quinta-feira, junho 30, 2005

“The honorable gentleman from Ochil & South Perthshire…”

Ainda que compreenda as razões de Blair para a introdução de um Bilhete de Identidade na Grã-Bretanha, a reacção à sua proposta não deixa de evidenciar aquele espírito Liberdade secular britânica. Deixo-vos aqui um pequeno excerto da crónica de Elizabeth Nas, hoje “emprestada” pelo The Independent ao Público:

“Cidadãos cumpridores da lei-para usar uma das nossas expressões favoritas-nunca tiveram que revelar a sua identidade, paradeiro, local de origem ou qualquer outro dado às autoridades, ou dar contas de si de nenhuma forma. Se um polícia quer saber quem somos, pergunta. A não ser que nos esteja a prender por um crime específico, não temos que responder. Se estamos sob suspeita, podemos acompanhar o polícia à esquadra e ajudá-lo com as suas investigações.”

É o mesmo “excepcionalismo” institucional que discorre de um debate parlamentar britânico. Para quem os gosta de acompanhar, via SKY Kews, facilmente reconhece essa apaixonante política rápida, onde a honra e a ironia respeitosa assumem o protagonismo. É uma realidade distante onde o pragmatismo momentâneo se entrelaça com a tradição secular numa lógica muito distante do monolítico discurso ideológico.
Por vezes compreendo João Carlos Espada, por vezes...

Respostas devidas


Durante o meu debate com o Henrique choveram mais comentários do que perguntas para o consultório sentimental da “Ana + Atrevida”.
Peço desculpa aos meus caros leitores se não sou tão lesto quanto o meu camarada Henrique nas respostas. Mas como já tive oportunidade de dizer ao Camarada Santos, isto agora com o Verão tem de se dar algum desconto. Vamos então por pontos:

1- Caro João Galamba, sinta-se à vontade para intervir quando quiser. Não estará, de todo, a intrometer-se no debate, mas a participar nele, o que só pode ser saudável. De facto, a minha citação de Burke, apesar de não ter sido aleatória, cumpria o desígnio maior de chatear o “Burkemaníaco”, camarada Henrique. Já que ele se remeteu a um silêncio comprometedor e nada revanchista (sim, Henrique estou a picar-te!), devo dizer que concordo plenamente com a sua observação. Nunca pretendi fazer o conceito preceder a prática. Isso é um paradigma por demais óbvio e incontestável. A citação completa seria esta:

“MR. LOCKE has somewhere observed, with his usual sagacity, that most general words, those belonging to virtue and vice, good and evil, especially, are taught before the particular modes of action to which they belong are presented to the mind; and with them, the love of the one, and the abhorrence of the other; for the minds of children are so ductile, that a nurse, or any person about a child, by seeming pleased or displeased with anything, or even any word, may give the disposition of the child a similar turn. When, afterwards the several occurrences in life come to be applied to these words, and that which is pleasant often appears under the name of evil; and what is disagreeable to nature is called good and virtuous; a strange confusion of ideas and affections arises in the minds of many; and an appearance of no small contradiction between their notions and their actions.”( A Philosophical Inquiry into the Origin of Our Ideas of the Sublime and Beautiful)

A minha interpretação pessoal, encara com uma certa maleabilidade a ideia de uma atmosfera cognitiva geral. Não tanto a precedência do conceito particular à prática, mas a compartimentação da prática dentro de um conceito lato, subdividido entre a essência ética da realidade e seus paralelos.
Ao contrário de Alasdair MacIntyre (muito obrigado pela referência) que apenas conheço a partir de aqui e de uma velhinha análise do Marxismo das estantes do meu pai, a minha relação com Taylor remonta à minha descoberta do seu para-comunitarismo durante um texto que escrevi sobre a integração e salvaguarda da essência identitária da comunidade italiana na sociedade americana do início do século XX, durante o qual o citei sem escrúpulos (penso que também o Henrique já o mencionou algures no Sinédrio ou no Acidental).

2-Caro Ma Tin Long, peço desculpa se a sua menção a Richard Falk não irá suscitar debates como o que o que em tempos tivemos nestas páginas virtuais. O Falk que eu conheço do The Nation poderá ter um argumento interessante em relação há recorrência cíclica de vectores históricos (como aqui ou aqui), que constitui a premissa essencial da sua análise crítica, mas nunca o suficiente original ou interessante para me incitar ao debate. Better luck next time...

3-Caro Santos, quanto à questão dos “nativos americanos”, devo-lhe dizer que também me surpreende a relativa ausência de um profícuo debate académico. Ainda assim, nos últimos anos, algumas obras têm aparecido. Como em tudo, há o ridículo, o razoável/bom e o superior (aliás, bastante recomendável). É obvio que como diz, "a exterminação que os "americanos" fizeram dos "nativos americanos", conhecidos como Ameríndios”, não deverá ficar esquecida.
Ainda assim, devo notar um facto paradigmático. Se a relação colonos/nativos, começou com base na diferença racial, cedo evolui para uma base de disputa territorial, onde o conceito racial era um dado adicional dentro da vasta ideia de “fronteira”, para mais tarde recuperar a sua base identitária racial com a circunscrição territorial com base em etnias/tribos.
Hoje o nativo americano faz também parte do rendilhado mitológico de americana, mas a sua progressão desde a infância do imaginário americano até ao nosso quotidiano conheceu uma metamorfose curiosa: da curiosidade à inferioridade/ da inferioridade ao estatuto particular de “inimigo” (muito dependente da tribo em questão, se colaborante ou pacífica a “inferioridade” continua em efeito)/ de inimigo a derrotado, territorialmente circunscrito e parcialmente dizimado/ de derrotado circunscrito/dizimado a ícone americano/ e progressivamente, de ícone a minoria étnica.
E isto é absolutamente original numa relação colonizador-colono-colonizado.

Devo, no entanto, ressalvar que no que eu escrevo é fácil encontrar Doyle, Gaddis, Zakaria, Baker, Conquest, Nau, Fergusson, Cooper, Locke, Keohane, Sikkink, Wendt , Walt ou Mearsheimer, bem como qualquer outro volume, leve ou pesado, em que já tenha tocado. O argumento de cada um é composto por uma amálgama coerciva ou voluntária de bibliografia acumulada, mas se cada obra compila o discernimento, devo dizer que é a realidade e a percepção desta que molda o seu argumento.
Enquanto o argumento intelectual transcorre no ambiente asséptico das páginas de uma obra, só a realidade poderá comprovar a sua validade e interesse. Talvez devido à minha formação em História, aprendi a dar especial ênfase ao acto e à execução prática da ideologia ou do vector filosófico ou à sua evidente carência.
Meus caros, só Baudelaire ou Al Berto sobrevivem no papel.

Ética não é Política, parte III

Gonçalo, nada como um bom resumo:

«While Bush has been visionary in his goals, he has not provided much practical wisdom on how to attain them in a complex world. This lack of attention to the long, hard slog of actually promoting democracy might explain why things have gone so poorly in the most important practical application of the Bush Doctrine so far: Iraq. Convinced that bringing freedom to a country meant simply getting rid of the tyrant, the Bush administration seems to have done virtually no serious postwar planning to keep lam and order, let alone to build the institutions of a democracy state»

Fareed Zakaria, Newsweek (31 Janeiro 2005).

“O Princípio e o Fim do Cavaquismo”

Sem desprimor para outros autores, devo dizer que o artigo de Rui Ramos, “O Princípio e o Fim do Cavaquismo”, na Atlântico, é uma das melhores análises que já li ao Cavaquismo “subterrâneo”. Deixo-vos aqui uma pequena citação:

“Propôs-se reduzir o peso do Estado na sociedade, e por isso chamaram-lhe liberal, mas também a fazer justiça social através da despesa do Estado, e por isso quase lhe chamaram socialista. Acima de tudo, não quis, em geral, suscitar rupturas nem tentar demasiado a sorte. Concebeu a modernização como um impulso vindo do exterior, e necessariamente mediado pelo Estado”.

Barnabé

Enquanto uns anunciam o seu fecho, outros apregoam a sua nascença. É assim a vida.
Tenho pena que o Barnabé acabe. Digo isto sem cinismo. O Barnabé foi um dos primeiros blogs que visitei (senão o primeiro, mesmo) e que diariamente lia. Sobretudo o Pedro Oliveira.
Independentemente das agendas dos barnabitas (é injusto dizer que todos partilhavam a cartilha do Louça) reconheço a sua importância no debate da blogosfera. Provavelmente sem eles, outros, neste caso à direita, nunca teriam existido.
É bom viver em pluralismo. Eu, pelo menos, gosto.

Sampaio e o Bloco

Eleições antecipadas também dá nisto.

J’accuse à la carte


Pensava que a demagogia populista, versão visual, havia terminado com Santana Lopes até que hoje, alertado pelo Bloguitica, reparei nos novos outdoors do Bloco.
Tendo em conta que o cartaz se apresenta com alguns espaços em branco, deixo aqui a minha humilde sugestão:
“Homem (com alternativa de “Bacano”) peludo, conheces aquela bola de cotão que encontras no umbigo ao fim do dia? A cara do culpado fiador está aqui em baixo!” (colocar fotografias de José Sócrates quando este fez de extra na "Noite dos Mortos Vivos")

Sem Tabus

Miguel Coutinho, em editorial no DN.

Luciano Amaral e o PREC.

A "Atlântico"

Já está nas bancas o n.º4 da revista que anda a agitar as águas: a "Atlântico", dirigida pela indomável Helena Matos. Contem com artigos de Rui Ramos, Luciano Amaral, Marques de Almeida, etc.

www.direitaliberal.blogspot.com

O texto de António Pires de Lima faz parte de uma movimentação profunda dos liberais em Portugal. Mas em relação a isto, nada melhor que consultar a sede própria:

Ver: http://www.direitaliberal.blogspot.com/

Lealdade e coragem, meus caros patrícios liberais. Lealdade e coragem. Lealdade e coragem seja onde for. No caos estimulante da blogosfera, nas simples mas fundamentais conversas de café, nas complexas conversas do “academês”, onde quer que seja, meus caros, lealdade e coragem. No talho, com a senhora das couves. Num bar, com o intelectual cabeludo. É tempo. Querem continuar a ser meros queixinhas privados ou, de uma vez por todas, assumem uma dimensão pública e sem qualquer pejo?

Manifesto Liberal

Hoje, António Pires de Lima publica uma pedrada no charco: "A manta de Salazar e a clandestinidade de Cunhal", DN.

Um manifesto liberal, sem dúvida. Um grito de revolta contra um país fechado, provinciano e incapaz de permitir a liberdade de escolha plena.

Aqui fica um pequeno excerto:

«Trinta anos depois da Revolução, talvez não existisse maior homenagem que os democratas pudessem prestar ao 25 de Abril que reescreverem, sem preconceitos, a Constituição, para que esta possa garantir o bem que mais escasseia a liberdade de escolha, nomeadamente aos mais pobres, que são escravos das escolhas do Estado. A cada indivíduo, a cada família, deve corresponder o direito de escolha da escola, do hospital, do sistema de segurança social. Esse é o verdadeiro direito à educação, à saúde e à segurança social que urge defender»

Meus caros,

é tempo de todos os liberais, de esquerda ou de direita, saírem da toca. É tempo de deixarem de ter vergonha. É tempo de assumirem com coragem aquilo que pensam. É tempo de seres leais com aquilo em que acreditam.

quarta-feira, junho 29, 2005

Rui "100%" Ramos

"O Lado Nego", de Rui Ramos

Como arruinar uma das armadilhas intelectuais da política em Portugal.

"of the people, by the people, for the people"

Caro Henrique
Perdoa-me a frontalidade mas a porca “torceu o rabiosque” muito antes do medley ontológico/prático neocon. Temo que o rabiosque venha já torto desde que procuraste aliar-me ao moralismo neoconservador.
Poderá ser, porventura, uma fácil retórica pública, mas nunca deixará de constituir um défice argumentativo.
Como tu sinto-me à vontade, de gravata desapertada e mangas arregaçadas, junto de Fareed Zakaria ou de James Madison, mas devo dizer que tenho algumas dificuldades em te encontrar aqui:

The happy Union of these States is a wonder; their Constitution a miracle; their example the hope of Liberty throughout the world”, (Madison, James, Letters and Other Writings of James Madison)

Ou, especialmente, aqui:

We hold these truths to be self-evident that all men are created equal; that they are endowed by their Creator with certain inalienable rights; that among these are life, liberty, and the pursuit of happiness”. (Declaration of Independence)

Não tenho, no entanto, qualquer dificuldade em encontrar paralelos tácitos entre o teu argumento e o excepcionalismo democrático postulado, por exemplo, pela Central European University com o patrocínio Soros.
Gostaria de continuar a ler Burke, mas o único Burke que me resta é este, e por muito que retorne às páginas de A Philosophical Inquiry into the Origin of Our Ideas of the Sublime and Beautiful mais não consigo encontrar do que “Mr. Locke has somewhere observed, with his usual sagacity, that most general words, those belonging to virtue and vice, good and evil, especially, are taught before the particular modes of action to which they belong are presented to the mind”. Sim, “the style is called bombast”, mas a carga moral é um pré-requisito para a fundação das instituições, por sinal, democráticas.
Perdoa-me a planificação desmesurada, mas penso que o conceito precede o acto e a sua construção. Da mesma forma, a forma democrática na sua condição metafísica e moral deverá preceder a construção institucional.
Duvido que o oprimido pela tirania autocrática sobreviva na sua resistência democrática, apenas alimentado por uma nuvem metafísica do ideal democrático.
Escrevo-te isto enquanto vejo na televisão o resumo do debate de hoje na House of Commons e não deixo de me lembrar que um dia, Burke havia apelidado a revolução americana como a “filha ilegítima” da “gloriosa” revolução inglesa. Perdoa-me se aí encontro um reconhecimento da validade da promoção idealista e institucional (superiormente institucional).
Claro que a “good order” institucional é o preceito democrático por excelência, bem como a responsabilização de um Governo limitado perante o cidadão. Essa é a substância institucional de um Estado de Direito, de uma Democracia Liberal presente na tal nuvem metafísica do idealismo democrático. Quando o cacetete repressivo toca nas costas do idealista democrático é essa a natureza estatal limitada pelo direito positivo que alimenta a sua esperança. Pergunto-te mais uma vez, será condenável o patrocínio dessa esperança?
Ou será que, hoje de manhã, quando o David Hume bateu à porta e tentou acordar-te do teu “sonho dogmático”, tu pediste para "dormir mais 5 minutos"?

Um grande abraço
P.S.- Tenho de reconhecer que debater contigo tem uma piada do caraças!

Cantar para surdos...

Caro Gonçalo,

1.Pois é. Como és de esquerda, sentes-te bem junto do neocon.

2.Acho que não me fiz entender. Eu também tenho valores absolutos. Aliás, partilhamos esses valores absolutos. Mas não é isso que está em causa.

3. A minha concepção de liberdade também só concebe a democracia liberal. A minha “liberdade negativa” só pode ser defendida pelas instituições demo-liberais. E é precisamente aqui que a porca torce o rabiosque. É que o neocon nunca estabelece a diferença entre um valor abstracto e indiscutível e a forma como esse valor desse ser aplicado na realidade. Se quiseres, nunca estabelece a diferença entre valor moral e preceito institucional. Afirmar que se quer expandir o ideal da democracia é das coisas mais vagas que se pode dizer em política. É retórica. O neocon tem um défice de pensamento institucionalista e um excesso de moralismo.


4. Vivemos, de facto, numa época que mistura moral e política com um à-vontade, que, a meu ver, é inquietante. Eu não estou a discutir ética ou moral. Aqui estamos de acordo. Estou, isso sim, a discutir a forma de aplicar esses princípios éticos à realidade política. E “Política”, do ponto de vista do liberalismo clássico (o meu), é precisamente isto: como aplicar um valor universal e atemporal a um dado contexto histórico e particular. Repara: eu não digo que é moralmente condenável expandir a democracia. Mas o ponto não é esse.

5. Não me confundas com a Realpolitk. Não posso com esses gajos. Na Teoria das Relações Internacionais, tenho dois inimigos: a realpolitik e os ideias pós-westfália. Sou kantiano. Sou madisoniano. Hoje, esses ideais estão com Zakaria. Sou iluminista, tal como tu. Sou universalista, tal como tu. Mas, eu olho para montante e tu para jusante. E aqui há uma diferença abissal. Eu penso em instituições. A nossa liberdade é um efeito dos constrangimentos constitucionais que aplicamos ao Poder. Temos liberdade porque limitamos os gajos que têm a cadeira do poder. E como diria Burke, apregoar liberdade em abstracto costuma conduzir a tiranias. A “good order” é isso mesmo: instituições e constituições, a aparelhagem institucional que funciona como um guarda-costas da nossa liberdade.

7. Em suma, apregoar o direito natural sem a preocupação de construir o direito positivo é a mesma coisa que cantar para um auditório de surdos. É pura vaidade. E tu, meu caro amigo, de vaidoso não tens nada. Por isso, e perdoa-me a audácia, deixa lá o neocon. Não é a tua cara.

Um abraço,
Henrique

PS: continua a ler Burke…

A moderação revolucionária



Caro Leitor Anónimo

Em relação à sua pertinente questão (se não fosse a desobediência civil das "minorias", onde estaríamos hoje? A vossa santa revolução americana não partiu da desobediência civil de uma minoria de negociantes de chá?), a minha resposta só pode ser sucinta e redundante: não.
Procure substituir “Americana” por “Francesa” e verá o seu argumento reconhecido.
Friedrich Gentz, sistematizando Burke (não sei o que se passa comigo hoje!), afirmou que a Revolução francesa era um facto original, sem pontos comuns com a revolução americana, que não procurava uma resposta a abusos de direitos já, tradicionalmente, adquiridos. A ideia de uma oposição radical entre as duas revoluções não seria estranha ao debate interno dos dois pólos revolucionários. Em França, antes de 1789, a opinião intelectual vê na revolução americana uma vitória da Razão, apesar de criticarem a sua moderação, e ligação aos sistema tradicional do Common Law , dos checks and balances e bicameralismo. A crítica sobe de tom com Turgot e Condorcet que repudiam a opção bicameralista da Constituição Federal.
Os Americanos já nasceram livres, despojados de uma realidade aristocrática interna, o que significou que após a Declaração de Independência contra George III, a principal disputa passou a ser entre os colonos americanos e o parlamento britânico. Em França a situação foi inversa. Tratou-se de criar um regime representativo, e de conceder aos Estados Gerais um estatuto de legislador.
Apesar de certas semelhanças entre a Declaração da Independência e a Declaração de 1789, a inspiração da maioria dos constituintes franceses era bastante diferente: ela respondia a uma necessidade de síntese entre a ideia de representatividade e a vontade geral de Rousseau.
Nas origens das duas revoluções radicam experiências bastante diferentes que ditam as lógicas institucionais adoptadas. Em França, impera a noção de uma “vontade geral” que submeterá todas as facções ao seu jugo, enquanto que nos EUA revolucionários procura-se a representação limitada do povo na estrutura institucional. Enquanto que nos EUA a independência do judiciário é a principal característica da sua lógica de separação de poderes, em França ganha primazia o “primado do legislativo”.
Certos autores, como Jellinek, rejeitam a ideia de que a Declaração de 1789 radica no exemplo americano da Bill of Rights. Afirmam uma herança comum que remonta ao iluminismo, mas apontam como objecto da Declaração de 1789 a universalidade dos direitos fundamentais, enquanto que a Bill of Rights é apenas uma forma de legitimação da Revolução Americana aos olhos da comunidade internacional (é colocada certa ênfase no facto de ter havido alguma relutância inicial em coligar a Bill of Rights com a Constituição, e na escolha de uma forma de Aditamentos).
Nesta lógica, a Declaração de Independência nasce do direito natural que dota os homens de direitos inalienáveis, garantidos pelas instâncias potestativas; enquanto que a Declaração de 1789, partindo dos direitos naturais, defende uma limitação da acção governamental na sua persecução e protecção. Este é um paradoxo demasiado evidente para Burke que o apresenta como causa da moderação revolucionária americana e da experiência francesa, oscilante entre o radicalismo individualista e a tirania.
Não devemos, igualmente, esquecer um factor específico da Revolução Americana que é a ausência de uma realidade de pauperismo no seu seio. A relativa igualdade de condições e a para-inexistência de uma classe aristocrática ou de um regime feudal. O argumento de Tocqueville regressa inúmeras vezes a este ponto, salientando que aqui reside o foco casuístico do espírito democrático construtivo americano. No espectro inverso, e como aponta Bernard Baylan (The Ideological Originis of the American Revolution) , a tradição política francesa, quando colocada em situação revolucionária veio a resultar num confronto profundo entre as estruturas e mentalidade de Antigo Regime e da Revolução e no radicalismo da segunda premissa. É aí que o leitor anónimo deverá encontrar a fundamentação filosófica e o molde prático da, so called, “desobediência civil” propagandeada pelo Bloco de Esquerda.

Com os melhores cumprimentos












Democracia, valor absoluto?

Caro Henrique,

Cabe-me, então, a árdua tarefa de defesa do ideal neoconservador de disseminação democrática. Devo dizer que esta não é uma empresa fácil. Não pretendo ser o neoconservador do blog e tal como o João, devo dizer que sou adepto de um “idealismo pragmático”. Mas há valores que considero absolutos e a Democracia Liberal está no topo da lista.
Devo te dizer, porém, que partilho a mesma afinidade neocon pelo binómio Liberdade/Democracia. Devo ressalvar essa Liberdade enunciada, não como uma formalidade ética mas como “liberdade secular” que só atingirá o escopo das suas potencialidades na esfera pública democrática.
Tenho sérias reservas em encarar a validade ou até a possibilidade de encontramos Liberdade (até mesmo na sua formalidade ontológica e ética) longe de um enquadramento democrático. Não será possível uma total incursão pela Liberdade individual em ausência democrática porque as restrições autocráticas condicionam a prossecução individual da felicidade e prosperidade.
Será, assim, a promoção exógena da Democracia algo condenável ou, até, original? Aliás, deverá esta ser uma postura circunscrita à política externa americana?
Trila negativa. Como realidade histórica contemporânea esta é uma premissa tão recorrente quanto a Razão de Estado de que falas. Da mesma forma, a sua validade, tanto em spill over system (a Ucrânia, na imagem, é um bom exemplo), como na promoção evidente de uma democratização orgânica são tudo menos formas moralmente condenáveis. O Ocidente como realidade ontológica contemporânea “democrática”, não deverá assumir um postura reservada face à validade do seu sistema político. Isto não significa, exclusivamente, regime change, mas apenas a promoção da legitimidade democrática como uma opção válida. De que outra forma poderás encontrar a equivalência contemporânea da “ética da vida pública” a que te referes?
Decerto que a premissa poliárquica de Dahl acompanhará qualquer transição democrática essa é a própria lógica subterrânea do “realismo democrático”, mas o paralelo em política externa à tua postura filosófica só o consigo encontrar no exíguo realismo kissingeriano.
Há uma frase de Robert Cooper que não me canso de citar:

The realist world of rational policymaking, equilibrium, alliances of convenience and the balance of power worked best when we were governed by rational oligarchs-Richelieu, Pitt, Palmerston or Bismarck. Democratic ideas mean that policy requires a moral basis”. (“Imperial Liberalism”, The National Interest)

Em Democracia o argumento autocrático perde a sua legitimidade, mas isso não significa a supressão da Razão de Estado. A esta, a Democracia adiciona um vínculo de responsabilidade e justificação. Universal? Sim. Idealista? Talvez. Moralmente defensável? Sem dúvida.
A Burke (prometo que é a última vez) que afirmou que “good order is the foundation of all things” (Reflections on the Revolution in France), devo acrescentar que a conjuntura democrática é a fundação necessária à total prossecução da liberdade individual. Só em Democracia Liberal poderás encontrar a capacitação individual para a Liberdade. Na “good order”democrática.
Um grande abraço

terça-feira, junho 28, 2005

A Ler...

António Martins da Cruz no DN (pese embora as gralhas do costume no site...)

Define-me BEM em política...

Caro Gonçalo,

1.Com certeza que a democracia (democracia liberal, entenda-se) deve ser universal. Problema? A democracia não é um valor abstracto mas uma construção política. O neocon nunca distingue Liberdade (valor ético) de Democracia (prática política). Na realidade histórica, não existem democracias perfeitas mas Poliarquias (Dahl), isto é, adaptações dos princípios universais aos diversos contextos históricos.

2. Sobre o Bem e a Amoralidade. Estou com Berlin. Maquiavel não inaugurou a era da amoralidade política. Isso é um mito. O que ele fez foi outra coisa: trouxe uma ética não-cristã para a Cristandade. Que ética? A ética romana. A ética de estado, da vida pública e não da salvação da alma. Uma ética terrena, de protecção dos nossos concidadãos e não uma ética destina ao aluguer de um pedacinho de céu. Daqui nasceu o cepticismo e o pluralismo do ocidente que temos... O “bem”, se quiseres, está a montante, está no traçar de limites a montante e nunca numa aspiração pelo BEM a jusante. O Bem é sempre expansivo, não tem limites, logo, não é político. Vamos definir BEM em Política? Queres voltar para eras monistas?
Com Maquiavel e Hobbes aprendi uma coisa: os homens precisam de uma Teoria da Injustiça. O “bem”, se quiseres, é a criação de uma base jurídica comum. Uma base que indique os limites que não podem ser ultrapassados (os direitos inalienáveis do indivíduos e nunca o BEM colectivo de uma comunidade). Por tudo isto, a dicotomia de Kristol, tal como a dicotomia dos antigos religiosos que criticavam Maquiavel ("Nós" na posse do BEM versus "maquiavélicos" amorais), é medíocre e maniqueísta.

3. Burke dizia qualquer coisa como isto: o mal só precisa de uma coisa: complacência dos homens bons. Ou seja, ser-se virtuoso não é sinónimo de ser-se possuidor de um Bem (jusante). Ser-se virtuoso significa evitar a emergência de um mal (montante; impedir a injustiça).

4. Concordo com o teu ódio ao paleoconservadorismo isolacionista Mas não podemos traçar uma dicotomia simples entre o intervencionismo neocon e o isolacionismo do Buchanan. Como já disse várias vezes ao Bernardo, pode-se ter uma política externa internacionalista sem excessos idealistas. Uma política à imagem do Iluminismo Americano, céptico e institucionalista, sempre preocupado com a transposição do direito natural para o direito positivo. Universal? Sim. Utópico? Não.

Portugal e Espanha

Portugal e Espanha mantiveram, entre 1945 e 1982, caminhos separados em política externa.
Portugal, membro fundador na NATO, em 1949, e membro da CEE a partir de 1986, sempre privilegiou as alianças marítimas às continentais. Foi assim com a potência oitocentista, Grã Bretanha, e na segunda metade do séc. XX, com a que a substituiu, os EUA.
A Espanha, com um carácter continentalista, também fruto da sua História imperial virada para a Europa, apenas entra na NATO, em 1982 (por referendo) e na CEE em 1986. Seria a primeira vez na História que os dois Estados da Península Ibérica partilhavam os mesmos espaços de alianças: um equilíbrio entre atlantismo e continentalismo, numa altura em que ambos os países precisavam de consolidar as suas democracias.
Apenas com Aznar a balança pendeu claramente para o Atlântico. A Espanha virava-se para a relação com os EUA e Portugal teve, obrigatoriamente que a acompanhar, sob pena de deixar de "contar" no diálogo cada vez mais forte entre Washington e Madrid. Foi também esta uma das razões porque Barroso esteve ao lado dos EUA nas vésperas da guerra do Iraque, em 2003, e teve necessidade de fazer a Cimeira dos Açores.
Zapatero regressa, por assim dizer, à tradição continental espanhola. A retirada das tropas do Iraque e a "colagem" ao eixo Paris-Berlim, marcaram o primeiro ano de mandato da governação PSOE.
Mas a viragem parece estar para breve. E, diga-se, se se concretizar, Zapatero merece os meus elogios. Com a previsível alteração de governo em Berlim, já no Outono próximo - e consequente retorno da Alemanha a um posicionamento menos hostil ao EUA - e o enfraquecimento progressivo de Chirac, Zapatero esteve ao lado de Blair no último Conselho Europeu de Bruxelas. Em política internacional joga-se desta forma. Zapatero prefere ser visto como um "oportunista" do que como um derrotado, e prepara-se para ser "amigo" de Tony Blair como poucos. Quem ganha é a Espanha, com isto.
E Portugal? Será que a tradição francesa vai continuar a pesar por cá? Ou vamos jogar o jogo internacional com as mangas arregaçadas?
Freitas do Amaral tem a resposta. O seu sucesso pode catapultá-lo para outros voos.

De la démocratie dans le Monde


Caro Henrique,

Quando recomendei a obra do Natan Sharansky tive o cuidado de reservar uma “digestão democrática”. Mas devo afirmar que não temo o universalismo do seu argumento.
É obrigatório reconsiderar Burke à luz da progressão histórica do nosso quotidiano e não temer a Democracia como um valor absoluto e latamente recomendável.
Não temo o maniqueísmo universalista de Sharansky porque compreendo que a sua formação intelectual, bem como a de Kristol (pai) e outros, parte da base universalista de Esquerda. A metamorfose crítica que daí advém compreende que entre o BEM da esfera privada e a prática política não jaze uma barreira inultrapassável. Entre os dois há um relação umbilical em prisma de afinidade. Qual será a casuística ou o resultado do BEM privado perante a amoralidade pública?
O argumento ontológico de Sharansky compreende essa natureza contraproducente e coloca a tónica na liberdade privada e pública, mais do que na equidade (mais uma vez Burke dixit), numa lógica de promoção democrática, com benefícios disseminados. O que em si não é algo de inteiramente inaudito. Já Locke, em resposta ao Patriarca de Filmer, afirmava que “all government is limited in its powers and exists only by the consent of the governed”, para mais tarde operar a original intersecção entre Direito Natural e Liberdade Individual num Estado limitado, mas responsável. O Estado trustee de Locke é o mesmo de Sharansky. Este apenas lhe deu um molde recomendável e global.
Devemos temer Sharansky? Não, penso que devemos o paleoconservadorismo isolacionista.

Um grande abraço

Mencken e Pulido Valente

Política não é Ética

Gonçalo,

cuidado com o Natan Sharansky: «Que arma tão poderosa, a democracia! What a drug for the people!»(http://www.aei.org/docLib/20030111_ee1b.pdf).

É a pura retórica universalista que Burke criticaria sem piedade. Vê se me entendes: Não está em causa a validade ética da coisa. Mas não estamos a falar de ética mas de política. É esse o grande problema do espírito neocon (o israelita Natan é um dos gurus de Kristol e comp): não percebem que existe um abismo entre ética e política. Sabes o que Kristol (pai) escreveu sobre Maquiavel: "political pornographer". Quem pensa isto de Maquiavel encarará sempre a política como algo ligado umbilicalmente à ética pura e absoluta. Falará sempre em BEM. Ou seja, o neocon não percebeu o século XX. O BEM é da esfera privada. Uma política que tenha o BEM debaixo do braço nunca ganhará raízes no terreno real. Olha para os problemas no Iraque.

segunda-feira, junho 27, 2005

Zimbabwe, tabu? Nem por isso...

Caro Henrique, não compreendo porque haverá um tabu em discutir o quotidiano político do Zimbabwe. Será porque o alvo recorrente de Mugabe é a classe latifundiária branca? Não me parece. Ainda que essa seja a imagem mediática a que mais temos acesso, a realidade local comprova que a autocracia política e económica não é discriminatória.
A personalização, eterna, do poder político, a recorrente obliteração de qualquer fachada democrática e a repressão continuada não escolhe alvos preferencias.
Devemos esconder o regime monolítico (talvez paleolítico) de Mugabe por detrás da cortina de veludo das nossas reticências pós-colonialistas? Não, porque, pessoalmente, essa cortina perdeu-se algures no trespasse geracional. Em Democracia Liberal não há tabus e a única escolha preferencial é a Liberdade. Burke dixit e a minha consciência democrática o dita.
A redundante fórmula crítica de qualquer expressão opinativa ocidental face a regimes africanos corruptos e repressivos, afirma qualquer coisa como: “temos a obrigação de não exportar as nossas concepções políticas ocidentais e paternalistas para antigos espaços coloniais”. Deontologicamente recuso-me a repeti-la na Harare de Ian Smith ou de Robert Mugabe. Há limites morais para o cinismo e eu sei que tu os partilhas comigo.
Um grande abraço

The Case for Democracy


A minha escolha “Professor Marcelo” da semana. Para digerir democraticamente.

Só uma pergunta:

Por que razão não se fala do Zimbabwe? Temos medo do quê?

Não é Coincidência

“Pobreza Zero” e o espelho filantrópico

Madrid. Vésperas de uma reunião do G8. Milhares de pessoas. Dezenas de ONG’s. Gritam “pobreza zero”.

1. Estas pessoas fazem-me lembrar os velhos e barbudos aristocratas do antigo regime que faziam da filantropia uma via para a salvação. No meu ouvido, a “redistribuição” socialista sempre teve uma ressonância de “piedade” católica (Já pensaram na semelhança entre as actuais ONG’s e os missionários cristãos de eras anteriores?). Não é por acaso que Aron falava nas semelhanças entre a emergência do Cristianismo e a emergência do Marxismo. (Bernà, não estou a falar da vida privada). E o que querem estes seres misericordiosos? O que querem o piedoso e o socialista? Fácil: salvar a sua própria alma. O “pobre”, o alvo da caridade, é um espelho onde o caridoso projecta a sua bondade. O “pobre” é um ser passivo, um actor secundário nesta peça de teatro filantrópico. Já agora: o piedoso quer mesmo o fim da pobreza?

2. Pior: estes movimentos concentram atenções apenas em aspectos económicos. Ou seja, pensam que a pobreza só se resolve pela via económica (entenda-se: pela ajuda exterior, pela piedade). Não entendem que a solução para a pobreza do dito terceiro mundo não é económica mas política. Ou melhor, antes de ser económica é política. Perdoar uma dívida a uma ditadura é a mesma coisa que reforçar a precária condição do povo que vive sob o jugo dessa ditadura. Mas isso já não interessa a quem faz política com um espelho à frente.

God Save Our Greatest Man...

Estou a ver que o meu amigo Gonçalo está em grande forma. Muitas leituras e algumas festas depois, o Gonçalo regressa em grande ao Sinédrio. No dia em que Daniel Oliveira pendurou as chuteiras, o nosso "homem de esquerda" - desculpa-me mas continuo a pensar que não o és -assume-se definitivamente como um grande escriba.
Não sou o único a achar...

Ps: Aqui fica uma sugestão, um pouco na sequência dos últimos acontecimentos europeus. Escrito por Hugo Young, um grande colunista do Guardian, falecido em 2003, trata das relações entre a Grã Bretanha e a Europa, desde Churchill a Blair. Não custa 0,01$, mas vale a pena.

The Submerging Democratic Majority

“You would think this treaty would be a natural for Democrats, who have always portrayed themselves as the party with real sympathy for the poor -- in contradistinction to Republicans, who have hearts of stone if they have any at all. The Democratic Party has always seen itself as the tribune of the oppressed of the Third World and as deeply distressed by the fact that "the United States by far is the stingiest nation in the world for development assistance or foreign aid," to quote Jimmy Carter, former Democratic president, current Democratic saint.”

A Party Without Ideas”, Charles Krauthammer, The Washington Post

“The rise of the "new model" Republican Party almost perfectly parallels the rise of Toyota. The GOP roared to prominence in the 1980s, suffered a slight setback as the Democrats retooled in the '90s, and now dominates the presidency and Congress. The Republicans have thrived for the same reason as Toyota — they have been better at producing new products and going after new customers.”

The GOP's a Toyota, Dems Are All GM”, LA Times, pelos mesmos senhores que escreveram esta magistral obra:
Essencial para todos os que desejarem compreender a realidade de uma América, ontológicamente longe dos polos litorais de Manhattan e Los Angeles. A “fly-over land” onde reside o coração do original conservadorismo americano, pós e pré Barry Goldwater 64.

Ghandi Revistado

É com curiosidade que reparo que na cultura política a Escola de Frankfurt tende a ser substituída pela Escola de Seattle que, por sua vez, adopta os princípios funcionais do anarco sindicalismo dos anos 30. O mais curioso é a referência à “desobediência civil” de Ghandi. Alguém tem de explicar aos organizadores que a “Marcha do Sal” de Ghandi não visava o tempero do menu macrobiótico da universidade de Nova Deli.

God Bless Amazon’s Retail Community…



















Que me permite comprar 4 obras essenciais (1,2,3,4) por menos de 1 dólar!

sexta-feira, junho 24, 2005

It’s just a Booty Call
















A phone rings at 10 Downing Street. The phone operator is a nervous wreck and his palms are sweaty. On the other end of the line it could be George Bush, leader of the free world or Chirac, leader of the French, with his direct translation skills that make him say things such as: “Is that I can speak with Mr. the Prime Minister, please?”

Phone operator- Prime Minister’s office, how can I help you?

DB- This is Joseph Manuel Barroso, chosen leader of Europe and I would like to…

PO- I’m so sorry sir, but can you say that again? I want to tape it and show it to the lads down at the pub. They just love a good laugh!

DB- This is Joseph Manuel Barroso, chosen leader of Europe…

PO- Thank you so much sir. So I guess you wish to speak to the Prime Minister. Do you have our cheque? “Bring it on - Bring it, bring it on ahh

Prova de Fogo
























-“Caro Professor Doutor e Sr. Presidente da Câmara, o fogo consome o Chiado! Que fazer??”

- “Heráclito de Éfaso escreveu algo sobre o “fogo como processo do real”. Já o Jack Lang me dizia que nos pré-socráticos é que está a virtude! Hellas! Vou fazer um "período de reflexão", volto mais tarde..."

Blair é único

Um amigo:
- Blair é o maior político europeu.

Com a devida vénia, respondi-lhe:
- Não. Blair é o único político europeu. Os outros são burocratas

quinta-feira, junho 23, 2005

o Pacheco

Faltou a citação:

Eça de Queiroz, "A Correspondência de Fradique Mendes"

O Pacheco

Aqui fica um belo retrato de Portugal:

«Eu casualmente conheci Pacheco. Tenho presente, como num resumo, a sua figura e a sua vida. Pacheco não deu ao seu País nem uma obra, nem uma fundação, nem um livro, nem uma ideia. Pacheco era entre nós superior e ilustre únicamente porque "tinha um imenso talento". Todaviam meu caro sr. Mollinet, esse talento, que duas gerações tão soberbamente aclamaram, nunca deu, da sua força, uma manifestação positiva, expressa, visível. O talento imenso de Pacheco ficou sempre calado, recolhido, nas profundidades de Pacheco!. Constantemente ele atravessou a vida por sobre eminências sociais; deputado, director-geral, ministro, governador de bancos, conselheiro de Estado, par, presidente do Conselho - Pacheco tudo foi, tudo teve, neste País que, de longe e a seus pés, o contemplava, assombrado do seu imenso talento.

(...)

«Este talento nasceu em Coimbra, na aula de Direito Natural, na manhã em que Pachecom desdenhando a sebenta, assegurou que "o século XIX era um século de progresso e de luz". O curso começou logo a pressentir e a afirmar, nos cafés da Feira, que havia muito talento em Pacheco: e esta admiração cada dia crescente do curso, comunicando-se, como todos os movimento religiosos, das multidões impressionáveis às classes raciocinadoras, dos rapazes aos lentes, levou facilmente Pacheco a um "prémio" no fim do ano.
(...)

«Logo na estrelada noite de Dezembro em que ele, em Lisboa, foi ao Martinho tomar chá e torradas,se sussurrou pelas mesas, com curiosidade: "É o Pacheco, rapaz com imenso talento!" E desde que as Câmaras se constituíram, todos os olhares, os do governo e os da oposição, se começaram a voltar com insistência, quase com ansiedade, para Pacheco, que, na ponta de uma bancada, conservava a sua atitude de pensador recluso, os braços cruzados sobre o colete de veludo, a fronte vergada para o lado como sob o peso das riquezas interiores, e os óculos a faiscar... Finalmente uma tarde, na discussão da resposta ao discurso da Coroa, Pacheco teve um movimento como para atalhar um padre zarolho que arengava sobre a "liberdade". O sacerdote imediatamente estacou com deferência; os taquígrafos apuraram vorazmente a orelha: e toda a Câmara cessou o seu desafogado susssurro, para que, num silêncio condignamente majestoso, se pudesse pela vez primeira produzir o imenso talento de Pacheco. No entanto Pacheco não prodigalizou desde logo os seus tesouros. De pé, com o dedo espetado (jeito que foi sempre muito seu), Pacheco afirmou num tom que traía a segurança do pensar e do saber íntimo: "Que ao lado da liberdade devia sempre existir a autoridade"!

(...)

«Não volveu a falar a falar duranre meses - mas o seu talento inspirava tanto mais respeito quanto mais invisível e inacessível se conservava lá dentro, no fundo, no rico e povoado fundo do seu ser. O único recurso que restou então aos devotos desse imenso talento (que já os tinha, incontáveis) foi contemplar a testa de Pacheco.

(...)

«A testa de Pacheco oferecia uma superfície escanteada, çlarga e lustrosa. E muitas vezes, junto dele, conselheiros e directores-gerais balbuciavam maravilhados: «Nem é necessário mais! Basta ver aquela testa!»

"Blair para presidente"

quarta-feira, junho 22, 2005

Conversas de café II



Um dos maiores discos do século.

terça-feira, junho 21, 2005

Até amanhã camaradas!

Aqui fica a mítica entrevista de Miguel Esteves Cardoso e Paulo Portas a Álvaro Cunhal, em 1990, no Independente.
Deliciem-se.

O escaravelho da Bulgária

O pós-moderno é aquele que faz um texto sobre o escaravelho da Bulgária (e julga que está a ser brilhante).

segunda-feira, junho 20, 2005

Quando os federalistas ficam cegos

domingo, junho 19, 2005

Obrigatório

"Quatro Funerais", de António Barreto (Público, Hoje).

1. sobre as mortes de Cunhal, Gonçalvez, Lúcia e Champallimaud: «se, para além dos seus indiscutíveis talentos, estas quatros pessoas tivessem sido democratas, se pelo menos tivessem amado a liberdade, a de todos e não apenas a deles e seus amigos, os últimos cinquenta anos da história teriam sido diferentes. E Portugal era hoje um país melhor».

2. Só uma pergunta: António Barreto, liberal de esquerda, e Rui Ramos, liberal de direita, não são os melhores cronistas do reino?

Dr. Marques Mendes: para quando a utilização da palavra proibida?

Em meu entender, Marques Mendes anda a fazer uma pequena revolução no léxico do PSD. Nunca um líder deste partido insistiu tanto no problema do tamanho colossal do estado português. A direita da calculadora deve andar preocupada. Com o quê? É que um dia destes, o Dr. Marques Mendes ainda vai pronunciar a palavra mágica – “liberal”. E aí, a revolução estará completa. E o PSD, finalmente, será um partido de direita.

sexta-feira, junho 17, 2005

A hora da Inglaterra

Deixo aqui algumas reflexões:

Não será o significado dos recentes desenvolvimentos europeus mais profundo do que se pensa? Não será o fim do modelo "eurogaullista" e o fim da pretensão do eixo franco - alemão em assumir-se como um actor internacional relevante? E se assim for, quem ocupará este vazio? A Inglaterra? (a grande beneficiária de todo este processo e que não perdeu tempo para atacar a PAC...)
E persistirá a Alemanha (sobretudo depois das eleições e com um novo governo CDU) numa ligação à França em perda. Não poderá vislumbrar na Inglaterra (e nos Estados Unidos!) uma alternativa muito mais realista em termos de poder internacional?
E não significará tudo isto o fim de um projecto de integração política da Europa, desenvolvendo-se a alternativa de uma Europa intergovernamental baseada numa grande zona de mercado livre (o projecto inglês).
Não estaremos nós a presenciar a hora da Inglaterra?

quinta-feira, junho 16, 2005

E o Trolha de Portugal é...

Genial!
Via Blasfémias (aproveito para dizer que João Miranda é dos melhores bloggers que aí andam) fui dar ao prémio nacional mais aguardado do momento: O Trolha de Portugal.
Está tudo aqui. E viva El Cid!

terça-feira, junho 14, 2005

Limites de caracteres e o Delacroix


Eugène DELACROIX , La Liberté guidant le peuple, Le 28 juillet 1830 La barricade La Liberté, Louvre


Impor limites de caracteres ao autor é uma forma de tortura psicológica inadmissível.
Não me lembro do Delacroix ter ouvido do seu mecenas:
-“Oh chefe, isso da liberdade em mamas tá muito bom, mas vê lá se pintas coisas mais pequenas que a moldura não me passa no vão da escada!”

sábado, junho 11, 2005

100 dias depois- a continuidade

A ler: "Os Primeiros 100 Dias: A Política Externa", no Bloguitica

Ainda a mutilação

1. No ano passado, um projecto de lei que visava criminalizar a mutilação genital feminina foi bloqueado na assembleia de uma democracia europeia. Qual? A mui cortês democracia portuguesa. Argumentos? Essa lei poderia ofender certas culturas, pois existem uma séria de complexidades sócio-culturais que devem ser estudadas.

2. Eu pergunto: o que há para estudar aqui? Os pais cortam as carnes íntimas das suas filhas. É muito simples. Não há complexidade nenhuma. Há alturas em que ser-se sofisticado é um atestado de estupidez. É razoável que um João Rodrigues ou José Joaquim corte a sua filha? Não. Então, por que razão é razoável admitir que alguém com um apelido africano faça o mesmo? Não é isto uma espécie de racismo condescendente?

sexta-feira, junho 10, 2005

Os senhores dos sindicatos

Vejo na televisão, desde de miúdo, os senhores dos sindicatos. Qual é o problema? É que desde o tempo dos “all-star” até hoje, os senhores dos sindicatos (sobretudo dos professores) são sempre os mesmos. Não há limitação de mandatos nos sindicatos? Não há ali uma elite de privilegiados que vive sem fazer nada, excepto aparecer de barba aparada na TV?

quinta-feira, junho 09, 2005

A civilização do feriado

1. Não gosto de feriados. Não gosto que mudem as coisas do sítio. Quinta é quinta. Sexta é sexta. Esta quinta tem um sabor a sexta-feira requentada. A sexta de amanhã não terá sabor nenhum. Serão 24 horas situadas num limbo, numa terra de ninguém. Mais: nunca percebi esta coisa dos feriados. Já não temos dois no final de cada semana? Para que raio são precisos mais?

2. Portugal é a civilização do feriado. Os portugueses vivem para terem feriados. Os portugueses detestam trabalhar. O emprego é uma chata pausa pública na vida privada dos portugueses. Somos 10 milhões de seres privados. Somos 10 milhões de seres privados a exigir contrapartidas públicas dum estado que é gerido de forma privada.

quarta-feira, junho 08, 2005

"Racismo Altruísta"

1. Exactamente, Gonçalo. Os multiculturalistas, que se julgam cosmopolitas, advogam uma compartimentação da sociedade. Mas há pior: são condescendentes. Como o Paulo Tunhas já escreveu na “Atlântico”, fazem uma espécie de racismo altruísta.

2. Charles Taylor, sobre o multiculturalismo (obrigado, João): «Fazer um julgamento favorável antes do tempo seria, não só condescendente…». Esta condescendência em relação ao “outro” acaba por retirar a individualidade aos indivíduos das outras culturas, pois estes são reduzidos à condição de meros membros de uma comunidade. Na óptica do multiculturalismo, X ou Y não são indivíduos autónomos mas membros passivos de uma cultura. Os multiculturalistas devem ouvir uma coisa: estes indivíduos «desejam é respeito, e não condescendência» (Taylor).

3. Exemplo desta condescendência: aqueles (falsos) cinéfilos-barra-multiculturalistas. Só vêem filmes de países que acabam em “ão”. Ainda não se sentaram e já estão a dizer que gostam. Aliás, mesmo antes de entrarem na sala, mesmo antes de verem o filme, já têm na ponta da língua aquilo que vão dizer após o visionamento: - Brilhante....................................................................................... e não é de Hollywood [e depois vão alugar, às escondidas, o último do Michael Bay].

Para esta gente, se o filme for do Kazaquistão, então, é bom. Se o filme for do Irão, então, é muito bom. Atenção: adoro cineastas iranianos. Mas gosto tanto do Kiarostami como gosto do Scorsese (já agora, “O Sabor da Cereja” é um dos filmes da minha vida). Avalio um iraniano da mesma forma que avalio um americano ou um português. Não digo que uma coisa de Madagáscar é boa só por essa coisa ter o rótulo de madagascarense. As pessoas que têm este comportamento condescendeste são racistas altruístas. O "outro" é um ser passivo no teatro que montam. Nesse teatro, vestem a pele de solidários e o "outro" que se lixe. O "outro" é apenas actor secundário neste melodrama. Problema? Esquecem-se que o "outro" não é um ser passivo e pode, muito bem, rejeitar esse teatro e exigir verdadeiro respeito.

4. O multiculturalismo é uma revitalização do romantismo político, outrora património da direita reaccionária. Quem faz esta revitalização? As velhas esquerdas. A viuvez por Marx acabou em relação promíscua com Herder e companhia

Questões civilizacionais ou questões liberais?


Um comentador do Ocidental inquiriu a iniciativa liberal das Noites de Direita acerca da posição liberal sobre temas sociais como o aborto e a homossexualidade. Ainda que o proponente da questão a tenha colocado, decerto, com num tom jocoso, ainda assim, ela não perdeu o seu carácter de impertinência.
Como o leitor deve compreender, os textos fundadores do pensamento liberal são totalmente omissos no que toca à homossexualidade, o aborto e outras questões sociais do nosso quotidiano e o muito que se tem escrito provém mais de posições libertárias e conservadoras do que propriamente liberais. Mas há uma lata margem para interpretações pessoais.
Santana Lopes apelidou-as de “questões civilizacionais”, o que, na sua essência, é erróneo, porque elas não pressupõem resposta. Ninguém pode inquirir acerca da posição de uma pessoa sobre a homossexualidade, pois esta é uma realidade imutável, intemporal e indiferente à resposta do inquirido. Uma opção política sobre a homossexualidade não será a mesma resposta que a uma pergunta sobre a proibição de tabaco em espaços fechados. Não há viabilidade de um sim ou de um não.
A minha interpretação pessoal e liberal e de Esquerda, e prometo não discorrer em citações e links para obras consagradas, é de que opções pessoais constituem o foro da liberdade pessoal do indivíduo. Não é um regresso do modelo don’t ask, don’t tell para a homossexualidade, mas antes um don’t ask, it doesn’t matter. Da mesma forma o aborto comporta equações de liberdade e responsabilidade, não civil ou penal, mas pessoal. Uma opção pessoal, mas não uma solução de planeamento familiar per se. Porque um aborto, tanto “ilegal” numa garagem poeirenta na Trofa, como “legalizado”, numa clínica esterilizada na Lapa, não deixa de representar sofrimento emocional e físico para a mulher.
No que toca à “imigração”, outra questão em voga, a livre circulação de capitais laborais e financeiros, de espírito de iniciativa meritocrático são peças essenciais num mercado global com dispersão lata de dividendos. O problema central não é a entrada da imigração, mas o seu enquadramento no quotidiano social. Mais uma vez pessoalmente, acredito que a melhor solução passa pelo recurso a um cosmopolitismo dialogante com mútuos benefícios, longe de opções multiculturais de compartimentação social e económica. Mas estas são apenas algumas questões impertinentes que merecem a urgência de iniciativas e de projectos liberais que unam o vasto espectro político. Também para dar resposta devida à progressiva capitalização destas causas sociais pela periferia política.

É mesmo obrigatório

Para Londrinos e Turistas

"CHURCHILL AND THE UNITED STATES"
Conferência a cargo do Professor John Ramsden
7.30pm, Tuesday 14 June. This lecture will discuss Winston Churchill's firm and steady friendship with the American nation, including his American lineage and his honorary American citizenship. John Ramsden is Professor of Modern History and Director of the Humanities Graduate School at Queen Mary, University of London.
The talk begins at 7.30pm and lasts approximately one hour including questions from the floor. Doors open at 6.30pm and the museum closes at 9.30pm.
Tickets include entry to the Churchill Museum and Cabinet War Rooms.
Price:#14.00, FIWM and concessions #10.00.
Com o patrocínio da The Finest Hour

Obrigatoriedade máxima

O espectro liberal”, por Rui Ramos, no Diário Económico

Obrigado pelo Taylor

Caro João

- Graças à tua insistência em Charles Taylor, comecei a ler umas coisas deste autor. Confesso que não conhecia. Como já deves ter percebido, tenho dificuldades em sair dos séculos XVIII e XIX. Defeito de historiador.

- Pelo que li até agora, só tenho uma coisa a dizer: obrigado pela insistência. Gosto, sobretudo, da crítica que ele faz ao multiculturalismo, quer o radical quer o moderado do Kymlicka.

- Não sei se estás familiarizado com Isaiah Berlin. Pois bem, nalguns pontos, Taylor é muito parecido com Berlin, sobretudo na recusa do monismo da filosofia pós-Rousseau, ou, se calhar, pós-Herder. Berlin falava do “monismo”, Taylor fala do “da filosofia moderna dominante monológica”.

- Mais uma vez, obrigado.

Um abraço
HR

"Senhoras e senhores, apresento-vos o melhor ministro da Cultura depois do 25 de Abril...

...e um dos políticos que melhor tem aliado pensamento e ideias com acção".

Sócrates endereçou palavras aos "camaradas", regozijou-se com o " prazer de estar de volta ao convívio com o PS" e garantiu que Carrilho tem hoje "todo o partido atrás de si".

Depois de ler esta frase, o candidato "Lagerfeld sem leque" que se cuide...

"I always told my dad that D stood for distinction,"

Sen. John F. Kerry's grade average at Yale University was virtually identical to President Bush's record there, despite repeated portrayals of Kerry as the more intellectual candidate during the 2004 presidential campaign.
Kerry had a cumulative average of 76 and got four Ds his freshman year -- in geology, two history courses and political science, The Boston Globe reported Tuesday.

"Beyond kleptocracy and Kalashnikovs"

"As an African entrepreneur, I am not looking for handouts that I have not earned. I only want the same opportunities that British entrepreneurs coming to Africa have access to. We went to the same schools and universities, and in the global community we are all looking for the same things: markets and equal opportunities to exploit them...
...It is wealth creation that links the African struggle of yesterday, today and tomorrow. To understand this we must remove the blinkers and see an Africa beyond kleptocracy and Kalashnikovs.
Contemporary economic orthodoxy postulates that the primary engine for economic growth is not central government but the private sector. If we accept this then we must assume that the private sector embodies the self-interested bottom line of its corporate members. This self-interest is driven by the pursuit of profit."

Andrew Rugasira, "Beyond kleptocracy and Kalashnikovs", The Guardian

terça-feira, junho 07, 2005

O Historiador Antiquário

“...quem quer perpetuar o que é habitual e venerado há muito, encara o passado por antiquário e não como historiador...
...Este gosto maníaco das coisas antigas envolve o homem num cheiro a bafio. Os seus hábitos de antiquário transformam um talento, às vezes notável, uma aspiração nobre, numa curiosidade insaciável ou numa autêntica avidez de tudo o que é antigo, literalmente de tudo.”

Friedrich Nietzsche, Considerações Intempestivas

Neconservadorismo, the final frontier

Os camaradas Sinédrios, Henrique e Bernardo resolveram “deslocalizar” o debate. Aqui está o exemplo de uma contenda da velha escola.

"Les néoconservateurs américains auront des surprises"

..."Il est aisé de comprendre la jubilation américaine à la vue de M. Chirac couvert de boue. Il a été l'un des opposants principaux à la politique des Etats-Unis en Irak et un champion d'un monde multipolaire, dans lequel le pouvoir relatif des Etats-Unis serait réduit. Mais les Américains devraient contenir des applaudissements qu'ils pourraient bientôt regretter. Ils les regretteront lorsqu'ils se rendront compte que les 55 % des Français qui ont rejeté Chirac et la Constitution l'ont fait avec des motivations presque opposées à celles des Américains qui les ont applaudis. Loin d'être le signe d'une ère nouvelle plus positive dans les relations franco-américaines, le refus français du traité constitutionnel pourrait annoncer des différends et des difficultés encore plus importantes dans un futur proche.
La raison principale de la colère récente des Américains envers Chirac ­ son opposition à la guerre en Irak ­ n'a aucun lien avec sa défaite. Au contraire, nombre de Français voient dans son opposition à Bush sur cette question l'une des dernières qualités le rachetant. La nomination quasi immédiate à la tête du gouvernement de Dominique de Villepin, l'homme applaudi à l'ONU pour avoir tenu tête aux Etats-Unis sur l'Irak, devrait vite dissiper tout espoir américain de voir cet aspect de la politique étrangère française changer...
...Mais la victoire du non crée un énorme contretemps aux perspectives de l'Union de continuer à étendre la prospérité et la stabilité de la démocratie vers l'Est. En rejetant cette Constitution, les Français semblent exprimer la nostalgie d'une époque où leur influence dominante et leur identité au sein de cette Europe étaient garanties. Les perspectives d'adhésion de la Turquie semblent aujourd'hui plus improbables que jamais, et même les adhésions prévues pour octobre semblent, elles aussi, improbables..."




Philip Gordon, "Les néoconservateurs américains auront des surprises", Le Monde

Duplamente Genial

Aqui e aqui.

Johnny Halliday

Diz o Gonçalo aí em baixo: O “não” francês provém, igualmente, de uma nação que nunca percebeu porque Johnny Halliday nunca foi um sucesso de vendas mundial.

Acrescento: Eles lá perceberem, perceberam. O ponto é que se recusam a admitir que Halliday teve a sua época e que muito provavelmente não ficará na história da música. E isto custa-lhes mais que tudo.
O poder da ilusão continua a alimentar muitos egos.

Quem diria...

Um não custom-made

Enquanto ouço Pacheco Pereira no Prós e Contras deduzo que o seu não é um não personalizado. Não é o non francês ou o nee holandês, nem o nim britânico.
É um não com todos os extras: um pouco de cahuvinisto soberanista, um pouco de Fabius e aquela lágrima que verteu quando encontrou num livro poeirento uma dedicatória de 63 manchada de torresmos, para o moçoilo que estava no estrangeiro (Vigo).
É um não tunning que na realidade é um sim a fazer beicinho.
Já agora, aqui vai o sítio do Sim.

Depois do post lençol, o post guardanapo

Representação do modelo liberal aos olhos de um espectador menos informado do Prós e Contras:

segunda-feira, junho 06, 2005

É bom recordar: a História não vai para lado nenhum

- Jacques Attali (“Público”, ontem): pode estar a ocorrer uma negação da globalização por parte dos europeus.

- Ainda não sabemos se isso é verdade, mas de uma coisa temos a certeza: isso já sucedeu uma vez. As duas guerras do século XX podem ser entendidas como manifestações de um ambiente geral de retraimento em relação à primeira era de globalização (século XIX).

- É bom ter o seguinte em mente: os homens do início do século XX também pensavam que a história tinha completado o seu curso. E foi precisamente nesse momento que a História fez a sua aparição dramática, "presenteando" os europeus com duas guerras. Portanto, nesta nossa era de “fim de história”, é bom recordar que a história não vai para lado nenhum. Podemos voltar a enfrentar os piores pesadelos. Uma ideia da omnipresente Hannah Arendt nunca me sai da cabeça: antes de Hitler tudo parecia tão normal. Salgado Matos tem insistido numa coisa que entra nesta linha: o modelo social europeu pode implodir de um momento para o outro.

- Este sentimento de desconforto europeu é, a meu ver, exclusivo da esquerda. As direitas democráticas não mostram esse desconforto. O socialismo faliu. A social-democracia está a falir. A esquerda continental tem de dar o salto para soluções ao estilo da chamada terceira-via, para o chamado “Social-Liberalism”. É esta a razão do mal-estar. Não é fácil engolir sapos ideológicos.

Que Europa para a França?



O Nobel da Paz e eurodeputado John Hume (citado em The United States of Europe, T. R. Reid), descreveu a União Europeia como “the best exemple of conflict resolution in the world. Europe made a conscious decision to leave war and differences behind”… numa fórmula que remonta a Churchill que em 1946 afirmava peremptoriamente que “o primeiro gesto de reconstrução da família europeia deve ser a aliança entre a França e a Alemanha”.
A pacificação da “questão alemã”, incluída num contexto de détente bipolar concede ao propósitos da NATO proclamados pelo Lord Ismay(“to keep the russians out, the americans in and the germans down”), um carácter multiusos, de fácil adaptação à génese da integração europeia. É um crasso erro histórico abstrair o patrocínio norte-americano da origem da construção europeia. Desde Marshall a George Ball, passando pelo Grande Desígnio de Kennedy, sucessivas administração americanas escolheram abstrair-se de Herold von Cleveland e outros que apontavam uma Europa integrada como um poder concorrente, e incentivaram a emergência de uma Europa integrada numa estratégia de unidade Ocidental.
O conforto securitário proporcionado pela NATO permitiu e incentivou um encontro de vontades continentais motivadas pela necessidade de sobrevivência económica e industrial onde o eixo franco-germânico funcionava na forma de um complemento de necessidades industriais primárias numa estratégia enfatizada por Tony Judt (The Great Illusion).
As aspirações a uma integração política que completasse a integração económica no seio do eixo franco germânico sobreviveram até de Gaulle e à sua defesa do Estado-Nação como única entidade autorizada no sistema internacional, propondo uma Europa confederada e força inesperada de um sistema tripartido e de um Ocidente bipolar.
Enquanto que o “não” holandês pode ser interpretado como uma recusa de um quotidiano social que deve mais à sua opção por um multiculturalismo de compartimentos não dialogantes e recorda a oposição de Thatcher ao volume de participação britânica no orçamento comunitário, o “non” francês é um grito maníaco-depressivo que ecoa da ala psiquiátrica dos Invalides.
É curioso notar a actualidade de Raymond Aron acerca da do debate francês em 1954 sobre a CED : “a Assembleia Nacional recusava a ratificação de um projecto de iniciativa francesa, sem mesmo lhe conferir a honra de um debate” (La querelle de la CED).
Ao contrário do quotidiano de Raymond Aron, a presente recusa francesa, agora em forma de referendo, ao Tratado Constitucional é sinónimo de angústia existencial. Recuso em considerá-lo sectorial, a sua essência é global a uma sociedade civil capitalizada pela periferia política. Ontológicamente é sinónimo do crespúsculo nostálgico de La France, coligado com laivos gaullistas de sobrevivência.
Tal como Raymond Aron, também Alian Raoux e Alian Terrenoire (A Europa e Maastricht) conservam a sua intemporalidade, ao descreverem o debate francês de 92 como : “é quase uma guerra religiosa, é o caso Dreyfus, é Maio de 68 com barricadas de palavras...A França terá vivido durante alguns meses uma psicose irracional...”. Entre 92 e 2005 discorre o acentuar da depressão pós-parto colonial, da nula mobilidade laboral francesa num mercado progressivamente global, suportada por uma classe política em regime de sobrevivência.
Engana-se quem aspira à magnitude constitucional, quase literária, de Filadélfia, mas o presente Tratado que Estabelece uma Constituição para a Europa não é um texto para ser declamado em público. Dificilmente será um marco constitucional, mas representa em conjunto com Maastricht, Amsterdão e Nice mais um passo para a racionalização institucional necessária a uma Europa em alargamento. Representa, igualmente, uma Europa com aspirações a actuar de pleno direito no sistema internacional, numa lógica que nasceu constitucionalmente com a inclusão da PESC entre os “3 Pilares” de Maastricht.
Mas este “não” francês, tal como a sua iminência em 92, não é a simples recusa de um Tratado Constitucional é a expressão da tentativa desesperada de salvaguarda de um modelo eurocêntrico e francófono numa Europa de feição cultural e social progressivamente atlântica. Bernardo, estiveste bem em recordar o excepcionalismo gaullista, mas penso que este extravasa o simples palco das Relações Internacionais. O “não” francês provém, igualmente, de uma nação que nunca percebeu porque Johnny Halliday nunca foi um sucesso de vendas mundial. É a nostalgia de uma belle- époque e a proclamação de um suposto modelo de coesão social que inverteu a sua ordem natural.
Qualquer modelo de coesão social terá de ter por base financiadora uma economia de mercado dinâmica, suportada por uma força laboral competente e preparada para um mercado global. Inverter a ordem da equação resulta na auto-exclusão de ambas as prioridades, da mesma forma que subverter a feição atlântica da Europa resultará na negação da sua essência originária.
Num contexto estritamente institucional, a morte anunciada do Tratado que Estabelece uma Constituição para a Europa poderá significar a supressão momentânea de intentos federalistas de supranacionalidade em prol da presente intergovernamentalidade; o fim da crença no neo-neo funcionalismo de Sandholtz e Zysman; na validade do modelo de spillover económico e político, adaptado ao alargamento da União, e na dúvida acerca de iniciativas em curso como os battle-groups e deixando conturbado o futuro das missões Petersberg segundo a Headline Goal, que asseguram a constituição de uma força de disposição rápida europeia. Mas haverão outras consequências.
A não ratificação do tratado resultará, igualmente, na estagnação da integração europeia no sistema internacional segundo as directivas da Estratégia de Segurança Europeia (ou “Documento Solana”) e na continuidade de uma multiplicação de focos opinativos rodeados por uma periferia geográfica progressivamente mais hostil.


Diferentes percepções

“What's Wrong With Europe”,

This is the irony of last week's votes. It was a revolutionary moment that will keep things as they are. In fact, one could argue that Europeans cast their votes in the full knowledge that it would have changed nothing in their day-to-day lives. That means it provided the perfect opportunity for a symbolic protest vote. But symbolism does matter. And the signal that has been sent is threefold.
First, it's a signal against economic reform. If you want to understand why people voted against the constitution, listen to the advocates of rejection. Virtually no one campaigned against a more unified foreign policy (which has more than 70 percent support in poll after poll) or more coordinated police work (which, post-9/11, is also extremely popular). Almost all those leading the "no" movement spoke out against one thing above all—the free-market-oriented reforms that Brussels is associated with…
The second signal that this vote sends is against immigration and labor mobility. The "no" from Holland is clearly related to this. The nightmare unfolding in that country is that a large segment of its North African immigrant population is proving to be illiberal, unwilling to assimilate and, increasingly, violent. Against this grim backdrop, the Dutch look at an ever-expanding Europe of lowered borders with great suspicion. There is a related backlash against foreign aid. The Dutch are now the largest per capita contributors to Europe and believe that the EU's expansion has taken place on their backs.


Fareed Zakaria, “What's Wrong With Europe”, Newsweek

domingo, junho 05, 2005

Frases de relativa actualidade



“Although the Americans infuse into their legislation infinitely more general ideas than the English, and although they pay much more attention than the latter people to the adjustment of the practice of affairs of theory, no political bodies in the United States have ever shown so warm an attachment to general ideas as the Constituent Assembley and the Convention in France”.

Alexis de Tocqueville, Democracy in America

1939-Frases que fazem tremer o Homem


Churchill, em Setembro de 1939, dirigindo-se à Câmara dos Comuns:

“Não se trata de lutar por Danzig ou de lutar pela Polónia. Estamos a lutar para salvar o mundo da pestilência da tirania nazi e em defesa de tudo o que é mais sagrado para os homens. Não se trata de uma guerra de domínio ou de engrandecimento imperial ou de ganho material; não é uma guerra para tirar o sol nem meios de progresso de nenhum país. É uma guerra, vista na sua inerente qualidade, para estabelecer, em rochas inexpugnáveis, os direitos do indivíduo, é uma guerra para estabelecer e fazer reviver a grandeza do homem.”
Sir Martin Gilbert, Winston Churchill, Biografia
Franklin Roosevel em carta ao editor William Allen White em 1939:

“is that public opinion over here is patting itself on the back every morning and thanking God for the Atlantic Ocean (and the Pacific Ocean)…Things move with such terrific speed, these days, that it really is essential to us to think in broader terms and, in effect, to war the American people that they, too, should think of possible ultimate results in Europe and the Far East”
The People and the President- America’s Conversation with FDR

Coup de chaise percée

Gorbachev em entrevista ao Sunday Times Review:


Few Germans would want to sit in Hitler’s seat; after such evil the state had to be smashed and rebuilt. Did he feel queasy sitting in Stalin’s old chair? “No, I ordered a different chair, a revolving armchair, and it gave me a different view, different horizons.”

“Now for the British revolution”

"The EU after the French referendum will be very different from the discredited EU before, opening up the opportunity for Britain to save Europe from itself.
Tony Blair laid down the challenge, saying Europe must decide on its future direction in the quick-moving globalised world. Jacques Chirac retorted in his television address on Tuesday that he had not lost faith in the ‘European ideal’, and promised more of the French model, rejecting the ‘Anglo Saxon’ view, and appointing a Napoleon-worshipping mystical French nationalist as prime minister. The EU is dead; long live the EU…

British diplomats have been trying to stifle outbursts of public laughter at the fact it is the French — the FRENCH! — who provoked this crisis. They are laughing because it is the French more than anyone who created the EU, and based it on their own technocratic, centralised and elitist political model. The EU’s founding fathers were the Frenchmen Robert Schuman and Jean Monnet, whose aim was a United States of Europe, and its greatest force for integration was the Frenchman Jacques Delors. The French government has a very proprietorial interest in the Union, and has been the motor, far more than Germany, driving forward ‘ever closer union’. The Common Agricultural Policy, the single currency and the constitution are all French creations.
For the French the EU was a way of creating Europe in its image, a Greater France, bankrolled by the Germans, who were still doing penance for their grandfathers’ crimes. The French federalist model has not just meant giving the union all the trappings of a state — a president, a parliament, a flag, a currency, a national anthem, a motto (‘united in diversity’), and a constitution which decrees a national day — ‘Europe Day shall be celebrated on 9 May throughout the Union.’ …

The ‘old Europe’ model worked wonders in the fractured post-war world, but it is still fighting the last battle, unfit for the challenges of the 21st century. There is clearly a need for an EU — just not this EU. In a dense patchwork of countries, so close that if one sneezes another gets sneezed on, there is a need for rules to ensure good neighbourliness. With such intertwined economies, ensuring open borders and common standards makes us all better off. Working together, we can often achieve far greater things — such as compelling Microsoft to stop abusing its near monopoly, or enticing Ukraine out of the grip of Russia — than any country could do by itself…

The EU needs an alternative model, and there is only one country in a position to offer it. Not Germany, not Italy, but Britain. Its economy is thriving and its political status is high. Tony Blair may face some difficulties, but he is newly re-elected. By contrast, Gerhard Schröder in Germany, Jacques Chirac in France and Silvio Berlusconi in Italy are all mortally wounded.
Always defensive in Europe, pleading for opt-outs, reluctantly dragging its heels, the UK now has the possibility of taking over as the EU’s driving force. Rather than just striving to limit the damage from EU policies, it can set the EU’s direction.

Anthony Browne,” Now for the British revolution”, The Spectator

Plágio sem fronteiras?

Tiago, andam a plagiar-te:

"Dato per acquisito che nell’attesa l’Unione non affonderà (se riuscirà a darsi un bilancio), rimane da capire come mai un certo numero di popoli europei - contarli è impossibile a cause delle diverse procedure di ratifica - ce l’abbiano con l’Europa. Le risposte di fondo esistono: paura del liberismo economico, paura dello smantellamento dello Stato sociale, paura dell’allargamento, paura della perdita di sovranità, paura dello scambio iniquo di competenze con una Europa che non sa rispondere alle crisi congiunturali e non offre nemmeno la consolazione di una forte identità internazionale. "
Franco Venturini, “Ora due velocità”, Corriere de la Sera

Quero GENTE

Vou colocar o seguinte anúncio nos jornais:

Ex-boémio, em acto de desespero, procura bar onde se possa fumar, onde haja fumo, onde haja, enfim, gente. Sim, gente, essa coisa que tem defeitos e que não é uma colecção de hábitos correctos.

"Bar asséptico e sem fumo" é, em si mesmo, um hino à prepotência de alguns humanos que insistem em tentar não ser gente.

PS: atenção: eu não fumo. Isto não é um acto de revolta de um fumador que vê o seu hábito atacado. É apenas um pequeno manifesto de um cidadão que não quer burocratas estatais no papel de organizadores da sociedade.

Mais nada:

sábado, junho 04, 2005

Só uma pergunta:

O Ronaldo, o nosso, não é o melhor jogador do Mundo?

O problema de África: não há Accountability

«Penso que uma das razões para isso é o facto de as instituições terem um forte peso. Porque, afinal, o grande desafio para o continente africano é a responsabilização dos políticos. Ou seja, como eles são capazes de tomar boas decisões. Isso é mais importante que, por exemplo, uma forte oposição dos partidos políticos porque trata--se do próprio sistema que tem como base esta responsabilização»

O problema africano não é a escassez de riqueza. Já nem sequer é a escassez de eleições. O seu problema é outro: escassez de instituições, de constituições assentes no velho liberalismo clássico, de freios e contrapesos ao poder dos políticos. Antes dos políticos e das eleições, é preciso haver leis e instituições judiciais. (Leia-se Zakaria - Newsweek - a este respeito).

Alguém dê uma “pasta” a este homem

Excerto de “descer à realidade”, de Proença de Carvalho, DN:
«Será que a ausência de pragmatismo e de sentido do real é uma característica incurável dos portugueses?»

O português, se calhar até é pragmático, mas esse pragmatismo não vai além do seu umbigo.

Família Atlântico

Na “SIC notícias”, há um programa intitulado “Família Europa”. O dito-cujo é, naturalmente, financiado pelo Comissão Europeia. Ou seja, é propaganda disfarçada de informação. E toda a gente acha normal. Mas, se houvesse por aí um programa intitulado “Família Atlântico”, cairia o Carmo e a Trindade. Seria, como é óbvio, uma intromissão intolerável da América. Já não seria informação, mas pura propaganda do modelo americano. Hoje, a coerência é bicho raro.

sexta-feira, junho 03, 2005

100%

Todo o santo dia, sonho com o fim da tirania de Freud sobre as mentes burguesas.

«Cada vez confio menos na psicologia. Vejo-a como um dos mais baixos subprodutos do desassossego ou da oscilação da consciência moderna, uma agitação terrível que prezamos como um ‘discernimento’»
Saul Bellow, Morrem Mais de Mágoa

100%

«A política é uma muito nobre, mas ai daqueles que vivem da política, porque esses não têm liberdade para tomar decisões de acordo com a sua consciência».
Guilherme d' Oliveira Martins (DNA)

quinta-feira, junho 02, 2005

O verbo para Portugal:

Recomeçar

Só uma pergunta:

A França não é um país reaccionário?

Uma causa que é uma chantagem

Qual foi a arma preferida dos defensores do “Sim”? A chantagem. Quando uma causa tem apenas como argumento a chantagem, não estará tudo dito a respeito dessa causa?

Ver Arie Pos no DN

Avança Diogo!



Hoje, na Grande Entrevista, o futuro candidato da esquerda às presidenciais: Diogo Freitas do Amaral.
A não perder.

P.S: Parece que aqui a "aposta" vai para outros.

PREC Parlamentar

A chave para retirar qualquer legitimidade a qualquer utopia, desde o comunismo ao consenso de Habermas

«A convicção de que em princípio é possível encontrar uma simples fórmula, segundo a qual os múltiplos objectivos dos homens podem ser harmoniosamente realizados é demonstravelmente falsa».

Berlin, Idem.

Não há HOMEM. Só há homens. Não há UNIDADE. Só há Pluralismo.

O segredo do comunismo

Pegando na ideia do Bernardo,

«O triunfo do despotismo é forçar os escravos a declararem-se livres»

Isaiah Berlin, Dois conceitos de Liberdade.

Federalismos e Federalismos

Plenamente de acordo com o Luciano Amaral no DN de hoje:

«[...]A Itália existe como país em resultado de uma união de Estados ocorrida recentemente (em 1861), o mesmo acontecendo com a Alemanha (1871). Apontasse a União para um verdadeiro federalismo, construído de acordo com regras democráticas e estabelecendo com clareza as fronteiras entre poderes federais e regionais, porque não considerar a alternativa, desde que ela constituísse uma hipótese politicamente credível, vantajosa e aceite pelos povos da Europa? Afinal, estaríamos apenas perante a substituição de uma nação por outra. Mas o que está posto na mesa nada tem que ver com isso. O tratado não dá origem a uma federação, e ao mesmo tempo dilui de forma confusa e arbitrária o poder das nações. O tratado ameaça, portanto, as comunidades nacionais democráticas existentes, não dando origem a uma nova comunidade política válida, sólida e igualmente democrática. Se a alternativa é entre as nações existentes (com as suas tradições políticas e o seu enquadramento democrático) dentro do quadro da União já em vigor e uma verdadeira monstruosidade política, que estraga o que existe sem criar nada de válido em substituição, salvemos então o que existe».

quarta-feira, junho 01, 2005

Obrigado pelas lágrimas

Peço desculpa pela pieguice, mas o meu grande amigo Bruno Vieira, o meu Nelson Rodrigues, fez-me chorar:


Eucaristia Dominical

Quando eu era pequeno, passava os serões de sexta e sábado com a minha avó a ver filmes. Ela adormecia sempre. A minha avó, não tenham ilusões, não era uma cinéfila. Gostava do Vincent Price e nunca me irei esquecer de um comentário após vermos juntos “A Lei do Desejo” (arrisco-me a dizer que sou a única pessoa do mundo ou, pelo menos, do Vale da Amoreira, que viu este Almodóvar na companhia da avó): “Um rapazinho tão bonito metido naquelas coisas...”. A minha avó lia com muita dificuldade, não fazia ideia de quem eram os actores nem, muito menos, os realizadores, mas gostava de ver os filmes até ser vencida pelo sono. Eu, com a cabeça deitada no colo da minha avó, a resistir ao sono e a proteger-me dos sustos (alguém se lembra de “O Verão do Medo” com a Linda Blair e que passou no canal 1 em 1988?) e ela, duas almas infantis fascinadas por essa coisa simples e mágica de uma história contada através de imagens, à procura de material para os sonhos e de conversa para o almoço de domingo. Essa cumplicidade, da qual não participava o resto da família, continuará comigo para sempre e, quando chego a casa à noitinha e ligo a televisão para ver filmes com o Michael Dudikoff ou com o Jack Scalia, é com a minha avó que os vejo, eu de olhos abertos, ela a dormir.


Quem supera o caos e a violência (a explícita e a pior, a implícita) dum subúrbio de Lisboa, seja Santo António dos Cavaleiros ou o Vale da Amoreira, e escreve desta forma (não é fácil escrever sobre as nossas emoções desta forma contida, segura, sóbria, mas sempre triste, pura, nossa), só pode ser descrito de uma maneira: grande. Muito grande, mesmo.

Obrigado pelas lágrimas e dá um beijo ao puto,

Um abraço suburbano,
Henrique Raposo