Campos e Cunha, pré – demissionário, apelou no
Público ao investimento governamental contido e selectivo. Mais tarde,
António Vitorino questionou as opções governamentais em matéria de investimento. Hoje, chegou a hora de um
lato comité de sábios economistas se insurgirem contra “mais experiências fantasistas” de investimento público. Ainda que socialista, devo juntar a minha voz ao coro de protestos (consciência oblige).
Na passada segunda-feira desloquei-me ao Porto em Alfa Pendular. Foram 3 horas de viagem no conforto de um meio de transporte moderno, ainda que subaproveitado. A inadequação das linhas férreas im
pede o Alfa de atingir a sua velocidade máxima, enquanto que a sua má planificação obriga-nos a permanecer estáticos durante 10 minutos para deixar passar o Inter – Cidades e comboios regionais. Um expansão da linha Alfa Pendular poderia, perfeitamente, adiar o recurso ao TGV para melhores dias financeiros. Aliás, duvido que haja grande predisposição do grande público em pagar mais do que os 44 euros de uma viagem Lisboa-Porto-Lisboa em classe turística no Alfa Pendular.
Mas mais do que o TGV, é a recorrente insistência governamental na construção de um Aeroporto na OTA que me deixa incrédulo.
Bem sei que qualquer grande metrópole cosmopolita (NY, Londres, Paris, etc) recorre a dois ou mais aeroportos. Mas, Lisboa, antes da construção de um novo aeroporto, tem de se tornar uma metrópole cosmopolita. Hoje, o seu provincianismo periférico está bem servido com o aeroporto da Portela.
Após ter passeado pelos movimentados corredores do JFK ou de Schipol, não há nada como regressar ao exotismo da Portela. Lisboa terá o único aeroporto do mundo a onde os estudantes universitários se deslocam para estudar pelo seu sossego. Às 11 da noite, a principal zona de restauração da Portela não está repleta de malas e da emoção de partidas e de chegadas, mas de apontamentos, manuais e calculadoras.
O turista recém chegado nunca terá melhor imagem, do tão apregoado, “crescimento assimétrico português” como no exterior do aeroporto da Portela. Nada mais do que um velho e poeirento bimotor reconvertido em bar de strip. O mais experimentado duvidará, imediatamente, da qualidade do trabalho de varão da profissional da casa em espaço tão exíguo, para logo se perder na admiração
da flora regional.
As inúmeras e visíveis hortas que rodeiam a Portela, constituem um parque botânico castiço e único e , algures no mundo, existirá um livro de culinária que preza o caldo verde da Portela pelo seu recurso a ingredientes enigmáticos (escape de turbina).
Na realidade, o taxista português não é “ladrão”, mas patriota. Mais do que o volume da bandeirada, é o seu orgulho pátrio que o leva a conduzir o turista até Cascais, para chegar ao Rossio pela marginal, evitando ,assim, o cenário
bratislaviano da Rotunda do Relógio e da entrada das Avenidas Novas.
Em crise, e no momento de incremento da tributação fiscal, qualquer dividendo público deverá ser reconvertido para a reorganização, racionalização e redução do Estado, abrindo espaço a uma posterior redução da carga fiscal. O recurso a soluções
keynesianas de aumento do peso económico do Estado serão, não só contraproducentes e inglórias, como conduzirão a novas tributações fiscais.
Um novo aeroporto na OTA não só não contribuirá para uma a melhor colocação de Lisboa nas rotas aéreas internacionais, como retirará Portugal da rota dos fluxos económicos globais.