Caro
Ma Tin LongDesde já, muitos parabéns pelo
Sínico, que foi directamente para os meus “favoritos”. Devo dizer que não encaro as várias teorias das Relações Internacionais como blocos sólidos não dialogantes, detentores de respostas absolutas. Daí que tenha que enquadrar Waltz e a sua análise sociológica do comportamento do Estado no sistema internacional, como uma base demasiado abstracta e generalista, absorta de considerações morais ou programáticas.
Em
Man, The State and War e em
Theory of International Politics, Waltz tentou a simples identificação do agente regulador das relações internacionais, mas procurou-o erroneamente no estruralismo clássico da sua “
systems theory” e na aclamação da bipolaridade sua contemporânea e da auto-suficiência nacional, que considera matrizes de um equilíbrio não beligerante.
Esta era a era MAD de cortinas e blocos ideológicos dicotómicos e Waltz nunca poderia antever a natureza híbrida da União Europeia ou antecipar a implosão soviética, daí que o seu argumento constitua ainda hoje a base teórica do realismo clássico. Em Waltz, tal como em Morgenthau ou Mearsheimer (
The Tragedy of Great Power Politics), impera o cepticismo realista face à natureza humana e seu carácter benigno. Mas a pedra basilar do realismo clássico reside na interpretação do Estado-Nação como único protagonista internacional autorizado, o que minou a sua capacidade de resposta às ameaças transnacionais e tentaculares do pós- 11 de Setembro.
Ainda que Brent Scowcroft e vários nomes ligados à
Coalition for a Realistic Foreign Policy tenham tentado inspirar a veia realista na Administração Bush, foi a ala liberal que cedo ganhou algum terreno. O
Millenium Challenge, a
National Security Strategy de 2002, o
State of the Union Address de 2005 e iniciativas como o
National Endowment for Democracy (ainda que este remonte a 1983), comprovam que um liberalismo parcial conquistou espaço, ainda que sem o papel central que originalmente atribuía a organizações internacionais. Não será tanto um regresso da interdependência da vulnerabilidade e da sensibilidade de
Keohane e Nye, mas à crença liberal no valor do Estado de Direito democrático como actor no sistema internacional.
Enquanto isso, numa Europa integrada assistimos à reemergência idealista ou “construtivista” que enfatiza linhas diplomáticas e culturais de persuasão e legitima a Política Internacional pela moralidade e legalidade estrita da acção. Aqui, o “interesse nacional” é preterido em função de valores vinculados a redes de acção não-governamentais e globais, enquanto o “diálogo crítico” abstrai-se de soluções de força. Ao contrário de Waltz, e tal como em
Power and Interdependence, para o idealista construtivista, o equilíbrio do sistema internacional reside no multilateralismo transnacional, onde o Estado perde o seu tradicional primado.
Pessoalmente, dificilmente me revejo estritamente em qualquer uma destas hipóteses. Acredito que o realismo clássico ou Kissingeriano perdeu a sua actualidade logo na unipolaridade original do pós-Guerra Fria, e o liberalismo clássico de Ikenberry surge demasiado desprovido de garantias de segurança e de força. Parece-me (
e Kissinger concorda), que a teorização futura sobre as relações internacionais passará por soluções mitigadas e conciliatórias. Tanto o
realismo democrático de Krauthammer como a
proposta de Kristol e Kagan tendem a deixar a periferia e a enquadrarem-se como a essência do actual debate académico. Quando Condoleezza Rice apelidou a política externa da presente administração como uma união pragmática entre realismo e liberalismo wilsoniano, comprovava uma tendência que procura integrar o pragmatismo realista com o idealismo democrático liberal. Embora na Europa impere, ainda, um idealismo com resquícios liberais julgo que cedo será evidente a lacuna coerciva deste modelo. A persuasão é um ponto essencial na política internacional, mas nunca poderá ser apenas substanciada e suportada por moralidade e ideais. O seu sucesso depende também da presença de um recurso coercivo e aí reside a chave para o futuro da Europa no sistema internacional.
No sticks, no deal...
Cumprimentos