quinta-feira, março 31, 2005

Agenda

Nos dias 12 e 18 de Abril, respectivamente, o Instituto da Defesa Nacional organiza duas importantes conferências.
A primeira será proferida pelo Presidente da National Defense University, Michael M. Dunn, subordinada ao tema The American Security and Defense Policy.
A segunda trará a Portugal o Professor Leo Michel, investigador no Institute for National Sttrategic Studies e o tema será President Bush's Visit to Europe and the Transatlantic Relationship.

Quem gosta de assuntos internacionais, em especial os relacionados com a política externa americana e relações com a Europa, apareça. Quem não costuma sair do sofá e está habituado a ouvir as coisas pela rama, apareça também.

A "Atlântico"

Hoje (com o “Público”) saiu o primeiro número da revista “Atlântico” (directora: Helena Matos). É um dos acontecimentos intelectuais dos últimos anos em Portugal.

A partir do segundo número, a revista sairá para as bancas na última quinta-feira de cada mês.

Concordem ou não com as ideias expostas, têm de reconhecer o seguinte: a “Atlântico” vem preencher um espaço que se encontrava vazio no debate político-cultural em Portugal.

Leia-se e discuta-se com rigor, apresentando argumentos e não emoções ou bílis de noites mal dormidas.

Impossibilidade da Paz externa e da Harmonia interna?

A respeito da tradução da "Ilíada", Frederico Lourenço (entrevista ao DN), aborda a chamada tragédia da condição humana: “paz como uma impossibilidade”. Caros pacifistas: não se trata de uma prescrição normativa, mas de uma corajosa constatação.

Em relação à Paz (política externa) - Apesar de tudo, não devemos desistir de Kant (atenção: Kant não era um pacifista nem um defensor do suposto direito internacional. Como liberal clássico que era, Kant defendia a possibilidade das Repúblicas, regidas pelo constitucionalismo liberal, usarem a força contra regimes não-constitucionais. Para que conste…)

Quando à Harmonia (política interna) - O conflito entre grupos humanos é inevitável? A Harmonia é impossível? Exacto. Explicamos melhor. Existem sistemas políticos que procuram a perfeição intelectual, isto é, têm como objectivo alcançar a Harmonia celestial na terra. Estes sistemas têm uma consequência: fecham o futuro da sociedade; todos os homens estão obrigados a trabalhar para esse futuro.
Um sistema com estas características não é... um sistema político para os "homens". É, na verdade, uma aspiração teleológica que procura eliminar o conflito humano, em nome de um ideal de HOMEM. Ora, a eliminação de qualquer conflito significa inevitavelmente a eliminação das diversas liberdades em questão. Não esquecer: um conflito é um sintoma. De quê? De liberdade, claro. Há conflito porque há liberdade para escolher. É isto que Rousseau e seguidores nunca compreenderam.

A tragédia da condição humana é esta: a liberdade e o pluralismo dos “homens” têm um preço: o conflito. A harmonia em torno do ideal de “HOMEM” tem outro preço: a tirania. Prefiro o primeiro. Fico com umas cicatrizes no lado direito, mas ninguém me obriga a fazer o que não quero.

Quem acredita na Liberdade tem a obrigação de criar sistemas que efectuem uma gestão dos conflitos entre grupos humanos. A história do liberalismo clássico resume-se a isso. Dada a impossibilidade do consenso sobre os fins, importa criar um consenso em relação aos meios: democracia representativa gerida pelo constitucionalismo liberal.

E quem acredita na Harmonia? Nunca se preocuparam em lidar com o problema da Tirania. Aliás, negam a existência da Tirania quando esta advém de projectos em prol da unidade. À esquerda, os comunistas ainda consideram Lenine como uma espécie de herói que a História, afinal, não compreendeu. À direita, o nacionalismo agressivo da “Nação” continua a navegar nalgumas cabeças que não aprendem nada com a História.

quarta-feira, março 30, 2005

Rui Ramos, parte II

terça-feira, março 29, 2005

Cartaz


R:I Posted by Hello

No próximo dia 5 de Abril pelas 18:00 horas ocorrerá no Auditório da Reitoria da Universidade Nova da Lisboa do Campus de Campolide o lançamento do nº5 da R:I no qual, humildemente, alguns dos autores deste blog colaboraram. Enquanto que já amanhã, pelas 18:00 horas, na Livraria Almedina do Saldanha ocorrerá a conferência “Interesse Nacional e Politica Externa: Uma Agenda Portuguesa”.

A única via possível

Detalhe do Inferno de Dante, por Rodin
Caro Henrique

Por muito que preze o teu discurso, tenho de notar que todo ele assenta em duas premissas erróneas, já algo clássicas: a “confusão” entre 3ª via e o New Labour e a preposição de que a 3ª via é um espaço ideológico do “confortável”, algures num limbo ideológico descomprometido entre a esquerda e a direita, “ um futebol de ataque sem guarda-redes”. Nenhuma destas suposições está correcta.
Anthony Giddens chega a encontrar laivos de 3ª via na esquerda mutualista francesa da última década do século XIX. Embora eu tenha dificuldade em reconhecer espectros de social-democracia ou, até, ilusões de Bernstein no lato espaço político francês tardio-oitocentista que acabará por produzir Jean Jaurès, devo dizer que já é facilmente identificável uma 3ª via na Fabian Society e especialmente nos New Democrats americanos vocalizados por Clinton e que precedem Blair. Tanto Clinton como o New Labour de Blair acabam por ser respostas do centro esquerda, social- democrata a opções políticas económicas que os precedem em office. Como refutação das Reaganomics ou do colosso de Thatcher, a 3ª via instaurou-se como um espaço de debate e de reorientação no seio da social-democracia, onde o centro-esquerda procurou e procura respostas actuais para a sua equação a um mundo de poder e informação globalizados e para a sua objecção ao puro neoliberalismo de Hayek.
É no centro-esquerda, social-democrata, longe da clássica e desactualizada uniformidade do Estado- Providência que podes encontrar a 3ª via. Ao contrário do que dizes, esta não é uma opção de descompromisso, mas de actualização. Também não é um novo espaço político autónomo, mas um debate interno de renovação onde a urgência de soluções imperou sobre o clássico cisma esquerda-direita.
O momento seria e é de busca de um novo traçado político que rejeita a tradicional herança da escola historicista marxista, delineando políticas sociais para um enquadramento económico de mercado longe do peso e das fracturas dogmáticas do passado. Em parte, refutando a tese do “mínimo do Estado” de Hayek e o sólido Estado-providência, aí a 3ª via será o ponto intermédio, não uma fractura política ou ideológica, mas de soluções de continuidade para uma economia de mercado regida por vectores sociais de esquerda. Mas, pessoalmente, a 3ª via é também uma escolha ideológica é a garantia da continuidade do centro-esquerda longe da presença moral ou da tutela dogmática marxista. Aí também podes encontrar Popper e as suas aspirações, quando afirmou que “o elemento profético do credo de Marx era dominante na mente dos seus discípulos. Varreu todo o resto, banindo a força do julgamento frio e crítico e destruindo a crença de que podemos mudar o mundo através do uso da razão.” (A Sociedade Aberta e os seus inimigos, vol II, pp. 192)
No entanto esta reorientação no seio da social-democracia tende a ser dificilmente comportada pelas franjas sectoriais da “outra” esquerda ou pela direita que, despojada de uma racional resposta à adversidade escolhe fazer como o Ruizinho que no recreio da escola critica o Zezinho por este ir brincar com as meninas aos médicos em vez de ir jogar à bola. Mal sabe o Ruizinho que daqui a uns anos ele não quererá outra coisa. Aliás, precisamente na mesma entrevista de Giddens à Folha de São Paulo/DN que mencionaste, o próprio já vislumbrava algo semelhante a uma 3ª via de Direita. O tempo tende a dar-lhe razão e, progressivamente, encontramos um novo impulso de reorientação e actualização na direita portuguesa ou europeia, abrangendo políticas sociais e morais tendencialmente adversas ao seu espaço natural. Ainda que em Portugal o exemplo ainda esteja confinado às dúbias mentes das juventudes partidárias, em França e em Sarkozy já vislumbramos algo diferente do tradicional. Apelativo talvez?
Ainda assim, a direita não parece disposta ou preparada para assimilar esta redefinição da social-democracia, continuando a apreciar o centro-esquerda pelos contraproducentes padrões ideológicos e dogmáticos que pressupõem um regresso de toda a esquerda a uma herança comum e perene. E agora, quem insiste em regressar a Rousseau?
Um abraço amigo

segunda-feira, março 28, 2005

Até à 25ª Via

Gonçalo,

A dita “terceira via” não é uma posição política coerente e perene. É apenas uma receita política de um dado governo (Blair). E, acima de tudo, é uma posição demasiado confortável. Permite que indivíduo X coloque um pé na direita e outro na esquerda. Tal contorcionismo acaba por colocar o dito indivíduo... em lado nenhum. Que maravilha!! A poção mágica!! Com isto, podes atacar a direita e a esquerda, sem nunca estares sujeito a ataques. É o chamado futebol de ataque. Com uma vantagem de não teres baliza para defender. Só podes marcar golos. Jogas sem guarda-redes.

Os defensores da Terceira Via fazem lembrar os marcianos de Popper: chegam do espaço, sentam-se e assistem às discussões entre os terráqueos direitistas e esquerdistas; e, enquanto assistem ao espectáculo dos bárbaros, escrevem a tal solução intermédia, uma espécie de síntese matemática (50 daqui, 50 dali) para assuntos não-matemáticos.

Além disso, o pai já matou o rebento: «Acho que hoje precisamos de uma quarta via, porque necessitamos de uma versão mais afinada do pensamento de centro-esquerda, e não apenas uma atitude reactiva» (Giddens, Diário de Notícias, 12/05/2003). Quarta-Via?? O tal centro-esquerda europeu, mesmo realizando na prática políticas de direita, não admite, no ponto de vista teórico, o sucesso da cosmovisão liberal. Prefere enlear-se nestes jogos de palavras ridículos (vai até onde? Até à vigésima quinta via?).

Mais cedo ou mais tarde, vais ter de sair desse barco. Essa barcaça tem um nome: Tony Blair. Quando Blair sair, a terceira via também desaparecerá.

Um abraço amigo,
HR

PS: assim se vê o pluralismo da direita.

Carta aos meus detractores

Não posso deixar de me sentir honrado com este convite que um dos mentores da “refundação” da Direita agora me endereça. Compreendo que no momento actual de orfandade política, a Direita me escolha com figura tutelar, talvez como protótipo para a expansão de limiares do seu ethos ideológico. Porém, é por precisamente me rever em alguns dos parâmetros que o Bernardo enuncia, que me sinto obrigado a, humildemente, recusar o convite.
Ainda hoje a Direita é um jarro de resíduos compósitos que o presente escolhe colocar na parteleira das “conservas”. Tal como a saborear um bom Bordeaux, num trago de Direita identificamos resquícios seculares ou de um passado presente. Entre legitimistas, miguelistas, joão franquistas, sidonistas, salazaristas, marcelistas, revisionistas, democratras-cristãos, gerações refundadoras de 70 ou de 80 e liberais, passaria demasiado tempo a identificar o agressor ou aquele que me reconhece como transgressor do que a equacionar soluções para um melhor futuro colectivo. Por isso, meus caros, prefiro um bom trago de Dão ou de Três Marias, onde mais facilmente consigo discernir entre o sabor a rolha e a uva e onde não há espaço ou tempo para marketing make-overs.
Mas o Henrique concedeu-me uma outra honra dúbia. Por muito que me orgulhe ser mencionado na mesma frase que Savater ou António Costa Pinto, não deixo de notar que a referência a Walzer tem um certo perfume envenenado. A escolha do editor da Dissident e, em particular, a escolha do artigo é engraçada pois recai em argumentos, de certa forma, consensuais, que apelam à minha postura em política internacional. Mais interessante teria sido a escolha do seu “rethinking social democracy” (sem link). Aí teríamos tido debate. Mas o Henrique acertou ao enunciar a minha refutação de um patriarcado de Rousseau. De facto, meu carácter pragmático impede uma recondução contínua ao legado do “vagabundo de Genebra”, mas será mais fácil encontrarem-me duplamente Beyond Left and Right (aqui e aqui) do que em Walzer.
Ainda assim, impelido pelo “convite” da Direita resolvi procurar uma opinião profissional e no Political Compass desfiz qualquer dúvida:


Assim, amavelmente, reenvio o convite que a Direita Liberal me remeteu. Temo que este regresse à minha caixa do correio com o dístico de “DESCONHECIDO NESTA MORADA”.

Aos dois um grande abraço.

sábado, março 26, 2005

Rui Ramos

É fundamental ler o melhor comentador da política portuguesa: Rui Ramos.

Viva a Letónia

Eis a frase do ano:

«A Rússia deve admitir que a vitória [na II Guerra Mundial] foi só de metade da Europa. No resto, foi tirania». Pertence a Vaira Vike-Freiberga, Presidente da Letónia. (DN de hoje).

sexta-feira, março 25, 2005

Kennan ou Wohlstetter?

George Kennan morreu. Paz à sua alma. Mas, com todo o devido respeito, a doutrina da contenção era demasiado optimista. Por duas razões:

Primeira: tal como Popper, Kennan pressupunha que o Comunismo desmoronar-se-ia a partir do interior. Afinal, era uma mentira, um emplastro sem cotação na realidade. Certo. Mas uma fantasia ideológica não precisa do real. É uma verdade interna. Tem algo de épico na forma como despreza a realidade histórica. Por outras palavras, a queda do comunismo não era inevitável. Não há inevitabilidades na História (mesmo que essas inevitabilidades pressagiem qualquer coisa de grandioso como a queda do comunismo). Se Reagan não tivesse realizado o “Roll Back”, a URSS ainda hoje poderia estar de pé. Olhe-se para a cronologia: na década de 70, a guerra-fria estava a pender para o outro lado (Portugal esteve ou não na fila para o autocarro marxista em 1975?); no início de 1989, os especialistas afirmavam que a URSS sobreviveria por mais algumas décadas.

Segunda: não encarava, com a devida seriedade, a possibilidade de um ataque nuclear soviético. A ideia de que uma guerra termonuclear não pode acontecer é, em si mesma, optimista e ingénua. O “MAD” assenta numa concepção excessivamente racionalista da condição humana. Concebe todos os regimes de forma idêntica, como se todos os líderes “pensassem” de forma racional e com objectivos de auto-preservação. Um líder de um poder ideológico não procura a preservação do seu país (História dos homens) mas sim a solução salvífica para o mundo (fantasia ideológica do HOMEM). A sua epistemologia é, portanto, diferente do racionalismo demo-liberal. Nesta forma de ver o mundo, uma guerra nuclear até pode ser encarada como uma etapa no caminho redentor em direcção ao Homem Novo. Nem sequer seria um mal menor. Se Stalin tivesse sido um "profeta armado" como Lenine, teria resistido ao uso da Bomba? Alguém aposta na hipótese optimista? Mais: a teoria da contenção teria resultado com Hitler? Nunca. Se o traste de bigode tivesse alcançado a BOMBA (não esquecer: os grandes artífices da arma em questão eram alemães), os aliados teriam de recorrer à mesma arma para destruir "o" Tirano. Trágico? Claro. É essa a noção condição. Os gregos sabiam... Cristo e Marx têm distraído as massas e os intelectuais da nossa Era.
Já agora, sabem qual é o imperativo estratégico do Irão revolucionário? Resposta: destruir Israel. Impossível? Pois… o 11/9 também “era” impossível. O Holocausto também “foi” impossível. O Gulag “nunca” aconteceu. Pol Pot "é" uma nota de rodapé (convém: Chomsky apoiou o tipo…). Estamos sempre à procura de maneiras para fugir à realidade. Como dizia H. Arendt, nunca procuramos a reconciliação com o mundo onde estas coisas acontecem.

Estas tiradas são baseadas na obra de um estratega injustamente esquecido: Albert Wohlstetter, o grande adversário da realpolitik de Kissinger e do realismo jeffersoniano de Kennan. Se queremos perceber Paul Wolfowitz, então, temos de ler Wohlstetter. O "preemptive strike" já lá estava.

Urban Legend

quinta-feira, março 24, 2005

Matos Chaves e a tentação da inversão de marcha


Democracia-cristã versão ape 50
A menos de mês e meio do Congresso do CDS-PP, aquela que à partida seria a candidatura “exótica” começa a ganhar momentum por exclusão de partes. Sou suspeito de o dizer, mas uma liderança de Matos Chaves será um rude golpe para quaisquer aspirações de crescimento ou de consolidação do CDS. A saída de Paulo Portas poderá ter desafogado o ambiente interno e ter aberto espaço a uma nova geração mais autónoma e de renovada ambição, mas uma presidência de Matos Chaves significará um retrocesso dogmático dificilmente comportável pelo actual eleitorado centrista. Uma inversão regressiva para o modelo conciso da democracia cristã estrita, incursões euro–cépticas envergonhadas e a carga política que da sua presença, mais do que conjuntural, junto da liderança de Manuel Monteiro será um duro golpe para o CDS-PP. Do taxi para a Piaggio ape 50.

Google: um atentado à memória

Os “modernos” têm todos o mesmo problema: julgam que a tecnologia pode ajudar o Homem a ser mais inteligente e cordial. Por outras palavras, confundem Técnica com Conhecimento e Ética. Erro crasso. Provas? A Internet. Instrumento precioso? Sem dúvida. Contudo, é apenas precioso para quem já está formado ética e intelectualmente. Ou seja, é útil para quem tem hábitos de trabalho, para quem sabe...o que procurar.

Mais grave: a Internet é um atentado ao uso da memória. “Usar a memória?!! Para quê? Temos o Google”. Já ninguém puxa pelos neurónios.

Pergunta-se, ao senhor das couves:
- Qual foi o resultado do Sporting-Benfica de 1994/95?
- Vá ao Google, amigo.

Pergunta-se ao pedante mais próximo:
- Qual é o autor do “Colossus”?
- Tente no Google, meu caro.

E nas escolas? Estamos a criar uma geração de crianças sem capacidade de memorização e, logo, sem qualquer tipo de referências. E aqui até pode haver uma união involuntária entre “modernos” e “pós-modernos”. É que para os pós-modernos o uso da memória é uma coisa arcaica. O que interessa é a criatividade, pois cada criança é um mundo em si mesmo (sempre Rousseau). Corrija-se: uma criança até pode ser um “mundo”, mas é, com certeza, um mundo fechado, sem janelas para o conhecimento. Mas quem é que precisa de janelas quando se tem as auto-estrada do conhecimento à distância dum clique

O Walzer "Tuga"

Gonçalo,

não sou tão radical como o Bernardo. Até podes ser de esquerda. Mas és de uma esquerda... especial. E rara em Portugal. És da “Esquerda Liberal”. Não partes de Rousseau. E isso, meu amigo, faz toda a diferença. Tens qualquer coisa de Michael Walzer (lê «Can There Be a Decent Left?»). Aliás, a esquerda liberal é um dos movimentos mais interessantes do momento: sente-se distante da restante esquerda, que caminha para um beco sem saída (perdão: voltou para Rousseau) e, claro, não quer dar razão à direita. E, atenção, não é monopólio do mundo anglo-saxónico. Em Espanha, tens o Fernando Savater. Em Portugal, tens António Costa Pinto ou o António Barreto.
A política, na maior parte dos casos, resume-se à distinção entre o “Amigo” e “Inimigo”. Neste sentido, és um “Amigo”. Estás dentro do arco do possível. Com um tipo de esquerda liberal é possível chegar a um consenso sobre os meios. Quem está à tua esquerda procura sempre um consenso sobre os fins. É bom não esquecer que isso é a porta de entrada de todos os totalitários.

Um abraço

Proliferação de Couves


Horticultura Posted by Hello

Parece-me que o Daniel Oliveira vai continuar a ver "couves". Se calhar devia começar a dedicar-se à agricultura. Talvez uma horta comunitária.

Insisto

Gonçalo: tu és um atlantista. Um homem que defende um papel diminuto do Estado na sociedade e na economia. Que defende a liberdade do indíviduo. Que coloca o Homem no centro e não acredita em igualdades utópicas. Desprezas os totalitarismos e abominas a retórica da canhota lusitana. Renegas o argumento de esquerda que faz da desgraça e da pobreza uma bandeira com fins eleitorais. Acreditas que a produção de riqueza e o fortalecimento da classe média são o garante para o desenvolvimento económico. Não pactuas com uma Constituição que "ruma ao socialismo" desde 1976 e que é um entrave ao desenvolvimento de Portugal. És pela redução da máquina do Estado e pela sua desburocratização. Acreditas na família como centro da estabilidade social, aceitando plenamente novas e modernas formas de união familiar. Não gostas do BE, do PC nem da ala esquerda do PS.

Sê bem vindo à Direita meu Amigo!

A nossa pequena contribuição de regime change


Pelo Geo-Loc, lá em baixo, reparo que chegámos ao nosso primeiro leitor cubano. Serás tu Fidel??
Espera aí Bernardo que eu já te respondo.

Gonçalo, meu bom amigo

Desculpem, mas hoje estou numa de falar com os meus amigos do Sinédrio.

Gonçalo, esta é para ti: já todos percebemos que não gostas de ser "socialista". As tuas qualidades humanas e académicas obrigam-me a fazer este pedido.

Junta-te à Direita Liberal. Larga essa tua fantasia de quereres ser de esquerda. Tu não és de esquerda nem nunca foste! A Direita receber-te-á de braços abertos. Assim como a todos os que, como o Gonçalo, percebem que as utopias de esquerda levam, inevitavelmente, às piores ditaduras.

O meu Capitão

Facto da Semana

Luis "Albânia" Fazenda defende o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Diogo Freitas do Amaral, em plena discussão do programa de Governo do PS.

(Este facto passou-se aos vinte e um dias do mês de Março do ano da graça de dois mil e cinco. Publique-se)

Anacleto e Companhia

Francisco, meu caro e bom amigo: não quero ser desmancha prazeres, mas tenho de fazer justiça sobre o teu post da agenda da promotora de eventos BE. Sei que pouca gente sabe isto mas essa "escola de Verão" é da autoria do Acidental Rodrigo Moita de Deus. Embora considere que nunca é demais relembrar esse mítico encontro da canhota radical tuga - daqui a minha homenagem à tua ideia, Chico - devemos fazer justiça e dizer: Bem haja Moita de Deus!

Aguardamos notícias da próxima sessão de esclarecimento de Anacleto e Companhia.

Reforma das Nações Unidas


Copyright L.A. Times Posted by Hello
"A better UN, for a safer world"-The Economist
Reform at the UN e e o relatório do Secretário Geral, "In larger freedom:towards development, security and human rights for all"

quarta-feira, março 23, 2005

22 anos de Strategic Defense Iniciative (SDI)

Substituindo a lógica de detterence e o “limbo” optimista da MAD (Mutual Assured Destruction), a SDI, vulgarmente conhecida como “Star Wars”, anunciada pelo Presidente Reagan há 22 anos, revelar-se-ia um passo que a União Soviética não conseguiria comportar.
Quando Andropov, 4 dias depois do anúncio televisivo de Reagan, afirmou que “todas as tentativas para a obtenção de superioridade militar sobre a União Soviética são fúteis”, já sabia que face ao bluff da SDI a União Soviética não poderia dizer “I see your Star Wars and I raise you the RYAND” (Ataque de Mísseis Nucleares- plano soviético defensivo de 1981).
Óptimos artigos sobre a SDI e as suas consequências são este de Benjamin S. Lambeth e de Kevin Lewis, este de John Newhouse na Foreign Affairs e este de Mark Davis na Policy Review.

sábado, março 19, 2005

Muitos Parabéns

2 anos a rumar Contra a Corrente é obra. MacGuffin está de parabéns.

Imagens da Semana


Museu do Holocausto Posted by Hello


Beiture, onde a "rua" se torna sinónimo de "soberania" e "democracia"
Curiosas semelhanças com uma fotografia do nosso passado recente:

Lisboa, 1º de Maio de 1974

Revista de imprensa

sexta-feira, março 18, 2005

Http Error 404- Women not found

Graças ao Francisco e ao Henrique, O Sinédrio conheceu um fluxo memorável de leitores que, segundo os Referrals do Site Meter, chegaram até nós via Google, na busca de “mulheres boas” ou de “Pimpinha Jardim na Maxmen". Pedimos desculpa aos desiludidos.

O Guardião da Chave Soviética

George F. Kennan
1904-2005


Kennan fired back is famous 8000 word “long telegram” of 22 February 1946. In it he predicted that, whatever the official line, “Soviet policy will really be dominated by the pursuit of autarchy for the Soviet Union and Soviet dominated adjacent areas taken together”. The Russians were likely to turn “a cold official shoulder…to the principle of general economic collaboration among nations”. That conclusion was almost as shocking, in Washington at that time, as Kennan’s larger argument that the Soviet Union could not be reasoned with, only contained. For Stalin unexpected action forced American forced American officials to abandon their vision of post-war world organized according to economic logic. It brought them to face with the ideological and strategic realities of the Cold War”.
John Lewis Gaddis, We Now Know

quinta-feira, março 17, 2005

D'oh de Esquerda

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Numa tórrida tarde, com 10 minutos certos à sua disposição, encarando uma “bonita rapariga loira que respondeu com um sorriso ao meu cumprimento” e que cumpre o sonho de cada homem ao ler “a Bola”, tchernignobyl decide embrenhar-se “na leitura de The dying animal, a minha introdução à obra do celebrado Philip Roth”...

O Jazz e o Nº 6 do Sporting

Chico!

Esta imagem é brilhante. Não imaginas a inveja que tenho de ti neste momento. New Orleans é um dos sítios míticos do meu imaginário musical.
Como fan das raízes do jazz, pores um saxofone no ecran é meio caminho andado para me esquecer que algum dia o Hugo fez parte do onze titular da minha equipa. Peseiro que visse essa imagem e tudo corria melhor...

terça-feira, março 15, 2005

Direito de Resposta

Em resposta ao meu post, Bruno Cardoso Reis escreveu:

“O Goncalo devia ler as coisas com mais cuidado. E ridiculo vir falar de coisas a que quer o meu texto, quer o texto do Max Boot fazem referencia (que este tipo de estrategia nada tem de novo e imperios do passado ja a usaram). O Max Boot alem de colunista no LATimes, publica com regularidade no FT e no Wall Stree Journal (do qual foi editor). Sobretudo e investigador no Council on Foreign Relations que e um dos think tanks mais influente nos EUA, senao mesmo o mais influente. (Se tive lido o texto tinha reparado que esta no site do CFR.) E alias provavelmente o unico neo-conservador que por la anda.O Goncalo esta no bom caminho para se tornar mais um bom exemplo do pro-americanismo primario que impede que se possa brincar ou pensar sobre os EUA. Sovietismo de sinal contrario, em suma.”

Exercendo o meu direito de resposta devo dizer que o Bruno segue a tendência tão comum de curriculum wise guy. Parece uma caderneta de cromos d’A Bola jogo de Trivial Pursuit com questões como : “ Quando é que Geoffrey Kemp chegou ao Nixon Center?” .
O Bruno devia saber que mais do que conhecer a carreira de alguém deve-se conhecer o seu valor ou então arrisca-se a chegar à conclusão de que o Secretário foi um grande jogador porque esteve no Real Madrid. De qualquer forma, se tivesse lido bem o post, teria reparado que lá deixei um link para a biografia de Max Boot disponibilizada pelo L.A Times e se tivesse dado uma vista de olhos no blog teria visto que não é a primeira vez que falo do mesmo. De qualquer forma, é erróneo apresentar Max Boot como um ex-editor do Wall Street Journal, cujo o cargo, e o Bruno sabe bem que é verdade, dificilmente equivale às atribuições do editor do Público, por exemplo. Ainda na mesma nota, o facto do artigo de Max Boot estar presente no site do CFR não significa que este seja, por exemplo, um working paper da mesma entidade. Aliás, logo no início do texto está expressa a proveniência do mesmo (coluna de opinião do L.A. Times) e é assim que deve ser endereçado. Facilmente, o mesmo texto estaria presente na Revista de Imprensa do IPRI, como está o seu “Rethinking the Iwo Jima Mythaqui. Da mesma forma, apresentar Max Boot como um “neoconservador” proeminente poderá ser um erro. Sei que o mesmo, inúmeras vezes, já divagou sobre este tema, especialmente no seu famoso artigo no Wall Street Journal, “What the heck is a neocon?”. Ainda assim, a lógica do discurso de Max Boot parece-me que o aproxima mais de um puro realista. Aliás, quando Francis Fukuyama escreveu no The National Interest o seu “The Neoconservative Moment”, não me lembro de lá ter visto o nome de Boot.
Mas a parte mais interessante do comentário do Bruno Cardoso Reis é o momento em que me descreve adepto de “um pro-americanismo primário”, logo no dia em que visto a minha t-shirt “John Kerry for a Stronger America”.
Na realidade, prefiro descrever-me como um democrata de esquerda, europeísta convicto (com fortes tendências federalistas) e ciente da vitalidade do vínculo transatlântico, para com o qual, como europeu, tenho um dívida de segurança de meio século. Nesse sentido sim, sou pró-americano. Não deixo de ser crítico da Administração Bush nas suas políticas domésticas e nos casos evidentes de Guantanamo e Abu Ghraib, mas também não escolho fechar os olhos ou ver couves onde a razão vê uma incisiva presença norte-americana num processo de democratização do Grande Médio Oriente e Norte de África e na (ainda) periferia europeia a Leste. Se em guerrilha por vezes há que comer sopa com uma faca (está a ver também conheço a sua biografia, queijinho amarelo para mim), em política internacional há que se seguir os fluxos do momento e reconhecer o crédito e as forças motrizes.
Talvez o Bruno preferisse que eu fosse pró- Salvador Allende ou pró- Mikuláš Dzurinda (PM da Eslováquia), talvez um defensor da legitimidade de Lukashenko. Tenho pena, mas não é o caso. De qualquer forma, o Bruno pode escolher continuar a jogar este jogo de dados biográficos. Aviso-o que tenho cromos do Dick Cheney, no jacuzzi de executivos da Halliburton para a troca.

segunda-feira, março 14, 2005

Essencial

"Sobre as Coves" e "Sobre os Nabos" no BLOGUITICA.

Falácia de Rousseau- La France a besoin de toi

Qualquer pessoa que acompanhe minimamente a carreira de Jean-Claude Van Damme teria feito a associação automática. Curiosamente, Bruno Cardoso Reis preferiu introduzir a ideia de Max Boot de uma “Legião da Liberdade” como algo proto-original, esquecendo-se das evidentes semelhanças desta com a secular Legião Estrangeira francesa, presente em tão libertárias campanhas como na defesa de Dien Bien Phu ou nas ofensivas no Maghreb.

Podia, igualmente, ter apresentado Max Boot como um jovem colunista do L.A. Times ainda longe de poder ser considerado um policy ou um opinion maker, mas preferiu enquadrá-lo na difuso epíteto de “neo-conservadorismo” que o deixa bastante mais próximo da Administração Bush e que dá à sua proposta um toque institucional.

Parece-me mais um caso da endémica patologia conhecida como “Síndroma Naomi Klein/Noam Chomsky”, cujos mais vulgares sintomas encontramos na tendência de começar todas as frases por “O Sr. Soros dixit...”.

"I'll break you!"

Animal levantou a questão e o Sinédrio está em condições de divulgar as imagens do momento em que Freitas e Portas se encararam na cerimónia de Sábado:

Ivan Freitas Drago, aka "The Siberian Bull": "I'll break you!"
Atentos estavam Silva Pereira e Luís Amado:
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domingo, março 13, 2005

As mulheres têm de ser boas

Novo governo. Nova ladainha feminista. As jornalistas de TV, francamente irritadas, comentaram, com desdém, o facto de o novo executivo só ter duas ministras (menos fontes, não é?). E depois? Esta mentalidade de “quota” causa um certo asco. Bem viscoso e interior nasalmente. Coloca-se as identidades geneticamente atribuídas (género, raça) à frente do mérito individual e, logo, meta-identitário. Minhas caras, não há ministras porque não há mulheres a pensar política. Gerou-se, algures, um cliché. E o cliché assenta no seguinte: quando um grupo de homens começa a falar de política, as mulheres desse mesmo grupo mudam o tema da conversa (fazendo chantagem com armas de outra índole…) para temas artísticos. Minhas caras: a arte até pode estar pendurada no gabinete, mas não é a chave para o esse mesmo gabinete. Se querem entrar na política, têm de ser capazes politicamente. Ser mulher de sensibilidade artística não chega. Se querem entrar na política, têm de saber quem foi Maquiavel ou Macmillan, saber o que é a PAC e perceber que MAD não é um insulto. Picasso pode ser interessante, mas só pintou “Guernica”. Em política, interessa saber aquilo que originou o bombardeamento. Mas quando a conversa entra por aqui, as mulheres vão ao cabeleireiro ou à exposição pós-moderna mais próxima. Thatcher não ia ao cabelereiro. O cabeleireiro vinha até Thatcher.

Experiência Reveladora

Conheci duas pessoas. Altas, bonitas… esquerdistas. Começaram a falar do 11 de Março e chegaram onde queriam: 11 de Setembro. Para quê? Para dizer “bem feito”. Bom, comecei a dizer que não era bem assim. Não tive sucesso. A explicação sobre o radicalismo islâmico, as nuances da estratégia, a evidência dos factos - nada disto as demoveu. Então, num acesso de raiva, lancei uma mentira:
- Mas eu estava lá, porra!!!
Meus caros, sabem qual foi o resultado? Aquela mentira, que nasceu do meu desespero argumentativo, abriu os corações das minhas interlocutoras. De repente, os meus factos e as minhas análises já faziam sentido. Estavam legitimadas pela minha dor. Nesta óptica, apenas as vítimas directas do 11/9 podem condenar o atentado. Mas, claro, sempre pela via emocional e afirmativa e nunca pela via racional e argumentativa. Como todas as épocas excessivamente democráticas, o nosso tempo despreza as ideias e que adora emoções. Não quer debate racional mas sim comunhões moralistas.

O Polícia, a Musa e o Violador

Encontro um europeísta. A óbvia ruminação surge: “vês, a Europa respeita o diálogo”. Enquanto ele discursava, servindo-se dos meus ouvidos, pensei num argumento para uma curta. Cenário: uma cela fechada. Dentro da cela, encontramos uma musa de carnes marmóreas e reluzentes. Ainda dentro da cela (e em cima da matrona) está um violador desdentado. A terceira, e última personagem, está no lado de fora e não tem a chave da cela. Quem é? Um polícia pós-moderno. Tem um ramo de flores no coldre. A sua arma é a garganta afinada. Exige que o violador não toque na inebriante fêmea que tem à sua mercê. Pior: está mesmo convencido que poderá convencer o violador, mesmo não tendo a chave nem qualquer arma.
Alguém quer realizar este filme? Só exijo que o “casting” seja respeitado: a “Musa” é Bomba, o “Violador” é o Irão e, claro, o “Polícia” é a Europa.

sábado, março 12, 2005

Adeus Burundi, Olá Chile

Um país civilizado depende de leis e não de pessoas. Por isso, sempre achei deprimentes as longas cerimónias de “beija mão” que marcavam a posse do primeiro-ministro. Uma longa fila de servos aguardava para beijar a mão do escolhido pela vontade geral. A fila, no fundo, representava Portugal: um país que vive sem vergonha à sombra do estado. O fenómeno chegou a ter três horas de “comprimento”. Um indivíduo do Burundi sentir-se-ia em casa, com certeza.
Hoje, espantosamente, a cerimónia que ungiu José Sócrates durou apenas uma hora. Bom... mas ainda não chega, Sr. Engenheiro. Uma hora de cerimónia coloca-nos na metade da tabela, a par de uma república das bananas aceitável. Um quarto de hora de cerimónia é a medida civilizacional que se pede.

Internacionalismo Paternalista


A carga emocional do momento não seria propícia a uma decisiva tomada de força, mas, ainda assim, o discurso de Kofi Annan na cerimónia de aniversário do 11 de Março (traduzido pelo Público aqui) deixa antever a insistência da ONU num modelo inadequado para a “gestão” do sistema internacional.
Os seus “cinco D” (desencorajar o apoio popular ao terrorismo; denegar os grupos terroristas; dissuadir apoios estatais a estes; desenvolver a capacidade dos Estados na prevenção do terrorismo” e defender os direitos humanos e o primado do Direito) não deixam de ser metas nobres e idealistas que quase recordam os 14 pontos do Presidente Wilson, mas acabam por incorrer numa forma “paternalista” e "dissuasória” de resposta ao terrorismo internacional. Não é a expressão de uma vontade ou de uma forma pró-activa e insistente e acaba por se perder em vontades e ideais vagos que só reforçam as comuns críticas à passividade da ONU.
Kofi Annan engana-se ao considerar que “a autoridade moral das Nações Unidas se vê enfraquecida pelo prolongado debate sobre o que é o terrorismo”, na realidade a autoridade moral da ONU perde-se na mais que necessária reforma do Conselho de Segurança e no modelo “integrista” e dialogante que dá voz dissonante a estados falhados ou párias no seio da Assembleia Geral. A insistência numa fórmula ultrapassada de permissividade e de contenção de danos está espelhada num destes “cinco D” onde face à proliferação de “laboratórios capazes de criar bactérias e vírus com um potencial letal terrível” a solução proposta por Kofi Annan reside num “reforço dos sistemas de saúde pública” e na acção da Organização Mundial de Saúde. O resultado é a ONU num jogo de catching up, preferindo encarar os resultados e minorar as consequências do que as atacar causas. Defendo o pré-requisito democrático do respeito pelos direitos humanos e pelo primado do Direito mas a ONU tem de adoptar, urgentemente, uma fórmula diligente de resposta à segurança internacional.

O Todo-o-terreno político

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Segundo O Expresso, um dos colaboradores de José Socrates terá definido o novo Executivo como "um Governo com tracção às quatro rodas". Optimista, espero que esta voz estivesse a pensar num Range Rover ou num Hummer e não num Kia ou no meu velhinho 70's Land Rover que passa mais tempo na oficina do que na estrada.

Uma das figuras da semana- "The American Fox"


John R. Bolton, novo U.S. Ambassador to the United Nations

"I Don't Do Carrots", The Weekly Standard

Marialva prevaricador

sexta-feira, março 11, 2005

Revista de Imprensa

One year after Madrid, Europe is safer”, EU Observer
Still think Bush was wrong?”, Jeff Jacoby, IHT
Raymond Aron, un penseur pour un XXIe siècle européen », Jean-Pierre Raffarin, Le Figaro
« The neo-conservatives -Back in their pomp”, The Economist
America as a Revolutionary Force”, Michael Vlahos, The Globalist
Get this: American fox meets UN chickens”, Gerard Baker, The Times

O exemplo

Os Okupas parlamentares


A X legislatura conta com três superiores representações da causa okupa: a horta ruralista do MPT, a Kasa de Fado Real e os Verdes, todos eles eleitos por “integrarem” listas eleitorais alheias. Ontem reparei no grupo parlamentar dos Verdes, composto, entre outros, pelo deputado Francisco Lopes.

Vai ser um prazer vê-lo, no já tradicional conjunto casaco/camisola de gola alta, jogar à forca com o novo deputado do PCP Miguel Tiago cuja formação democrática passa por uma expulsão das galerias da A.R. . O tema do jogo vai ser “guerrilheiros revolucionários sul-americanos 1971-73”.

Novas Fronteiras reivindicativas


Houve um momento da História recente de Portugal que tive Ana Gomes em boa consideração. Hoje admito que a sua pose reivindicativa de “via pública” colocam-na na ala do Conselho da Revolução do PS. O único Conselho unipessoal que conheço.
Outros palcos a aguardam. Espero...

Madrid, um ano depois


11-M Posted by Hello
"Our new Guernica", Timothy Garton Ash, The Guardian
A não perder: “72 Horas depois de 11 de Março”, hoje às 15h no Canal História

Vox Populi

Se isto é um abaixo assinado, onde é que eu assino?

Semelhanças

Vejo Luís Felipe Menezes na televisão. Fecho os olhos e consigo ouvir Pedro Santana Lopes. Abro os olhos e confirma-se.

Catching up to Rebelo de Sousa

Ausente da blogosfera por motivos técnicos aproveitei o tempo para a leitura. Aqui vão algumas recomendações:

War and The American Presidency, Arthur M. Schlesinger Jr.

Uma colecção de erráticas deduções do autor do magnífico A Thounsand Days: John F. Kennedy in the White House. Partindo do momento em que um Presidente se decide pela alternativa militar, Schlesinger divaga entre a crítica à estratégia americana no Iraque e a uma “democratização imposta”, retomando o seu curioso conceito de “presidência imperial” (adaptado de Nixon para Bush) e perdendo-se na sua apologia de um reforço da talk radio. Curiosamente paralelo a Gaddis (até no recurso aos mesmos exemplos históricos) , o autor escolhe fundamentar o unilatralismo como uma constante da política externa americana, mas o seu unilateralismo é um eco do passado, uma recordação de Roosevelt e à forma mitigada da Truman Doctrine, adverso ao quotidiano da I Administração Bush.
Mais do os seus dois Pulitzers ou que a sua argumentação histórica, é a figura simpática e o discurso nostálgico de Schlesinger que nos impede de contra-argumentar a cada linha.


Defending Europe: The EU, NATO and The Quest for European Autonomy, Jolyon Howorth e John T.S. Keeler

Curiosa obra da European Studies Series da NYU, composta por superiores artigos por Mark Webber, Terry Terriff entre outros e que procura traçar uma imagem de equilíbrio imperfeito entre uma complementaridade transatlântica a uma vontade europeia de autonomia defensiva. Ainda que relativizando e hiperbolizando a ESDP e minorando os efeitos do alargamento a Leste da NATO, não deixa de ser uma excelente e inesperada obra que não esconde os receios transatlânticos face a uma total autonomia defensiva europeia, sem deixar de referenciar o difícil diálogo intra-europeu face a uma questão, ainda só, relativamente prioritária e da qual Portugal está crónicamente ausente. A ser completado com:
The Military Challenges of Transatlantic Coalitions, Adelphi Papers, James P. Thomas
The European Union and National Defense Policy, Ed. Jolyon Howorth e Anand Menon (excelente)


Vladimir Putin and the Evolution of Russian Foreign Policy, Bobo Lo

A Chantam House costuma editar os seus melhores papers, este não é uma excepção. Talvez a melhor e mais concisa apreciação de Putin no mercado. Não se restringindo a tradicionais temáticas como o epítetos de um czarismo renovado, Lo pauta o seu discurso pela apreciação de uma política externa russa em evolução, ao longo de questões como a agenda geopolítica, a omnipresença do Estado na política externa empresarial e as curiosas opções de segurança interna russas. Criando uma ponte com as heranças imperialista e soviética, Bobo Lo pressente uma recorrente tradição de opacidade da política externa russa e apresenta Putin como o natural interlocutor de um “fenómeno” com paralelos em Estaline e assente numa “genuinely presidential foreign policy” em função do interesse nacional, “universalista” e em busca de coesão na periferia e de sobrevivência oportunista num contexto económico pós-11 de Setembro de Westernization with qualifications (o “choque tecnológico” local). Ainda assim, a ânsia da Chantam House em poupar papel obriga o leitor a recorrer a uma lupa.
(imagem indisponível)

Poderá ser uma óptima obra introdutória a qualquer estudante do processo de integração europeia, mas é, igualmente, um excelente regresso aquela aura europeia de Delors e, ao gabinete resguardado de Mitterrand, aos primeiros passos, a contragosto, de de Gaulle e à voz da rua berlinense de 1989. Qualquer interessado por questões de Política Internacional reconhece a raridade de uma boa obra “doméstica”, este é um desses casos. Ressalvando um lugar para a relação transatlântica, Luís Beirôco traça a construção europeia desde a dúbia geografia até à força endógena de alargamento, passando por Maastricht e aflorando a recente ânsia constitucional. Um europeísmo convicto. Um federalismo envergonhado? Muito a meu gosto.


Uma obra superior que merece uma mais detalhada recensão. Escrita pela bisneta de David Lloyd George, Paris 1919 é muito mais do que a história de das Conferências de Paz de Paris de 1919 ou que a biografia do momento dos Big Three (Wilson, Clemenceau e Lloyd George), é a a história do último fôlego colonialista, da instituição de uma Europa das nacionalidades, balcânizada, da secessão da primazia internacional europeia e do internacionalismo wilsoniano. É a história de um momento de viragem global onde a uma “War to end all wars” se segue a unanimidade ingénua e descordenada da paz. É um obra profundamente reviosinista que não descarta a intimidade dos três principais interveninentes e deixa antever o significado da presença secundária de figuras de um futuro próximo como o historiador “civilizacional” Arnold Toynbee, Ho Chi Minh como o adolescente ajudante de cozinheiro ou o igualmente idealista Lawrence of Arabia. Um livro magistral cujo prefácio de Richard Holbrooke só antecipa o seu selo de qualidade. O equivalente contemporâneo do The Congress of Vienna de Harold Nicolson.
O título da edição britânica é Peacemakers, na edição americana a autora teve de adoptar o título Paris, 1919 para evitar dúbias interpretações ou confusões com o popular revólver Colt Peacemaker. Curiosa coincidência.

quinta-feira, março 10, 2005

Prioridades

Anunciada a intenção do novo executivo em adiar para 2006 os referendos à despenalização da interrupção voluntária da gravidez e ao Tratado de Constituição Europeia, é curioso ver como o Bloco e o PCP se insurgem contra o adiamento do primeiro, chegando Jerónimo de Sousa a advogar como suficiente o unilateralismo de uma decisão parlamentar.
Em defesa do imprescindível tratado constitucional europeu, só se ouviu a voz isolada de Marques Mendes. Compreendo as razões do adiamento da consulta popular, mas não esqueço a sua urgência.
Para comprovar que deixámos de ser o "melhor aluno da Europa", nada melhor do que uma falta de T.P.C.

X Legislatura Posted by Hello

segunda-feira, março 07, 2005

Tabu nº 17645

Por este andar nunca viremos a descobrir se António Cristiano Ronaldo Vitorino é mesmo um Ministro do outro mundo.
É mais um tabu português. Já estamos habituados.

Lembrete

Relembro aos mais esquecidos que a aliança portuguesa com os EUA é uma das linhas constantes do Portugal democrático. A outra é, naturalmente, a Europa e todo o processo de integração europeu. Com um papel de capital relevância na consolidação do regime democrático português - embora isto custe a muito boa gente, ainda hoje, que preferia a URSS, a Albânia ou a China - estes dois vectores estão na base do Portugal actual. Os partidos do arco democrático, repito, do arco democrático - PS, PSD e CDS - nunca os puseram em causa, salvo o período PP com aquele discurso anti-europeísta primário.
Sou da opinião que a ligação com os EUA é de estrutural importância para a já pouca relevância externa de Portugal. Acredito mesmo que Portugal privilegia a Aliança Atlântica (conceito mais lato que NATO) por convicção, e a UE por interesse. Para além disto, a própria condição de equilíbrio ibérico sempre obrigou o país a alianças com a potência marítima do sistema. Foi assim com a Grã Bretanha, é assim com os EUA.
Creio que o PS, enquanto partido responsável, e José Sócrates, como Primeiro ministro que é, não porão em causa nada disto.
Também por isto acredito que Diogo Freitas do Amaral não se manterá muito tempo nas Necessidades.

O retrato


Depois do apoio de Freitas do Amaral ao PSD e a uma maioria absoluta do PS, este é o estado do retrato que chegou hoje ao Largo do Rato.

Começou

Freitas, o MNE

Confesso que estou um pouco surpreendido com tudo isto. Ou talvez não.
Acho perfeitamente natural que o Prof. Freitas do Amaral tenha feito o percurso que tem vindo a fazer. Como alguém dizia há dias, na altura em que se desvinculou do CDS este nada tinha a ver com o partido por si fundado nem tão pouco assentava nas políticas defendidas pelo actual CDS. O PP de Manuel Monteiro teve o seu papel circunstancial, foi útil ao não desaparecimento parlamentar do CDS, mas em nada reflectia os princípios fundadores em que se revia Freitas. Acho mesmo que foi de elementar bom senso abandonar aquele PP.
O percurso seguinte também não me parece ser motivo de tanta polémica. Quantos simpatizantes do CDS-PP não aderiram ao PSD ou ao PS (com quem têm mais semelhanças, diga-se) ou se identificaram mais com eles? Inúmeros. É certo que nenhum com o peso histórico de Freitas, mas este é perfeitamente livre de pensar como quiser. Assim sendo, porque razão se aplaude aqueles que outrora comunistas, maoístas ou socialistas engrossaram com o tempo as fileiras do centro-direita e agora se enxuvalha quem faz um caminho perfeitamente legítimo, mas de sentido contrário?
Além do mais, que diferenças existem de fundo entre o PSD e o PS actualmente? Muito poucas. Daí que apoiar o PS ou o PSD, seja para Freitas do Amaral perfeitamente indiferente.
Um outro ponto, para mim bem mais relevante que tudo isto, é o cargo de Ministro de Estado e dos Estrangeiros que ocupa agora o Prof. Freitas. Devia ser aqui que o CDS - enquanto partido responsável e governamental que pretende continuar a ser - se deveria debruçar: as posições tidas pelo Professor nos últimos anos são demasiado graves para quem é o rosto da diplomacia portuguesa nos próximos tempos. Numa altura de reforço da cooperação transatlântica e de alguns pequenos sucessos no Médio Oriente - feitos pelos EUA e UE - colocar uma pessoa que tem vindo a pôr em causa a aliança portuguesa com os EUA na chefia da diplomacia parece-me um tiro no pé.
Nesta matéria não está em jogo o Governo PS. Está em jogo a própria imagem do país e a sua credibilidade internacional.
Mas não. Salvo uma ou outra voz, o CDS preferiu brincar aos carteiros.

sexta-feira, março 04, 2005

Renovação: ideia 1

Há muito tempo que se fala da necessidade de renovar os partidos políticos, ou mesmo de proceder a algumas alterações ao próprio sistema político. Não sei se é possível fazer alguma coisa pois, como gostava de afirmar o Imperador Claúdio, é preciso que a realidade se torne muito pior antes que possa ser alterada.
Porém, julgo que este é um momento oportuno para discutir o assunto no PSD. O que aconteceu nos últimos tempos pode ser conjuntural (e muito provavelmente será, como são a maioria das coisas na vida política). Mas é grave e obriga a pensar e a apresentar propostas para o futuro.
Pois bem, aqui deixo a primeira de algumas ideias que tenho sobre uma tentativa de renovação do PPD.

1.Um dos problemas identificados no PPD radica no facto de o partido ter perdido em larga medida a ligação à chamada "sociedade civil". Basta ver a muito fraca influência que tem ao nível das universidades, ou da investigação em geral. Por exemplo, na área das relações internacionais o partido pura e simplesmente não existe.
A primeira ideia que aqui deixo consiste na criação de grupos temáticos, constituídos por jovens da área do PSD e ligados às universidades, às empresas e às instituições culturais, que funcionem em ligação com o partido mas absolutamente fora das suas estruturas tradicionais e que incluam quer militantes não enfeudados em "grupinhos", quer independentes.
Ficam dois exemplos:
-em ano de eleições autárquicas seria interessante promover o nascimento de grupos de reflexão com pessoas especializadas nas várias componentes centrais para a edificação de "cidades de bem - estar", como arquitectos, engenheiros, ambientalistas, pessoas do universo da cultura, etc.
-numa era em que as grandes questões são cada vez mais mundiais, ou seja, cada vez menos internas e mais internacionais, julgo importante promover o nascimento de um grupo de reflexão sobre as relações internacionais que discuta e produza documentos nesta área de conhecimento e numa acepção vasta, isto é, incluindo questões como o ambiente, o combate às grandes epidemias, a protecção das minorias, o diálogo entre civilizações, a defesa do património cultural, entre outros exemplos contemporâneos. Isto para além das questões clássicas de política externa e política de defesa.
Aqui fica o princípio do meu pequeno contributo.
Continua nos próximos dias.

Negas

Ultimamente só há negas no PSD.
Será que o silêncio do PS não se deve sobretudo às inúmeras recusas dos ministeriáveis?
Não deixa de ser extraordinário que num país de bufos não haja uma única fuga de informação...

Força nos teclados!

Sei que Roma impõe um certo respeito, mas também não era caso para estarem dois dias sem escrever nada neste blog!

quarta-feira, março 02, 2005

Cuore de 'sta città


AS ROMA

Em Agosto de 2004, no rescaldo da ida de "Il Puma" Emerson para Turim, de forma contenciosa, "Il Re di Roma", Francesco Totti, afirmou categoricamente: "As partidas entre Roma e Juventus vão ser, agora, ainda mais importantes do que os derbys com a Lazio, e mais não quero dizer sobre o assunto... Mas uma coisa posso garantir: não vou cumprimentar Emerson quando estivermos em campo".
Este fim de semana joga-se o novo derby. Sei que ninguém está a perceber porque estou a escrever isto... Porque é inexplicável o futebol em Itália. Porque é indescritível presenciar um derby romano. Porque Itália é única. E Roma de um outro mundo.

terça-feira, março 01, 2005

Lamentável

É no mínimo lamentável este comentário feito por Nuno Sousa no Barnabé.