse fazer um acordo com o FMI e concluir o processo que conduziria Portugal à Comunidades Económica Europeia (CEE).
Destes dois exemplos retira-se duas conclusões: confrontado com crises muito agudas, o sistema político tem sido capaz de gerar soluções; essa solução tem sido a do alargamento da base de representação social do poder político, o que implica que PS e PSD estejam do mesmo lado.
E agora?
Que estamos perante uma nova e gravíssima crise ninguém tem dúvidas. É preciso reformar o Estado para que as empresas portuguesas possam ser bem sucedidas na actual divisão internacional do trabalho.
Que resposta pode o sistema político português dar a esta necessidade?
Uma possibilidade passa por acordos de regime. Só que, como se tem visto, a competição eleitoral entre os partidos impede-a. Ao mesmo tempo a marca de alternância que tem caracterizado o regime tem impedido a formação de um novo bloco central.
Como conseguir então o alargamento de legitimidade e representatividade que possa amortecer os inevitáveis conflitos sociais que a reforma do Estado acarreta.A resposta passa, necessariamente, por uma nova convergência entre o PS e o PSD. E isto, no actual contexto e mantendo a característica do regime, implica a Presidência da Republica o Governo

sexta-feira, novembro 11, 2005

Marque já na sua agenda

NOITES À DIREITA**projecto liberal

António Borges e Daniel Bessa são os convidados principais de mais uma sessão das Noites à Direita*Projecto Liberal, com a moderação de António Pires de Lima. Uma semana depois da aprovação do Orçamento de Estado para 2006, vamos ouvir quem mais sabe da matéria. Mas não ficaremos por discussões técnicas, porque o que está em causa são as políticas e o futuro de Portugal.

Numa conversa aberta a todos, António Borges e Daniel Bessa serão convidados a debater o que está em causa para o presente e para o futuro económico e político do nosso País: até onde deve ir a intervenção do Estado na Economia, será que o modelo social está totalmente esgotado ou é ainda reformável, como é possível combater o défice e o desemprego, aumentando a produtividade, que reformas e privatizações são essenciais, ou qual é o papel de Portugal numa economia cada vez mais globalizada.

Dia 16 de Novembro, pelas 20h30, na Sociedade de Geografia, junto ao Coliseu de Lisboa.

Não Perca. Você é o nosso convidado principal.

quinta-feira, novembro 10, 2005

Paternalismo multiculturalista

1.Não há pachorra. Chega um filme de um país cuja a designação acaba em “ão” e logo chovem os elogios: “É pá, tens de ver. Grande obra-prima representativa da semiótica do Kazaquistão”, ou coisa assim. Não conheço o cinema do Brunei. O multiculturalista também não. Mas antes de ver um hipotético filme do Brunei, o dito multiculturalista já está a dizer que sim com a cabeça, já está a inventar as frases elogiados de algo que ainda não viu. Quando me perguntam “então, não gostas do cinema do Irão?”, respondo: “Pois... não sei. Só conheço Kiarostami e Makhmalbaf”.

2. Quando se fala de multiculturalismo, costuma-se abordar a sua forma mais virulenta: o extremo relativismo moral que legitima comportamentos bárbaros em nome de uma legitimidade cultural sagrada. Mas, existe outra consequência do “ethos” romântico e reaccionário do multiculturalismo. É menos grave, mas não deixa de ser irritante: o paternalismo. O paternalismo que aceita qualquer objecto de uma cultura não ocidental sem qualquer análise séria. Devemos respeitar a outra cultura. Devemos estar abertos. Mas isso é um ponto de partida e não um ponto de chegada obrigatório. A validade de dado objecto deve ser demonstrada no verdadeiro estudo daquela cultura e daquele objecto. Não posso elogiar o colectivo “cinema iraniano”, pois só conheço o indivíduo Kiarostami.

3. Como é que podemos valorizar e aceitar de imediato um objecto que nos é completamente estranho? Devemos elogiar X só porque X é diferente? Elogiar sem uma análise realizada com tempo e respeito significa uma coisa: não se percebeu nada daquilo que se viu. Pior: faltou-se ao respeito ao dito outro. O seguinte pressuposto é um imperativo: todas as culturas devem ser respeitadas. Mas isto é um pressuposto e não um dado adquirido. Exigir que este pressuposto, como que num acto de fé, salte para uma conclusão absoluta, é um tremendo acto racista. É racismo porque se trata X com condescendência e não com respeito.

El Cid

Meus caros amigos, o Rei anda algo esquecido. Felizmente que nobres almas se ergueram apelando ao nosso espírito patriótico. O Rei tem estado ausente. Dizem que em parte incerta.
No entanto, ele parece estar em toda a parte. Que assim continue, Sua Majestade.

A República

Nélson Magalhães é o mais recente candidato a Belém. Tem pinta tuga, é emigrante e tem um programa muito à frente.
Talvez seja, também, pelo triste rol de personagens candidatas à chefia da República que sou cada vez mais monárquico.


ps: O pequeno texto por baixo da fotografia diz o seguinte:

«O Primeiro Emigrante português a candidatar-se à Presidência da Repùblica.
Compatriotas de todos os quadrantes de opiniâo e habitantes de todo o planeta, colaborem assinando e fazendo assinar aos vossos familiares e amigos a petiçâo por alguém que se propôe sêr nosso porta voz». [os erros não são da minha autoria]

terça-feira, novembro 08, 2005

De volta!


Aí estão eles de volta!
Da esquerda para a direita: Gonçalo Curado, Henrique Raposo, Francisco Proença de Carvalho e Tiago Moreira de Sá.
Fato de treino Rucanor, meia da raquete, sapato Camport e piadola atrás de piadola.
Já à venda!

segunda-feira, novembro 07, 2005

Humor chinês

Um dia, perguntaram a Mao o que teria acontecido se Khruschev tivesse sido assassinado em vez de Kennedy, em 1963. Sem hesitações, respondeu: «Well, I'll tell you one thing. Aristotle Onassis wouldn't have married Mrs Khruschev.»

Sugestões de Leitura

Prime Minister Portillo and other things that never happened - Duncan Brack and Iain Dale
Lend me Your Ears - Boris Johnson
Silvio Berlusconi: Televison, Power and Patrimony - Paul Ginsborg
História de um Alemão - Sebastian Haffner
O Duce, Meu Pai - Romano Mussolini
Às Avessas - Vasco Pulido Valente

[Bernardo Pires de Lima]

The Need for Nations - Roger Scruton
A Invenção da Paz: Reflexões sobre a Guerra e a Ordem Internacional - Michael Howard
State Building - Francis Fukuyama

[Henrique Raposo]

sexta-feira, novembro 04, 2005

Seu Jorge


Ontem, na Aula Magna, um dos grandes concertos do ano.
Com um carisma invulgar, Seu Jorge cantou, tocou, dançou e discursou. Palavras e palavras carregadas de simbolismo que agarraram uma sala quase cheia. Pela primeira vez vi um músico chorar compulsivamente em palco.
Desde que fomos comparados ao público turco, num célebre concerto na praça de touros de Cascais, que já espero tudo. Somos ávidos de concertos. Precisamos de música como pão para a boca.
Seu Jorge toca simples. Não é preciso mais.

quinta-feira, novembro 03, 2005

JRR




O que eu amo no futebol é a tendência para hipérbole. De bestial a besta, o que hoje é verdade, etc...

Mas há mais. Reparem. A UEFA, ao permitir que estes dois seres humanos partilhem, ainda que por poucos minutos, o mesmo local de trabalho, dota o espectáculo da contradição que o torna tão fascinante. Lado a lado o génio e o ladrão de auto-rádios. Jesus Cristo e Barrabás. Não é épico?


E o melhor é que eu tenho a certeza que Juan Ramón Riquelme perdoou a falta de um misto de audácia e de simples bom-senso que, fosse o futebol uma actividade como as outras, teria levado o pobre João Pereira a oferecer-se para lhe lavar os pés no final do jogo. Mas o João Pereira é o João Pereira e optou por mandar o guarda-redes adversário para a puta sul-americana da mãe dele e assim também não está mal.

quarta-feira, novembro 02, 2005

Agnosticismo

Caro Tiago Mendes,

A minha posição sempre foi esta: «Baseando-nos nas provas acessíveis à razão humana e à investigação empírica, só podemos ter uma resposta honesta: o "não sei", "não sei se sim ou se não" do agnóstico»
George Steiner

com um grande abraço,
HR

Os 5 que mais me marcaram

Como estamos numa de música...





London Calling, The Clash
Circo de Feras, Xutos & Pontapés
Ten, Pearl Jam
Dirt, Alice in Chains
Sopa, Censurados

An Ode to Hip-Hop


A pedido do camarada Bernardo, Erykah Badu e Common chegam à “Grafonola do Sinédrio” em força, com “Love of my life (an ode to hip-hop)", soudtrack do filme Brown Sugar.
O vídeo é pura nostalgia de 3 décadas de b-boying e hip-hop.