sexta-feira, setembro 30, 2005
Um amigo ofereceu-me um livro. Não é um, são muitos. Chama-se A Bíblia. Para milhões de pessoas é um livro sagrado e acreditam que foi escrito sob inspiração divina (um truque que, num mercado editorial selvagem, parece garantir a publicação de qualquer livro). Reconheço-lhe algum interesse. Depois de o ler fiquei a saber que entre dar ouvidos a uma serpente ou cumprir ordens dadas por um arbusto em chamas é preferível optar pela segunda hipótese, embora o bom senso e alguns manuais de psiquiatria recomendem o internamento em qualquer um dos casos.
Musiquinha
A música dos Coldplay, uns Radiohead hiperglicémicos, é uma chatice.
Tem aquela grandiloquência oca da Royal Philarmonic Orchestra a tocar Queen. Mais aborrecida do que a música, e não é fácil, é a atitude do líder. Chris Martin é um insípido cheio de boas intenções, duas características francamente reprováveis em estrelas rock. Quando uma sociedade vê nos roqueiros um modelo de comportamento algo está podre e não é, infelizmente, a moralidade destes. Estrelas de rock que agem como grilinhos da consciência não merecem respeito.
Chris Martin, se entretanto não agonizar a ouvir a sua voz trémula de jovem adulto deprimido, há-de morrer no sossego do lar aos 95 anos na companhia dos que lhe são mais queridos e do Bono. Ou, então, mártir do terceiro mundo, contrairá uma variante simpática de malária de tanto pensar na falta de água potável em África.
Tem aquela grandiloquência oca da Royal Philarmonic Orchestra a tocar Queen. Mais aborrecida do que a música, e não é fácil, é a atitude do líder. Chris Martin é um insípido cheio de boas intenções, duas características francamente reprováveis em estrelas rock. Quando uma sociedade vê nos roqueiros um modelo de comportamento algo está podre e não é, infelizmente, a moralidade destes. Estrelas de rock que agem como grilinhos da consciência não merecem respeito.
Chris Martin, se entretanto não agonizar a ouvir a sua voz trémula de jovem adulto deprimido, há-de morrer no sossego do lar aos 95 anos na companhia dos que lhe são mais queridos e do Bono. Ou, então, mártir do terceiro mundo, contrairá uma variante simpática de malária de tanto pensar na falta de água potável em África.
Não se iludam os incautos. É muito improvável que a palavra overdose venha a constar do obituário do jovem cançonetista. Nada podemos esperar de gente que tem uma banda mas que quando faz referência a drogas é para exigir a Bush o envio de aspirinas para o Burundi.
Em Portugal, todos andam de pantufas
Continuando…
Num país não-porreiro:
Cada dia tem um sabor mental. Este sabor fica encrostado na cabeça o dia todo. Como aquelas lapas. Viver um dado dia sem este sabor é uma impossibilidade mental (é por isso que os feriados são tão destabilizadores). A Segunda sabe a dever. A Terça sabe a embalar. Quarta… não sabe a nada (é uma trincheira de tédio). A Quinta é antecipação. Antecipação do quê? De recomeço. Sexta é recomeço. Sexta é liberdade. Sexta é o retomar do privado depois de uma semana pública. Sexta-feira é o retomar do nosso espaço privado depois do trabalho público. Sexta é colo. Sexta é pantufas.
No país do porreirismo (vulgo: Portugal):
Aqui, Sexta é todos os dias. Somos um país de seres privados. Os portugueses trabalham de pantufas. Os portugueses não conseguem enfrentar o trabalho enquanto seres públicos. Sapatos é coisa que não têm. Só pantufas. Pior: trabalham como "porreiros" e depois exigem direitos de "pulhas".
Caros políticos,
Tenham a coragem de dizer que os portugueses têm de deixar as pantufas em casa.
[encomenda de Luísa Cabral Menezes]
Num país não-porreiro:
Cada dia tem um sabor mental. Este sabor fica encrostado na cabeça o dia todo. Como aquelas lapas. Viver um dado dia sem este sabor é uma impossibilidade mental (é por isso que os feriados são tão destabilizadores). A Segunda sabe a dever. A Terça sabe a embalar. Quarta… não sabe a nada (é uma trincheira de tédio). A Quinta é antecipação. Antecipação do quê? De recomeço. Sexta é recomeço. Sexta é liberdade. Sexta é o retomar do privado depois de uma semana pública. Sexta-feira é o retomar do nosso espaço privado depois do trabalho público. Sexta é colo. Sexta é pantufas.
No país do porreirismo (vulgo: Portugal):
Aqui, Sexta é todos os dias. Somos um país de seres privados. Os portugueses trabalham de pantufas. Os portugueses não conseguem enfrentar o trabalho enquanto seres públicos. Sapatos é coisa que não têm. Só pantufas. Pior: trabalham como "porreiros" e depois exigem direitos de "pulhas".
Caros políticos,
Tenham a coragem de dizer que os portugueses têm de deixar as pantufas em casa.
[encomenda de Luísa Cabral Menezes]
quinta-feira, setembro 29, 2005
Sugestão de leitura: How the Catholic Church built Western civilization (2005)
Há livros que todos deveriam ler para que preconceitos, infelizmente, há muito estabelecidos, desapareçam. Este é um deles. Escrito num inglês simples, claro e rico, é de fácil leitura, sendo, além disso, duma profundidade interessante e duma abordagem a que os leitores, certamente, não estão habituados. A complementar o conteúdo de excelência, a forma, pela composição gráfica de eleição, é de realçar, tornando, ainda mais apetecível, este estudo.
Neste livro, de 280 páginas, o autor, Thomas E. Woods, Jr, Ph.D, professor americano de história, retrata o papel essencial que a Igreja Católica teve na formação da civilização ocidental, em campos vários, desde a ciência, economia, educação, passando pelo direito, arte, relações internacionais e, como seria previsível, pela obra assistencial e a moral.
Um livro de grande mérito, a não perder, para que o papel crucial que a Igreja teve e tem tido, há dois mil anos, na construção da nossa sociedade, seja, na realidade, reconhecido e conhecido. A bem da verdade, este livro é de imprescindível leitura.
Neste livro, de 280 páginas, o autor, Thomas E. Woods, Jr, Ph.D, professor americano de história, retrata o papel essencial que a Igreja Católica teve na formação da civilização ocidental, em campos vários, desde a ciência, economia, educação, passando pelo direito, arte, relações internacionais e, como seria previsível, pela obra assistencial e a moral.
Um livro de grande mérito, a não perder, para que o papel crucial que a Igreja teve e tem tido, há dois mil anos, na construção da nossa sociedade, seja, na realidade, reconhecido e conhecido. A bem da verdade, este livro é de imprescindível leitura.
Eleições
Numa democracia com 30 anos as eleições tendem a tornar-se uma maçadora rotina escandinava. Mantemos algumas peculiaridades como os comícios, esses arraiais de demagogia e courato, mas não os olhamos da mesma maneira depois de descobrirmos que aquilo é uma encenação fabricada por engenheiros de som, o Edson Athayde e o agente da Ágata.
Restam-me, para consolo, as segundas-feiras pós-eleitorais com as ruas pejadas de panfletos e programas eleitorais, confetti e promessas. Depois do apocalipse da campanha é com melancolia que vejo o sorriso anacrónico dos candidatos derrotados a desaparecer sem remissão sob um prosaico cartaz da Moviflor em que se anunciam estantes a 119 euros.
quarta-feira, setembro 28, 2005
A Globalização depende dos Estados
1.Normalmente, a Globalização é apresentada como uma peça estrutural única e monolítica. Como se fosse um Ser antropomorfizado. Ora, a Globalização não existe enquanto Estrutura. E não é a matrona de carnes fétidas que conspurca o mundo. E Também não é a donzela virginal que santifica os locais por onde passa. Não é o inferno na terra (caricatura neo-marxista). Não é a salvação do Homem (sonho de alguns liberais excepcionalistas).
2. A Globalização não é uma mancha anónima que domina a vontade dos Estados. Existe Globalização porque alguns Estados assim pretendem. A Globalização não tem substância como o Estado. A Globalização é um processo – cultural, económico e ideológico - que ocorre entre Estados. E os Estados escolhem conscientemente participar na Globalização. E, atenção, poderão vir a recusá-la conscientemente. Não há mão invisível. Só há mão de ferro dos estados. E essa mão pode estar aberta... ou fechada em relação ao mundo exterior.
3. É bom não esquecer: já existiu uma Globalização. A primeira. A que vivemos é a segunda. Esse primeiro mundo cosmopolita acabou em 1914. Melhor: acabou quando o nacionalismo e o proteccionismo começaram a ser soluções conscientes dos estados. Hoje, a Índia e a China, por exemplo, querem voluntariamente a dita Globalização. Mas há quarenta anos recusavam a vitalidade do liberalismo económico que agora abraçam. Nada é linear na História. Tudo depende da vontade política dos homens.
A Globalização é um processo positivo para a ordem mundial? Sem dúvida. Mas temos de ter a consciência que não se sustenta por si só. Precisa de protecção política e estratégica das democracias liberais. A Globalização é uma gigantesca mas frágil peça de relojoaria.
4. Seria bom que os europeus acordassem. Para quê? Para apoiar Washington e Londres na tarefa de conferir solidez política e estratégica a este mundo global. Não há Liberdade - e a globalização é liberdade- sem Força. A Liberdade precisa de Poder. Sem Hobbes, não há Liberalismo.
5. Mais: seria bom que os europeus nem sequer pensassem em regressar ao proteccionismo. De uma coisa tenho a certeza: o proteccionismo costuma acasalar com o nacionalismo. E dessa cópula reaccionária costumam nascer uns tipos que gostam de andar aos tiros. Não podemos cometer o mesmo erro dos europeus do início do século XX, isto é, não podemos pensar que chegamos a um fim de história.
6. Portugal não precisa do resto da Europa para despertar para o mundo global.
2. A Globalização não é uma mancha anónima que domina a vontade dos Estados. Existe Globalização porque alguns Estados assim pretendem. A Globalização não tem substância como o Estado. A Globalização é um processo – cultural, económico e ideológico - que ocorre entre Estados. E os Estados escolhem conscientemente participar na Globalização. E, atenção, poderão vir a recusá-la conscientemente. Não há mão invisível. Só há mão de ferro dos estados. E essa mão pode estar aberta... ou fechada em relação ao mundo exterior.
3. É bom não esquecer: já existiu uma Globalização. A primeira. A que vivemos é a segunda. Esse primeiro mundo cosmopolita acabou em 1914. Melhor: acabou quando o nacionalismo e o proteccionismo começaram a ser soluções conscientes dos estados. Hoje, a Índia e a China, por exemplo, querem voluntariamente a dita Globalização. Mas há quarenta anos recusavam a vitalidade do liberalismo económico que agora abraçam. Nada é linear na História. Tudo depende da vontade política dos homens.
A Globalização é um processo positivo para a ordem mundial? Sem dúvida. Mas temos de ter a consciência que não se sustenta por si só. Precisa de protecção política e estratégica das democracias liberais. A Globalização é uma gigantesca mas frágil peça de relojoaria.
4. Seria bom que os europeus acordassem. Para quê? Para apoiar Washington e Londres na tarefa de conferir solidez política e estratégica a este mundo global. Não há Liberdade - e a globalização é liberdade- sem Força. A Liberdade precisa de Poder. Sem Hobbes, não há Liberalismo.
5. Mais: seria bom que os europeus nem sequer pensassem em regressar ao proteccionismo. De uma coisa tenho a certeza: o proteccionismo costuma acasalar com o nacionalismo. E dessa cópula reaccionária costumam nascer uns tipos que gostam de andar aos tiros. Não podemos cometer o mesmo erro dos europeus do início do século XX, isto é, não podemos pensar que chegamos a um fim de história.
6. Portugal não precisa do resto da Europa para despertar para o mundo global.
Amanhã na Atlântico, entre outras coisas...
Para que Serve um Presidente?, Rui Ramos
O Retrato de Portugal, Bernardo Pires de Lima
O Capricho de Tomás, Joaquim Aguiar
Israel: Cinco Anos Depois, José pedro Zúquete
ONU: Começar pelo Princípio, Manuela Franco
Tocqueville: O Último Liberal Clássico e o Primeiro Liberal Moderno, João Marques de Almeida
A Impunidade Angélica do Marxismo, Henrique Raposo
O Hospital e a Lei Moral, Fernando Gil
O Retrato de Portugal, Bernardo Pires de Lima
O Capricho de Tomás, Joaquim Aguiar
Israel: Cinco Anos Depois, José pedro Zúquete
ONU: Começar pelo Princípio, Manuela Franco
Tocqueville: O Último Liberal Clássico e o Primeiro Liberal Moderno, João Marques de Almeida
A Impunidade Angélica do Marxismo, Henrique Raposo
O Hospital e a Lei Moral, Fernando Gil
terça-feira, setembro 27, 2005
The American Interest
Resultado de uma cisão no interior da The National Interest, já aí está The American Interest.
A seguir com toda a atenção.
segunda-feira, setembro 26, 2005
Arafat leu Weber?
1.Só haverá solução para o conflito entre Israel e a Palestina quando a legítima Autoridade Palestiniana destruir ou domesticar o ilegítimo Hamas. Enquanto não existir coragem para se falar disto, nada será feito. Qualquer Estado assenta numa premissa: monopólio exclusivo da violência. Estado X tem autoridade interna e externa devido a esse monopólio.
2.Arafat nunca se preocupou com esta premissa (Mas aposto que leu Weber...). Nunca quis ser um estadista. Até morrer, preferiu sempre vestir a pele de herói romântico. Resultado: nunca aproveitou o seu prestígio semi-divino para construir uma ordem interna clara, que legitimasse uma voz externa única e inequívoca. Nunca teve a coragem dos homens de estado. Nunca quis rasgar a sua aura de libertador. Nunca quis enfrentar os seus. Mesmo quando estes seus eram radicais como Hamas. Consequência: Mazen herdou uma Palestina fragmentada.
3.A AP pode derrotar o Hamas de duas formas: (1) militarmente ou (2) judicialmente (prender os seus líderes; o que levaria à primeira hipótese, mais cedo ou mais tarde). Acomodar o Hamas democraticamente seria uma terceira hipótese, mas isso só será possível quando o Hamas entregar as armas (acto que implica, em primeiro lugar, a consumação da 1ª ou a 2ª hipótese). Há vontade política para isto? Tem a AP coragem para fazer Política?
Negociar um acordo com Israel implica o controlo absoluto da Palestina por parte da AP. Sem um soberano do outro lado, Israel nunca aceitará um acordo perene.
4. Todos os Estados conhecidos têm por base o mesmo: violência no momento da formação. Os estados – o da Palestina não é excepção - fazem-se com guerra. A violência é necessária para criar a Ordem na qual assentam as Constituições e as Eleições.
Não gostamos nada de ouvir estas verdades históricas. Sentamo-nos no nosso sofá e gritamos isto e aquilo, desconhecendo por completo a nossa própria história. A Paz, esta que vivemos no Ocidente, tem por base a guerra. Para se chegar a Westfália (1648), houve um século e meio de sangue. Grosso modo, de 1517 até 1648, a Europa andou a praticar tiro ao alvo.
5. Não gostam de ler e enfrentar isto? Então, inventem outro mundo, um que seja habitado por anjos. Mas só um aviso: outros já tentaram inventar esse mundo angelical. E sabem o que descobriram? Que os santos matam ainda mais do que os homens.
2.Arafat nunca se preocupou com esta premissa (Mas aposto que leu Weber...). Nunca quis ser um estadista. Até morrer, preferiu sempre vestir a pele de herói romântico. Resultado: nunca aproveitou o seu prestígio semi-divino para construir uma ordem interna clara, que legitimasse uma voz externa única e inequívoca. Nunca teve a coragem dos homens de estado. Nunca quis rasgar a sua aura de libertador. Nunca quis enfrentar os seus. Mesmo quando estes seus eram radicais como Hamas. Consequência: Mazen herdou uma Palestina fragmentada.
3.A AP pode derrotar o Hamas de duas formas: (1) militarmente ou (2) judicialmente (prender os seus líderes; o que levaria à primeira hipótese, mais cedo ou mais tarde). Acomodar o Hamas democraticamente seria uma terceira hipótese, mas isso só será possível quando o Hamas entregar as armas (acto que implica, em primeiro lugar, a consumação da 1ª ou a 2ª hipótese). Há vontade política para isto? Tem a AP coragem para fazer Política?
Negociar um acordo com Israel implica o controlo absoluto da Palestina por parte da AP. Sem um soberano do outro lado, Israel nunca aceitará um acordo perene.
4. Todos os Estados conhecidos têm por base o mesmo: violência no momento da formação. Os estados – o da Palestina não é excepção - fazem-se com guerra. A violência é necessária para criar a Ordem na qual assentam as Constituições e as Eleições.
Não gostamos nada de ouvir estas verdades históricas. Sentamo-nos no nosso sofá e gritamos isto e aquilo, desconhecendo por completo a nossa própria história. A Paz, esta que vivemos no Ocidente, tem por base a guerra. Para se chegar a Westfália (1648), houve um século e meio de sangue. Grosso modo, de 1517 até 1648, a Europa andou a praticar tiro ao alvo.
5. Não gostam de ler e enfrentar isto? Então, inventem outro mundo, um que seja habitado por anjos. Mas só um aviso: outros já tentaram inventar esse mundo angelical. E sabem o que descobriram? Que os santos matam ainda mais do que os homens.
Pérolas de Lisboa ao Domingo
Falar de Lisboa ao Domingo é coisa de amor/ódio.
Amor porque há poucas como ela. Por algumas das razões que o David aqui foca, e por outras que o Eduardo não nos deixa esquecer.
Ódio, porque Lisboa ao Domingo está deserta. Pelo menos em oferta. Não se percebe como é que se pretende que se viva a cidade se, por exemplo, no Chiado quase todos os cafés e esplanadas estão fechados. A música de rua é rara, os alfarrabistas são coisa de filmes franceses e as praças revelam uma decadência desesperante. As feiras de discos são desejos proibidos que encontram na gloriosa loja do Sr. Vítor, a Discolecção, um oásis a preservar.
Aqui compra-se e vende-se. Ouve-se e conversa-se. Mexe-se e remexe-se.
Trouxe, da última vez, Hymn of the Seventh Galaxy (Chick Corea), Ao Vivo (Censurados), In a Silent Way (Miles Davis), Darkness on the Edge of Town (Bruce Springsteen), Sandinista (Clash) e um single raríssimo de 1982, da primeira banda de João Cabeleira dos Xutos, os Vodka Laranja, de seu nome O Papel.
Tudo em vinil, claro!
Amor porque há poucas como ela. Por algumas das razões que o David aqui foca, e por outras que o Eduardo não nos deixa esquecer.
Ódio, porque Lisboa ao Domingo está deserta. Pelo menos em oferta. Não se percebe como é que se pretende que se viva a cidade se, por exemplo, no Chiado quase todos os cafés e esplanadas estão fechados. A música de rua é rara, os alfarrabistas são coisa de filmes franceses e as praças revelam uma decadência desesperante. As feiras de discos são desejos proibidos que encontram na gloriosa loja do Sr. Vítor, a Discolecção, um oásis a preservar.
Aqui compra-se e vende-se. Ouve-se e conversa-se. Mexe-se e remexe-se.
Trouxe, da última vez, Hymn of the Seventh Galaxy (Chick Corea), Ao Vivo (Censurados), In a Silent Way (Miles Davis), Darkness on the Edge of Town (Bruce Springsteen), Sandinista (Clash) e um single raríssimo de 1982, da primeira banda de João Cabeleira dos Xutos, os Vodka Laranja, de seu nome O Papel.
Tudo em vinil, claro!
domingo, setembro 25, 2005
Leitores
As comunidades de leitores representam um grande avanço no nosso panorama cultural. É a deselitização da cultura. O lançamento de livros na Fnac do Chiado já era. Atentem no III Encontro de Leitores de Marco de Canavezes. Este tem uma particularidade: só se discutem obras que nenhum dos participantes leu.
Na primeira noite discutiu-se a monumental obra de Proust, Em Busca do Tempo Perdido. O sr. Rodrigo Ventura, empregado de mesa, definiu-a como “obra maior da modernidade em que a narrativa é estruturada de acordo com as sensações subjectivas, não lineares, do autor” lembrando que tudo começa com “a madalena embebida no chá”, referência sempre muito aplaudida por quem nunca leu Proust. “Paneleirices”, contrapôs a Dona Ermelinda Sousa, proprietária de um pronto-a-vestir no Cartaxo.
Moderada por um dos grandes vultos da nossa cultura, que aceitou participar apenas como vulto e com a voz distorcida, a sessão inicial teve outras surpresas. A maior foi mesmo a exegese estruturalista de um professor de electrotecnia em que este tentou provar que O Código da Vinci e o Código da Estrada foram escritos pela mesma pessoa ou por duas pessoas diferentes mas com o mesmo QI. Acabou por afirmar, para espanto dos participantes, que a regra geral da prioridade se baseia nos escritos de um frade beneditino do séc. XV religiosamente guardados, desde então, na moldura de um quadro de Andrea del Castagno.
Após várias horas de discussão chegou-se à conclusão que o livro mais não lido de todos os tempos era o Ulisses, seguido de perto pelo Dom Quixote. Filomena Coxa, figura emblemática da vida nocturna de Corroios, foi a mais lapidar ao considerar que nunca tivera tanto prazer como quando não leu o famoso monólogo final de Molly Bloom. Disse também que só gostava de Saramago a partir da segunda garrafa de vodka, o que motivou a risota distorcida do moderador.
A boa disposição terminou quando José Correia, engenheiro aeronáutico, notou que a importância do episódio dos moinhos de vento no Quixote não é tão grande como o senso comum quer fazer crer e que a dicotomia Alonso Quijano (quem?)/idealista e Sancho Pança/materialista deriva de uma leitura do romantismo alemão. Alguns participantes levantaram-se indignados e ameaçaram abandonar a sessão, o que foi evitado pela pronta intervenção do moderador que obrigou José Correia a admitir que lera o livro, embora há muitos anos e numa péssima tradução.
Na primeira noite discutiu-se a monumental obra de Proust, Em Busca do Tempo Perdido. O sr. Rodrigo Ventura, empregado de mesa, definiu-a como “obra maior da modernidade em que a narrativa é estruturada de acordo com as sensações subjectivas, não lineares, do autor” lembrando que tudo começa com “a madalena embebida no chá”, referência sempre muito aplaudida por quem nunca leu Proust. “Paneleirices”, contrapôs a Dona Ermelinda Sousa, proprietária de um pronto-a-vestir no Cartaxo.
Moderada por um dos grandes vultos da nossa cultura, que aceitou participar apenas como vulto e com a voz distorcida, a sessão inicial teve outras surpresas. A maior foi mesmo a exegese estruturalista de um professor de electrotecnia em que este tentou provar que O Código da Vinci e o Código da Estrada foram escritos pela mesma pessoa ou por duas pessoas diferentes mas com o mesmo QI. Acabou por afirmar, para espanto dos participantes, que a regra geral da prioridade se baseia nos escritos de um frade beneditino do séc. XV religiosamente guardados, desde então, na moldura de um quadro de Andrea del Castagno.
Após várias horas de discussão chegou-se à conclusão que o livro mais não lido de todos os tempos era o Ulisses, seguido de perto pelo Dom Quixote. Filomena Coxa, figura emblemática da vida nocturna de Corroios, foi a mais lapidar ao considerar que nunca tivera tanto prazer como quando não leu o famoso monólogo final de Molly Bloom. Disse também que só gostava de Saramago a partir da segunda garrafa de vodka, o que motivou a risota distorcida do moderador.
A boa disposição terminou quando José Correia, engenheiro aeronáutico, notou que a importância do episódio dos moinhos de vento no Quixote não é tão grande como o senso comum quer fazer crer e que a dicotomia Alonso Quijano (quem?)/idealista e Sancho Pança/materialista deriva de uma leitura do romantismo alemão. Alguns participantes levantaram-se indignados e ameaçaram abandonar a sessão, o que foi evitado pela pronta intervenção do moderador que obrigou José Correia a admitir que lera o livro, embora há muitos anos e numa péssima tradução.
Finda a sessão houve ainda tempo para se fazer uma sondagem sobre quem deverá ser o próximo Nobel da Literatura. O resultado foi um empate entre Philip Roth e Mario Vargas Llosa. José António Saraiva, Escritor Homossexual de País do Terceiro Mundo e Mulher Muçulmana de Burka/Chinesa Dissidente/Africana Sem Clitóris foram outros autores mencionados.
Segurança
Fear not, ó inimigos do multiculturalismo!
A directora de marketing da empresa que explora o centro comercial Amoreiras contribuiu para sossegar os espíritos mais inquietos: “Nós tínhamos pessoas de cor, é chato dizer isto, e eu não tenho nada contra as pessoas de cor. E deixámos de ter(...)Portanto, esta quebra de três por cento até foi bem vinda.” Isto está no Público de hoje, página 3. Na mesma página, a modelo Nayma, que não encaixa no modelo tradicional de pessoa de cor, afirma que não se trata de “centro comercial elitista”.
É claro, sem ironias, que a questão não são as pessoas de cor. A questão são os pretos. A Nayma, o Oceano, o Obikwelu, a Sara Tavares não são pretos. São pessoas de cor muito bem vindas às Amoreiras. Os pretos são os da Cova da Moura. Os pretos, mesmo os que são brancos, são os pobres. As massas que ao fim-de-semana enxameiam o Colombo e que, felizmente, deixaram de poluir as Amoreiras.
Longe de mim qualquer intenção demagógica. Maria Galvão Sousa, assim se chama a senhora, está a ser o mais honesta possível. Verbalizou o que nós pensamos e sentimos. O que pensam e sentem as pessoas que frequentam o centro. O que pensam e sentem os seus patrões.
Que os pretos, mesmo os que são brancos, façam confusão no Colombo, que andem aos tiros nas barracas e nos guetos e nas discotecas de música africana, não incomoda ninguém. Enquanto os pretos, mesmo os que são brancos, se concentrarem no centro comercial da Mouraria, enquanto os brancos, mesmo os que são pretos, fizerem as compras sossegados nas Amoreiras, podemos todos dormir descansados. Enquanto estes dois mundos estiverem separados, enquanto o nosso mundo não for contaminado, existirá um arremedo de ordem que nos tranquiliza, como se tudo estivesse no devido lugar. A insegurança não se mede pelo número de assaltos, pelo número de vítimas. Mede-se pela sensação difícil de quantificar que a nossa cápsula é permeável, que o nosso mundo tem brechas por onde podem entrar pedaços de outro mundo que, não sendo possível eliminar, preferimos ignorar.
A senhora tem razão. Ela, como grande parte da população portuguesa, não tem nada contra os pretos, mesmo os que são brancos. Não os querem é por perto.
sexta-feira, setembro 23, 2005
Labour Conference 2005
Entre 25 e 29 de Setembro, terá lugar em Brighton, a Labour Conference 2005.
Segundo alguns analistas ela será dominada pela questão da liderança: Blair ficará até fim da legislatura ou manter-se-á um suposto acordo entre ele e Gordon Brown, que colocava este na liderança a meio deste mandato?
A seguir com atenção.
Segundo alguns analistas ela será dominada pela questão da liderança: Blair ficará até fim da legislatura ou manter-se-á um suposto acordo entre ele e Gordon Brown, que colocava este na liderança a meio deste mandato?
A seguir com atenção.
quinta-feira, setembro 22, 2005
Manel e Zé Maria: Novos Sinédrios
Eles aí estão! Depois do Bruno e do David, eis que o Zé Maria e o Manel se tornam Sinédrios.
São dois Amigos.
O Manel como podem ver bem, largou tudo o que tinha em Bombaim - inclusive o seu imponente camelo - para regressar a casa. Mas como isto não lembra a ninguém, está de partida para Inglaterra para continuar a estudar aquilo que mais gosta: relações internacionais. Roma é uma paixão comum, que jamais será esquecida.
O Zé Maria é da família. Ou quase. É um conservador. De pose aristocrática, como se constata, conhece a arte dos vinhos como ninguém. Homem de "loucuras", acaba de aprontar mais uma: vai fazer um doutoramento em sociologia a partir de Outubro, numa das universidades mais canhotas portuguesas. Boa sorte meu amigo! É o que te posso desejar.
Sejam muito bem-vindos, meus caros Sinédrios!
quarta-feira, setembro 21, 2005
Portugal e as Velhas Tendências
Pegando nos argumentos do Francisco só queria acrescentar duas ou três coisas.
Primeiro, Merkel não merece ser chanceler. Quem parte para uma eleição com uma vantagem de dez pontos, a semana e meia da mesma, e a perde por erros crassos de estratégia política não merece ganhar eleições. Assustar um eleitorado que seria conquistado apenas pelos erros de Schroeder, não é táctica política para quem almeja a liderança do maior país da Europa.
Dito isto, e porque existe uma crise social e económica na UE, os pequenos partidos vão crescendo. Mas, ao contrário do que diz o Francisco, nem todos são radicais de esquerda e direita (farinha do mesmo saco) que acomodam os insatisfeitos e descamisados da sociedade. Alguns são "radicais" porque são liberais, como é o caso do FDP alemão que chegou aos 9,8%.
Ser-se liberal numa Europa envelhecida (digo isto sem desprimor para a UE, que considero uma das maiores conquistas políticas de sempre) e demasiado estatizada é, indiscutivelmente, uma posição "revolucionária", desbloqueadora de impasses, anti-reaccionária.
Em terceiro lugar, o caso português acompanha as tendências Outono-Inverno, como não poderia deixar de ser. As franjas crescem (BE, PCP), o Bloco Central solidifica-se e a democracia-cristã reduz-se à sua insignificância. Este é o quadro partidário português. Mas, tal como na Alemanha, existem de certeza liberais políticos que querem ver traduzidas as suas ideias em orientações partidárias claras.
Eles que apareçam. Que dêem a cara. Que se mexam.
Primeiro, Merkel não merece ser chanceler. Quem parte para uma eleição com uma vantagem de dez pontos, a semana e meia da mesma, e a perde por erros crassos de estratégia política não merece ganhar eleições. Assustar um eleitorado que seria conquistado apenas pelos erros de Schroeder, não é táctica política para quem almeja a liderança do maior país da Europa.
Dito isto, e porque existe uma crise social e económica na UE, os pequenos partidos vão crescendo. Mas, ao contrário do que diz o Francisco, nem todos são radicais de esquerda e direita (farinha do mesmo saco) que acomodam os insatisfeitos e descamisados da sociedade. Alguns são "radicais" porque são liberais, como é o caso do FDP alemão que chegou aos 9,8%.
Ser-se liberal numa Europa envelhecida (digo isto sem desprimor para a UE, que considero uma das maiores conquistas políticas de sempre) e demasiado estatizada é, indiscutivelmente, uma posição "revolucionária", desbloqueadora de impasses, anti-reaccionária.
Em terceiro lugar, o caso português acompanha as tendências Outono-Inverno, como não poderia deixar de ser. As franjas crescem (BE, PCP), o Bloco Central solidifica-se e a democracia-cristã reduz-se à sua insignificância. Este é o quadro partidário português. Mas, tal como na Alemanha, existem de certeza liberais políticos que querem ver traduzidas as suas ideias em orientações partidárias claras.
Eles que apareçam. Que dêem a cara. Que se mexam.
terça-feira, setembro 20, 2005
Coisas que enervam:
(Post de acentuada estrutura e disposição pós-moderna... há primeira vez para tudo):
1.Viver numa Europa regida por um Marxismo regurgitado (vulgo: politicamente correcto).
2.As pessoas pensarem que Liberalismo é coisa de rico (escrever num blog liberal não é equivalente a ter uma ilha nas Caraíbas).
3.As pessoas não perceberem que só há marxistas ricos e gordamente burgueses. O Marxismo foi (é) uma dor de barriga de um grupo de burgueses com muito tempo livre.
4.Viver numa Europa que mistura um requentado de conservadorismo de paróquia com uma social-democracia decrépita.
5.Viver numa Europa que tem não tem jornalistas no exterior. Os enviados especiais (em Washington, Bali, Aceh, etc) não são repórteres mas sim activistas políticos, que opinam descaradamente, que enviesam a realidade em nome de uma actualidade politicamente correcta (leia-se: marxismo envergonhado).
6.Viver numa Europa que nada percebe do mundo global. Pior: viver numa Europa que despreza o mundo global. Somos patinhos no laguinho de Bruxelas. E as espingardas estão a começar a reunir-se lá fora. No Chile, no Brasil, na Austrália. É só escolher. Toda a gente tem a mira nos patinhos europeus que brincam às reformas e às greves.
7.As pessoas saberem quem é Paulo Coelho, quando não sabem quem foi Nelson Rodrigues.
8.As pessoas não perceberem que podemos tomar a decisão de não conduzir por meras razões cívicas e não por supostos traumas emocionais.
9.Não saber quando é que Freud, Rousseau e Marx desaparecem da minha civilização.
1.Viver numa Europa regida por um Marxismo regurgitado (vulgo: politicamente correcto).
2.As pessoas pensarem que Liberalismo é coisa de rico (escrever num blog liberal não é equivalente a ter uma ilha nas Caraíbas).
3.As pessoas não perceberem que só há marxistas ricos e gordamente burgueses. O Marxismo foi (é) uma dor de barriga de um grupo de burgueses com muito tempo livre.
4.Viver numa Europa que mistura um requentado de conservadorismo de paróquia com uma social-democracia decrépita.
5.Viver numa Europa que tem não tem jornalistas no exterior. Os enviados especiais (em Washington, Bali, Aceh, etc) não são repórteres mas sim activistas políticos, que opinam descaradamente, que enviesam a realidade em nome de uma actualidade politicamente correcta (leia-se: marxismo envergonhado).
6.Viver numa Europa que nada percebe do mundo global. Pior: viver numa Europa que despreza o mundo global. Somos patinhos no laguinho de Bruxelas. E as espingardas estão a começar a reunir-se lá fora. No Chile, no Brasil, na Austrália. É só escolher. Toda a gente tem a mira nos patinhos europeus que brincam às reformas e às greves.
7.As pessoas saberem quem é Paulo Coelho, quando não sabem quem foi Nelson Rodrigues.
8.As pessoas não perceberem que podemos tomar a decisão de não conduzir por meras razões cívicas e não por supostos traumas emocionais.
9.Não saber quando é que Freud, Rousseau e Marx desaparecem da minha civilização.
democracia
democracia em Portugal deve ser escrita com minúscula e pode resumir-se a isto: a escolha cíclica do menos inepto dos candidatos apoiados pelos maiores partidos.
Felizmente, e apesar de tudo, somos incorrigíveis
«Em todas as épocas, os soberanos e os estadistas podem ser cegos nos seus raciocínios relativos aos eventos que presenciam».
David Hume
David Hume
segunda-feira, setembro 19, 2005
A Direita e a Cultura
“Noites à Direita” tem o prazer de o/a convidar para participar no debate “A Direita e a Cultura”, pelas 20h30 do próximo dia 22 de Setembro, no Jardim de Inverno do Teatro Municipal de S. Luiz, em Lisboa.
António Mega Ferreira é, desta vez o Agente Provocador de uma conversa sem sentido único mas virada à direita.
O Director do Canal 2: Manuel Falcão vai tentar moderar as vozes de Pedro Mexia, Rui Ramos e de todos os outros convidados presentes, incluindo a sua.
Contamos consigo.
(Se quiser ser contactado para futuras iniciativas das “Noites à Direita” por favor envie o seu contacto para e endereço direita.liberal@portugalmail.pt ou deixe o seu comentário em http://www.direitaliberal.blogspot.com/)
António Mega Ferreira é, desta vez o Agente Provocador de uma conversa sem sentido único mas virada à direita.
O Director do Canal 2: Manuel Falcão vai tentar moderar as vozes de Pedro Mexia, Rui Ramos e de todos os outros convidados presentes, incluindo a sua.
Contamos consigo.
Os promotores: António Pires de Lima, Filipa Correia Pinto, Leonardo Mathias, Luciano Amaral, Manuel Falcão, Paulo Pinto Mascarenhas, Pedro Lomba e Rui Ramos.
(Se quiser ser contactado para futuras iniciativas das “Noites à Direita” por favor envie o seu contacto para e endereço direita.liberal@portugalmail.pt ou deixe o seu comentário em http://www.direitaliberal.blogspot.com/)
Nova aquisição: David Castaño
A campanha de contratações do Sinédrio tem sido proveitosa. Depois das farpas de Bruno Vieira, chegaram as farpas de David Castaño. Também é oriundo das catacumbas da História. Além disso, podemos considerá-lo como jovem-empresário-a-viver-as-agruras-dum-país-que-detesta-empresários.
David é do clube do Francisco e do Bruno: recém-casado. Casou em Julho último com a Maria. No casamento, entre gins tónicos… e gins, alguém definiu na perfeição o David Mourão Ferreira Castaño: “O David é um senhor”. E é isso mesmo. Ponderado. Calmo. Sem a impulsividade ideológica que martiriza outras almas. Mea culpa. Mas, ao contrário do que reza a lenda, não tem “uma imparcialidade olímpica”... É liberal. 100%, sem saudosismos das velhas direitas. É liberal sem papas na língua. Como se pode ver pelo seu post de abertura.
David é do clube do Francisco e do Bruno: recém-casado. Casou em Julho último com a Maria. No casamento, entre gins tónicos… e gins, alguém definiu na perfeição o David Mourão Ferreira Castaño: “O David é um senhor”. E é isso mesmo. Ponderado. Calmo. Sem a impulsividade ideológica que martiriza outras almas. Mea culpa. Mas, ao contrário do que reza a lenda, não tem “uma imparcialidade olímpica”... É liberal. 100%, sem saudosismos das velhas direitas. É liberal sem papas na língua. Como se pode ver pelo seu post de abertura.
domingo, setembro 18, 2005
Fazer por Lisboa (II)
Chamar arquitectos de renome a intervir nas cidades pode ser uma mais valia, mas não é uma estratégia, quando não existe um suporte global para as suas intervenções. O caso da cidade de Bilbao só resultou porque o trabalho de Gehry obedecia a uma estratégia urbana global e a sua proposta se adequava ao local. O projecto não actuou contra o local, soube antes valorizá-lo. Tal não acontece no caso do Parque Mayer, em Lisboa. Há que ter a noção do espaço e das suas potencialidades. Da mesma forma que a reconstrução da cidade de Berlim (levada a cabo por vários arquitectos nacionais e internacionais, de renome ou não) só resultou porque tinha como base um plano de pormenor que “balizava” e regulava as diversas intervenções. Havia, portanto, uma estratégia, um sistema de relações e hierarquias que se teve em linha de conta. A título de curiosidade, um dos documentos que regula as intervenções em Lisboa é o PDM (Plano Director Municipal) que estabelece, entre outros, a cércea máxima do edificado para cada zona. Se todas a construções devem obedecer a esses critérios, por que é que as Torres de Siza, que ultrapassam em muitos pisos o máximo permitido, poderão constituir uma excepção?
Porque intervir em cidade é alterar relações. É isto que temos de ter a noção. As intervenções não podem ser gratuitas. É necessário estudar e prever os impactos de determinado projecto no recinto de toda a cidade e, por vezes até, na relação com outras cidades. Como é, por exemplo, o caso do Túnel do Marquês, que terá repercussões em variadíssimos domínios de Lisboa, desde a poluição ao aumento de tráfego, passando pelos problemas de circulação ou estacionamento.
Com isto pretendo apenas frisar o seguinte: pensar e intervir em cidade de forma coerente são situações complexas, que vão muito além de políticas partidárias. A lógica de intervenção na cidade deveria ser estruturada e planeada. E, porque as alterações no espaço não se fazem do dia para a noite, obedecer a uma lógica de continuidade – como, aliás, as grandes intervenções em Lisboa o foram.
Por que não, de uma vez por todas, e para variar, realmente “fazer alguma coisa por Lisboa”?
[Marta Castro Rosa]
Porque intervir em cidade é alterar relações. É isto que temos de ter a noção. As intervenções não podem ser gratuitas. É necessário estudar e prever os impactos de determinado projecto no recinto de toda a cidade e, por vezes até, na relação com outras cidades. Como é, por exemplo, o caso do Túnel do Marquês, que terá repercussões em variadíssimos domínios de Lisboa, desde a poluição ao aumento de tráfego, passando pelos problemas de circulação ou estacionamento.
Com isto pretendo apenas frisar o seguinte: pensar e intervir em cidade de forma coerente são situações complexas, que vão muito além de políticas partidárias. A lógica de intervenção na cidade deveria ser estruturada e planeada. E, porque as alterações no espaço não se fazem do dia para a noite, obedecer a uma lógica de continuidade – como, aliás, as grandes intervenções em Lisboa o foram.
Por que não, de uma vez por todas, e para variar, realmente “fazer alguma coisa por Lisboa”?
[Marta Castro Rosa]
Fazer por Lisboa (I)
E assim se faz cidade… no fim tudo se resume a isto… a um “bate-boca” entre figuras e partidos, numa competição sem limites. O debate entre Carmona Rodrigues e Carrilho demonstrou uma coisa simples: o objectivo era encontrar aquele que mais prejuízo trouxe a Lisboa. Não pretendo aqui discutir política ou rivalidades partidárias em Lisboa. Falo enquanto “quase” Arquitecta.
A cidade é o espaço físico onde vivemos e, como tal, o seu bom ou mau funcionamento influenciam o nosso modo de vida. As intervenções em cidade deveriam ser bem mais que bandeiras partidárias. O resultado desta política de intervenção são marcadas pela pontualidade e não, como deveriam ser, enquadradas numa estratégia global. Intervir aqui e ali para resolver este ou aquele problema específico não é solução. Nem se o arquitecto for de renome internacional. Fala-se em Gehry para o Parque Mayer, em Siza, ou em Foster e suas torres. A questão é que, apesar de “bons arquitectos”, as suas intervenções não se adequam aos locais a que estão destinados. E se o objectivo era a valorização desses mesmos lugares, o resultado será a sua “morte”: os projectos referidos não só destroem a unidade do lugar - mais evidente no caso das torres de Siza em Alcântara - como causam enormes impactos ambientais e humanos (o projecto do Parque Mayer arrasa com o Jardim Botânico; as Torres do Siza, por se situarem numa das zonas baixas e altamente consolidadas de Lisboa, causarão perturbações ambientais na zona envolvente às mesmas) que, como não poderá deixar de ser, terão repercussões ao nível de toda a cidade. O caso mais evidente, ainda que em termos visuais - e não é apenas a estes que me refiro - será o das Torres de Siza, que alterarão por completo a imagem e a relação harmoniosa de toda a frente ribeirinha de Lisboa com o rio.
[Marta Castro Rosa]
A cidade é o espaço físico onde vivemos e, como tal, o seu bom ou mau funcionamento influenciam o nosso modo de vida. As intervenções em cidade deveriam ser bem mais que bandeiras partidárias. O resultado desta política de intervenção são marcadas pela pontualidade e não, como deveriam ser, enquadradas numa estratégia global. Intervir aqui e ali para resolver este ou aquele problema específico não é solução. Nem se o arquitecto for de renome internacional. Fala-se em Gehry para o Parque Mayer, em Siza, ou em Foster e suas torres. A questão é que, apesar de “bons arquitectos”, as suas intervenções não se adequam aos locais a que estão destinados. E se o objectivo era a valorização desses mesmos lugares, o resultado será a sua “morte”: os projectos referidos não só destroem a unidade do lugar - mais evidente no caso das torres de Siza em Alcântara - como causam enormes impactos ambientais e humanos (o projecto do Parque Mayer arrasa com o Jardim Botânico; as Torres do Siza, por se situarem numa das zonas baixas e altamente consolidadas de Lisboa, causarão perturbações ambientais na zona envolvente às mesmas) que, como não poderá deixar de ser, terão repercussões ao nível de toda a cidade. O caso mais evidente, ainda que em termos visuais - e não é apenas a estes que me refiro - será o das Torres de Siza, que alterarão por completo a imagem e a relação harmoniosa de toda a frente ribeirinha de Lisboa com o rio.
[Marta Castro Rosa]
Invasão
Os Souto Moura querem conquistar o mundo. Nos Campeonatos do Mundo de Trampolim destacou-se um parente nipónico do clã. O seu nome: Sotomura.
Quando o cinema era... cinema
Bruno,
1. O Deliverance (a nossa tradução, como sempre, é ridícula: Fim de Semana Alucinante; um filme angustiante com título de comédia soft porno), além de ser um glorioso ataque ao Bom Selvagem, é um grande filme. A cena da violação é daquelas que ficam arquivadas.
2. Quando passa um filme americano dos anos setenta, fico imediatamente preso. Mesmo que o filme não seja grande coisa. Há ali qualquer coisa que fascina, que marca a diferença em relação às épocas posteriores. Nunca percebi muito bem porquê.
3. Depois do que escreveste, acho que já tenho, pelo menos, uma explicação. É que antes dos anos 80, o cinema era Cinema. E ponto final. Os filmes eram feitos para adultos. Hoje (leia-se: a partir dos anos oitenta): boa parte do cinema não é cinema. Aquelas coisas são filmadas em fita, é certo. Mas isso não lhes garante o acesso ao estatuto cinematográfico. Como bem sabemos, há livros que não são… literatura. Pois bem, no cinema também é assim. Há fitas que não são… filmes.
4. Atenção: o cinema americano, na minha modesta opinião, continua a produzir os melhores filmes e a revelar os melhores cineastas. O cinema americano rejuvenesce-se. Há sempre uma geração a roubar espaço às anteriores. Novo cinema francês? Como? Ah… só François Ozon. Os restantes copiam descaradamente o cânone ”oficioso”, aquele que recebe o subsídio para a reaccionária “especificidade cultural”.
Mas seria bom que as produtoras americanas deixassem de prestar tanta vassalagem às brigadas de adolescentes que pensam que Greta Garbo é uma marca de telemóveis de Singapura.
1. O Deliverance (a nossa tradução, como sempre, é ridícula: Fim de Semana Alucinante; um filme angustiante com título de comédia soft porno), além de ser um glorioso ataque ao Bom Selvagem, é um grande filme. A cena da violação é daquelas que ficam arquivadas.
2. Quando passa um filme americano dos anos setenta, fico imediatamente preso. Mesmo que o filme não seja grande coisa. Há ali qualquer coisa que fascina, que marca a diferença em relação às épocas posteriores. Nunca percebi muito bem porquê.
3. Depois do que escreveste, acho que já tenho, pelo menos, uma explicação. É que antes dos anos 80, o cinema era Cinema. E ponto final. Os filmes eram feitos para adultos. Hoje (leia-se: a partir dos anos oitenta): boa parte do cinema não é cinema. Aquelas coisas são filmadas em fita, é certo. Mas isso não lhes garante o acesso ao estatuto cinematográfico. Como bem sabemos, há livros que não são… literatura. Pois bem, no cinema também é assim. Há fitas que não são… filmes.
4. Atenção: o cinema americano, na minha modesta opinião, continua a produzir os melhores filmes e a revelar os melhores cineastas. O cinema americano rejuvenesce-se. Há sempre uma geração a roubar espaço às anteriores. Novo cinema francês? Como? Ah… só François Ozon. Os restantes copiam descaradamente o cânone ”oficioso”, aquele que recebe o subsídio para a reaccionária “especificidade cultural”.
Mas seria bom que as produtoras americanas deixassem de prestar tanta vassalagem às brigadas de adolescentes que pensam que Greta Garbo é uma marca de telemóveis de Singapura.
sábado, setembro 17, 2005
Declínio
Desconfio dos rituais de camaradagem masculina. O mundo dos balneários masculinos inspira-me as maiores reservas. Nada do que ali se passa é edificante, ao contrário do que diz quem defende que é ali que se fazem os homens. Eu também acho que sim mas é num sentido mais literal.
Foi o gregarismo masculino, e não a nossa sociedade patriarcal, que estabeleceu que um homem é um homem mais um kit de ferramentas. O paradigma, no entanto, foi mudando. Não sei se para melhor. São cada vez menos os homens cujo léxico inclui palavras como biela, cilindrada, fusível e busca-pólos. Vergados sob o peso do politicamente correcto os homens ruborizam quando se fala de caça, não se vá pensar que gostam de maltratar codornizes, javalis furiosos e demais criaturas indefesas.
Hoje, confessam sem pudores que gostam do sabor da Super Bock Green e é com orgulho que anunciam aos amigos que arranjam as sobrancelhas. Falam de manicures e cabeleireiras sem o esgar de depravação que outrora denunciava propósitos lúbricos. Sabem tudo sobre depressão pós-parto e natação para bebés. Lêem os livros de Nicholas Sparks e a Xis e acham que As Pontes de Madison County é Clint Eastwood vintage.
A contribuição de Clint Eastwood para este lamentável estado de coisas deve ser realçada. É verdade. Os mais recentes filmes de Eastwood são uma espécie de sequelas de um Dirty Harry melancolizado pela disfunção eréctil.
Foi o gregarismo masculino, e não a nossa sociedade patriarcal, que estabeleceu que um homem é um homem mais um kit de ferramentas. O paradigma, no entanto, foi mudando. Não sei se para melhor. São cada vez menos os homens cujo léxico inclui palavras como biela, cilindrada, fusível e busca-pólos. Vergados sob o peso do politicamente correcto os homens ruborizam quando se fala de caça, não se vá pensar que gostam de maltratar codornizes, javalis furiosos e demais criaturas indefesas.
Hoje, confessam sem pudores que gostam do sabor da Super Bock Green e é com orgulho que anunciam aos amigos que arranjam as sobrancelhas. Falam de manicures e cabeleireiras sem o esgar de depravação que outrora denunciava propósitos lúbricos. Sabem tudo sobre depressão pós-parto e natação para bebés. Lêem os livros de Nicholas Sparks e a Xis e acham que As Pontes de Madison County é Clint Eastwood vintage.
A contribuição de Clint Eastwood para este lamentável estado de coisas deve ser realçada. É verdade. Os mais recentes filmes de Eastwood são uma espécie de sequelas de um Dirty Harry melancolizado pela disfunção eréctil.
70's
Dois filmes, duas violações memoráveis, o comportamento de homens comuns quando obrigados a optar entre sobrevivência e justiça.
Sam Peckinpah e John Boorman, um americano em Inglaterra, um inglês nos Estados Unidos, realizaram Cães de Palha e Fim-de-Semana Alucinante, dois filmes que nos fazem gostar mais dos anos 70, quando os filmes ainda não eram feitos a pensar nos adolescentes.
sexta-feira, setembro 16, 2005
Amedrontados pelo risco
Caro Leitor:
Repare nestas duas obras. Não precisa de as folhear, leia só os títulos: Leadership e Winning. Quem, em Portugal, ousaria dar tais títulos à sua autobiografia?
Por cá “ganhar” ou “liderar” têm de ser enquadrados com biográficos acidentes de percurso, humildemente desculpáveis por uma confluência de factores. O próprio Cavaco Silva optou por intitular à sua biografia segundo critérios de arquivação bibliotecária: Autobiografia Política.
Não há em Portugal uma cultura de risco e de iniciativa, fomos todos formados para sermos pequenos e subserviente funcionários públicos.
Repare nestas duas obras. Não precisa de as folhear, leia só os títulos: Leadership e Winning. Quem, em Portugal, ousaria dar tais títulos à sua autobiografia?
Por cá “ganhar” ou “liderar” têm de ser enquadrados com biográficos acidentes de percurso, humildemente desculpáveis por uma confluência de factores. O próprio Cavaco Silva optou por intitular à sua biografia segundo critérios de arquivação bibliotecária: Autobiografia Política.
Não há em Portugal uma cultura de risco e de iniciativa, fomos todos formados para sermos pequenos e subserviente funcionários públicos.
Que falta nos faz uma cultura meritocrática.
quinta-feira, setembro 15, 2005
Presidente
Uma simpatizante comunista jurou a Jerónimo que prefere votar no Bochechas do que no Hitler. É uma versão mais popular do “fixe” e do “firme”. Bochechas é nome de Teletubbie. Hitler é um nome que, a não ser em algumas regiões austríacas onde ainda não chegou a inteligência humana, não desperta grandes simpatias.
Se deixassem votar as crianças de quatro anos também elas votariam no adorável Bochechas em detrimento do maléfico Hitler. Afinal, alguém que convive em harmonia com tartarugas e elefantes só pode ser boa pessoa. Ao contrário dessa espécie infame de gente que come de boca aberta e incinera judeus.
quarta-feira, setembro 14, 2005
Família
A conclusão perfeita de um jantar-de-família é um homicídio. Eu poderia falar com igual propriedade sobre almoços de família mas associo sempre os almoços-de-família aos Domingos, dias em que o sol e a piedade inerente ao dia do Senhor não convidam ao crime. Para além de não ser o homicídio uma arte vespertina e de não ser o factor estético despiciendo nestes casos.
Os jantares de família têm uma aura de última ceia. Começam em tom ameno, sobretudo se os comensais não se encontram há algum tempo. Aos poucos, porém, aquele bem-estar que é norma nas refeições entre conhecidos começa a ceder a um incómodo atiçado por velhas desconfianças.
É então que surge, insidioso e quase imperceptível, um desejo mórbido de esganarmos a avó. São poucos os que têm a coragem de o concretizar. No fundo temem arrepender-se de um acto cuja motivação pode residir, afinal, num motivo tão supérfluo como o excesso de tempero na carne. E uma avó merece mais do que morrer às mãos de um neto com problemas gástricos.
Os jantares de família têm uma aura de última ceia. Começam em tom ameno, sobretudo se os comensais não se encontram há algum tempo. Aos poucos, porém, aquele bem-estar que é norma nas refeições entre conhecidos começa a ceder a um incómodo atiçado por velhas desconfianças.
É então que surge, insidioso e quase imperceptível, um desejo mórbido de esganarmos a avó. São poucos os que têm a coragem de o concretizar. No fundo temem arrepender-se de um acto cuja motivação pode residir, afinal, num motivo tão supérfluo como o excesso de tempero na carne. E uma avó merece mais do que morrer às mãos de um neto com problemas gástricos.
Ler os sinais
Em resposta ao simpáticos comentários feitos ao meu último post, gostaria de chamar a vossa atenção para um dado da maior relevância: viram a última sondagem do "Expresso" sobre o primeiro - ministro e o governo (e mesmo o PS)?
O resultado é claro: a grande maioria dos portugueses continua a dar boa nota a José Socrates e ao governo, apesar das medidas duras.
Serve isto para vos dizer que estão absolutamente errados se pensam que os portugueses não compreenderam a necessidade de vencer a crise através de rigor e muito trabalho.
Compreenderam. E por isso aceitam as medidas que estão a ser tomadas pelo actual executivo.
É um bom sinal para Janeiro ...
O resultado é claro: a grande maioria dos portugueses continua a dar boa nota a José Socrates e ao governo, apesar das medidas duras.
Serve isto para vos dizer que estão absolutamente errados se pensam que os portugueses não compreenderam a necessidade de vencer a crise através de rigor e muito trabalho.
Compreenderam. E por isso aceitam as medidas que estão a ser tomadas pelo actual executivo.
É um bom sinal para Janeiro ...
segunda-feira, setembro 12, 2005
o "fixe" e o "firme"
Soares é fixe, sem dúvida nenhuma.
E Cavaco é firme.
Em Janeiro de 2006 os portugueses vão ter de escolher entre o fixe e o firme. Entre a simpatia e o rigor. Entre a festa e o trabalho.
Em síntese: querem os portugueses a ilusão ou a realidade.
E Cavaco é firme.
Em Janeiro de 2006 os portugueses vão ter de escolher entre o fixe e o firme. Entre a simpatia e o rigor. Entre a festa e o trabalho.
Em síntese: querem os portugueses a ilusão ou a realidade.
sexta-feira, setembro 09, 2005
Nova aquisição: Bruno Vieira
O post anterior é da lavra de Bruno Vieira. É a nossa aquisição do Sinédrio. E, humor, como podem ver, é coisa que aqui não vai faltar.
O Bruno, 27 anos, é homem casado e pai de um latagão de seis meses. O Bruno foi meu colega de licenciatura (História). Sem o Bruno, eu, simplesmente, não escreveria. É tão simples como isso. Sem a sua influência, algures na faculdade, o termo blog, por exemplo, seria sinónimo de mosquito japonês ou coisa assim. Por tudo isto, é mais do que um prazer ver o Bruno ao meu lado. Mais: partilhamos o mesmo percurso de vida: ser criado na violência do subúrbio, aquele local abandono à mercê de um estado central que nos trata como um número e sair daí com sanidade mental e com a capacidade para rir.
Rir é sempre um bom remédio. E rir é aquilo que fazemos quando lemos o Bruno. A prosa do Bruno faz-me sempre lembrar as crónicas do quotidiano do N. Rodrigues. Mas também podem esperar uma ou outra reflexão política. Sempre com uma farpa pelo meio.
Ao nível político, o Bruno – acho – vai reforçar o flanco do Gonçalo, a dita esquerda liberal. Ou não?
O Bruno, 27 anos, é homem casado e pai de um latagão de seis meses. O Bruno foi meu colega de licenciatura (História). Sem o Bruno, eu, simplesmente, não escreveria. É tão simples como isso. Sem a sua influência, algures na faculdade, o termo blog, por exemplo, seria sinónimo de mosquito japonês ou coisa assim. Por tudo isto, é mais do que um prazer ver o Bruno ao meu lado. Mais: partilhamos o mesmo percurso de vida: ser criado na violência do subúrbio, aquele local abandono à mercê de um estado central que nos trata como um número e sair daí com sanidade mental e com a capacidade para rir.
Rir é sempre um bom remédio. E rir é aquilo que fazemos quando lemos o Bruno. A prosa do Bruno faz-me sempre lembrar as crónicas do quotidiano do N. Rodrigues. Mas também podem esperar uma ou outra reflexão política. Sempre com uma farpa pelo meio.
Ao nível político, o Bruno – acho – vai reforçar o flanco do Gonçalo, a dita esquerda liberal. Ou não?
Ténis
Um jogador dispõe de três match-points e consegue desperdiçá-los, um a um, num supremo exercício de masoquismo que deixa a maninha gorda, devia ser a maninha porque os tenistas não têm namoradas obesas, à beira de um colapso nervoso. O outro salva, com uma serenidade budista, três match-points para deitar tudo a perder com uma dupla falta imbecil, preguiçosa ou, para manter a analogia religiosa, católica. Esta incerteza no marcador (ah, grande Gabriel Alves!) aliada ao facto de nenhum português conspurcar o top 100 ou 200 do Ranking ATP fazem com que o ténis seja um dos meus desportos favoritos. Os portugueses remetem-se, com abnegação notável, à disputa de torneios em Espinho ou na Maia em que o prize money nem dá para as deslocações (sábados à tarde, a :2 transmite estes emocionantes eventos entre o concurso hípico de Pedras Salgadas e o campeonato regional de motocross em Águeda). Continuam a fazê-lo durante a idade adulta até que, depois de ganharem onze campeonatos nacionais consecutivos, vão à procura de uma maneira decente de ganhar a vida. Acabam quase sempre como comentadores da RTP, actividade ainda menos recomendável.
Há uns anos a minha ingenuidade levou-me a acreditar que o Estoril Open pudesse ser um torneio de prestígio (maus jogadores e um bom torneio são usuais em países retrógrados) mas perdi as esperanças quando Ivan Lendl veio jogar em calças de fato de treino, adereço cuja utilização em alta competição, à excepção dos guarda-redes de andebol, deveria ser punida com uma fatwa desportiva. E depois, alguém quer participar num torneio em que o Nuno Marques chegou aos quartos-de-final? O torneio que se adapta à nossa condição de lar de 3ª idade da Europa é o Grand Champions Vale de Lobo que só num país como o nosso mereceria tanto destaque. A compita (linda palavra) tem aquele sabor artificial dos combates de Wrestling, dos jogos entre o Resto do Mundo e a equipa Unicef ou dos campeonatos de futebol da Roménia de Ceausescu. Seria o mesmo que organizar um festival da Canção no Casino de Vilamoura com o Art Sullivan, o Joselito e o Vítor Espadinha e com isto não pretendo dar ideias a ninguém.
Há uns anos a minha ingenuidade levou-me a acreditar que o Estoril Open pudesse ser um torneio de prestígio (maus jogadores e um bom torneio são usuais em países retrógrados) mas perdi as esperanças quando Ivan Lendl veio jogar em calças de fato de treino, adereço cuja utilização em alta competição, à excepção dos guarda-redes de andebol, deveria ser punida com uma fatwa desportiva. E depois, alguém quer participar num torneio em que o Nuno Marques chegou aos quartos-de-final? O torneio que se adapta à nossa condição de lar de 3ª idade da Europa é o Grand Champions Vale de Lobo que só num país como o nosso mereceria tanto destaque. A compita (linda palavra) tem aquele sabor artificial dos combates de Wrestling, dos jogos entre o Resto do Mundo e a equipa Unicef ou dos campeonatos de futebol da Roménia de Ceausescu. Seria o mesmo que organizar um festival da Canção no Casino de Vilamoura com o Art Sullivan, o Joselito e o Vítor Espadinha e com isto não pretendo dar ideias a ninguém.
Apoio a José Socrates
Como todos já devem saber sou do PSD. Militante praticante.
Todavia, não posso deixar de expressar publicamente o meio apoio a José Socrates pela sua determinação e coragem. O exemplo actual do braço de ferro com os militares é um bom exemplo do que é governar a olhar para o essencial e o futuro.
Socrates foi o único primeiro - ministro, desde o tempo do Prof. Cavaco Silva, a atacar os problemas de fundo da estrutura económica portuguesa. A reformar.
Só por isso já mereceria o meu apoio, mesmo sendo eu do PSD.
Mas o actual chefe do governo tem outro mérito que merece ser sublinhado: é inteligente.
Tal como o Prof. Cavaco Silva, percebeu que, a prazo, está condenado a ter sucesso (isto se a conjuntura económica o permitir, mas essa conjuntura não depende dele, logo...). É o que sempre acontece com quem define um caminho (desde que ele seja correcto, e é) e não se desvia nem cede, apesar da enorme contestação que se gera (sobretudo numa sociedade corporativa). Aqueles que tanto contestam hoje, serão os primeiros a aplaudir, amanhã.
Socrates aprendeu com os melhores, Cavaco Silva, Sá Carneiro (não é por acaso que ele começou a fazer política no PSD).
Merece o meu apoio.
Todavia, não posso deixar de expressar publicamente o meio apoio a José Socrates pela sua determinação e coragem. O exemplo actual do braço de ferro com os militares é um bom exemplo do que é governar a olhar para o essencial e o futuro.
Socrates foi o único primeiro - ministro, desde o tempo do Prof. Cavaco Silva, a atacar os problemas de fundo da estrutura económica portuguesa. A reformar.
Só por isso já mereceria o meu apoio, mesmo sendo eu do PSD.
Mas o actual chefe do governo tem outro mérito que merece ser sublinhado: é inteligente.
Tal como o Prof. Cavaco Silva, percebeu que, a prazo, está condenado a ter sucesso (isto se a conjuntura económica o permitir, mas essa conjuntura não depende dele, logo...). É o que sempre acontece com quem define um caminho (desde que ele seja correcto, e é) e não se desvia nem cede, apesar da enorme contestação que se gera (sobretudo numa sociedade corporativa). Aqueles que tanto contestam hoje, serão os primeiros a aplaudir, amanhã.
Socrates aprendeu com os melhores, Cavaco Silva, Sá Carneiro (não é por acaso que ele começou a fazer política no PSD).
Merece o meu apoio.
quinta-feira, setembro 08, 2005
Prioridades de Política Externa
Concordo, em linhas gerais, com as prioridades que o Tiago enunciou para o futuro da política externa portuguesa. Às suas junto outras:
1- presença activa no presente processo de reforma da ONU, especialmente, no que toca à reestruturação do CS, onde Portugal deverá dar prioridade e apoio à inclusão permanente do Brasil e, se possível, à representação externa da UE
2- tendo como irreal a data de 2010, como meta para a liberalização económica da bacia Mediterrânea, Portugal não deverá, no entanto, apartar-se de um contributo activo na elaboração de vínculos de confiança e colaboração entre o Mediterrâneo Norte e Sul.
A democratização do Mediterrâneo Sul é, em si só, uma garantia de segurança para a Europa do Sul e poderá representar um mercado europeu crucial para além do quotidiano, meramente, energético.
Em coordenação íntima com a Espanha, Portugal deverá reafirmar junto da EU e da NATO a vitalidade de uma área de segurança e comércio mediterrâneo, como um buffer securitário e comercial europeu e como um contributo decisivo para a estabilização do Norte de África.
O tradicional contributo militar português na defesa do Sector Sul da NATO (no Norte de Itália) poderá ser um complemento a esta estratégia de diálogo económico e diplomático e para a criação de uma vital área de segurança europeia.
3- Mais, uma vez, em concerto com a Espanha, o diálogo económico, político e diplomático ibero-americano, deverá contar com uma presença portuguesa que vá mais longe que a mera presença formal. Numa estratégia bilateral com o Brasil, Portugal tem de chamar a si uma parte europeia do diálogo ibero-americano e ajustar com a Espanha a representação informal dos interesses sul americanos junto da EU.
4- Revitalização e aprofundamento do papel da CPLP. Tendo como garantida a primazia brasileira, Portugal deverá colocar ênfase no seu carácter europeu e atlântico e na sua presença activa na Nato, na EU e no diálogo ibero-americano.
1- presença activa no presente processo de reforma da ONU, especialmente, no que toca à reestruturação do CS, onde Portugal deverá dar prioridade e apoio à inclusão permanente do Brasil e, se possível, à representação externa da UE
2- tendo como irreal a data de 2010, como meta para a liberalização económica da bacia Mediterrânea, Portugal não deverá, no entanto, apartar-se de um contributo activo na elaboração de vínculos de confiança e colaboração entre o Mediterrâneo Norte e Sul.
A democratização do Mediterrâneo Sul é, em si só, uma garantia de segurança para a Europa do Sul e poderá representar um mercado europeu crucial para além do quotidiano, meramente, energético.
Em coordenação íntima com a Espanha, Portugal deverá reafirmar junto da EU e da NATO a vitalidade de uma área de segurança e comércio mediterrâneo, como um buffer securitário e comercial europeu e como um contributo decisivo para a estabilização do Norte de África.
O tradicional contributo militar português na defesa do Sector Sul da NATO (no Norte de Itália) poderá ser um complemento a esta estratégia de diálogo económico e diplomático e para a criação de uma vital área de segurança europeia.
3- Mais, uma vez, em concerto com a Espanha, o diálogo económico, político e diplomático ibero-americano, deverá contar com uma presença portuguesa que vá mais longe que a mera presença formal. Numa estratégia bilateral com o Brasil, Portugal tem de chamar a si uma parte europeia do diálogo ibero-americano e ajustar com a Espanha a representação informal dos interesses sul americanos junto da EU.
4- Revitalização e aprofundamento do papel da CPLP. Tendo como garantida a primazia brasileira, Portugal deverá colocar ênfase no seu carácter europeu e atlântico e na sua presença activa na Nato, na EU e no diálogo ibero-americano.
A prioridade deve ser dada à inclusão total de Timor, à criação de relações preferenciais com Macau e ao aprofundamento das relações bilaterais entre os vários membros. Uma relação preferencial com Macau ou Timor poderá parecer irrisória no mapa, mas no médio-longo prazo, a presença continuada de uma ponte de diálogo entre Portugal e os outros membros da CPLP com uma parte integral da China poderá revelar-se fulcral.
Da mesma forma, a inclusão total de Timor poderá ser uma relação profícua para ambas as partes. Representará, para Timor, um complemento comercial e político forte para o seu progresso democrático e económico, bem como para o seu peso diplomático no diálogo com parceiros económicos no Pacifico. Para os restantes membros da CPLP (incluindo Portugal), representará uma expansão dos seus vínculos comerciais e políticos a oriente, uma revitalização do seu carácter internacional e a inclusão de um parceiro de diálogo preferencial no mercado do Sudoeste Asiático.
5- Regresso à atitude europeia proactiva da década de 90.
5- Regresso à atitude europeia proactiva da década de 90.
Portugal deverá compreender os fluxos políticos de primazia no seio europeu (tal como a Espanha o fez) e escolher os parceiros ideais para a prossecução dos seus interesses. 20 anos depois da nossa integração europeia, Portugal tem, hoje, um classe de funcionários europeus experimentada capaz de trabalhar tendo em mente a antecipação de futuras jogadas. Seria interessante experimentar, por exemplo, um diálogo (económico e político) com a totalidade da periferia europeia. A nossa transição democrática serviu de modelo funcional para os países que emergiram do Pacto de Varsóvia e contaria a favor de Portugal um aprofundamento de laços com os paralelos económicos e políticos no Leste europeu.
Entre os vários sectores da integração europeia, devemos dar especial atenção à, agora “adormecia”, política externa e de defesa comum, onde deve ser reavaliado e incentivado o contributo português para o futuro das Petersberg tasks. Também, a tradicional dicotomia da nossa política externa, dividida entre uma face europeia e outra atlântica poderá reverter a nosso favor na promoção activa de um diálogo transatlântico no seio da EU.
6- Um ponto de referência para a necessidade de limitar a consonância da política externa portuguesa com a política exterior (atlântica e europeia) de Espanha. A edificação de uma pool ibérica em política externa será contraproducente, pois a primazia será, invariavelmente, espanhola, o que minará a vitalidade estratégica atlântica de Portugal e a sua iniciativa europeia (ainda que seja uma boa solução de recurso negocial). Daí que Portugal deva também apostar em “mercados” de política externa virgens de um contributo ibérico e aprofundar outros onde laços históricos lhe concedam primazia.
7- Por fim, uma prioridade doméstica para a nossa política externa: a, tão esperada e adiada, revitalização e reestruração do Instituto Diplomático. O MNE necessita, indiscutivelmente, de um centro de estudo, planeamento e decisão. Think tank ou não, o futuro do Instituto Diplomático deverá passar muito além do seu actual carácter de arquivo histórico, para se instaurar como um local de encontro entre a Academia e a Diplomacia oficial, na formulação e debate de uma política externa coesa e moderna, próxima da sociedade civil e intelectualmente estruturada.
Entre os vários sectores da integração europeia, devemos dar especial atenção à, agora “adormecia”, política externa e de defesa comum, onde deve ser reavaliado e incentivado o contributo português para o futuro das Petersberg tasks. Também, a tradicional dicotomia da nossa política externa, dividida entre uma face europeia e outra atlântica poderá reverter a nosso favor na promoção activa de um diálogo transatlântico no seio da EU.
6- Um ponto de referência para a necessidade de limitar a consonância da política externa portuguesa com a política exterior (atlântica e europeia) de Espanha. A edificação de uma pool ibérica em política externa será contraproducente, pois a primazia será, invariavelmente, espanhola, o que minará a vitalidade estratégica atlântica de Portugal e a sua iniciativa europeia (ainda que seja uma boa solução de recurso negocial). Daí que Portugal deva também apostar em “mercados” de política externa virgens de um contributo ibérico e aprofundar outros onde laços históricos lhe concedam primazia.
7- Por fim, uma prioridade doméstica para a nossa política externa: a, tão esperada e adiada, revitalização e reestruração do Instituto Diplomático. O MNE necessita, indiscutivelmente, de um centro de estudo, planeamento e decisão. Think tank ou não, o futuro do Instituto Diplomático deverá passar muito além do seu actual carácter de arquivo histórico, para se instaurar como um local de encontro entre a Academia e a Diplomacia oficial, na formulação e debate de uma política externa coesa e moderna, próxima da sociedade civil e intelectualmente estruturada.
A Visão não é, propriamente o local mais digno para uma resenha dois últimos meses do MNE e deverá ser patrocinada a mais ampla difusão da actual Revista do Ministério dos Negócios Estrangeiros como deve ser criada uma publicação periódica que reuna contributos académicos e diplomáticos na análise da actualidade internacional e portuguesa. Da mesma forma, o Governo e o MNE deveria retomar a prática esquecida de um relatório anual de política externa que contenha discursos, a enunciação formal das prioridades externas portuguesas, a resenha do último ano diplomático e a inclusão dos vários tratados internacionais celebrados pelo Estado português.
“Boa Noite, Sr. Dr. Fernando Correia”
Não me vão ver muitas vezes a recomendar textos de Paulo Tunhas, mas o seu “Um dia na vida de um ouvinte da TSF”, na última Atlântico, é absolutamente imprescindível.
quarta-feira, setembro 07, 2005
Freitas do Amaral
Voltando ainda ao assunto das relações transatlânticas, não posso deixar de cometar o artigo de S. Exa. o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Prof. Diogo Freitas do Amaral publicado na última "Visão". Provavelmente nem devia comentar, mas não resisto.
Independentemente da fraca qualidade do texto (tenho pena de dizer isto pois sou dos que ainda admiro as qualidade intelectuais do autor) ele encerra uma mistificação que cumpre desmontar.
Diz a peça em apreço que Portugal tem três vectores primordiais na sua política externa: a Europa, a relação transatlântica e o espaço lusófono. E acrescenta que o actual governo continua apostar neste triângulo estratégico, tal como no passado, sem mudanças.
Ora, se a relação histórica é correcta, já a conclusão quanto ao presente é um engano. E nem um encontro de minutos com a secretária de Estado norte - americana permite esconder esta realidade (paradigmático é p facto de Diogo Freitas do Amaral ter recusado qualquer entrevista com os Meios de Comunicação Social americanos...).
Em rigor, a perspectiva ideológica e, o que é mais, política, do governo actual e da maioria dos seus dirigentes (tal como a maioria do PS, da esquerda portuguesa e do ainda Presidente da República) é "eurogaullista", entendendo a construção europeia como oposta à relação com os EUA. A hegemonia norte - americana é mesmo percepcionada em certos sectores da elite europeia (leia-se, parte da europa ocidental, pois nem todos os países subscrevem esta visão e a Leste a realidade é bem distinta) como o inimigo cimeiro de uma Europa como actor mundial de primeiro plano.
Esta realidade ajuda a perceber outros textos (e livros) do Prof. Freitas do Amaral, de sentido exactamente inverso ao publicado na passada 5ª Feira.
O que sucede é que com o não francês e holandês ao tratado constitucional tudo mudou. Acabou o "eurogaullismo". E isso obrigou muitos, incluindo o ministro dos Negócios Estrangeiros, a rever a sua posição.
Mas mudou tarde e com actos no mínimo fúteis. E, entretanto, muito contribuiu para o crescente sentimento anti - americano no Ocidenta (à escala, é claro).
O que aqui escrevo seria tão inútil quanto os gestos diplomáticos do sr. ministro, se o problema de fundo não se mantivesse. Mas mantem-se. E Portugal pode liderar uma estratégia de evolução, e reforço, da relação transatlântica se avançar já. Seria o primeiro, num movimento que se sabe inevitável, pela igualmente inevitável escalada do fundamentalismo islâmico (já para não falar do factor chinês, ou da Índia, ou mesmo da Rússia).
O que se pode desde já fazer em concreto:
1º. reconquistar a opinião pública (neste caso a portuguesa) para a importância dos EUA para a Europa (e, especialmente para Portugal). Todos sabemos como isto se faz...
2º. apostar no reforço da capacidade das nossas Forças Armadas (aumentando a percentagem do PIB para as FA´s ), liderar a defesa desta política no espaço europeu e definir de modo inequívoco a complementaridade da defesa nacional, e da defesa europeia, com a NATO.
3º. reforçar a NATO, quer através do reforço da sua dimensão política, quer militar, alargando o seu conceito de intervenção dentro do novo quadro das relações internacionais (e.g. alargamento ao Médio Oriente).
4º. aceitação pública da realidade da existência de uma guerra que envolve todo o Ocidente, e não apenas os EUA, e da necessidade de uma estratégia unitária para combater o imperialismo do fundamentalismo islâmico.
5º. definição de uma estratégia comum para o problema energético mundial (vide, preço do petróleo), devendo Portugal propor à Europa e aos EUA a realização de uma Cimeira específica destinada à adopção dessa estratégia comum para a energia mundial.
6º. negociação de novas formas de cooperação ao nível do comércio mundial, com adopção de respostas conjuntas ao problema chinês, o que pode, e deve, ser o embrião de uma zona de comércio tendencialmente livre no Ocidente
7º. criação de um organismo euro - americano destinado à promoção da democracia, da liberdade, dos direitos humanos, do diálogo entre civilizações, bem como ao combate à fome, ao sub - desenvolvimento e à corrupção.
8º. construção de parcerias estratégicas para o investimento em África, muito em especial em Angola.
É uma agenda ambiciosa e polémica. Talvez em alguns ponto impossível por enquanto. Certo.
Mas se aprendi alguma coisa na vida é que só se livra de ser pequeno quem pensa em grande. E mais: quem sabe qual é o seu caminho e não se desvia dele por muito que seja a contestação à sua volta acaba por chegar lá, acompanhado por todos aqueles que faziam tanto barulho à volta.
Independentemente da fraca qualidade do texto (tenho pena de dizer isto pois sou dos que ainda admiro as qualidade intelectuais do autor) ele encerra uma mistificação que cumpre desmontar.
Diz a peça em apreço que Portugal tem três vectores primordiais na sua política externa: a Europa, a relação transatlântica e o espaço lusófono. E acrescenta que o actual governo continua apostar neste triângulo estratégico, tal como no passado, sem mudanças.
Ora, se a relação histórica é correcta, já a conclusão quanto ao presente é um engano. E nem um encontro de minutos com a secretária de Estado norte - americana permite esconder esta realidade (paradigmático é p facto de Diogo Freitas do Amaral ter recusado qualquer entrevista com os Meios de Comunicação Social americanos...).
Em rigor, a perspectiva ideológica e, o que é mais, política, do governo actual e da maioria dos seus dirigentes (tal como a maioria do PS, da esquerda portuguesa e do ainda Presidente da República) é "eurogaullista", entendendo a construção europeia como oposta à relação com os EUA. A hegemonia norte - americana é mesmo percepcionada em certos sectores da elite europeia (leia-se, parte da europa ocidental, pois nem todos os países subscrevem esta visão e a Leste a realidade é bem distinta) como o inimigo cimeiro de uma Europa como actor mundial de primeiro plano.
Esta realidade ajuda a perceber outros textos (e livros) do Prof. Freitas do Amaral, de sentido exactamente inverso ao publicado na passada 5ª Feira.
O que sucede é que com o não francês e holandês ao tratado constitucional tudo mudou. Acabou o "eurogaullismo". E isso obrigou muitos, incluindo o ministro dos Negócios Estrangeiros, a rever a sua posição.
Mas mudou tarde e com actos no mínimo fúteis. E, entretanto, muito contribuiu para o crescente sentimento anti - americano no Ocidenta (à escala, é claro).
O que aqui escrevo seria tão inútil quanto os gestos diplomáticos do sr. ministro, se o problema de fundo não se mantivesse. Mas mantem-se. E Portugal pode liderar uma estratégia de evolução, e reforço, da relação transatlântica se avançar já. Seria o primeiro, num movimento que se sabe inevitável, pela igualmente inevitável escalada do fundamentalismo islâmico (já para não falar do factor chinês, ou da Índia, ou mesmo da Rússia).
O que se pode desde já fazer em concreto:
1º. reconquistar a opinião pública (neste caso a portuguesa) para a importância dos EUA para a Europa (e, especialmente para Portugal). Todos sabemos como isto se faz...
2º. apostar no reforço da capacidade das nossas Forças Armadas (aumentando a percentagem do PIB para as FA´s ), liderar a defesa desta política no espaço europeu e definir de modo inequívoco a complementaridade da defesa nacional, e da defesa europeia, com a NATO.
3º. reforçar a NATO, quer através do reforço da sua dimensão política, quer militar, alargando o seu conceito de intervenção dentro do novo quadro das relações internacionais (e.g. alargamento ao Médio Oriente).
4º. aceitação pública da realidade da existência de uma guerra que envolve todo o Ocidente, e não apenas os EUA, e da necessidade de uma estratégia unitária para combater o imperialismo do fundamentalismo islâmico.
5º. definição de uma estratégia comum para o problema energético mundial (vide, preço do petróleo), devendo Portugal propor à Europa e aos EUA a realização de uma Cimeira específica destinada à adopção dessa estratégia comum para a energia mundial.
6º. negociação de novas formas de cooperação ao nível do comércio mundial, com adopção de respostas conjuntas ao problema chinês, o que pode, e deve, ser o embrião de uma zona de comércio tendencialmente livre no Ocidente
7º. criação de um organismo euro - americano destinado à promoção da democracia, da liberdade, dos direitos humanos, do diálogo entre civilizações, bem como ao combate à fome, ao sub - desenvolvimento e à corrupção.
8º. construção de parcerias estratégicas para o investimento em África, muito em especial em Angola.
É uma agenda ambiciosa e polémica. Talvez em alguns ponto impossível por enquanto. Certo.
Mas se aprendi alguma coisa na vida é que só se livra de ser pequeno quem pensa em grande. E mais: quem sabe qual é o seu caminho e não se desvia dele por muito que seja a contestação à sua volta acaba por chegar lá, acompanhado por todos aqueles que faziam tanto barulho à volta.
Entretanto, na Intertoto
Caso residisse em Lisboa, Maria José Nogueira Pinto não teria o meu voto. No entanto, a sua candidatura é de longe a “politicamente” mais hábil, o que não deixou de ser evidente ontem, em debate, face a um quase - psicótico Ruben de Carvalho. Mas a sua campanha corre noutros campeonatos.
Afastada a hipótese de coligação, o CDS optou por usar a visibilidade mediática da capital numa estratégia de médio-longo curso: apresentar-se como uma alternativa de sobriedade e competência.
Opinião Publica
Um estudo de opinião divulgado hoje mostra que a opinião pública europeia (e, provavelmente, mundial) está a transformar-se crescentemente anti - americana.
Há neste dado três aspectos relevantes.
O primeiro remete-nos para a importância da comunicação social ocidental e da campanha sistematica de anti - americanismo primário operada pela mesma. É preciso que os amigos dos EUA ( e, sobretudo, todos aqueles que percebem a importância da relação transatlântica para Portugal) venham para o terreno combater esta trama perigosa.
O segundo consiste na necessidade da Administração norte - americana (a actual ou outras futuras) perceber que a America não pode ficar isolada, cercada por um mundo que a odeia. É preciso que os dirigentes norte - americanos definam uma política de longo prazo destinada a combater o crescente sentimento anti - americano.
Finalmente, e este aspecto é talvez o mais sensível, o estudo demonstra que a opinião pública europeia não percebe nada do que se está a passar actualmente no mundo. Não percebe que os tempos são de guerra e que está não envolve apenas os EUA, mas também a Europa (vide, os atentados em Espanha e no Reino Unido). Não percebe que o fundamentalismo islâmico preconiza um novo imperialismo (ele sim é imperialista) direccionado em primeira instância contra o Ocidente, todo ele, sem excepção. Não percebe que apenas a unidade da Europa e dos EUA permite combater este imperialismo e que para isso é fundamental que ambos sejam cada vez mais fortes. E não percebe que, embora muitos interesses dividam os dois lados do Atlântico, estamos unidos (entre muitos outros aspectos) pelo interesse primordial de qualquer Estado - a segurança, instrumental da nossa própria sobrevivência.
A história demonstra que quem não é capaz de perceber quem são os seus verdadeiros aliados, e os seus reais inimigos, e confunde uns com os outros, está condenado a desaparecer.
Por tudo isto importa que cada um faça o que está ao seu alcance para que a unidade atlântica volte às inteligências, e aos corações, dos europeus (e dos americanos).
Este é talvez o aspecto mais importante, e mais estrutural, da nossa actualidade global.
Há neste dado três aspectos relevantes.
O primeiro remete-nos para a importância da comunicação social ocidental e da campanha sistematica de anti - americanismo primário operada pela mesma. É preciso que os amigos dos EUA ( e, sobretudo, todos aqueles que percebem a importância da relação transatlântica para Portugal) venham para o terreno combater esta trama perigosa.
O segundo consiste na necessidade da Administração norte - americana (a actual ou outras futuras) perceber que a America não pode ficar isolada, cercada por um mundo que a odeia. É preciso que os dirigentes norte - americanos definam uma política de longo prazo destinada a combater o crescente sentimento anti - americano.
Finalmente, e este aspecto é talvez o mais sensível, o estudo demonstra que a opinião pública europeia não percebe nada do que se está a passar actualmente no mundo. Não percebe que os tempos são de guerra e que está não envolve apenas os EUA, mas também a Europa (vide, os atentados em Espanha e no Reino Unido). Não percebe que o fundamentalismo islâmico preconiza um novo imperialismo (ele sim é imperialista) direccionado em primeira instância contra o Ocidente, todo ele, sem excepção. Não percebe que apenas a unidade da Europa e dos EUA permite combater este imperialismo e que para isso é fundamental que ambos sejam cada vez mais fortes. E não percebe que, embora muitos interesses dividam os dois lados do Atlântico, estamos unidos (entre muitos outros aspectos) pelo interesse primordial de qualquer Estado - a segurança, instrumental da nossa própria sobrevivência.
A história demonstra que quem não é capaz de perceber quem são os seus verdadeiros aliados, e os seus reais inimigos, e confunde uns com os outros, está condenado a desaparecer.
Por tudo isto importa que cada um faça o que está ao seu alcance para que a unidade atlântica volte às inteligências, e aos corações, dos europeus (e dos americanos).
Este é talvez o aspecto mais importante, e mais estrutural, da nossa actualidade global.
terça-feira, setembro 06, 2005
Expresso da Galileia
Claro que não nos podemos abstrair da “idade física” de Soares, Tiago. Ainda assim, julgo contraproducente centrar o debate nesse ponto. Soares é especialmente profícuo em capitalizar o vector romântico da política doméstica e a insistência num parâmetro apolítico da sua candidatura poderá reverter a seu favor. Como tu próprio disseste, a candidatura de Soares terá de ser descredibilizada pelo seu carácter meramente reactivo face a uma possível presidência de Cavaco Silva.
O debate terá de ser factual e exigente, ligado ao carácter pragmático da Presidência e ao momento político e económico.
O debate terá de ser factual e exigente, ligado ao carácter pragmático da Presidência e ao momento político e económico.
De facto, Cristo “sabia nada de finanças”, se soubesse Judas não teria sido obrigado a ir a Roma pedir uns trocos.
Sobre a idade
Concordo com o Gonçalo sobre a distinção relevante entre "idade física" e idade ideológica. Também temo mais a segunda, sobretudo num país bloqueado por ideologias de há trinta anos.
Todavia, sendo mais terra a terra não consigo libertar-me da dimensão física das coisas humanas. Por que a realidade é o que é, para além do intelecto:
«Tinha feito durante toda a vida boa união com o meu corpo; tinha implicitamente contado com a sua docilidade, com a sua força. Esta estreita aliança principiava a dissolver-se; o meu corpo cessava de fazer só um com a minha vontade, com o meu espírito, com aquilo que é forçoso que eu chame, desastradamente, a minha alma; o camarada inteligente de outrora não era mais do que um escravo que faz má cara à sua tarefa»
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano
Todavia, sendo mais terra a terra não consigo libertar-me da dimensão física das coisas humanas. Por que a realidade é o que é, para além do intelecto:
«Tinha feito durante toda a vida boa união com o meu corpo; tinha implicitamente contado com a sua docilidade, com a sua força. Esta estreita aliança principiava a dissolver-se; o meu corpo cessava de fazer só um com a minha vontade, com o meu espírito, com aquilo que é forçoso que eu chame, desastradamente, a minha alma; o camarada inteligente de outrora não era mais do que um escravo que faz má cara à sua tarefa»
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano
Demolidor
"The worst of the German postwar chancellors? Perhaps the word is inexact.
But when public opinion organizations ask voters where Schröder fits in against his predecessors in terms of "significance," or being among Germany's "best," with the exception of the Millard Fillmore-like Kurt Georg Kiesinger who served two years and change in the '60s and doesn't register in the polls, Schröder's place is at the bottom. "
But when public opinion organizations ask voters where Schröder fits in against his predecessors in terms of "significance," or being among Germany's "best," with the exception of the Millard Fillmore-like Kurt Georg Kiesinger who served two years and change in the '60s and doesn't register in the polls, Schröder's place is at the bottom. "
"Schröder legacy: Failure on German-vision thing", John Vinocur, International Herald Tribune
Com Cavaco Silva
Tal como o Tiago, aqui em baixo, não posso deixar de reconhecer o valioso contributo histórico de Mário Soares para a construção de um Portugal democrático. Releio-o contínua e consecutivamente e compreendo a existência de uma dívida de liberdade democrática
Reconheço, igualmente, a sua habilidade política. De oposicionista e exilado, a Presidente da República, passando pelo MNE e pela liderança do governo, Soares confunde-se com o Estado, ensinou o Paulinho a brincar ao populismo e escreveu o “livro” sobre política subterrânea. Ter-lhe-ia dado o meu voto em 86, mas não em 2006. Ao contrário da maioria, a minha principal objecção a Soares Presidente ou presidenciável não é a sua idade ou uma sensação de deja vu, mas a sua idade ideológica, especialmente, num momento em que Sampaio reactivou o carácter potestativo da Presidência.
Votaria facilmente num Soares com 82 ou 92 anos caso me revisse na sua candidatura. A minha principal objecção prende-se com o facto de com o passar dos anos, Mário Soares se aproximar, cada vez mais, de um discurso que eu deixei para trás na puberdade, juntamente com as borbulhas e Clearasil.
Mário Soares nunca conseguirá agrupar, de uma só vez, o centro e a periferia ideológica. Em 86 foi a periferia de Esquerda que se juntou, pragmaticamente, a Soares, mas hoje este deambula algures numa fronteira ideológica e parece exigir que seja o centro a juntar-se à periferia.
Está por provar a validade científica da máxima de que “em Portugal as eleições ganham-se ao centro”. Se há alguém que a possa contestar é Soares. O seu passado político poderá segurar o voto do seu eleitorado tradicional enquanto avança para o flanco ideológico, mas não o meu.
Em vida, apenas conheci um Portugal democrático que, ainda assim, vive muito de ar político emprestado ou reciclado.
Reconheço, igualmente, a sua habilidade política. De oposicionista e exilado, a Presidente da República, passando pelo MNE e pela liderança do governo, Soares confunde-se com o Estado, ensinou o Paulinho a brincar ao populismo e escreveu o “livro” sobre política subterrânea. Ter-lhe-ia dado o meu voto em 86, mas não em 2006. Ao contrário da maioria, a minha principal objecção a Soares Presidente ou presidenciável não é a sua idade ou uma sensação de deja vu, mas a sua idade ideológica, especialmente, num momento em que Sampaio reactivou o carácter potestativo da Presidência.
Votaria facilmente num Soares com 82 ou 92 anos caso me revisse na sua candidatura. A minha principal objecção prende-se com o facto de com o passar dos anos, Mário Soares se aproximar, cada vez mais, de um discurso que eu deixei para trás na puberdade, juntamente com as borbulhas e Clearasil.
Mário Soares nunca conseguirá agrupar, de uma só vez, o centro e a periferia ideológica. Em 86 foi a periferia de Esquerda que se juntou, pragmaticamente, a Soares, mas hoje este deambula algures numa fronteira ideológica e parece exigir que seja o centro a juntar-se à periferia.
Está por provar a validade científica da máxima de que “em Portugal as eleições ganham-se ao centro”. Se há alguém que a possa contestar é Soares. O seu passado político poderá segurar o voto do seu eleitorado tradicional enquanto avança para o flanco ideológico, mas não o meu.
Em vida, apenas conheci um Portugal democrático que, ainda assim, vive muito de ar político emprestado ou reciclado.
Aspiro a um Portugal inovador, ambicioso e meritocrático, que se procura e afirma na Europa e se encontra ao longo do Atlântico. A sua face institucional nunca poderá ser a de Mário Soares. O meu voto está com Cavaco Silva.
segunda-feira, setembro 05, 2005
Breves ... Para memória futura
1.Na Festa do Avante Jerónimo de Sousa comparou a política de Bush à que conduziu aos horrores da II Guerra. Um pouco mas de memória, ou de cultura histórica, ou de coerência ( de que tanto se gaba o PCP) não fariam mal: então e o pacto germano-soviético? Jerónimo não conhece o passado e não compreende o presente. Um perigo.
2.Ainda o mesmo senhor e o mesmo partido. Segundo os jornais a candidatura presidencial de Jerónimo de Sousa não é para levar até ao fim e só serve para criar problemas ao Prof. Cavaco Silva por causa da questão do aborto. Fica agora claro o que todos sabiamos: que o PCP tem elevada cultura democrática e respeita as eleições; que a questão do aborto mais não é do que um mero instrumento de táctica política da esquerda portuguesa. Pobres mulheres ( e já agora homens): com amigos de esquerda destes quem precisa de inimigos.
3.Ficámos a saber que o Dr. Mário Soares avança para a candidatura à Presidência da República não por alguma coisa, mas contra. Contra Cavaco. Para Cavaco Silva não ter um passeio pela Av.da Liberdade. Em tempos de crise, isto é que é esperança: ser contra! Que Cavaco Silva caminhe pela Av. da Liberdade e que com ele (com o seu exemplo) avance Portugal (Quero sublinhar que, como investigador na área da transição para a democracia em Portugal, sou um profundo admirador do papel histórico do Dr. Mário Soares.)
4. E só impressão minha ou o Expresso deste fim-de-semana estava transformado no "Expresso Carilho". Mas desconfio que nem com esta locomotiva o sr. vai lá. E nem que as "partidas" da SIC a Carmona Rodrigues (Vocês sabem do que estou a falar). O que é de plástico é sempre de plástico. Expressamente.
5.Por fim New Orleans. Quem já lá esteve não pode deixar de sofrer. Uma vez mais "Somos todos Americanos". Porque somos Humanos.
2.Ainda o mesmo senhor e o mesmo partido. Segundo os jornais a candidatura presidencial de Jerónimo de Sousa não é para levar até ao fim e só serve para criar problemas ao Prof. Cavaco Silva por causa da questão do aborto. Fica agora claro o que todos sabiamos: que o PCP tem elevada cultura democrática e respeita as eleições; que a questão do aborto mais não é do que um mero instrumento de táctica política da esquerda portuguesa. Pobres mulheres ( e já agora homens): com amigos de esquerda destes quem precisa de inimigos.
3.Ficámos a saber que o Dr. Mário Soares avança para a candidatura à Presidência da República não por alguma coisa, mas contra. Contra Cavaco. Para Cavaco Silva não ter um passeio pela Av.da Liberdade. Em tempos de crise, isto é que é esperança: ser contra! Que Cavaco Silva caminhe pela Av. da Liberdade e que com ele (com o seu exemplo) avance Portugal (Quero sublinhar que, como investigador na área da transição para a democracia em Portugal, sou um profundo admirador do papel histórico do Dr. Mário Soares.)
4. E só impressão minha ou o Expresso deste fim-de-semana estava transformado no "Expresso Carilho". Mas desconfio que nem com esta locomotiva o sr. vai lá. E nem que as "partidas" da SIC a Carmona Rodrigues (Vocês sabem do que estou a falar). O que é de plástico é sempre de plástico. Expressamente.
5.Por fim New Orleans. Quem já lá esteve não pode deixar de sofrer. Uma vez mais "Somos todos Americanos". Porque somos Humanos.
domingo, setembro 04, 2005
sexta-feira, setembro 02, 2005
Não te esqueças da escova de dentes e da... Policy Review
O leitor mais atento decerto terá reparado na recente exasperação intelectual do camarada Henrique Raposo, envolto na tarefa infindável de compreender os americanos a partir das palavras de canadianos e australianos.
Consciente de que esta é uma opus inglória e infinita que acabará por o conduzir ao que se escreve na Nova Zelândia sobre o que os australianos escrevem sobre os americanos, a cúpula máxima do Sinédrio decidiu, em votação por punho no ar, enviar o camarada Henrique de férias.
Consciente de que esta é uma opus inglória e infinita que acabará por o conduzir ao que se escreve na Nova Zelândia sobre o que os australianos escrevem sobre os americanos, a cúpula máxima do Sinédrio decidiu, em votação por punho no ar, enviar o camarada Henrique de férias.
Aqui.
Leituras
“A Sensible Iraqi Constitution”, Charles Krauthammer, Washington Post
« Ah, Solidarity”, Timothy Garton Ash, LA Times
“East Timor: When peace and justice collide”, Ramesh Thakur, IHT
“Invasion of the Isolationists”, FRANCIS FUKUYAMA, NY Times
“Solidarity Remembered”, Anne Applebaum, Washington Post
“Why ‘Europe’ matters”, The Leader, The Spectator
"Il faut sortir de la caricature du libéralisme", ALBERT MERLIN, Le Figaro
« Ah, Solidarity”, Timothy Garton Ash, LA Times
“East Timor: When peace and justice collide”, Ramesh Thakur, IHT
“Invasion of the Isolationists”, FRANCIS FUKUYAMA, NY Times
“Solidarity Remembered”, Anne Applebaum, Washington Post
“Why ‘Europe’ matters”, The Leader, The Spectator
"Il faut sortir de la caricature du libéralisme", ALBERT MERLIN, Le Figaro
"Y aurait-il, dans l'opinion, quelques signes de retour à la raison ? Les Français cultivaient naguère une solide tradition : celle de ne jamais regarder (ou si peu) les exemples étrangers. De peur de se laisser contaminer !...
Et bien, cette regrettable prévention semble battre de l'aile. Si le système américain est toujours aussi abhorré, on rechigne de moins en moins à observer les expériences de l'Europe du Nord, et l'on ne se pince plus le nez avant de consentir à respirer l'air britannique. Le «modèle» d'outre-Manche est certes considéré comme trop libéral (donc pécheur), mais on reconnaît que ses résultats ne sont pas contestables.
Dont acte. S'il en est ainsi, la question qu'il faut se poser maintenant n'est plus «Pourquoi refuse-t-on d'admettre que ces pays font mieux que nous ?» La question est : «Pourquoi ne parvenons-nous pas à passer à l'«acte ?»..."
Et bien, cette regrettable prévention semble battre de l'aile. Si le système américain est toujours aussi abhorré, on rechigne de moins en moins à observer les expériences de l'Europe du Nord, et l'on ne se pince plus le nez avant de consentir à respirer l'air britannique. Le «modèle» d'outre-Manche est certes considéré comme trop libéral (donc pécheur), mais on reconnaît que ses résultats ne sont pas contestables.
Dont acte. S'il en est ainsi, la question qu'il faut se poser maintenant n'est plus «Pourquoi refuse-t-on d'admettre que ces pays font mieux que nous ?» La question est : «Pourquoi ne parvenons-nous pas à passer à l'«acte ?»..."
quinta-feira, setembro 01, 2005
Show de bola Mário!
«Quando se achava que já só faltava ali o José Castelo Branco, eis que "o conde" está à porta do hotel. Mal vê Soares aproximar-se, começa a suspirar "Sr. Presidente!, Sr. Presidente!". Entre os beijos do filho João e de admiradoras cheias de calores, Soares toma outro caminho, mas Castelo Branco corta pela direita e, afogueado ( "Não o esmaguem antes de ser Presidente!"), surpreende o casal com um beijo na mão de Maria de Jesus e um efusivo cumprimento que deixou o "pai da Pátria" sem fala "Faça muito por este País, que precisa muito de si. Não deixe ir [para Belém] a Maria Cavaco, qu'horror!"». (DN, hoje)